Caos no Equador é reação a plano contra o crime inspirado em El Salvador, dizem analistas

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O Equador vive uma escalada de caos e violência extrema. Sequestros de policiais, incêndios de veículos, atentados com bombas e fuga de presos foram registrados na terça-feira, 9, ao redor do país, um dia depois de que o presidente Daniel Noboa ter declarado estado de exceção pela fuga de Adolfo Macías Salazar, alias "Fito" - líder de Los Choneros, a maior organização criminosa do país.

Além disso, em Guayaquil, homens armados e encapuzados invadiram o estúdio da emissora TC Televisión e ameaçaram os jornalistas e cinegrafistas. Sem dar mais detalhes, a polícia anunciou que controlou a situação no fim da tarde, com "várias prisões", e divulgou fotos que mostram pelo menos dez suspeitos deitados no chão, com as mãos atadas por lacres plásticos. Ninguém ficou ferido.

Carolina Andrade, secretária de segurança de Quito, disse em entrevista ao Estadão que a escalada da violência deixou o país em estado de sítio nesta terça-feira, e que o Estado está buscando mobilizar seus ativos para controlar o cenário. Ela acredita também que alguns dos acontecimentos de terça-feira dão indícios de ser uma reação direta destes grupos criminosos às decisões recentes do presidente Daniel Noboa.

Durante sua campanha à presidência do país, em agosto, Noboa prometeu comprar barcos-prisões para abrigar, a 80 milhas da costa do oceano Pacífico, os líderes de gangues nacionais, que durante anos conseguiram controlar o narcotráfico e a violência urbana dos complexos prisionais sem interferência efetiva do Estado.

Influência salvadorenha

"Há uma grande infiltração dos grupos criminosos no nosso país", disse a secretária de segurança de Quito. "Os mecanismos de inteligência do Equador não conseguem dar conta das ações destes grupos e acaba se tornando extremamente difícil gerar informações prévias para evitar que aconteçam estas ondas de violência".

Noboa busca imitar as políticas de "mão pesada" promulgadas por Nayib Bukele em El Salvador, quem declarou guerra às gangues e impulsionou uma onda de prisões compulsórias no seu país, sendo acusado posteriormente de violar os direitos humanos pela natureza imprecisa das ordens de prisões e os maus tratos contra os detentos.

Em dezembro, o novo presidente afirmou que esta seria apenas "uma medida complementar e provisória para transferir os presos que representam ameaças reais à segurança nacional, mantendo-os isolados até que as prisões de segurança máxima e supermáxima sejam concluídas". Pouco tempo depois, ainda no mês anterior, seu governo ordenou a construção de duas prisões de "segurança máxima e supermáxima" no "estilo salvadorenho".

Onda de terror

"Estamos vivendo uma onda de terror a causa de grupos narcotraficantes", disse ao Estadão Kleber Carrión, ex-oficial da Polícia Nacional Equatoriana e especialista em segurança e inteligência. "Há uma grande comoção em todas as províncias, especialmente nas províncias da costa, com muito medo e no aguardo de que o estado reaja com firmeza e dureza aos ataques dos grupos delitivos", afirmou ele.

A crise desta terça-feira fez com que Daniel Noboa decretasse"conflito armado interno" e considerou 22 facções como organizações terroristas, autorizando posteriormente as Forças Armadas do Equador a agir para combater os grupos criminosos.

A crise no Equador se agravou desde o domingo, 7, o governo afirmou que o narcotraficante Fito fugiu da cadeia. Na segunda-feira, 8, pelo menos seis presídios do país tiveram um cenário de caos, com rebeliões internas, incluindo a retenção de agentes penitenciários por detentos e a queima de colchões. Na Prisão Regional, onde se encontrava Fito, os detentos escreveram no pátio com pedras "PAPA FITO" e "FATALES GTR" em referência a outra organização criminosa. Em um campo esportivo do mesmo complexo haviam pintado "CON FITO SEMBRAMOS PAZ" ("com Fito semeamos paz").

