Lula retorna à ONU após Bolsonaro promover 'guerra cultural' e política interna em discursos

Internacional
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O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, voltará a discursar na Assembleia-Geral da ONU nesta terça-feira, às 10 horas, pelo horário de Brasília, depois de uma sequência de discursos de seu antecessor, Jair Bolsonaro, que promoveu uma espécie de "guerra cultural" e foi voltada à política interna.

Em 2019, em seu primeiro discurso no fórum, Bolsonaro usou cinco vezes a palavra "socialismo", e atacou o Foro de São Paulo. Criticou o programa Mais Médicos, insinuando que os profissionais cubanos eram agentes infiltrados em território brasileiro.

"Já nos anos 60, agentes cubanos foram enviados a diversos países para colaborar com a implementação de ditaduras", declarou Bolsonaro à época. As falas estão registradas no acervo de discursos do Palácio do Planalto.

Bolsonaro também citou outro país que causa rejeição na direita, seu grupo político. "O socialismo está dando certo na Venezuela! Todos estão pobres e sem liberdade!", declarou o então presidente brasileiro em seu discurso de 2019.

Ele mencionou Cesare Battisti, que estava foragido no Brasil e foi entregue à Itália. Temas como esses animavam o eleitorado bolsonarista em território nacional.

O então presidente também citou em seu primeiro discurso na ONU o senador e ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro, que à época era seu ministro da Justiça. Depois, ambos brigaram e trocaram acusações - antes de se reconciliarem nas eleições de 2022.

"Há pouco, presidentes socialistas que me antecederam desviaram centenas de bilhões de dólares comprando parte da mídia e parte do parlamento, tudo por um projeto de poder absoluto. Foram julgados e punidos graças ao patriotismo, perseverança e coragem de um juiz que é símbolo no meu país, o Dr. Sergio Moro, nosso atual ministro da Justiça e Segurança Pública", declarou Bolsonaro na Assembleia-Geral das Nações Unidas.

"A ideologia se instalou no terreno da cultura, da educação e da mídia, dominando meios de comunicação, universidades e escolas. A ideologia invadiu nossos lares para investir contra a célula mater de qualquer sociedade saudável, a família. Tentam ainda destruir a inocência de nossas crianças, pervertendo até mesmo identidade mais básica e elementar, a biológica", disse o então presidente brasileiro em seu pronunciamento.

Em 2020, primeiro ano da pandemia de coronavírus, Bolsonaro reclamou na Assembleia-Geral da ONU do aumento nos preços dos ingredientes para produzir hidroxicloroquina. Tratava-se do remédio que o então presidente promovia como tratamento para a covid-19 sem respaldo científico.

Ele também disse que o Brasil era vítima de uma "brutal" campanha de desinformação sobre a preservação de Amazônia e Pantanal. Além disso, pediu apoio para um combate à "cristofobia". "O Brasil é um país cristão e conservador e tem na família sua base", declarou ao encerrar no pronunciamento.

O discurso de Jair Bolsonaro em 2021, o terceiro de seu governo na Assembleia Geral da ONU, foi o primeiro em que ele pediu uma reforma no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Trata-se de uma pauta história do Brasil na política internacional.

Bolsonaro voltou a dizer que antes de seu governo o País estava "à beira do socialismo". E que naquele momento o Brasil tinha "um presidente que acredita em Deus, respeita a Constituição e seus militares, valoriza a família e deve lealdade a seu povo".

Além disso, o então presidente brasileiro fez uma menção disfarçada à cloroquina, chamando-a de "tratamento inicial" para o coronavírus. À época o mundo ainda lidava com mortandade em massa por causa da covid-19.

"Não entendemos porque muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o tratamento inicial", disse na ocasião Jair Bolsonaro.

Em 2022, o discurso de Bolsonaro foi poucas semanas antes do primeiro turno da eleição presidencial. Ele promoveu seu governo e fez menos acenos à direita. O então candidato buscava reduzir sua rejeição fora desse grupo.

