Charles III se torna primeiro monarca britânico a discursar no Parlamento francês

Internacional
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O rei Charles III, de 74 anos, se tornou nesta quinta-feira, 21, o primeiro monarca britânico a discursar no Parlamento francês. Em um discurso histórico, o rei defendeu o fortalecimento entre os países a despeito do Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia concluída em 2021.

O fato é considerado histórico devido ao posicionamento antimonarquista adotado pela França desde a declaração da República, em 1792, em meio à Revolução Francesa (1789-1799). Discursando em francês e bajulado pelos legisladores, Charles III defendeu novas parcerias entre Paris e Londres para combater a crise climática - a pauta ambiental sempre foi uma das prioridades na agenda do monarca.

"Gostaria de propor uma Entente pela Sustentabilidade para enfrentar de forma mais eficaz a emergência global em matéria de clima e biodiversidade", disse o rei, em referência à Entente Cordiale, série de acordos entre Reino Unido e França assinada em 1904 que pôs fim a séculos de conflito entre os países.

O monarca enfatizou os laços políticos, históricos e culturais comuns entre as nações, bem como os desafios mútuos que França e Reino Unido enfrentam atualmente. Segundo o monarca, uma aliança agora é "mais importante que nunca" no contexto da Guerra da Ucrânia, em curso no Leste Europeu há quase 19 meses, e também para "proteger o mundo" do que chamou de ameaças ambientais.

A defesa de ações para conter a mudança do clima foi feita um dia após o premiê britânico, Rishi Sunak, anunciar o adiamento de várias medidas emblemáticas da política climática do Reino Unido, numa decisão criticada como eleitoreira. O principal anúncio diz respeito aos novos carros movidos a gasolina e diesel, que agora terão a venda proibida em 2035, não em 2030.

As ambições climáticas do Reino Unido, que pretende ser neutro em carbono até 2050, foram impactadas pela crise do poder de compra que atinge os britânicos e pelas possíveis repercussões eleitorais para o partido conservador. Sunak já tinha causado contrariedade em julho, ao prometer centenas de novas licenças para a exploração de petróleo e gás no Mar do Norte.

Em relação ao conflito na Ucrânia, Charles III disse diante de cerca de 300 parlamentares que os russos cometem "agressões injustificadas". Ele defendeu uma "determinação inabalável" de Londres e Paris para Kiev "triunfar" e para que "prevaleçam liberdades preciosas".

Ao final do discurso, ele foi aplaudido de pé pelos parlamentares. "O Reino Unido será sempre um dos aliados mais próximos da França e juntos nosso potencial é ilimitado", disse, comprometendo-se a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para fortalecer o que chamou de "relação indispensável" entre os países.

No fim do dia, Charles e sua esposa, a rainha Camilla, visitaram um mercado de flores em Paris que leva da rainha Elizabeth II, mãe do monarca que morreu aos 96 anos em setembro do ano passado, e a catedral de Notre-Dame, em reforma desde que foi parcialmente destruída por um incêndio em 2019.

No primeiro dia dos três dias de sua visita à França, na quarta, 20, o rei participou de um jantar no Palácio de Versalhes oferecido pelo presidente Emmanuel Macron. Na ocasião, o líder francês disse que, apesar do Brexit, Paris e França continuarão a "escrever juntos parte da história do continente" europeu.

Charles III pretendia que sua primeira visita como rei fosse à França, mas a viagem planejada para março teve de ser adiada devido aos protestos violentos em território francês contra uma controversa reforma da Previdência defendida pelo governo Mácron.

(Com agências internacionais)

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A vereadora Cris Monteiro (Novo) afirmou nesta terça-feira, 29, durante discurso na tribuna da Câmara Municipal de São Paulo, que "mulher branca, bonita e rica incomoda". A declaração foi dirigida a sindicalistas que acompanhavam a votação do reajuste dos servidores municipais e gerou forte reação da plateia e de parlamentares.

Durante sua fala, Cris repreendeu a vereadora Luana Alves (PSOL), que tentava confrontá-la, e disse: "Por favor, Luana, calada. Pode me devolver o tempo. Eu escutei todos vocês calados (...) Agora, quando vem uma mulher branca aqui, falar a verdade para vocês, vocês ficam todos nervosos. Porque uma mulher branca, bonita e rica incomoda muito vocês".

Ela completou dizendo que representa uma parcela da população que a elegeu e criticou os grevistas. "Eu não vou defender essas pessoas que deixam as nossas crianças na sala de aula fazendo greve."

A vereadora Luana Alves, que é negra, classificou a fala como racista e pediu a suspensão da sessão. Segundo ela, Cris Monteiro teria direcionado suas palavras diretamente a ela enquanto discursava.

O áudio da transmissão oficial da sessão pela Rede Câmara, canal da Casa no YouTube, chegou a ser interrompido por alguns minutos, mas foi restabelecido em seguida. Após o retorno, a vereadora do Novo pediu desculpas.

"Lamento profundamente se alguém em particular se sentiu ofendido com a minha fala, não foi minha intenção. Faço uso da tribuna, como qualquer parlamentar, para defender minhas ideias e falar o que penso".

O presidente da Câmara, Ricardo Teixeira (União), disse que a Casa "não permite racista" e mencionou o caso do ex-vereador Camilo Cristófaro (Avante), cassado em 2023 por fala racista. No entanto, após rever o vídeo da declaração de Cris, avaliou que não houve racismo.

