Javier Milei deve indicar Luis Caputo como ministro da economia por sugestão de Macri

Internacional
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O recém-eleito presidente da Argentina, Javier Milei, trabalha nesta semana na confirmação dos nomes que devem compor o gabinete do seu novo governo. Até o momento, a maior incerteza em relação às indicações encontra-se na pasta mais sensível - e de maior impacto - em meio à crise da Argentina: o ministério da Economia.

Nesta quinta-feira, 23, ao meio dia, o futuro chefe de gabinete do governo de Milei, Nicolás Posse, reuniu-se com o ex-presidente do Banco Central e ex-ministro das Finanças da Argentina, Luis "Toto" Caputo, aumentando as expectativas em torno à indicação do economista para o cargo de ministro da Economia na administração do político libertário.

O encontro, que foi mantido em secreto até ser revelado por membros da Associação de Empresários da Argentina, ocorre após a queda do nome de Emilio Ocampo - um dos principais colaboradores do plano econômico de Milei - como possível indicado ao Banco Central.

Na noite desta quarta-feira, 22, Milei disse em entrevista a um canal argentino de televisão o economista teria a "expertise necessária" para ser o chefe da pasta de Economia durante seu governo. Caputo é "alguém em condições de estar nessa posição, sem dúvida", disse Milei. "Ele é alguém que tem a expertise necessária para desarmar o problema monetário que temos e encontrar uma solução de mercado financeiro para acabar com o problema da dívida do banco central e os controles de moeda", afirmou o libertário.

"Caputo é uma pessoa de muito prestígio no setor financeiro nacional", disse o economista argentino Fabio Rodríguez em entrevista ao Estadão. Ele foi encarregado do difícil processo de restruturação da dívida Argentina, e Macri confia muito nele. É um nome que liderou a economia nos momentos de abertura nacional e também nos piores momentos do governo de Macri".

"Ele não conseguiu dominar a crise, mas seus resultados deixaram bastante satisfeitos a uma boa parcela do setor financeiro, que viu com bons olhos seu trabalho", afirmou Rodríguez

De acordo com o economista, Caputo não estava na lista de equipes e nomes de confiança de Milei, mas com a mudança de estratégia do libertário, o nome de confiança de Macri pode ser confirmado como o líder da economia argentina nos próximos dias.

"As negociações com Caputo são resultado direto da aproximação entre Macri e Milei. Mas outra leitura importante disto é que Milei estaria buscando um funcionário que o ajudasse a trazer de volta os financiamentos internacionais que a Argentina tanto precisa, deixando para outro momento a proposta de dolarização, da qual Caputo não é favorável", explicou Rodríguez ao Estadão.

Nesta semana, o presidente eleito afirmou que não levantaria os controles cambiários até estabilizar a situação da dívida a curto prazo do Banco Central.

Perfil

Luis "Toto" Caputo, de 58 anos, é formado em economia pela Universidade de Buenos Aires e é professor de economia e finanças na Universidade Católica da Argentina. Conhecido no mercado financeiro argentino, o provável futuro ministro comandou o Deutsche Bank no país. Na infância, estudou na mesma escola que Macri, o Colegio Cardenal Newman, instituição pela qual passou grande parte da elite argentina. É também primo de Nicolás Caputo, empresário do setor da construção e um dos melhores amigos de Macri.

Foi ministro das Finanças e presidente do Banco Central do país durante a presidência de Mauricio Macri. Considerando as propostas radicais do presidente eleito Javier Milei para a área econômica, Caputo pode ser considerado um moderado. Ele é contra a ideia de dolarização, que foi defendida por Milei durante sua campanha, mas que vem sendo criticada por grande parte dos economistas - tanto devido à falta de dólares na Argentina para adotar uma medida como essa quanto devido ao fato de um país abrir mão de sua política monetária quando deixa de ter moeda própria.

Nesta quinta-feira, 23, os jornais argentinos Clarín e Cronista já dão como certa a nomeação de Caputo. Outros, porém, afirmam que Milei fez o convite ao economista, mas ainda não recebeu o "sim" dele.

