Países árabes vão propôr criação de Estado da Palestina nos próximos dias, diz UE

Internacional
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times
O chefe da diplomacia da União Europeia, Joseph Borrell, disse nesta quinta-feira, 22, que os países árabes devem apresentar nos próximos dias uma proposta para encerrar a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, com a criação de um Estado da Palestina.

Segundo Borrell, os países árabes precisam se assegurar de que terão apoio internacional a sua proposta para que não seja desperdiçada. Negociações em curso envolvem a normalização de relações entre Israel e a Arábia Saudita.

Sob pressão, o governo Binyamin Netanyahu rechaça a criação do Estado da Palestina, mesmo que atinja seu objetivo militar de exterminar o Hamas da Faixa de Gaza. O que precisa ser levando em conta, disse ele.

O europeu afirmou que a proposta está sendo preparada e que precisa do aval dos Estados Unidos e do mundo árabe. "Estamos prontos a apoiar propostas. Espero que nos próximos dias possamos ver uma proposta surgir do mundo árabe. Sei que estão trabalhando duro nisso."

Borrell disse que a Cisjordânia está em "ebulição", com colonos judeus atacando palestinos civis. Foram mais de 300 mortes, desde os ataques do Hamas em 7 de outubro. "Há um recorde de civis palestinos assassinados na Cisjordânia. Em Gaza, eles são contados aos milhares, na Cisjordânia, às centenas. O número mais alto da história", pressionou Borrell.

Estado palestino

No Rio para a reunião de chanceleres do G20, ele relatou que houve uma "forte manifestação" de consenso de todos os países do G20 em defesa da "solução de dois Estados", como mostrou mais cedo o Estadão.

"Todos aqui, todos, não ouvi ninguém contra, fizeram uma forte pedido pela solução de dois Estados. Temos um denominador comum: não haverá paz, não haverá segurança sustentável para Israel sem que os palestinos possam construir seu próprio Estado", afirmou ele. "É preciso dizer que no G20 todos são a favor da solução de dois Estados".

Borrell pediu que o entendimento seja anunciado pelo ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, embora não venha a ser formalizado em declaração conjunta.

O próximo passo, segundo o europeu, é pressionar politicamente para que a solução de dois Estados seja implementada e não vire wishfull thinking. "Todos dizem que há uma castástrofe humanitária em Gaza. É preciso dizer que é feita pelo homem, não é um obra de uma inundação, um terremoto", disse Borrell.

O Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança representa diplomaticamente 27 países do bloco. À exceção de um, os 26 demais defendem uma pausa humanitária imediata na guerra, que leve a um cessar-fogo sustentável.

O Borrell disse que a dinâmica das reuniões de chanceleres do G20 foi intensa, com debates que prenderam a atenção de todos, por tratarem essencialmente de duas guerras em curso, na Faixa de Gaza, e na Ucrânia.

Segundo Borrell, todos os países defendem também que as instituições de governança global devem ser reformadas, com ampliação de membros para corrigir a representação das nações, mas discordam sobre mudanças nas regras de funcionamento.

Borrell criticou as propostas de criação de novos grupos multilaterais para solucionar problemas internacionais, que não costumam chegar a acordos, e propôs que é melhor fazer com que as que já existem funcionem melhor, com mecanismos de solução de controvérsias.

Segundo o diplomata, há cada vez mais vetos e menos consenso nos fóruns, por exemplo, no Conselho de Segurança das Nações Unidas. "As instituições de governança e financeiras devem estar abertas ao mundo emergente", disse Borrell, referindo-se à África, América Latina e Ásia.

O mesmo acontece no âmbito financeiro, defendeu o representante europeu, para quem verbas públicas serão infucientes para lidar com os problemas de desenvolvimento e é preciso canalizar recursos privados para atingir os objetivos. Os países ricos

"Uma coisa é fazer um diagnóstico, outra aplicar a terapia", resumiu o chefe da diplomacia europeia. "Não é somente sobre as insituições, é sobre a mentalidade. Precisamos ter um pensamento multilateralista, se quisermos que o multilateralismo funcione."

Para o europeu, temos um mundo mais multipolar, mas com menos regras, o que cria desordem, e leva a menos governança multilateral.

Ucrânia retoma fluxo de exportações pré-invasão

Ao falar da guerra na Ucrânia, que completa dois anos no sábado, dia 24, Borrell afirmou que os países do G20 ainda divergem e há diferentes abordagens sobre como atingir a paz e encerrar o confronto. A "agressão da Rússia", disse ele, foi condenada, mas o representante do Kremlin no Rio, Serguei Lavrov, fez o contraponto às críticas. Outros países foram neutros.

