Decisão de ocupar Cidade de Gaza deixa governo de Israel mais isolado

Internacional
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Líderes da oposição israelense, famílias de reféns e países aliados criticaram nesta sexta-feira, 8, a decisão de Israel de assumir o controle da Cidade de Gaza. A proposta do premiê Binyamin Netanyahu, aprovada na noite de quinta-feira, 7, deixou seu governo ainda mais isolado no cenário internacional.

Netanyahu entrou na reunião do gabinete de segurança pedindo a ocupação total da Faixa de Gaza mesmo diante do alerta do exército de que a operação colocaria em risco a vida dos reféns e poderia agravar o desastre humanitário. No fim, o premiê saiu com sinal verde para tomar apenas a Cidade de Gaza.

No entanto, horas depois, uma declaração do governo Netanyahu disse que o objetivo da proposta aprovada pelo gabinete de segurança é "derrotar o Hamas", não descartando a possibilidade de operações futuras além da Cidade de Gaza.

Netanyahu foi criticado dentro e fora do país. A Alemanha citou a decisão do governo ao anunciar a suspensão da exportação de equipamentos militares para Israel, segundo o chanceler alemão, Friedrich Merz.

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, afirmou que a decisão de Israel era um erro e pediu que Netanyahu voltasse atrás. "Esta ação não contribuirá em nada para pôr fim a este conflito ou para garantir a libertação dos reféns. Só trará mais derramamento de sangue", disse.

Genocídio

O alto comissário da ONU para os direitos humanos, Volker Türk, disse que o plano israelense "deve ser imediatamente interrompido". O presidente do Conselho da União Europeia, António Costa, disse que a ocupação teria "consequências para as relações UE-Israel".

Uma amostra do isolamento de Israel veio de Teresa Ribera, a segunda na hierarquia da Comissão Europeia. Em entrevista ao site Politico, ela disse que a guerra na Faixa de Gaza "parece muito com um genocídio", tornando-se a funcionária de mais alto escalão da UE a descrever o conflito desta forma. "Se não é genocídio, parece muito com a definição usada para expressar seu significado", disse.

Em um gesto simbólico, a Eslovênia proibiu a importação de produtos de assentamentos judeus na Cisjordânia. "As ações do governo de Israel constituem violações graves e repetidas do direito internacional humanitário", afirmou o governo esloveno, em comunicado - a medida foi considerada simbólica porque as importações são irrisórias.

Reação interna

Ontem, as principais figuras da oposição de Israel também criticaram a decisão. Yair Lapid e Yair Golan chamaram o plano do governo de "desastre". "Ele foi feito em desacordo com a opinião dos militares. Era isso que o Hamas queria: que Israel ficasse atolado na guerra sem objetivo", disse Lapid.

"Vamos ter de rastejar pelos túneis até quando? Até recuperar o último Kalashnikov?", questionou Golan. Avigdor Liberman, ex-ministro da Defesa, e Benny Gantz, general da reserva, criticaram o fato de a decisão ter sido tomada sem o aval do comando militar de Israel.

A maior associação de parentes de reféns afirmou que a ocupação será uma sentença de morte para os que ainda estão no cativeiro em Gaza. "O governo israelense condenou os reféns vivos à morte e os reféns mortos ao desaparecimento", afirmou a organização, em comunicado.

Extremismo

Enquanto isso, os membros mais radicais da coalizão de Netanyahu também criticaram o plano, mas porque a ocupação apenas da Cidade de Gaza não seria o bastante. Um porta-voz do ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, disse que a decisão era "imoral, antiética e não sionista" - Smotrich teria votado contra o plano de Netanyahu, segundo a rádio Kan. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O novo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, afirmou na tarde deste sábado, 8, em São Paulo, que governadores bolsonaristas "preferem fazer demagogia com sangue, ao tratar todo mundo da comunidade como se fosse bandido". Boulos disse que essa é a visão dos governadores do Rio, Cláudio Castro (PL), e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de outros chefes de Executivo estadual apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ele lançou no Morro da Lua, região de Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, o Projeto Governo na Rua, que tem a finalidade de ouvir a população e levar as manifestações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Boulos declarou também que a questão do combate ao crime é antiga, mas que Luiz Inácio Lula da Silva é quem tomou a iniciativa de tentar resolver com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública e o projeto de lei antifacção. Conforme o ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência, com essas propostas aprovadas, o governo federal terá mais atribuições e responsabilidades para o enfrentamento ao crime.