"Isto está ocorrendo poucos dias depois da fuga da prisão de 'Fito'. Ele é o líder de uma destas organizações e parece ter muita influência sobre o resto dos grupos. [A influência] não seria no sentido ideológico, os grupos compartilham os mesmos objetivos que Fito: causar terror em todo o nosso território", afirmou o especialista, que acredita que os acontecimentos recentes possam ser uma espécie de ação retaliatória contra as políticas do Estado.

Soluções fracassadas

Os últimos três governos do Equador tentaram criar soluções para a crise prisional da nação, mas não tiveram sucesso. Os complexos prisionais abrigam mais de 31 mil detentos e funcionam, indiretamente, como a base de operações dos narcotraficantes locais.

Mas para Carolina Andrade, o problema da violência no país é mais profundo. A nação sul-americana já tem uma prisão de segurança máxima (La Roca), que passou por reformas em 2022 para isolar os líderes do crime organizado. E as instituições de segurança enfrentam grandes dificuldades para prever e controlar as atividades dos cartéis e gangues.

"Estes eventos têm o objetivo de espalhar o medo e a propaganda para desestabilizar o país", disse Carolina Andrade.

O Equador está passando por uma crise de segurança sem precedentes desde o ano anterior, quando membros de gangues assassinaram o jornalista e candidato presidencial Fernando Villavicencio na saída de um comício em Quito. Desde então, os casos de violência extrema tiveram um aumento no país, com atentados a outros políticos, explosões de carros-bomba, sequestros e assassinatos. Uma série de investigações da polícia equatoriana indicam que a morte de Villavicencio foi ordenada por criminosos na prisão de Cotopaxi.

Noboa assumiu a liderança do Equador em novembro do ano passado com o desafio de acabar com a crise da segurança, mas a dois meses da sua pose, os assassinatos no país atingem níveis históricos, com 40 homicídios para cada 100 mil habitantes. Mas o presidente advertiu recentemente que não "negociará com terroristas" e prometeu que não descansará "até devolver a paz a todos os equatorianos".

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O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, disse nesta terça-feira, 6, durante evento com empresários do agronegócio, que a regularização fundiária tem avançado e está sendo tratado como prioridade pelo Estado. Ao referir-se a campanhas de ocupações coordenadas de propriedades rurais, como o "carnaval vermelho", o governador afirmou que em São Paulo só tem "carnaval verde e amarelo".

Mencionando avaliações de que seria impossível realizar a regularização fundiária no Pontal do Paranapanema, no extremo oeste do Estado de São Paulo, Tarcísio disse que 50% dos assentamentos já estão regularizados. "A gente vem trazendo isso como uma grande prioridade do governo", comentou em discurso feito durante a abertura de fórum realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Após acrescentar que não basta só fazer a regularização fundiária, o governador de São Paulo disse que tem trabalhado para fazer com que a agroindústria trabalhe junto com os assentados.

As deficiências de infraestrutura e de falta de irrigação, conforme Tarcísio, estão sendo resolvidas com financiamento. Na esteira da privatização da Sabesp, ressaltou, São Paulo vai dar "a grande virada de chave" com o maior programa de saneamento básico em áreas rurais de sua história. Conforme Tarcísio, graças à atração de capital privado, serão investidos no Estado R$ 70 bilhões em saneamento até 2029.

"Nenhum Estado da federação vai fazer esse esforço, vai fazer o que nós estamos fazendo aqui. E isso, obviamente, já é possível porque a gente está atraindo muito capital privado", declarou Tarcísio, num discurso no qual abordou as oportunidades que se abrem ao Brasil em meio à guerra comercial deflagrada pelo governo americano. "Neste momento, a desorganização global nos abre as portas. Temos o melhor agro do mundo."

