Massa vota e fala em 'nova etapa' na Argentina; Milei critica 'campanha suja' e menciona fraude

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A Argentina celebra neste domingo, 19, o segundo turno das eleições presidenciais, que opõem o peronista Sergio Massa e o libertário Javier Milei. A jornada ocorre tranquilamente, embora em um clima de ansiedade pelos resultados que só devem sair depois das 21 horas. Também há reforço de segurança, especialmente nos locais de votação dos candidatos e seus entornos.

Sergio Massa votou um pouco antes das 12h em sua cidade Tigre, acompanhado de sua esposa e ex-candidata nas primárias para a prefeitura de Tigre, Malena Galmarini. Ao sair, o candidato citou uma nova etapa no país. "Hoje iniciamos uma nova etapa na Argentina e essa etapa requer, além de boa vontade, inteligência e capacidade, o diálogo e o consenso necessários para que nosso país percorra um caminho muito mais virtuoso no futuro".

Já Milei voltou a provocar tumulto na hora de seu voto, um pouco depois das 12h30, embora desta vez tenha atraído uma multidão menor. A segurança foi reforçada na Universidade Tecnológica Nacional (UTN) no bairro de Almagro, em Buenos Aires, com cordão de isolamento da polícia e grades formando um corredor por onde o libertário precisava passar.

Da última vez, uma multidão se aglomerou do lado de fora do colégio eleitoral e cantou "parabéns" para Milei, já que era seu aniversário de 53 anos. Ao sair, Milei criticou a "campanha de medo" do seu adversário. "Esperemos que amanhã haja mais esperança e não tanta continuidade de decadência. Que esta noite tenhamos um novo presidente eleito".

"Estamos muito satisfeitos apesar da campanha de medo e de toda campanha suja que nos foi feita. Estamos muito bem, fizemos todo o esforço que podíamos fazer. Agora é a hora de as urnas falarem, é o momento em que o povo se expressa", completou.

O libertário acusa seu adversário de promover uma campanha de medo, inclusive utilizando aparato estatal, contra ele. Durante o único debate presidencial deste turno, Milei citou "os brasileiros" em referência aos marqueteiros ligados ao PT que se uniram à campanha de Massa, como os autores da dita campanha.

Mais de 86 mil membros das Forças Armadas e de segurança nacionais e provinciais foram mobilizados para este segundo turno. O reforço também é para que a jornada eleitoral possa transcorrer sem maiores questionamentos de problemas e, principalmente, fraude.

Desde que terminou em segundo lugar no primeiro turno, a coalizão libertária A Liberdade Avança vem pavimentando um cenário de questionamento da lisura das eleições caso perca o pleito de hoje, embora não apresente provas.

Neste domingo, membros da coalizão de Milei denunciaram supostas irregularidades. Karina Milei, irmã do candidato, disse em uma carta dirigida à Justiça que nas províncias de Buenos Aires e Chaco circulariam cédulas da época das primárias, e pediu para que estas sejam consideradas válidas na contagem do segundo turno. Na semana passada, a comissão eleitoral alertou o A Liberdade Avança de que haviam sido entregues menos cédulas do que as necessárias em Buenos Aires.

As eleições na Argentina são feitas por meio de cédulas em papel e é de inteira responsabilidade das coalizões entregar o número adequado delas.

As urnas ficam abertas durante 10 horas, das 8h às 18h. O resultado não deve ser conhecido antes das 21h. A ansiedade se dá principalmente pelo clima desta segunda-feira, 20. Nas eleições primárias, o resultado favorável a Milei levou a uma desvalorização do peso argentino de mais de 20% e um choque no mercado financeiro. O primeiro turno foi menos turbulento no seu dia seguinte, mas para este segundo se espera algum tipo de reação ao resultado.

Segundo a Comissão Nacional Eleitoral, 45% do eleitorado já havia votado até as 14 horas, um número bastante semelhante ao mesmo horário no primeiro turno. A cifra surpreende, pois este fim de semana é feriado prolongando, já que na segunda-feira se celebra o Dia da Soberania.

Os candidatos a vice-presidente, Agustín Rossi e Victoria Villarruel, também votaram já pela manhã, assim como o atual presidente Alberto Fernández e sua vice Cristina Kirchner. O ex-presidente Maurício Mauricio Macri também votou pela manhã.

"É mais um dia em que os argentinos votam e escolhem o nosso futuro. É um dia importante para a democracia. Espero que seja um dia de felicidade para todos porque vamos decidir sobre o nosso futuro em ordem e em paz, sem dúvidas e com tranquilidade", afirmou Alberto Fernández ao votar na Universidade Católica Argentina, em Buenos Aires.