"A gente acredita que o combate ao crime tem que fazer da maneira correta, como a Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, para pegar o peixe grande, não o bagrinho. O peixe grande está na Avenida Faria Lima, não na favela", acredita.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), divulgou neste sábado, 8, a pauta da Casa para a próxima semana, com a inclusão do projeto de lei antifacção - texto encaminhado pelo governo ao Congresso na esteira da megaoperação que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro. A proposta é relatada pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de segurança de São Paulo.

Motta marcou a primeira sessão deliberativa da Casa da semana para terça-feira, 11, às 13h55. A sessão será semipresencial, conforme decidido pelo presidente da Câmara em atenção a pedido de líderes partidários. Isso significa que os deputados poderão votar a distância nas sessões dessa semana, sem precisarem estar em Brasília.

A pauta também contém outros projetos relacionados à Segurança Pública, como o que aumenta a destinação da arrecadação com jogos de apostas de quota fixa (bets) para o financiamento da segurança pública. O relator de tal projeto é o deputado Capitão Augusto (PL-SP).

Outro projeto na lista de serem debatidos pelos parlamentares é o que condiciona a progressão de regime, a saída temporária e a substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva à coleta de material biológico para obtenção do perfil genético do preso. O relator é o deputado Arthur Maia (União-BA).

Ainda consta na pauta a discussão de um projeto que altera o Código Tributário Nacional para tratar de normas gerais para solução de controvérsias, consensualidade e processo administrativo em matéria tributária e aduaneira. A tramitação em regime de urgência da proposta foi aprovada no último dia 21. O relator é o deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG).

O sócio-fundador da SPX Capital, Rogério Xavier, alertou neste sábado, 8, para a situação fiscal explosiva do Brasil. Com o juro real perto de 11% e o atual nível de endividamento, o País corre risco de quebrar se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) for reeleito e não mudar suas políticas. Por outro lado, pode virar a página caso eleja um candidato de centro-direita, escapando do duelo Lula versus Jair Bolsonaro e colocando um ponto final no ciclo pós-ditadura.

"O País quer uma coisa diferente dessa oferta que foi nos dada nos últimos anos, que aponte para o futuro. Chega de Bolsonaro, chega de Lula, está bom", disse Xavier, durante painel na conferência MBA Brasil 2025, em Boston, nos Estados Unidos.

Segundo ele, Lula e Bolsonaro representam um período "do nós contra eles" que o Brasil vive desde o fim da ditadura. "Temos uma alternativa de acabar com esse ciclo já no ano que vem", disse, sem mencionar um candidato específico. Na sua visão, qualquer candidato da direita hoje pode ser a 'cara' do centro-direita nas eleições de 2026, mas que ainda não é hora de se colocar. "Vai apanhar", afirmou.

Xavier prevê uma eleição "super acirrada", em que não será possível saber o vencedor das urnas nem 24 horas antes do pleito. E, nesse ambiente, a situação fiscal d Brasil pode se deteriorar ainda mais, com o governo petista gastando mais para vencer a disputa. Na sua visão, "o Brasil está em risco".

"A gente está criando um endividamento muito alto e que é explosivo. 11% de juro real para um país que já tem uma dívida desse tamanho, a gente quebra", alertou. "A gente está se aproximando muito perto do encontro com a dívida", acrescentou. Uma eventual piora da situação fiscal do Brasil pode levar credor da dívida brasileira a questionar a vontade do País de honrá-la. "Dívida é capacidade vontade. A capacidade está ficando em dúvida e já tem um pouco de dúvida se (o governo) tem muita vontade de pagar mesmo".

Ao falar a estudantes brasileiros de MBA no exterior, ele analisou o histórico dos partidos políticos no Brasil para reforçar a cobrança da sociedade por uma proposta nova. Na sua visão, o PT "morreu", assim como o PSDB perdeu relevância nacional. No entanto, o Partido dos Trabalhadores tem o Lula, que é "muita coisa", mas demonstra um "egoísmo brutal" ao continuar sendo presidente e não dar oportunidade para outros.

"A reeleição é um câncer no Brasil. O incentivo do político é se reeleger. Virou uma profissão", criticou o gestor. "O político deveria servir as pessoas, servir o povo. Não se servir", emendou.

Segundo ele, é importante que o ciclo pós-ditadura termine para que o Brasil aponte para o futuro. Mesmo que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tenha surpreendido para cima nos últimos anos, sob a ótica de crescimento, quando comparado a outros emergentes, o Brasil "ficou para trás", na sua visão. "O Brasil nunca teve horizonte, nunca teve previsibilidade", concluiu.

*A repórter viajou a convite da MBA Brasil