O governador disse também que o agronegócio brasileiro, em especial o paulista, será o primeiro a se descarbonizar completamente. O Estado de São Paulo, assinalou, vai ser o primeiro Estado a substituir completamente o diesel, a começar pelas lavouras, que vem empregando mais máquinas e equipamentos movidos a biometano e etanol.

Se as eleições para governador de São Paulo fossem hoje, Tarcísio de Freitas (Republicanos) seria reeleito para mais um mandato no Palácio dos Bandeirantes. Segundo o novo levantamento da Paraná Pesquisas divulgado nesta terça-feira, 6, nos dois cenários em que o atual governador aparece como um dos possíveis candidatos, ele vence com mais de 20 pontos porcentuais de diferença para o segundo colocado. O governador também é o mais citado no cenário espontâneo, em que os nomes não são apresentados ao eleitor.

No primeiro cenário estimulado, Tarcísio tem 42,1% das intenções de voto ante o segundo colocado, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), com 21,1%. Em terceiro, aparece a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), que tem ganhado projeção com a campanha pelo fim da escala de trabalho 6x1, com 9,4% das menções.

Na sequência estão o ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT), com 5,5%, o prefeito tiktoker de Sorocaba (SP) e correligionário de Tarcísio, Rodrigo Manga (Republicanos), com 4,8%, e o ex-prefeito de Santo André Paulo Serra (PSDB), com 4%. O empresário Filipe Sabará (Republicanos), coordenador do plano de governo de Pablo Marçal (PRTB) nas eleições do ano passado pelo comando da capital paulista, aparece com 0,8%. Os que não souberam ou não responderam são 4,1%, e outros 8,2% votariam branco ou anulariam o voto.

Tarcísio afirma que sua intenção é concorrer à reeleição em São Paulo em 2026. Contudo, é um dos principais nomes cotados pela direita para substituir Jair Bolsonaro (PL) na disputa à Presidência. O ex-presidente está inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até 2030.

Nas pesquisas de intenção de voto ao Planalto, Tarcísio e a mulher de Bolsonaro, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), são os nomes mais fortes para concorrer contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Como mostrou o Estadão, o governador já afirmou em conversas reservadas que não vai se desincompatibilizar em abril do próximo ano (prazo máximo para quem concorrerá nas próximas eleições sair do atual cargo que ocupa) porque não quer perder o controle sobre o próprio destino. Tarcísio avalia não haver garantia de que Bolsonaro indicará um nome para sucedê-lo na eleição de 2026 com tanta antecedência. Mesmo assim, vem marcando presença nas manifestações bolsonaristas e tem colado sua imagem como braço direito do ex-presidente.

Em um segundo cenário, em que Alckmin não é listado, mas sim, o ministro do Empreendedorismo, Márcio França (PSB), as posições permanecem inalteradas, apenas com variações numéricas. Tarcísio mantém a liderança, com 46,5%, e França tem 11,9% das intenções de voto. Há duas semanas, o ministro afirmou que pretende disputar o governo de São Paulo no ano que vem.

Quando Tarcísio não é listado e seu nome dá lugar ao do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), o emedebista também fica à frente de França, com 29,5% ante 16,2%. Já quando nem prefeito nem governador estão entre os nomes disponíveis, França pontua 20,6% das intenções, mas brancos e nulos (ou nenhum candidato) é a maior porcentagem, com 25%. Esse é o único cenário em que presidente nacional do PSD e secretário de Tarcísio, Gilberto Kassab, é listado, e teria o voto de 6,7% dos entrevistados.

Cenário espontâneo

No cenário espontâneo da pesquisa, em que os entrevistados devem indicar um nome sem ter acesso a uma lista de possíveis candidatos, Tarcísio aparece com 18,8% das menções. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), tem 1,2%, empatado com o vice-presidente Geraldo Alckmin.

