Trump joga golfe na Escócia enquanto manifestantes protestam contra sua visita

Internacional
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

O presidente Donald Trump jogou golfe neste sábado, 26, em seu campo na costa da Escócia, enquanto manifestantes em todo o país foram às ruas para condenar sua visita e acusar os líderes do Reino Unido de "bajular" o americano.

Trump e seu filho Eric jogaram com o embaixador americano na Grã-Bretanha, Warren Stephens, perto de Turnberry, um campo histórico que a empresa da família Trump assumiu em 2008. Centenas de manifestantes se reuniram na rua de paralelepípedos e arborizada em frente ao Consulado Americano, cerca de 160 quilômetros de distância em Edimburgo, capital da Escócia.

Oradores em um palco improvisado disseram à multidão que Trump não era bem-vindo e criticaram o primeiro-ministro britânico Keir Starmer por fechar um acordo comercial recente para evitar tarifas rígidas dos EUA sobre produtos importados do Reino Unido.

Protestos foram planejados em outras cidades, com ativistas ambientais, opositores da guerra de Israel com o Hamas em Gaza e grupos pró-Ucrânia formando vagamente uma "Coalizão Pare Trump".

"Acho que há países demais sentindo a pressão de Trump e que sentem que têm que aceitá-lo, mas não deveríamos aceitá-lo aqui", disse June Osbourne, de 52 anos, fotógrafa e historiadora de fotos de Edimburgo que protestou vestindo uma capa vermelha e capuz branco, lembrando O Conto da Aia. Osbourne segurava uma foto de Trump com "Resista" carimbado sobre seu rosto.

A cidadã dupla americano-britânica disse que o presidente republicano era "a pior coisa que aconteceu ao mundo, aos EUA, em décadas".

Os protestos de sábado não foram nem de longe tão grandes quanto as multidões que saíram por toda a Escócia quando Trump jogou no resort durante seu primeiro mandato em 2018.

Mas gaitas tocaram, pessoas gritaram "Trump Fora!" e levantaram placas caseiras que diziam "Nada de tapete vermelho para ditadores", "Não te queremos aqui" e "Pare Trump. Migrantes são bem-vindos".

Um cachorro tinha uma placa que dizia "Nada de petiscos para tiranos".

Alguns representantes da extrema direita foram às redes sociais para convocar reuniões apoiando Trump em lugares como Glasgow. Ao chegar na Escócia na sexta-feira à noite, Trump repreendeu líderes europeus por não reprimir a imigração. "Esta imigração está matando a Europa", ele disse.

"É melhor vocês se organizarem", disse Trump. "Vocês não vão mais ter Europa".

Viagem mescla política com negócios da família

Aos 79 anos e de volta à Casa Branca, Trump chega na Escócia enquanto o negócio de sua família se prepara para a abertura de 13 de agosto de um novo campo de golfe com seu nome. A viagem demonstra como o presidente se tornou cada vez mais confortável em misturar suas atividades governamentais com a promoção dos interesses comerciais de sua família.

Trump estará na Escócia até terça-feira e planeja discutir comércio com o primeiro-ministro britânico Keir Starmer e a presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen.

A área de Aberdeen já abriga outro de seus campos, Trump International Scotland, e o presidente republicano também está visitando um campo Trump perto de Turnberry, cerca de 320 quilômetros de distância na costa sudoeste da Escócia. Trump disse na chegada, na sexta-feira à noite, que seu filho "vai cortar uma fita" para o novo campo durante sua viagem.

A Casa Branca descartou questões sobre potenciais conflitos de interesse, argumentando que o sucesso comercial de Trump antes de entrar na política foi fundamental para seu apelo junto aos eleitores. A porta-voz da Casa Branca Taylor Rogers chamou a passagem pela Escócia de "viagem de trabalho", mas acrescentou que Trump "construiu os melhores e mais belos campos de golfe de classe mundial em qualquer lugar do mundo".

O novo campo de golfe da família Trump já está vendendo horários de jogo ativamente. "Estamos em um ponto onde o governo Trump está tão entrelaçado com os negócios Trump que ele não parece ver muita diferença", disse Jordan Libowitz, vice-presidente da organização de vigilância ética Citizens for Responsibility and Ethics in Washington.

Durante seu primeiro mandato, a Trump Organization assinou um pacto ético proibindo negócios com empresas estrangeiras. Uma estrutura ética para o segundo mandato de Trump os permite.

Trump não é o primeiro presidente americano em exercício a jogar golfe na Escócia. Esse foi Dwight D. Eisenhower, que jogou em Turnberry em 1959. George W. Bush visitou o famoso campo em Gleneagles em 2005, mas não jogou.