No governo Macri, Caputo foi responsável, em 2017, por parte das negociações da Argentina com os fundos abutres (credores que compraram papéis "podres" da dívida do país e não aceitaram as reestruturações dos anos 2000). Também ficou conhecido como o "homem do título de 100 anos", após conseguir emitir com sucesso um título do Tesouro argentino com vencimento em 2117. À época, o governo Macri passava por um dos seus poucos bons momentos econômicos e a emissão do papel foi considerada uma prova de que o país havia ganhado credibilidade do mercado financeiro.

Caputo deixou o Ministério das Finanças em 2018 para comandar o Banco Central após a renúncia de Federico Stuzenegger, que também era cotado para assumir a Economia no futuro governo Milei. No BC, Caputo ficou apenas três meses e abandonou o posto alegando questões pessoais. Nos bastidores, porém, eram conhecidos os desentendimentos entre ele e o então ministro da Fazenda, Nicolás Dujovne.

Uma das questões de divergência entre Caputo e Dujovne era o empréstimo de US$ 50 bilhões que o governo argentino então negociava com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Foi o próprio ex-presidente quem escreveu sobre isso em um de seus livros, no qual descreve o estilo de Caputo como "apaixonado e direto".

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A vereadora Cris Monteiro (Novo) afirmou nesta terça-feira, 29, durante discurso na tribuna da Câmara Municipal de São Paulo, que "mulher branca, bonita e rica incomoda". A declaração foi dirigida a sindicalistas que acompanhavam a votação do reajuste dos servidores municipais e gerou forte reação da plateia e de parlamentares.

Durante sua fala, Cris repreendeu a vereadora Luana Alves (PSOL), que tentava confrontá-la, e disse: "Por favor, Luana, calada. Pode me devolver o tempo. Eu escutei todos vocês calados (...) Agora, quando vem uma mulher branca aqui, falar a verdade para vocês, vocês ficam todos nervosos. Porque uma mulher branca, bonita e rica incomoda muito vocês".

Ela completou dizendo que representa uma parcela da população que a elegeu e criticou os grevistas. "Eu não vou defender essas pessoas que deixam as nossas crianças na sala de aula fazendo greve."

A vereadora Luana Alves, que é negra, classificou a fala como racista e pediu a suspensão da sessão. Segundo ela, Cris Monteiro teria direcionado suas palavras diretamente a ela enquanto discursava.

O áudio da transmissão oficial da sessão pela Rede Câmara, canal da Casa no YouTube, chegou a ser interrompido por alguns minutos, mas foi restabelecido em seguida. Após o retorno, a vereadora do Novo pediu desculpas.

"Lamento profundamente se alguém em particular se sentiu ofendido com a minha fala, não foi minha intenção. Faço uso da tribuna, como qualquer parlamentar, para defender minhas ideias e falar o que penso".

O presidente da Câmara, Ricardo Teixeira (União), disse que a Casa "não permite racista" e mencionou o caso do ex-vereador Camilo Cristófaro (Avante), cassado em 2023 por fala racista. No entanto, após rever o vídeo da declaração de Cris, avaliou que não houve racismo.

"Nós vimos e revimos várias vezes o vídeo. Na nossa opinião, não houve racismo", afirmou o presidente da Câmara. Segundo ele, a Corregedoria da Câmara acompanhará o caso. "Esse fato será analisado com sangue tranquilo, temperatura normal, pressão também".

A vereadora do PSOL, no entanto, reforçou a acusação. Para ela e outros vereadores, se tratou de um ato de racismo evidente.

"A vereadora Cris irá responder na Corregedoria. Fico muito triste que uma cassação não tenha sido suficiente para aprenderem que não se pode desrespeitar a população negra nessa Câmara", disse. Ela espera que o desfecho seja semelhante ao do caso Cristófaro.

Essa não foi a primeira polêmica envolvendo a vereadora Cris Monteiro. Em 2021, ela se envolveu em um episódio de agressão com a então vereadora Janaína Lima, à época também filiada ao Novo. Na ocasião, Cris afirmou esperar que Janaína fosse cassada.

Um relatório da Corregedoria da Câmara Municipal recomendou a suspensão das funções legislativas de ambas - Janaína e Cris - após a briga ocorrida no banheiro ao lado do Plenário, durante a votação da reforma da Previdência. No entanto, a ação disciplinar não avançou.