Ainda assim, falou contra a "ideologia de gênero" e mencionou "defesa do direito à vida desde a concepção", além de "direito à legítima defesa".

No final de seu discurso, proferiu um dos slogans que usou em sua campanha eleitoral. Disse que o povo brasileiro acreditava em "Deus, pátria, família e liberdade".

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A vereadora Cris Monteiro (Novo) afirmou nesta terça-feira, 29, durante discurso na tribuna da Câmara Municipal de São Paulo, que "mulher branca, bonita e rica incomoda". A declaração foi dirigida a sindicalistas que acompanhavam a votação do reajuste dos servidores municipais e gerou forte reação da plateia e de parlamentares.

Durante sua fala, Cris repreendeu a vereadora Luana Alves (PSOL), que tentava confrontá-la, e disse: "Por favor, Luana, calada. Pode me devolver o tempo. Eu escutei todos vocês calados (...) Agora, quando vem uma mulher branca aqui, falar a verdade para vocês, vocês ficam todos nervosos. Porque uma mulher branca, bonita e rica incomoda muito vocês".

Ela completou dizendo que representa uma parcela da população que a elegeu e criticou os grevistas. "Eu não vou defender essas pessoas que deixam as nossas crianças na sala de aula fazendo greve."

A vereadora Luana Alves, que é negra, classificou a fala como racista e pediu a suspensão da sessão. Segundo ela, Cris Monteiro teria direcionado suas palavras diretamente a ela enquanto discursava.

O áudio da transmissão oficial da sessão pela Rede Câmara, canal da Casa no YouTube, chegou a ser interrompido por alguns minutos, mas foi restabelecido em seguida. Após o retorno, a vereadora do Novo pediu desculpas.

"Lamento profundamente se alguém em particular se sentiu ofendido com a minha fala, não foi minha intenção. Faço uso da tribuna, como qualquer parlamentar, para defender minhas ideias e falar o que penso".

O presidente da Câmara, Ricardo Teixeira (União), disse que a Casa "não permite racista" e mencionou o caso do ex-vereador Camilo Cristófaro (Avante), cassado em 2023 por fala racista. No entanto, após rever o vídeo da declaração de Cris, avaliou que não houve racismo.

"Nós vimos e revimos várias vezes o vídeo. Na nossa opinião, não houve racismo", afirmou o presidente da Câmara. Segundo ele, a Corregedoria da Câmara acompanhará o caso. "Esse fato será analisado com sangue tranquilo, temperatura normal, pressão também".

A vereadora do PSOL, no entanto, reforçou a acusação. Para ela e outros vereadores, se tratou de um ato de racismo evidente.

"A vereadora Cris irá responder na Corregedoria. Fico muito triste que uma cassação não tenha sido suficiente para aprenderem que não se pode desrespeitar a população negra nessa Câmara", disse. Ela espera que o desfecho seja semelhante ao do caso Cristófaro.

Essa não foi a primeira polêmica envolvendo a vereadora Cris Monteiro. Em 2021, ela se envolveu em um episódio de agressão com a então vereadora Janaína Lima, à época também filiada ao Novo. Na ocasião, Cris afirmou esperar que Janaína fosse cassada.

Um relatório da Corregedoria da Câmara Municipal recomendou a suspensão das funções legislativas de ambas - Janaína e Cris - após a briga ocorrida no banheiro ao lado do Plenário, durante a votação da reforma da Previdência. No entanto, a ação disciplinar não avançou.

O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, afirmou a jornalistas, nesta terça-feira, 29, que está "totalmente" descartada a possibilidade de seu afastamento do ministério. As declarações ocorreram após depoimento na Comissão de Previdência da Câmara dos Deputados.