Ibeth Tejena, 32, foi acompanhar a votação de Javier Milei na UTN. De origem equatoriana, ela mora na Argentina já há 8 anos e deseja ver uma melhora na situação econômica do país. "Espero que o futuro presidente conserte a situação econômica, porque cada vez mais pessoas se tornam pobres", afirmou. "O que espero do fundo do coração é poder construir um futuro aqui, tranquila que meu salário hoje chega até amanhã."

Voto a voto

Os candidatos disputam uma eleição apertada. As pesquisas de intenção de votos publicadas há uma semana, antes da proibição, mostravam uma disputa voto a voto entre Milei e Massa, com leve vantagem para o libertário. As pesquisas, porém, não têm bom histórico na Argentina. Nas primárias elas não previram a vitória de Milei, e o mesmo se repetiu no primeiro turno, quando não pegaram a virada de Massa.

Seja quem vencer neste domingo, vai receber uma dura missão de consertar uma Economia cuja inflação ultrapassou os 140%, com a taxa de pobreza em torno de 42% e sem reservas em dólares para circulação e produção econômica.

Entre outros, o grande tema em disputa nessas eleições é o tamanho do Estado argentino. Massa, enquanto peronista, é a favor de um Estado mais forte e provedor para uma população de 21 milhões que dependem das ajudas do governo, de um universo de 47 milhões. Já Milei, como um libertário, quer passar a motosserra nos gastos do Estado, que já consomem 42% de seu Produto Interno Bruto (PIB).

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A vereadora Cris Monteiro (Novo) afirmou nesta terça-feira, 29, durante discurso na tribuna da Câmara Municipal de São Paulo, que "mulher branca, bonita e rica incomoda". A declaração foi dirigida a sindicalistas que acompanhavam a votação do reajuste dos servidores municipais e gerou forte reação da plateia e de parlamentares.

Durante sua fala, Cris repreendeu a vereadora Luana Alves (PSOL), que tentava confrontá-la, e disse: "Por favor, Luana, calada. Pode me devolver o tempo. Eu escutei todos vocês calados (...) Agora, quando vem uma mulher branca aqui, falar a verdade para vocês, vocês ficam todos nervosos. Porque uma mulher branca, bonita e rica incomoda muito vocês".

Ela completou dizendo que representa uma parcela da população que a elegeu e criticou os grevistas. "Eu não vou defender essas pessoas que deixam as nossas crianças na sala de aula fazendo greve."

A vereadora Luana Alves, que é negra, classificou a fala como racista e pediu a suspensão da sessão. Segundo ela, Cris Monteiro teria direcionado suas palavras diretamente a ela enquanto discursava.

O áudio da transmissão oficial da sessão pela Rede Câmara, canal da Casa no YouTube, chegou a ser interrompido por alguns minutos, mas foi restabelecido em seguida. Após o retorno, a vereadora do Novo pediu desculpas.

"Lamento profundamente se alguém em particular se sentiu ofendido com a minha fala, não foi minha intenção. Faço uso da tribuna, como qualquer parlamentar, para defender minhas ideias e falar o que penso".

O presidente da Câmara, Ricardo Teixeira (União), disse que a Casa "não permite racista" e mencionou o caso do ex-vereador Camilo Cristófaro (Avante), cassado em 2023 por fala racista. No entanto, após rever o vídeo da declaração de Cris, avaliou que não houve racismo.

"Nós vimos e revimos várias vezes o vídeo. Na nossa opinião, não houve racismo", afirmou o presidente da Câmara. Segundo ele, a Corregedoria da Câmara acompanhará o caso. "Esse fato será analisado com sangue tranquilo, temperatura normal, pressão também".

A vereadora do PSOL, no entanto, reforçou a acusação. Para ela e outros vereadores, se tratou de um ato de racismo evidente.

"A vereadora Cris irá responder na Corregedoria. Fico muito triste que uma cassação não tenha sido suficiente para aprenderem que não se pode desrespeitar a população negra nessa Câmara", disse. Ela espera que o desfecho seja semelhante ao do caso Cristófaro.

Essa não foi a primeira polêmica envolvendo a vereadora Cris Monteiro. Em 2021, ela se envolveu em um episódio de agressão com a então vereadora Janaína Lima, à época também filiada ao Novo. Na ocasião, Cris afirmou esperar que Janaína fosse cassada.