Borrell destacou que a marinha da Ucrânia conseguiu afastar os navios russos de sua costa, o que permitiu a reestabelecer a negociação e a retomada do fluxo de mercadorias, sobretudo de grãos, praticado antes da guerra. No entanto, a preços maiores. Ele também reclamou que energia e comida foram transformadas em armas pela Rússia.

"A despeito de não termos mais um acordo (de grãos) como tínhamos graças à Turquia e à ONU, o fluxo de comida vindo da Ucrânia foi recuperada, graças ao sucesso militar das forças armadas ucranianas. Isso importa ao mundo todo, porque havia um aumento dos custos", disse Borrell.

O diplomata europeu fez questão de ressaltar que, apesar da retomada no comércio de bens produzidos na Ucrânia, o país continua a ser alvejado pelos russos, sobretudo para "destruição" da infraestrutura civil, transportes, eletricidade e barragens. Por isso, ressaltou, Kiev deve ser apoiada. "Putin continua essa guerra, não há sinal de que a parte russa vai parar, aceitar um cessar-fogo, nada.", resumiu. "Nem todos querem a paz. Os ucranianos querem mais do que todos."

O alto representante disse que ninguém mais fala em discutir um plano de paz, e que a única fórmula na mesa e que deve ser discutida é a do presidente ucraniano Volodimir Zelenski.

Em outra categoria

Ex-ministra do Desenvolvimento Social do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Márcia Lopes, de 67 anos, foi anunciada nesta segunda-feira, 5, para o posto de ministra das Mulheres, no lugar de Cida Gonçalves.

Formada em Serviço Social pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Márcia Lopes é filiada ao PT desde 1982. Assistente social por formação, a ministra atuou como professora universitária por 30 anos, desde 1981, em paralelo à vida pública.

A trajetória de Márcia no serviço público começou em Londrina, onde foi nomeada, em 1993, como secretária municipal de Assistência Social. Ficou no posto até 1996. No Paraná, atuou ainda como conselheira municipal de Assistência Social e dos Direitos da Criança e do Adolescente em Londrina e conselheira estadual de Assistência Social do Estado por duas gestões.

Em 2000, se candidatou e foi eleita vereadora de Londrina pelo PT. Cumpriu apenas um mandato e não tentou a reeleição. Oito anos após deixar a vereança, Márcia disputou, em 2012, a prefeitura de Londrina pelo PT e ficou em terceiro lugar no primeiro turno, com 38.484 votos (14,08%).

Em âmbito federal, foi secretária nacional de Assistência Social do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, em 2004, secretária executiva da pasta, de 2005 a 2007, e ministra, em 2010.

Especializada na área da Criança e Adolescente e com mestrado em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Márcia Lopes foi Conselheira Nacional de Assistência Social e dos Direitos da Criança e do Adolescente, do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda). Atuou ainda como presidente da Rede de Pobreza e Proteção Social do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em 2007.

Foi anunciada em novembro de 2022 pelo então vice-presidente eleito e coordenador da transição, Geraldo Alckmin (PSB), para coordenar a área da assistência social durante o governo de transição. É irmã de Gilberto Carvalho, ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República do Brasil no governo de Dilma Rousseff.

O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados deve analisar nesta terça-feira, 6, o pedido que pode levar à suspensão cautelar do mandato e à abertura de um processo de cassação do mandato de Gilvan da Federal (PL-ES). No último dia 1, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), assinou uma representação contra Gilvan pela suposta quebra de decoro parlamentar ao ofender a ministra Gleisi Hoffmann (PT).

"As falas do representado excederam o direito constitucional à liberdade de expressão, caracterizando abuso das prerrogativas parlamentares, além de ofenderem a dignidade da Câmara dos Deputados, de seus membros e de outras autoridades públicas", diz o documento assinado pelo presidente da Câmara.

O documento afirma que Gilvan proferiu manifestações "gravemente ofensivas e difamatórias contra deputada licenciada para ocupar cargo de ministra de Estado [Gleisi], em evidente abuso das prerrogativas parlamentares, o que configura comportamento incompatível com a dignidade do mandato".

Quais os próximos passos?

Primeiro, o Conselho deve avaliar o pedido de suspensão cautelar do mandato do deputado Gilvan, por um período de seis meses. Posteriormente, será iniciado o processo de instrução, que pode resultar na cassação do mandato. Cabe recurso por parte de Gilvan caso a votação vá a plenário.

O local exato da reunião, marcada para às 11 horas, ainda não foi definido. O deputado Ricardo Maia (MDB-BA) foi designado como relator do caso.

