Plano israelense de ocupar a Faixa de Gaza é recebido com críticas dentro e fora de Israel

Internacional
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

O plano israelense de ocupar completamente a Cidade de Gaza foi recebido com muitas críticas dentro e fora de Israel nesta sexta-feira, 8. O temor é que a ocupação militar aumente ainda mais a crise humanitária e a epidemia de fome no território palestino.

A reação mais forte ao plano foi da Alemanha, que anunciou que irá suspender as exportações de armas para Israel que possam ser usadas na Faixa de Gaza, segundo o chanceler Friedrich Merz. Ele disse que está "cada vez mais difícil de entender" como o plano militar de ocupar a Cidade de Gaza contribui para os objetivos de Tel-Aviv.

"Nestas circunstâncias, o governo alemão não autorizará qualquer exportação de equipamento militar que possa ser usado na Faixa de Gaza até novo aviso", acrescentou Merz. "O governo alemão continua profundamente preocupado com o sofrimento contínuo da população civil na Faixa de Gaza".

O chanceler disse que o governo israelense "assume uma responsabilidade ainda maior" em relação à assistência a civis no território palestino com o anúncio do novo plano.

A ocupação da maior cidade do território palestino também foi repudiada pelo primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer. Ele classificou o plano como um "erro" e pediu que o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, "reconsidere de imediato".

"A decisão do governo israelense de intensificar sua ofensiva em Gaza é um erro, e pedimos que reconsidere sua decisão imediatamente", disse Starmer em um comunicado. "Esta ação não fará nada para pôr fim ao conflito ou garantir a libertação dos reféns. Só levará a mais massacres", acrescentou.

Outros países europeus como Holanda e Dinamarca repudiaram o plano. A China expressou "sérias preocupações" sobre o anúncio israelense e a Turquia exortou a comunidade internacional a "impedir" a implementação do plano de Netanyahu.

Já o alto comissário da ONU para os direitos humanos, Volker Turk, criticou o plano e disse que ele deve ser "interrompido imediatamente".

Israelenses criticam plano

O plano de Netanyahu também foi criticado internamente. O líder da oposição, Yair Lapid, disse que a decisão do gabinete de segurança é "uma catástrofe que trará muitas outras catástrofes".

Já o Fórum das Famílias dos reféns israelenses, a principal organização de familiares de reféns que seguem em Gaza, disse que o plano "significa abandonar os reféns, ignorando completamente os repetidos avisos da liderança militar e a vontade clara da maioria da população israelense".

O chefe do Estado-Maior de Israel, Eyal Zamir, também é contra uma ofensiva que ocupe a Faixa de Gaza, alegando que a medida colocaria os reféns em perigo e aumentaria a pressão sobre o Exército de Israel.

Ex-oficiais de segurança também se manifestaram contra novas operações militares, dizendo que há pouco a ganhar depois que o Hamas foi militarmente dizimado.

Israel tem enfrentado crescente pressão internacional nas últimas semanas à medida que imagens de crianças passando fome destacaram a crise de fome piorando.

Reféns

Cinquenta reféns israelenses seguem no território palestino, mas apenas 20 são considerados vivos, segundo o Exército de Israel.

Os israelenses temem que uma outra grande operação militar aumente o número de soldados mortos e coloque os sequestrados em perigo. Nos últimos dias, os grupos terroristas Hamas e Jihad Islâmica publicaram vídeos que mostram reféns israelenses em condições críticas, muito magros e com claros problemas psicológicos.

O Hamas já disse que instruiu os terroristas do grupo a matar os reféns se perceberem que soldados estão operando perto do cativeiro. Em agosto do ano passado, seis reféns foram assassinados pelo Hamas na cidade de Rafah em meio a uma operação militar de Israel na cidade.

Plano

O plano para tomar o controle da Cidade de Gaza foi aprovado nesta sexta-feira, 8. O premiê israelense já havia delineado planos mais abrangentes em uma entrevista à Fox News, na quinta-feira, 7, em que ele afirmou que Israel planejava assumir o controle de toda a Faixa de Gaza - o país já controla cerca de três quartos do território devastado.

Contudo, a decisão final, tomada após a reunião do Gabinete de Segurança de Israel durante a noite, não chegou a esse ponto e pode ter como objetivo, em parte, pressionar o Hamas a aceitar um cessar-fogo nos termos de Israel.

Israel bombardeou repetidamente a Cidade de Gaza e realizou inúmeros ataques, apenas para retornar a diferentes bairros repetidas vezes enquanto os combatentes do Hamas se reagrupavam. Hoje, é uma das poucas áreas de Gaza que não foi transformada em zona-tampão israelense nem colocada sob ordens de retirada. Uma grande operação terrestre no local poderia deslocar milhares de pessoas e interromper ainda mais os esforços para entregar alimentos ao território assolado pela fome.

Questionado na entrevista à Fox News antes da reunião do Gabinete de Segurança se Israel "assumiria o controle de toda Gaza", Netanyahu respondeu: "Pretendemos, para garantir nossa segurança, remover o Hamas de lá".

"Não queremos mantê-la. Queremos ter um perímetro de segurança", afirmou o premiê na entrevista. "Queremos entregá-la às forças árabes que a governarão adequadamente, sem nos ameaçar e dando aos moradores de Gaza uma vida digna", ele explicou.

Desde o início da guerra, cerca de 60 mil palestinos foram mortos na Faixa de Gaza, segundo dados do ministério da Saúde de Gaza, que é controlado pelo Hamas. A guerra começou no dia 7 de outubro de 2023, após um ataque do Hamas contra o sul de Israel que deixou 1,2 mil mortos e 250 sequestrados. (Com agências internacionais).

