Irã e EUA trocam presos ao estilo da Guerra Fria e ensaiam diálogo

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Os EUA e o Irã libertaram 10 prisioneiros nesta segunda, 18, numa troca que sinalizou um degelo parcial nas relações dos adversários de longa data. Ao estilo da Guerra Fria, cinco cidadãos americanos detidos no Irã deixaram Teerã, ao mesmo tempo que os EUA libertavam cinco iranianos presos no país. Simultanemente, Washington liberava a transferência de US$ 6 bilhões em fundos de petróleo iranianos congelados na Coreia do Sul.

O pacto, negociado ao longo de vários meses, marca um grande avanço entre os adversários que permanecem em desacordo sobre uma série de questões, incluindo a rápida expansão do programa nuclear de Teerã, seu apoio militar à Rússia e a dura repressão do Irã à dissidência interna.

A negociação, porém, foi duramente criticada pelos republicanos no Congresso que se opõem a qualquer conversa envolvendo o descongelamento dos fundos iranianos. Para eles, a administração deveria ter negociado em termos mais favoráveis aos EUA.

Em meio às conversações, segundo o jornal The Washington Post, EUA e Irã também têm discutido um possível acordo informal que procuraria impor algumas limitações ao programa nuclear iraniano. As autoridades americanas insistiram, no entanto, que essas conversações não estão relacionadas com a troca de prisioneiros.

Os americanos libertados pelo Irã incluem Siamak Namazi, um iraniano-americano preso em Teerã por quase oito anos, o período mais longo que a república islâmica já encarcerou qualquer americano. Outros incluem Morad Tahbaz, um iraniano-americano que também tem cidadania britânica, e Emad Shargi, um iraniano-americano com dupla cidadania. Eles foram libertados da prisão de Evin e colocados em domiciliar no mês passado, em um passo inicial. Dois outros não foram identificados a pedido de suas famílias.

Coreografado

O complexo acordo envolveu um processo cuidadosamente coreografado por Teerã e Washington. Por volta das 9h na costa leste americana, depois de Washington ter obtido a confirmação de que os cinco americanos estavam num avião do governo do Catar que partia do espaço aéreo iraniano, um alto funcionário da administração transmitiu uma breve declaração indicando que estavam a caminho de Doha em segurança. Eles seguirão depois para os EUA.

Quando os americanos deixaram o Irã, os EUA libertaram cinco iranianos. Um funcionário iraniano os identificou como Kaveh Afrasiabi, acusado de lobby ilícito, Reza Sarhangpour Kafrani, acusado de exportar equipamento de laboratório para o programa nuclear do Irã, violando sanções, Mehrdad Ansari, que cumpria 5 anos de prisão por adquirir equipamento militar, Kambiz Attar Kashani, que foi acusado de conspirar para exportar mercadorias ilegais e Amin Hasanzadeh, acusado de roubar informações confidenciais. As autoridades dos EUA os descreveram como criminosos não violentos e de baixo nível que não representam uma ameaça à segurança nacional americana.

Ao mesmo tempo, uma rede de bancos privados e instituições financeiras finalizou a transferência de fundos para contas às quais o Irã terá acesso sob a supervisão dos EUA e só poderão ser usados para fins humanitários.

Antes da troca de prisioneiros, a relação da atual administração americana com Teerã era marcada por uma profunda desconfiança, em grande parte devido ao fracasso em relançar um acordo nuclear que Biden tinha prometido renovar. Donald Trump retirou os EUA unilateralmente desse acordo em 2018. Teerã recusa-se a conversar diretamente com Washington.

Os aliados europeus dos EUA esperam que a última negociação ajude a preparar o caminho para discussões mais produtivas, mas as expectativas permanecem baixas. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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A vereadora Cris Monteiro (Novo) afirmou nesta terça-feira, 29, durante discurso na tribuna da Câmara Municipal de São Paulo, que "mulher branca, bonita e rica incomoda". A declaração foi dirigida a sindicalistas que acompanhavam a votação do reajuste dos servidores municipais e gerou forte reação da plateia e de parlamentares.

Durante sua fala, Cris repreendeu a vereadora Luana Alves (PSOL), que tentava confrontá-la, e disse: "Por favor, Luana, calada. Pode me devolver o tempo. Eu escutei todos vocês calados (...) Agora, quando vem uma mulher branca aqui, falar a verdade para vocês, vocês ficam todos nervosos. Porque uma mulher branca, bonita e rica incomoda muito vocês".

Ela completou dizendo que representa uma parcela da população que a elegeu e criticou os grevistas. "Eu não vou defender essas pessoas que deixam as nossas crianças na sala de aula fazendo greve."

A vereadora Luana Alves, que é negra, classificou a fala como racista e pediu a suspensão da sessão. Segundo ela, Cris Monteiro teria direcionado suas palavras diretamente a ela enquanto discursava.

O áudio da transmissão oficial da sessão pela Rede Câmara, canal da Casa no YouTube, chegou a ser interrompido por alguns minutos, mas foi restabelecido em seguida. Após o retorno, a vereadora do Novo pediu desculpas.

"Lamento profundamente se alguém em particular se sentiu ofendido com a minha fala, não foi minha intenção. Faço uso da tribuna, como qualquer parlamentar, para defender minhas ideias e falar o que penso".

O presidente da Câmara, Ricardo Teixeira (União), disse que a Casa "não permite racista" e mencionou o caso do ex-vereador Camilo Cristófaro (Avante), cassado em 2023 por fala racista. No entanto, após rever o vídeo da declaração de Cris, avaliou que não houve racismo.