Em outra categoria

A Justiça Eleitoral de Minas Gerais aceitou denúncia do Ministério Público Estadual contra o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG). Ele se tornou réu acusado de divulgar notícias falsas e denunciação caluniosa contra o ex-prefeito de Belo Horizonte Fuad Noman na eleição de 2024. Fuad venceu o pleito, mas morreu em março deste ano vítima de câncer. A decisão foi tomada pelo juiz Marcos Antônio da Silva.

O deputado estadual Bruno Engler (PL), aliado de Nikolas que disputou a eleição para prefeito da capital mineira, a deputada estadual Delegada Sheila (PL) e a candidata a vice na chapa Cláudia Romualdo também se tornaram réus pelos mesmos crimes. O MP pediu que eles tenham os direitos políticos suspensos, o que os deixaria inelegíveis, e paguem indenização por danos morais.

Nikolas se posicionou sobre a decisão. "Devia ter feito rachadinha ou roubado o INSS. Vacilei, fui dar minha opinião", declarou. Engler e Sheila também foram procurados pelo Estadão, mas ainda não se posicionaram. A reportagem não conseguiu contato com Cláudia Romualdo.

Na reta final do segundo turno, adversários de Fuad utilizaram o livro Cobiça, escrito por ele, para acusá-lo de apologia à pedofilia. Em uma passagem da obra, a personagem rememora que foi vítima de estupro coletivo quando tinha 12 anos.

O Ministério Público afirmou que "o grupo disseminou intencionalmente informações que sabia ser inverídicas". A ação teria se dado em duas frentes: propagação de "trechos descontextualizados de obra literária de autoria do candidato e falsa imputação de responsabilidade por suposta exposição de crianças a conteúdo impróprio".

Em um vídeo divulgado nas redes sociais à época, Nikolas disse que o livro era "pornográfico". Segundo o Ministério Público, o deputado relacionou uma obra ficcional a um evento real, ao afirmar, "de forma leviana e injusta", que "o problema é quando a ficção vira a realidade e, pior, chega até seu filho". O parlamentar acusava a gestão Fuad de promover uma feira de quadrinhos na qual crianças foram expostas a "nudez, a pornografia ou até mesmo o satanismo".

Engler e Romualdo levaram o tema para a propaganda eleitoral. "Uma peça completamente perturbadora, escrita pelo prefeito Fuad Noman, um livro erótico, no qual ele descreve o estupro coletivo de uma criança de 12 anos de idade", disse o então candidato a prefeito pelo PL em uma das peças. A propaganda afirma ainda que a feira de quadrinhos tinha conteúdo sexualmente explícito.

Sheila adotou a mesma linha ao escrever em uma publicação que Fuad poderia escrever sobre o que quiser, mas que o "problema surge exatamente quando a ficção se encontra com a realidade", também mencionando o evento.

Os quatro réus terão 10 dias para responderem à acusação, juntar documentos, provas e indicar testemunhas de defesa.

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixou a Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA, na sigla em inglês), uma organização internacional criada para o combate ao antissemitismo e memória do massacre dos judeus.

A informação foi divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores de Israel na quinta-feira, 24, e confirmada por fontes do Itamaraty. O entendimento do governo é que a adesão à IHRA em 2021, durante o governo de Jair Bolsonaro, foi feito de modo displicente.

Fontes do Itamaraty informaram que entre os motivos da saída, que ainda não foi formalizada (o Brasil aparece no site da IHRA como membro observador), estão obrigações que o País deveria ter com a aliança, que envolveria recursos financeiros.

No dia 23, o governo brasileiro formalizou a entrada na ação movida pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça que acusa Israel de cometer genocídio contra palestinos na Faixa de Gaza. O Itamaraty nega que a saída da aliança tenha uma relação direta com a adesão à ação.

O Itamaraty criticou Israel pela campanha militar na Faixa de Gaza, que dura quase dois anos apesar da devastação do território palestino e da morte dos principais líderes do Hamas, na nota em que informou a adesão ao processo da África do Sul. As ações na Cisjordânia, território palestino onde Israel também atua militarmente com frequência e que tem ocupação de colonos judeus, também foram criticadas.

"O Brasil considera que já não há espaço para ambiguidade moral nem omissão política. A impunidade mina a legalidade internacional e compromete a credibilidade do sistema multilateral", diz a nota do Itamaraty.

As ações do governo brasileiro foram chamadas por Israel de "uma demonstração de profunda falha moral". Desde o início da guerra em Gaza em 2023, a relação entre o Estado judaico e o País tem se deteriorado. Em fevereiro do ano passado, Lula afirmou que as ações do Exército israelense em Gaza era comparado ao Holocausto de judeus e foi considerado persona non grata em Israel.