O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, afirmou a jornalistas, nesta terça-feira, 29, que está "totalmente" descartada a possibilidade de seu afastamento do ministério. As declarações ocorreram após depoimento na Comissão de Previdência da Câmara dos Deputados.

Na ocasião, Lupi havia respondido questionamentos de parlamentares sobre as fraudes no Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Ao ser questionado se houve alguma conversa sobre o seu afastamento do ministério, Lupi respondeu "nenhuma". Ele acrescentou: "Quem tem que decidir sobre isso é o presidente Lula. Eu sei que eu tenho a confiança dele e estou trabalhando para elucidar tudo o que tiver de errado", declarou.

Lupi voltou a dizer que não houve demora nas providências ao tomar conhecimento das denúncias de fraudes no INSS. "Isso é uma formação de quadrilha: grupos que se montaram para criar instituições e para roubar dinheiro de aposentado. Isso é chocante para mim", declarou.

O ministro prosseguiu: "Eu fui surpreendido com o volume disto. Porque eu sabia que tinha uma denúncia aqui, outra acolá, a gente sempre soube, a gente recebia queixa, na própria plataforma do INSS aparecia algumas pessoas se queixando. Agora, nesse quantitativo, por uma organização, eu tomei conhecimento agora".

Lupi também argumentou que a base para as investigações da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) vieram de apurações que ele determinou no INSS. Questionado se houve demora nas providências, ele negou.

"Aí, é outra discussão. Quando eu fiz a comparação com o botequim da esquina, eu adoro um pão na chapa no botequim da esquina. Quando eu fiz a comparação, é no sentido de que isso não é simples, são 7 milhões de pessoas. Como é que você verifica, checa, cria biometria de 7 milhões de pessoas?", afirmou.

Ainda em resposta aos jornalistas, Lupi afirmou: "Não demorei a determinar (as apurações). Foi tomado conhecimento dos vários fatos, inclusive no Conselho. O Conselho não é executivo, é um conselho de debate, de deliberações macro sobre visão da Previdência Social. Estava lá no assento o presidente do INSS e o diretor do INSS. Eu pedi para que tomassem providências disso, tanto é que eu demiti o diretor".

Conforme mostrou o Broadcast Político (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), Lupi argumenta que demitiu o diretor de Benefícios André Félix Fidélis, que teria apresentado lentidão para avançar com as apurações. Uma reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, mostrou que o ministro foi alertado sobre as fraudes em junho de 2023, mas adiou a discussão e só tomou providências após quase um ano.

A auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) nos descontos em contracheques de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) revelou situações flagrantes de fraude.

Foram descobertos cadastros em nome de analfabetos, indígenas de comunidades isoladas, idosos com doenças graves, pessoas com deficiência e aposentados.

São pessoas que, segundo a CGU, não teriam como comparecer pessoalmente às associações e nem como assinar fichas de filiação e termos de autorização para os descontos em benefício dessas entidades. Algumas até residem no exterior.

Os casos foram descobertos a partir de entrevistas feitas com uma amostra de 1.273 beneficiários do INSS, registrados nos 27 Estados e no Distrito Federal, que tiveram valores descontados de seus contracheques. 97,6% dos entrevistados informaram à CGU não ter autorizado os abatimentos.

Os beneficiários do INSS podem aderir a associações civis e sindicatos e autorizar descontos mensais em seus contracheques para cobrir custos de filiação. Para isso, as entidades devem estar habilitadas junto ao INSS e precisam receber autorização "prévia, pessoal e específica" de aposentados e pensionistas interessados.

Parte dos aposentados ouvidos pela CGU só tomou conhecimento dos descontos no momento das entrevistas.

A Polícia Federal afirma que a auditoria revela um "cenário de incongruências". A PF investiga se idosos foram induzidos a assinar autorizações de desconto sem saber a verdadeira finalidade dos documentos e até se assinaturas foram forjadas.

As suspeitas são investigadas na Operação Sem Desconto. Segundo a Polícia Federal, servidores do INSS venderam dados de aposentados e pensionistas em troca de propinas e facilitaram os descontos indevidos direto nos contracheques dos beneficiários. O esquema teria causado um prejuízo de R$ 6,3 bilhões a milhares de aposentados.

Pressionado, o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, pediu demissão após ter sido afastado do cargo por ordem judicial.