A pesquisa entrevistou 1.700 eleitores, em 85 municípios paulistas, entre os dias 1º e 4 de maio. A margem de erro é de 2,4 pontos porcentuais, e o índice de confiança de 95%.

Aprovação de gestão

A pesquisa também perguntou aos eleitores se aprovam ou desaprovam a administração do governador paulista até o momento. São 66,8% os que dizem aprová-la. Outros 28,9% dizem desaprovar o governo.

O índice pouco variou de acordo com a série histórica da pesquisa, desde novembro do ano passado, quando 68,8% aprovava a gestão de Tarcísio, e 26,7% desaprovava.

Para 49,5%, o trabalho do governador está "ótimo" ou "bom", enquanto 18,4% consideram "ruim" ou "péssimo".

O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados deve analisar nesta terça-feira, 6, o pedido que pode levar à suspensão cautelar do mandato e à abertura de um processo de cassação do mandato de Gilvan da Federal (PL-ES). No último dia 1, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), assinou uma representação contra Gilvan pela suposta quebra de decoro parlamentar ao ofender a ministra Gleisi Hoffmann (PT).

"As falas do representado excederam o direito constitucional à liberdade de expressão, caracterizando abuso das prerrogativas parlamentares, além de ofenderem a dignidade da Câmara dos Deputados, de seus membros e de outras autoridades públicas", diz o documento assinado pelo presidente da Câmara.

O documento afirma que Gilvan proferiu manifestações "gravemente ofensivas e difamatórias contra deputada licenciada para ocupar cargo de ministra de Estado [Gleisi], em evidente abuso das prerrogativas parlamentares, o que configura comportamento incompatível com a dignidade do mandato".

Quais os próximos passos?

Primeiro, o Conselho deve avaliar o pedido de suspensão cautelar do mandato do deputado Gilvan, por um período de seis meses. Posteriormente, será iniciado o processo de instrução, que pode resultar na cassação do mandato. Cabe recurso por parte de Gilvan caso a votação vá a plenário.

O local exato da reunião, marcada para às 11 horas, ainda não foi definido. O deputado Ricardo Maia (MDB-BA) foi designado como relator do caso.

Relembre o caso

Durante sessão da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, realizada no dia 29, o deputado proferiu comentários considerados abertamente insultuosos, desrespeitosos e pejorativos em relação à ministra Gleisi. Ainda naquela ocasião, Gilvan também protagonizou um desentendimento com o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), líder do partido na Câmara.

O documento assinado por Motta argumenta que o deputado do PL ofendeu a ministra ao vinculá-la ao termo "amante", numa referência a uma alcunha que teria sido atribuída à petista em um suposto esquema de favorecimento envolvendo a empresa Odebrecht. Além disso, o parlamentar utilizou a palavra "prostituta" ao fazer tais declarações.

Gilvan fazia referência a chamada "lista da Odebrecht", relacionada à Operação Lava Jato, em 2016. Nessa "super planilha", o nome de Gleisi aparecia entre os de 279 políticos de 22 partidos, sob a suspeita de ter recebido repasses ilegais da construtora.

Dias antes, em discussão na Comissão de Segurança Pública sobre um projeto para desarmar a segurança da Presidência da República, Gilvan da Federal afirmou desejar a morte de Lula.

"Por mim, eu quero mais é que o Lula morra. Eu quero que ele vá para o 'quinto dos inferno' (sic). É um direito meu", disse o deputado federal. "Nem o diabo quer o Lula. É por isso que ele está vivendo aí. Superou o câncer... Tomara que tenha um 'ataque cardíaco'. Porque nem o diabo quer essa desgraça desse presidente que está afundando nosso País. E eu quero mais é que ele morra mesmo. Que andem desarmados. Não quer desarmar cidadão de bem? Que ele ande com seus seguranças desarmados", prosseguiu.

Após a repercussão negativa e pedidos de investigação sobre a conduta do parlamentar, ele pediu desculpas.