Em outra categoria

O novo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, afirmou na tarde deste sábado, 8, em São Paulo, que governadores bolsonaristas "preferem fazer demagogia com sangue, ao tratar todo mundo da comunidade como se fosse bandido". Boulos disse que essa é a visão dos governadores do Rio, Cláudio Castro (PL), e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de outros chefes de Executivo estadual apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ele lançou no Morro da Lua, região de Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, o Projeto Governo na Rua, que tem a finalidade de ouvir a população e levar as manifestações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Boulos declarou também que a questão do combate ao crime é antiga, mas que Luiz Inácio Lula da Silva é quem tomou a iniciativa de tentar resolver com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública e o projeto de lei antifacção. Conforme o ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência, com essas propostas aprovadas, o governo federal terá mais atribuições e responsabilidades para o enfrentamento ao crime.

"A gente acredita que o combate ao crime tem que fazer da maneira correta, como a Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, para pegar o peixe grande, não o bagrinho. O peixe grande está na Avenida Faria Lima, não na favela", acredita.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), divulgou neste sábado, 8, a pauta da Casa para a próxima semana, com a inclusão do projeto de lei antifacção - texto encaminhado pelo governo ao Congresso na esteira da megaoperação que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro. A proposta é relatada pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de segurança de São Paulo.

Motta marcou a primeira sessão deliberativa da Casa da semana para terça-feira, 11, às 13h55. A sessão será semipresencial, conforme decidido pelo presidente da Câmara em atenção a pedido de líderes partidários. Isso significa que os deputados poderão votar a distância nas sessões dessa semana, sem precisarem estar em Brasília.

A pauta também contém outros projetos relacionados à Segurança Pública, como o que aumenta a destinação da arrecadação com jogos de apostas de quota fixa (bets) para o financiamento da segurança pública. O relator de tal projeto é o deputado Capitão Augusto (PL-SP).

Outro projeto na lista de serem debatidos pelos parlamentares é o que condiciona a progressão de regime, a saída temporária e a substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva à coleta de material biológico para obtenção do perfil genético do preso. O relator é o deputado Arthur Maia (União-BA).

Ainda consta na pauta a discussão de um projeto que altera o Código Tributário Nacional para tratar de normas gerais para solução de controvérsias, consensualidade e processo administrativo em matéria tributária e aduaneira. A tramitação em regime de urgência da proposta foi aprovada no último dia 21. O relator é o deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG).

O sócio-fundador da SPX Capital, Rogério Xavier, alertou neste sábado, 8, para a situação fiscal explosiva do Brasil. Com o juro real perto de 11% e o atual nível de endividamento, o País corre risco de quebrar se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) for reeleito e não mudar suas políticas. Por outro lado, pode virar a página caso eleja um candidato de centro-direita, escapando do duelo Lula versus Jair Bolsonaro e colocando um ponto final no ciclo pós-ditadura.

"O País quer uma coisa diferente dessa oferta que foi nos dada nos últimos anos, que aponte para o futuro. Chega de Bolsonaro, chega de Lula, está bom", disse Xavier, durante painel na conferência MBA Brasil 2025, em Boston, nos Estados Unidos.

Segundo ele, Lula e Bolsonaro representam um período "do nós contra eles" que o Brasil vive desde o fim da ditadura. "Temos uma alternativa de acabar com esse ciclo já no ano que vem", disse, sem mencionar um candidato específico. Na sua visão, qualquer candidato da direita hoje pode ser a 'cara' do centro-direita nas eleições de 2026, mas que ainda não é hora de se colocar. "Vai apanhar", afirmou.

Xavier prevê uma eleição "super acirrada", em que não será possível saber o vencedor das urnas nem 24 horas antes do pleito. E, nesse ambiente, a situação fiscal d Brasil pode se deteriorar ainda mais, com o governo petista gastando mais para vencer a disputa. Na sua visão, "o Brasil está em risco".

"A gente está criando um endividamento muito alto e que é explosivo. 11% de juro real para um país que já tem uma dívida desse tamanho, a gente quebra", alertou. "A gente está se aproximando muito perto do encontro com a dívida", acrescentou. Uma eventual piora da situação fiscal do Brasil pode levar credor da dívida brasileira a questionar a vontade do País de honrá-la. "Dívida é capacidade vontade. A capacidade está ficando em dúvida e já tem um pouco de dúvida se (o governo) tem muita vontade de pagar mesmo".

Ao falar a estudantes brasileiros de MBA no exterior, ele analisou o histórico dos partidos políticos no Brasil para reforçar a cobrança da sociedade por uma proposta nova. Na sua visão, o PT "morreu", assim como o PSDB perdeu relevância nacional. No entanto, o Partido dos Trabalhadores tem o Lula, que é "muita coisa", mas demonstra um "egoísmo brutal" ao continuar sendo presidente e não dar oportunidade para outros.

"A reeleição é um câncer no Brasil. O incentivo do político é se reeleger. Virou uma profissão", criticou o gestor. "O político deveria servir as pessoas, servir o povo. Não se servir", emendou.

Segundo ele, é importante que o ciclo pós-ditadura termine para que o Brasil aponte para o futuro. Mesmo que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tenha surpreendido para cima nos últimos anos, sob a ótica de crescimento, quando comparado a outros emergentes, o Brasil "ficou para trás", na sua visão. "O Brasil nunca teve horizonte, nunca teve previsibilidade", concluiu.

*A repórter viajou a convite da MBA Brasil