Tropa anfíbia, paragliders, explosivos: o Hamas está mais armado do que se sabia

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Na madrugada de sábado, 7, havia luar sobre a Faixa de Gaza Os 2,3 milhões de habitantes de uma área 10% menor que o centro urbano de São Paulo acordaram com um ruído grave.

E foi aí que o céu noturno despejou fogo sobre as ruas, as cabeças, os poucos carros, muitas pessoas. Os 2.200 (talvez 5 400) foguetes livres (sem guiagem eletrônica) e mísseis (com direcionamento eletrônico) atravessaram os poucos quilômetros de fronteira que isolam o enclave. Cerca de 700 toneladas de explosivos foram despejadas.

O ataque sem precedentes mostrou que os terroristas do Hamas estão mais organizados - e muito mais armados - do que se tinha notícia. A tropa anfíbia, equivalente a fuzileiros navais, que invadiu Israel por mar com barcos de pesca de pequeno porte, era até então desconhecida. Assim como ocorreram sem notícia os treinamentos nas colinas de Golã para incursão aérea com uso de paragliders.

Agora, o centro de estudos estratégicos da Universidade de Georgetown, em Washington, estima que o Hamas tenha 40 mil militantes. O número é muito superior ao que se acreditava anteriormente (algo de 8 a 12 mil pessoas entre simpatizantes e combatentes treinados).

É, no entanto, uma força muito menor que o poderoso exército israelense, com 600 mil soldados e reservistas que podem ser convocados em até 24 horas.

Essa velocidade de mobilização é outro indicativo da eficiência que sempre caracterizou as forças de Israel. O país consegue destacar tropas em 12 horas enquanto o exército americano, o maior do mundo, tem um prazo de até dois dias como meta.

Apesar de toda essa superioridade, os israelenses foram pegos de surpresa por um ataque em larga escala, que exige grande movimentação e deixa rastros, como o fornecimento de centenas de mísseis e foguetes.

Projéteis esses que têm alcance variado entre 9, 15, 40 e até 220 km. E seriam entregues por diferentes fontes. A Coreia do Norte, por exemplo, enviou uma delegação ao pequeno complexo bélico na Faixa de Gaza.

Recentemente também estoques desviados da era Saddam Hussein no Iraque (1994 a 2003) e Muammar Gaddafi na Líbia (1969 a 2011) voltaram ao mercado. Embora não esteja comprovado que tenham chegado às mãos do Hamas, alguns foguetes utilizados agora parecem compatíveis.

O Irã, por sua vez, possui 120 indústrias de armas e, e segundo fontes do próprio Hamas disseram ao jornal The Wall Street Journal, teria ajudado na investida programada desde agosto e autorizada na semana passada sem ser percebida por Israel.

Pego de surpresa, o país agora contra-ataca. Sua força de blindados foi posicionada nos arredores de Gaza e o mundo observa até onde vai a reação do governo Binyamin Netanyahu, que além do poder de fogo dispõe de armas mais sofisticadas e eficientes.

Em um golpe para o Hamas, as chamadas bombas inteligentes destruíram o prédio onde operava o serviço de inteligência do grupo. Quase uma tonelada de explosivos, e a construção veio abaixo.

A escalada neste momento parece inevitável e preocupa. Isso porque, embora sempre tenha negado, Israel é uma potência nuclear, que teria cerca de 200 armas entre projéteis de artilharia e mísseis (táticos e estratégicos). É o programa Jericó. Apesar do mistério que cerca as suas instalações ditas civis, uma história da guerra do Yom Kippur, há exatos 50 anos, aponta os riscos do conflito.

Em 1973, quando Israel foi alvo de uma invasão das tropas do Egito e da Síria, o general Ariel Sharon teria ameaçado reagir com uma bomba nuclear no Cairo. O avião com a ogiva teria dado início a viagem e recuado com a contenção das tropas egípcias. Embora o relatos não tenham sido comprovados, indicam que Israel dispõe de um arsenal nuclear e poderia usá-lo.

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A vereadora Cris Monteiro (Novo) afirmou nesta terça-feira, 29, durante discurso na tribuna da Câmara Municipal de São Paulo, que "mulher branca, bonita e rica incomoda". A declaração foi dirigida a sindicalistas que acompanhavam a votação do reajuste dos servidores municipais e gerou forte reação da plateia e de parlamentares.

Durante sua fala, Cris repreendeu a vereadora Luana Alves (PSOL), que tentava confrontá-la, e disse: "Por favor, Luana, calada. Pode me devolver o tempo. Eu escutei todos vocês calados (...) Agora, quando vem uma mulher branca aqui, falar a verdade para vocês, vocês ficam todos nervosos. Porque uma mulher branca, bonita e rica incomoda muito vocês".

Ela completou dizendo que representa uma parcela da população que a elegeu e criticou os grevistas. "Eu não vou defender essas pessoas que deixam as nossas crianças na sala de aula fazendo greve."

A vereadora Luana Alves, que é negra, classificou a fala como racista e pediu a suspensão da sessão. Segundo ela, Cris Monteiro teria direcionado suas palavras diretamente a ela enquanto discursava.

O áudio da transmissão oficial da sessão pela Rede Câmara, canal da Casa no YouTube, chegou a ser interrompido por alguns minutos, mas foi restabelecido em seguida. Após o retorno, a vereadora do Novo pediu desculpas.

"Lamento profundamente se alguém em particular se sentiu ofendido com a minha fala, não foi minha intenção. Faço uso da tribuna, como qualquer parlamentar, para defender minhas ideias e falar o que penso".