"Nós vimos e revimos várias vezes o vídeo. Na nossa opinião, não houve racismo", afirmou o presidente da Câmara. Segundo ele, a Corregedoria da Câmara acompanhará o caso. "Esse fato será analisado com sangue tranquilo, temperatura normal, pressão também".

A vereadora do PSOL, no entanto, reforçou a acusação. Para ela e outros vereadores, se tratou de um ato de racismo evidente.

"A vereadora Cris irá responder na Corregedoria. Fico muito triste que uma cassação não tenha sido suficiente para aprenderem que não se pode desrespeitar a população negra nessa Câmara", disse. Ela espera que o desfecho seja semelhante ao do caso Cristófaro.

Essa não foi a primeira polêmica envolvendo a vereadora Cris Monteiro. Em 2021, ela se envolveu em um episódio de agressão com a então vereadora Janaína Lima, à época também filiada ao Novo. Na ocasião, Cris afirmou esperar que Janaína fosse cassada.

Um relatório da Corregedoria da Câmara Municipal recomendou a suspensão das funções legislativas de ambas - Janaína e Cris - após a briga ocorrida no banheiro ao lado do Plenário, durante a votação da reforma da Previdência. No entanto, a ação disciplinar não avançou.

O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, afirmou a jornalistas, nesta terça-feira, 29, que está "totalmente" descartada a possibilidade de seu afastamento do ministério. As declarações ocorreram após depoimento na Comissão de Previdência da Câmara dos Deputados.

Na ocasião, Lupi havia respondido questionamentos de parlamentares sobre as fraudes no Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Ao ser questionado se houve alguma conversa sobre o seu afastamento do ministério, Lupi respondeu "nenhuma". Ele acrescentou: "Quem tem que decidir sobre isso é o presidente Lula. Eu sei que eu tenho a confiança dele e estou trabalhando para elucidar tudo o que tiver de errado", declarou.

Lupi voltou a dizer que não houve demora nas providências ao tomar conhecimento das denúncias de fraudes no INSS. "Isso é uma formação de quadrilha: grupos que se montaram para criar instituições e para roubar dinheiro de aposentado. Isso é chocante para mim", declarou.

O ministro prosseguiu: "Eu fui surpreendido com o volume disto. Porque eu sabia que tinha uma denúncia aqui, outra acolá, a gente sempre soube, a gente recebia queixa, na própria plataforma do INSS aparecia algumas pessoas se queixando. Agora, nesse quantitativo, por uma organização, eu tomei conhecimento agora".

Lupi também argumentou que a base para as investigações da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) vieram de apurações que ele determinou no INSS. Questionado se houve demora nas providências, ele negou.

"Aí, é outra discussão. Quando eu fiz a comparação com o botequim da esquina, eu adoro um pão na chapa no botequim da esquina. Quando eu fiz a comparação, é no sentido de que isso não é simples, são 7 milhões de pessoas. Como é que você verifica, checa, cria biometria de 7 milhões de pessoas?", afirmou.

Ainda em resposta aos jornalistas, Lupi afirmou: "Não demorei a determinar (as apurações). Foi tomado conhecimento dos vários fatos, inclusive no Conselho. O Conselho não é executivo, é um conselho de debate, de deliberações macro sobre visão da Previdência Social. Estava lá no assento o presidente do INSS e o diretor do INSS. Eu pedi para que tomassem providências disso, tanto é que eu demiti o diretor".

Conforme mostrou o Broadcast Político (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), Lupi argumenta que demitiu o diretor de Benefícios André Félix Fidélis, que teria apresentado lentidão para avançar com as apurações. Uma reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, mostrou que o ministro foi alertado sobre as fraudes em junho de 2023, mas adiou a discussão e só tomou providências após quase um ano.

A auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) nos descontos em contracheques de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) revelou situações flagrantes de fraude.

Foram descobertos cadastros em nome de analfabetos, indígenas de comunidades isoladas, idosos com doenças graves, pessoas com deficiência e aposentados.

São pessoas que, segundo a CGU, não teriam como comparecer pessoalmente às associações e nem como assinar fichas de filiação e termos de autorização para os descontos em benefício dessas entidades. Algumas até residem no exterior.

Os casos foram descobertos a partir de entrevistas feitas com uma amostra de 1.273 beneficiários do INSS, registrados nos 27 Estados e no Distrito Federal, que tiveram valores descontados de seus contracheques. 97,6% dos entrevistados informaram à CGU não ter autorizado os abatimentos.

Os beneficiários do INSS podem aderir a associações civis e sindicatos e autorizar descontos mensais em seus contracheques para cobrir custos de filiação. Para isso, as entidades devem estar habilitadas junto ao INSS e precisam receber autorização "prévia, pessoal e específica" de aposentados e pensionistas interessados.

Parte dos aposentados ouvidos pela CGU só tomou conhecimento dos descontos no momento das entrevistas.

A Polícia Federal afirma que a auditoria revela um "cenário de incongruências". A PF investiga se idosos foram induzidos a assinar autorizações de desconto sem saber a verdadeira finalidade dos documentos e até se assinaturas foram forjadas.

As suspeitas são investigadas na Operação Sem Desconto. Segundo a Polícia Federal, servidores do INSS venderam dados de aposentados e pensionistas em troca de propinas e facilitaram os descontos indevidos direto nos contracheques dos beneficiários. O esquema teria causado um prejuízo de R$ 6,3 bilhões a milhares de aposentados.

Pressionado, o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, pediu demissão após ter sido afastado do cargo por ordem judicial.