Na ocasião, Lupi havia respondido questionamentos de parlamentares sobre as fraudes no Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Ao ser questionado se houve alguma conversa sobre o seu afastamento do ministério, Lupi respondeu "nenhuma". Ele acrescentou: "Quem tem que decidir sobre isso é o presidente Lula. Eu sei que eu tenho a confiança dele e estou trabalhando para elucidar tudo o que tiver de errado", declarou.

Lupi voltou a dizer que não houve demora nas providências ao tomar conhecimento das denúncias de fraudes no INSS. "Isso é uma formação de quadrilha: grupos que se montaram para criar instituições e para roubar dinheiro de aposentado. Isso é chocante para mim", declarou.

O ministro prosseguiu: "Eu fui surpreendido com o volume disto. Porque eu sabia que tinha uma denúncia aqui, outra acolá, a gente sempre soube, a gente recebia queixa, na própria plataforma do INSS aparecia algumas pessoas se queixando. Agora, nesse quantitativo, por uma organização, eu tomei conhecimento agora".

Lupi também argumentou que a base para as investigações da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) vieram de apurações que ele determinou no INSS. Questionado se houve demora nas providências, ele negou.

"Aí, é outra discussão. Quando eu fiz a comparação com o botequim da esquina, eu adoro um pão na chapa no botequim da esquina. Quando eu fiz a comparação, é no sentido de que isso não é simples, são 7 milhões de pessoas. Como é que você verifica, checa, cria biometria de 7 milhões de pessoas?", afirmou.

Ainda em resposta aos jornalistas, Lupi afirmou: "Não demorei a determinar (as apurações). Foi tomado conhecimento dos vários fatos, inclusive no Conselho. O Conselho não é executivo, é um conselho de debate, de deliberações macro sobre visão da Previdência Social. Estava lá no assento o presidente do INSS e o diretor do INSS. Eu pedi para que tomassem providências disso, tanto é que eu demiti o diretor".

Conforme mostrou o Broadcast Político (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), Lupi argumenta que demitiu o diretor de Benefícios André Félix Fidélis, que teria apresentado lentidão para avançar com as apurações. Uma reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, mostrou que o ministro foi alertado sobre as fraudes em junho de 2023, mas adiou a discussão e só tomou providências após quase um ano.

A auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) nos descontos em contracheques de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) revelou situações flagrantes de fraude.

Foram descobertos cadastros em nome de analfabetos, indígenas de comunidades isoladas, idosos com doenças graves, pessoas com deficiência e aposentados.

São pessoas que, segundo a CGU, não teriam como comparecer pessoalmente às associações e nem como assinar fichas de filiação e termos de autorização para os descontos em benefício dessas entidades. Algumas até residem no exterior.

Os casos foram descobertos a partir de entrevistas feitas com uma amostra de 1.273 beneficiários do INSS, registrados nos 27 Estados e no Distrito Federal, que tiveram valores descontados de seus contracheques. 97,6% dos entrevistados informaram à CGU não ter autorizado os abatimentos.

Os beneficiários do INSS podem aderir a associações civis e sindicatos e autorizar descontos mensais em seus contracheques para cobrir custos de filiação. Para isso, as entidades devem estar habilitadas junto ao INSS e precisam receber autorização "prévia, pessoal e específica" de aposentados e pensionistas interessados.

Parte dos aposentados ouvidos pela CGU só tomou conhecimento dos descontos no momento das entrevistas.

A Polícia Federal afirma que a auditoria revela um "cenário de incongruências". A PF investiga se idosos foram induzidos a assinar autorizações de desconto sem saber a verdadeira finalidade dos documentos e até se assinaturas foram forjadas.

As suspeitas são investigadas na Operação Sem Desconto. Segundo a Polícia Federal, servidores do INSS venderam dados de aposentados e pensionistas em troca de propinas e facilitaram os descontos indevidos direto nos contracheques dos beneficiários. O esquema teria causado um prejuízo de R$ 6,3 bilhões a milhares de aposentados.

Pressionado, o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, pediu demissão após ter sido afastado do cargo por ordem judicial.