O presidente da Câmara, Ricardo Teixeira (União), disse que a Casa "não permite racista" e mencionou o caso do ex-vereador Camilo Cristófaro (Avante), cassado em 2023 por fala racista. No entanto, após rever o vídeo da declaração de Cris, avaliou que não houve racismo.

"Nós vimos e revimos várias vezes o vídeo. Na nossa opinião, não houve racismo", afirmou o presidente da Câmara. Segundo ele, a Corregedoria da Câmara acompanhará o caso. "Esse fato será analisado com sangue tranquilo, temperatura normal, pressão também".

A vereadora do PSOL, no entanto, reforçou a acusação. Para ela e outros vereadores, se tratou de um ato de racismo evidente.

"A vereadora Cris irá responder na Corregedoria. Fico muito triste que uma cassação não tenha sido suficiente para aprenderem que não se pode desrespeitar a população negra nessa Câmara", disse. Ela espera que o desfecho seja semelhante ao do caso Cristófaro.

Essa não foi a primeira polêmica envolvendo a vereadora Cris Monteiro. Em 2021, ela se envolveu em um episódio de agressão com a então vereadora Janaína Lima, à época também filiada ao Novo. Na ocasião, Cris afirmou esperar que Janaína fosse cassada.

Um relatório da Corregedoria da Câmara Municipal recomendou a suspensão das funções legislativas de ambas - Janaína e Cris - após a briga ocorrida no banheiro ao lado do Plenário, durante a votação da reforma da Previdência. No entanto, a ação disciplinar não avançou.

O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, afirmou a jornalistas, nesta terça-feira, 29, que está "totalmente" descartada a possibilidade de seu afastamento do ministério. As declarações ocorreram após depoimento na Comissão de Previdência da Câmara dos Deputados.

Na ocasião, Lupi havia respondido questionamentos de parlamentares sobre as fraudes no Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Ao ser questionado se houve alguma conversa sobre o seu afastamento do ministério, Lupi respondeu "nenhuma". Ele acrescentou: "Quem tem que decidir sobre isso é o presidente Lula. Eu sei que eu tenho a confiança dele e estou trabalhando para elucidar tudo o que tiver de errado", declarou.

Lupi voltou a dizer que não houve demora nas providências ao tomar conhecimento das denúncias de fraudes no INSS. "Isso é uma formação de quadrilha: grupos que se montaram para criar instituições e para roubar dinheiro de aposentado. Isso é chocante para mim", declarou.

O ministro prosseguiu: "Eu fui surpreendido com o volume disto. Porque eu sabia que tinha uma denúncia aqui, outra acolá, a gente sempre soube, a gente recebia queixa, na própria plataforma do INSS aparecia algumas pessoas se queixando. Agora, nesse quantitativo, por uma organização, eu tomei conhecimento agora".

Lupi também argumentou que a base para as investigações da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) vieram de apurações que ele determinou no INSS. Questionado se houve demora nas providências, ele negou.

"Aí, é outra discussão. Quando eu fiz a comparação com o botequim da esquina, eu adoro um pão na chapa no botequim da esquina. Quando eu fiz a comparação, é no sentido de que isso não é simples, são 7 milhões de pessoas. Como é que você verifica, checa, cria biometria de 7 milhões de pessoas?", afirmou.

Ainda em resposta aos jornalistas, Lupi afirmou: "Não demorei a determinar (as apurações). Foi tomado conhecimento dos vários fatos, inclusive no Conselho. O Conselho não é executivo, é um conselho de debate, de deliberações macro sobre visão da Previdência Social. Estava lá no assento o presidente do INSS e o diretor do INSS. Eu pedi para que tomassem providências disso, tanto é que eu demiti o diretor".

Conforme mostrou o Broadcast Político (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), Lupi argumenta que demitiu o diretor de Benefícios André Félix Fidélis, que teria apresentado lentidão para avançar com as apurações. Uma reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, mostrou que o ministro foi alertado sobre as fraudes em junho de 2023, mas adiou a discussão e só tomou providências após quase um ano.

A auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) nos descontos em contracheques de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) revelou situações flagrantes de fraude.

Foram descobertos cadastros em nome de analfabetos, indígenas de comunidades isoladas, idosos com doenças graves, pessoas com deficiência e aposentados.

São pessoas que, segundo a CGU, não teriam como comparecer pessoalmente às associações e nem como assinar fichas de filiação e termos de autorização para os descontos em benefício dessas entidades. Algumas até residem no exterior.

Os casos foram descobertos a partir de entrevistas feitas com uma amostra de 1.273 beneficiários do INSS, registrados nos 27 Estados e no Distrito Federal, que tiveram valores descontados de seus contracheques. 97,6% dos entrevistados informaram à CGU não ter autorizado os abatimentos.

Os beneficiários do INSS podem aderir a associações civis e sindicatos e autorizar descontos mensais em seus contracheques para cobrir custos de filiação. Para isso, as entidades devem estar habilitadas junto ao INSS e precisam receber autorização "prévia, pessoal e específica" de aposentados e pensionistas interessados.

Parte dos aposentados ouvidos pela CGU só tomou conhecimento dos descontos no momento das entrevistas.

A Polícia Federal afirma que a auditoria revela um "cenário de incongruências". A PF investiga se idosos foram induzidos a assinar autorizações de desconto sem saber a verdadeira finalidade dos documentos e até se assinaturas foram forjadas.

As suspeitas são investigadas na Operação Sem Desconto. Segundo a Polícia Federal, servidores do INSS venderam dados de aposentados e pensionistas em troca de propinas e facilitaram os descontos indevidos direto nos contracheques dos beneficiários. O esquema teria causado um prejuízo de R$ 6,3 bilhões a milhares de aposentados.

Pressionado, o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, pediu demissão após ter sido afastado do cargo por ordem judicial.