O episódio provocou a retirada do embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, em maio. O cargo segue vago, e as relações diplomáticas entre os dois países correm o risco de ficarem ainda menores nos próximos meses, já que o Itamaraty segue sem consentir que o diplomata Gali Dagan assuma o cargo de embaixador de Israel em Brasília. O cargo atualmente é ocupado por Daniel Zonshine.

A saída da IHRA e a adesão à ação da África do Sul esta semana, no entanto, coincidem com o aumento da pressão da comunidade internacional sobre Israel, que contou com o anúncio do presidente francês Emmanuel Macron sobre o reconhecimento do Estado da Palestina e com a denúncia de organizações humanitárias sobre fome generalizada entre os palestinos.

O Itamaraty saudou na quinta a decisão de Macron de reconhecer o Estado da Palestina na Assembleia Geral da ONU, marcada para setembro - ato que também foi criticado por Israel.

Críticas a IHRA

A Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA) se define como uma união de governos e especialistas para "fortalecer, avançar e promover a educação, a memória e a pesquisa sobre o Holocausto". Criada na década de 90, o grupo tem 35 membros e 8 observadores (incluindo o Brasil, que, até este sábado, segue como observador no site).

Segundo a organização, os membros da aliança precisam reconhecer que "a coordenação política internacional é essencial para combater a crescente distorção do holocausto e do antissemitismo".

A IHRA é criticada por setores do judaísmo e grupos em defesa dos direitos humanos, que acusam a organização de instrumentalizar a memória do Holocausto para blindar o Estado de Israel em casos de violência. A definição de antissemitismo da organização, adotada por países europeus e pelos Estados Unidos, dizem os críticos, considera que posições contrárias à Israel podem ser consideradas antissemita.

Em 2023, um grupo composto por mais de 100 organizações de direitos humanos, entre elas a B'TSelem, maior organização de direitos humanos de Israel, Humans Right Watch, Anistia Internacional e União Americana pelas Liberdades, solicitou à ONU a rejeição do conceito de antissemitismo do IHRA.

A crítica também é feita por um dos principais formuladores da definição, Kenneth Stern, advogado especialista em direitos humanos.

"A adoção da definição por governos e instituições é frequentemente enquadrada como um passo essencial nos esforços para combater o antissemitismo. Na prática, porém, a definição da IHRA tem sido frequentemente usada para rotular erroneamente as críticas a Israel como antissemitas e, assim, coibir e, às vezes, suprimir protestos não violentos, ativismo e discursos críticos a Israel e/ou ao sionismo, inclusive nos EUA e na Europa", afirmava a carta do grupo.

Os maiores problemas, diz o grupo, residem nos 7 dos 11 "exemplos contemporâneos de antissemitismo" informado pela IHRA, anexados à definição para orientar a aplicação. Os exemplos incluem "a alegação de que a existência de um Estado de Israel é um esforço racista" e "a aplicação de dois pesos e duas medidas ao exigir de [Israel] um comportamento não esperado ou exigido de nenhuma outra nação democrática".

O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes determinou que um pedido para investigação do deputado Filipe Barros (PL-PR) seja juntado aos autos do inquérito que mira o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por supostos crimes de coação no curso do processo, obstrução de investigação sobre organização criminosa e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

A movimentação consta de despacho assinado na quinta, 24, e não implica na automática investigação do parlamentar. A decisão significa que o teor da notícia-crime será analisado no bojo do inquérito que trata de fatos semelhantes. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, deve se manifestar sobre a solicitação antes de uma eventual inclusão do parlamentar no inquérito.

"Considerando que os fatos narrados nesta notícia-crime já são objeto de procedimento específico, também de minha relatoria, junte-se cópia destes autos ao inq 4995/DF", escreveu Moraes no despacho.

A notícia-crime foi apresentada ao STF pelo advogado Benedito Silva Junior, que imputou a Filipe Barros suposto crime contra a soberania nacional. A base da petição é uma notícia sobre uma viagem que o parlamentar, presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara, fez aos Estados Unidos em maio.

Segundo a notícia publicada pelo portal Metrópoles - mote da solicitação de Benedito -, durante a viagem Filipe Barros teria tido reuniões com Eduardo Bolsonaro e um congressista americano para tratar de eventuais sanções a Moraes.

O advogado sustenta que o deputado bolsonarista teria participado de "articulações para comprometer a independência do Judiciário e submeter decisões judiciais nacionais à influência de um governo estrangeiro".