"Nós vimos e revimos várias vezes o vídeo. Na nossa opinião, não houve racismo", afirmou o presidente da Câmara. Segundo ele, a Corregedoria da Câmara acompanhará o caso. "Esse fato será analisado com sangue tranquilo, temperatura normal, pressão também".

A vereadora do PSOL, no entanto, reforçou a acusação. Para ela e outros vereadores, se tratou de um ato de racismo evidente.

"A vereadora Cris irá responder na Corregedoria. Fico muito triste que uma cassação não tenha sido suficiente para aprenderem que não se pode desrespeitar a população negra nessa Câmara", disse. Ela espera que o desfecho seja semelhante ao do caso Cristófaro.

Essa não foi a primeira polêmica envolvendo a vereadora Cris Monteiro. Em 2021, ela se envolveu em um episódio de agressão com a então vereadora Janaína Lima, à época também filiada ao Novo. Na ocasião, Cris afirmou esperar que Janaína fosse cassada.

Um relatório da Corregedoria da Câmara Municipal recomendou a suspensão das funções legislativas de ambas - Janaína e Cris - após a briga ocorrida no banheiro ao lado do Plenário, durante a votação da reforma da Previdência. No entanto, a ação disciplinar não avançou.

O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, afirmou a jornalistas, nesta terça-feira, 29, que está "totalmente" descartada a possibilidade de seu afastamento do ministério. As declarações ocorreram após depoimento na Comissão de Previdência da Câmara dos Deputados.

Na ocasião, Lupi havia respondido questionamentos de parlamentares sobre as fraudes no Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Ao ser questionado se houve alguma conversa sobre o seu afastamento do ministério, Lupi respondeu "nenhuma". Ele acrescentou: "Quem tem que decidir sobre isso é o presidente Lula. Eu sei que eu tenho a confiança dele e estou trabalhando para elucidar tudo o que tiver de errado", declarou.

Lupi voltou a dizer que não houve demora nas providências ao tomar conhecimento das denúncias de fraudes no INSS. "Isso é uma formação de quadrilha: grupos que se montaram para criar instituições e para roubar dinheiro de aposentado. Isso é chocante para mim", declarou.

O ministro prosseguiu: "Eu fui surpreendido com o volume disto. Porque eu sabia que tinha uma denúncia aqui, outra acolá, a gente sempre soube, a gente recebia queixa, na própria plataforma do INSS aparecia algumas pessoas se queixando. Agora, nesse quantitativo, por uma organização, eu tomei conhecimento agora".

Lupi também argumentou que a base para as investigações da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) vieram de apurações que ele determinou no INSS. Questionado se houve demora nas providências, ele negou.

"Aí, é outra discussão. Quando eu fiz a comparação com o botequim da esquina, eu adoro um pão na chapa no botequim da esquina. Quando eu fiz a comparação, é no sentido de que isso não é simples, são 7 milhões de pessoas. Como é que você verifica, checa, cria biometria de 7 milhões de pessoas?", afirmou.

Ainda em resposta aos jornalistas, Lupi afirmou: "Não demorei a determinar (as apurações). Foi tomado conhecimento dos vários fatos, inclusive no Conselho. O Conselho não é executivo, é um conselho de debate, de deliberações macro sobre visão da Previdência Social. Estava lá no assento o presidente do INSS e o diretor do INSS. Eu pedi para que tomassem providências disso, tanto é que eu demiti o diretor".

Conforme mostrou o Broadcast Político (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), Lupi argumenta que demitiu o diretor de Benefícios André Félix Fidélis, que teria apresentado lentidão para avançar com as apurações. Uma reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, mostrou que o ministro foi alertado sobre as fraudes em junho de 2023, mas adiou a discussão e só tomou providências após quase um ano.

A auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) nos descontos em contracheques de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) revelou situações flagrantes de fraude.

Foram descobertos cadastros em nome de analfabetos, indígenas de comunidades isoladas, idosos com doenças graves, pessoas com deficiência e aposentados.

São pessoas que, segundo a CGU, não teriam como comparecer pessoalmente às associações e nem como assinar fichas de filiação e termos de autorização para os descontos em benefício dessas entidades. Algumas até residem no exterior.

Os casos foram descobertos a partir de entrevistas feitas com uma amostra de 1.273 beneficiários do INSS, registrados nos 27 Estados e no Distrito Federal, que tiveram valores descontados de seus contracheques. 97,6% dos entrevistados informaram à CGU não ter autorizado os abatimentos.

Os beneficiários do INSS podem aderir a associações civis e sindicatos e autorizar descontos mensais em seus contracheques para cobrir custos de filiação. Para isso, as entidades devem estar habilitadas junto ao INSS e precisam receber autorização "prévia, pessoal e específica" de aposentados e pensionistas interessados.

Parte dos aposentados ouvidos pela CGU só tomou conhecimento dos descontos no momento das entrevistas.

A Polícia Federal afirma que a auditoria revela um "cenário de incongruências". A PF investiga se idosos foram induzidos a assinar autorizações de desconto sem saber a verdadeira finalidade dos documentos e até se assinaturas foram forjadas.

As suspeitas são investigadas na Operação Sem Desconto. Segundo a Polícia Federal, servidores do INSS venderam dados de aposentados e pensionistas em troca de propinas e facilitaram os descontos indevidos direto nos contracheques dos beneficiários. O esquema teria causado um prejuízo de R$ 6,3 bilhões a milhares de aposentados.

Pressionado, o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, pediu demissão após ter sido afastado do cargo por ordem judicial.