Um relatório da Corregedoria da Câmara Municipal recomendou a suspensão das funções legislativas de ambas - Janaína e Cris - após a briga ocorrida no banheiro ao lado do Plenário, durante a votação da reforma da Previdência. No entanto, a ação disciplinar não avançou.

O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, afirmou a jornalistas, nesta terça-feira, 29, que está "totalmente" descartada a possibilidade de seu afastamento do ministério. As declarações ocorreram após depoimento na Comissão de Previdência da Câmara dos Deputados.

Na ocasião, Lupi havia respondido questionamentos de parlamentares sobre as fraudes no Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Ao ser questionado se houve alguma conversa sobre o seu afastamento do ministério, Lupi respondeu "nenhuma". Ele acrescentou: "Quem tem que decidir sobre isso é o presidente Lula. Eu sei que eu tenho a confiança dele e estou trabalhando para elucidar tudo o que tiver de errado", declarou.

Lupi voltou a dizer que não houve demora nas providências ao tomar conhecimento das denúncias de fraudes no INSS. "Isso é uma formação de quadrilha: grupos que se montaram para criar instituições e para roubar dinheiro de aposentado. Isso é chocante para mim", declarou.

O ministro prosseguiu: "Eu fui surpreendido com o volume disto. Porque eu sabia que tinha uma denúncia aqui, outra acolá, a gente sempre soube, a gente recebia queixa, na própria plataforma do INSS aparecia algumas pessoas se queixando. Agora, nesse quantitativo, por uma organização, eu tomei conhecimento agora".

Lupi também argumentou que a base para as investigações da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) vieram de apurações que ele determinou no INSS. Questionado se houve demora nas providências, ele negou.

"Aí, é outra discussão. Quando eu fiz a comparação com o botequim da esquina, eu adoro um pão na chapa no botequim da esquina. Quando eu fiz a comparação, é no sentido de que isso não é simples, são 7 milhões de pessoas. Como é que você verifica, checa, cria biometria de 7 milhões de pessoas?", afirmou.

Ainda em resposta aos jornalistas, Lupi afirmou: "Não demorei a determinar (as apurações). Foi tomado conhecimento dos vários fatos, inclusive no Conselho. O Conselho não é executivo, é um conselho de debate, de deliberações macro sobre visão da Previdência Social. Estava lá no assento o presidente do INSS e o diretor do INSS. Eu pedi para que tomassem providências disso, tanto é que eu demiti o diretor".

Conforme mostrou o Broadcast Político (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), Lupi argumenta que demitiu o diretor de Benefícios André Félix Fidélis, que teria apresentado lentidão para avançar com as apurações. Uma reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, mostrou que o ministro foi alertado sobre as fraudes em junho de 2023, mas adiou a discussão e só tomou providências após quase um ano.

A auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) nos descontos em contracheques de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) revelou situações flagrantes de fraude.

Foram descobertos cadastros em nome de analfabetos, indígenas de comunidades isoladas, idosos com doenças graves, pessoas com deficiência e aposentados.

São pessoas que, segundo a CGU, não teriam como comparecer pessoalmente às associações e nem como assinar fichas de filiação e termos de autorização para os descontos em benefício dessas entidades. Algumas até residem no exterior.

Os casos foram descobertos a partir de entrevistas feitas com uma amostra de 1.273 beneficiários do INSS, registrados nos 27 Estados e no Distrito Federal, que tiveram valores descontados de seus contracheques. 97,6% dos entrevistados informaram à CGU não ter autorizado os abatimentos.

Os beneficiários do INSS podem aderir a associações civis e sindicatos e autorizar descontos mensais em seus contracheques para cobrir custos de filiação. Para isso, as entidades devem estar habilitadas junto ao INSS e precisam receber autorização "prévia, pessoal e específica" de aposentados e pensionistas interessados.

Parte dos aposentados ouvidos pela CGU só tomou conhecimento dos descontos no momento das entrevistas.

A Polícia Federal afirma que a auditoria revela um "cenário de incongruências". A PF investiga se idosos foram induzidos a assinar autorizações de desconto sem saber a verdadeira finalidade dos documentos e até se assinaturas foram forjadas.

As suspeitas são investigadas na Operação Sem Desconto. Segundo a Polícia Federal, servidores do INSS venderam dados de aposentados e pensionistas em troca de propinas e facilitaram os descontos indevidos direto nos contracheques dos beneficiários. O esquema teria causado um prejuízo de R$ 6,3 bilhões a milhares de aposentados.

Pressionado, o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, pediu demissão após ter sido afastado do cargo por ordem judicial.