Relembre o caso

Durante sessão da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, realizada no dia 29, o deputado proferiu comentários considerados abertamente insultuosos, desrespeitosos e pejorativos em relação à ministra Gleisi. Ainda naquela ocasião, Gilvan também protagonizou um desentendimento com o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), líder do partido na Câmara.

O documento assinado por Motta argumenta que o deputado do PL ofendeu a ministra ao vinculá-la ao termo "amante", numa referência a uma alcunha que teria sido atribuída à petista em um suposto esquema de favorecimento envolvendo a empresa Odebrecht. Além disso, o parlamentar utilizou a palavra "prostituta" ao fazer tais declarações.

Gilvan fazia referência a chamada "lista da Odebrecht", relacionada à Operação Lava Jato, em 2016. Nessa "super planilha", o nome de Gleisi aparecia entre os de 279 políticos de 22 partidos, sob a suspeita de ter recebido repasses ilegais da construtora.

Dias antes, em discussão na Comissão de Segurança Pública sobre um projeto para desarmar a segurança da Presidência da República, Gilvan da Federal afirmou desejar a morte de Lula.

"Por mim, eu quero mais é que o Lula morra. Eu quero que ele vá para o 'quinto dos inferno' (sic). É um direito meu", disse o deputado federal. "Nem o diabo quer o Lula. É por isso que ele está vivendo aí. Superou o câncer... Tomara que tenha um 'ataque cardíaco'. Porque nem o diabo quer essa desgraça desse presidente que está afundando nosso País. E eu quero mais é que ele morra mesmo. Que andem desarmados. Não quer desarmar cidadão de bem? Que ele ande com seus seguranças desarmados", prosseguiu.

Após a repercussão negativa e pedidos de investigação sobre a conduta do parlamentar, ele pediu desculpas.

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), sugeriu na última sexta-feira, 2, que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus eleitores poderiam ser todos levados "para a vala". O comentário foi feito durante a cerimônia de inauguração da Escola Estadual Nancy da Rocha Cardoso, localizada em América Dourada, e provocou reações, inclusive, do ex-presidente. Jerônimo Rodrigues se retratou nesta segunda-feira, 5.

"Tivemos um presidente que sorria daqueles que estavam na pandemia sentindo falta de ar. Ele vai pagar essa conta dele e quem votou nele podia pagar também a conta. Fazia no pacote. Bota uma 'enchedeira'. Sabe o que é uma 'enchedeira'? Uma retroescavadeira. Bota e leva tudo para vala", afirmou o petista.

No X (antigo Twitter) nesta segunda, Bolsonaro afirmou que a declaração se trata de discurso de ódio. "Um discurso carregado de ódio, que em qualquer cenário civilizado deveria gerar repúdio imediato e ações institucionais firmes. Mas nada aconteceu", escreveu Bolsonaro.

"Esse tipo de discurso, vindo de uma autoridade de Estado, não apenas normaliza o ódio como incentiva o pior: a violência política, o assassinato moral e até físico de quem pensa diferente. É a institucionalização da barbárie com o verniz de 'liberdade de expressão progressista'", escreveu.

Para o ex-presidente, a verdadeira ameaça à democracia "está no alto da cadeia de poder, onde os que gritam por 'tolerância' e 'combate às fake news' são os mesmos que, na prática, incitam o ódio, mentem descaradamente e permanecem blindados por um sistema que escolheu lado".

"O padrão é claro: só há crime quando convém ao sistema, só há repressão quando o alvo é a oposição", acrescentou.

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) acusou o governador da Bahia de adotar um discurso extremista. "Quando eu digo que, se pudesse, esse pessoal matava a gente, duvidam. E ainda tem quem acredita que estamos lidando com apenas políticos com pensamentos contrários - não. São movidos por uma ideologia genocida", escreveu o parlamentar.

Nesta segunda-feira, 5, durante uma visita às obras de reforma do Teatro Castro Alves, em Salvador, Jerônimo Rodrigues afirmou ser contrário a qualquer forma de violência e alegou que suas palavras foram interpretadas "fora de contexto".

"Nós criticamos a forma que alguém deseja a morte do outro. Eu sou uma pessoa religiosa, de família, e não vou nunca tratar qualquer opositor com um tratamento deste. Foi descontextualizada (a declaração). Eu apresentei minha inconformação de como o País estava sendo tratado e dei o exemplo da pandemia. Se o termo vala foi pejorativo ou forte, eu peço desculpas. Não tenho problemas em registrar se houve excessos na palavra. Não houve intenção nenhuma de desejar a morte de ninguém", disse o governador.