Youtuber que 'ensinava' parentalidade para milhões de inscritos é condenada por torturar filhos

Internacional
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times
Ruby Franke, uma mãe de seis filhos que dava conselhos de maternidade para milhões de pessoas por meio de um canal do YouTube, foi condenada à prisão na terça-feira, 20, nos Estados Unidos, por submeter seus filhos ao que os promotores descreveram como "tortura física".

A youtuber, que era conhecida por documentar seu estilo parental rígido nas redes sociais, foi presa em 30 de agosto do ano passado junto de sua sócia, Jodi Hildebrandt. A polícia disse na época que dois dos filhos dela pareciam desnutridos e que um deles tinha feridas abertas e fita adesiva nos tornozelos e pulsos.

Filho fugiu pela janela para pedir ajuda

Ruby, de 42 anos, e Jodi, de 54, se confessaram culpadas, em dezembro do ano passado, de quatro acusações de abuso infantil agravado por tentarem convencer os dois filhos mais novos de Ruby de que eles eram maus, possuídos e precisavam ser punidos para se arrependerem. As mulheres foram presas na casa de Jodi, na cidade de Ivins, no sul de Utah, depois que o filho de 12 anos de Ruby escapou por uma janela e pediu a um vizinho que chamasse a polícia.

Na terça-feira, elas foram condenadas a 1 e a 15 anos de prisão por cada uma dessas acusações, a serem cumpridas consecutivamente. O Conselho de Indultos e Liberdade Condicional de Utah determinará a duração exata de suas sentenças, nenhuma das quais excederá mais de 30 anos, o máximo permitido pela lei estadual para sentenças consecutivas.

O canal no YouTube e as dicas de parentalidade

Ruby era apresentadora de um canal no YouTube chamado "8 Passengers", que já foi removido da plataforma. Nos vídeos, ela documentou a vida de seus seis filhos e narrou suas estratégias parentais, que incluíam punir seus filhos com a retenção de alimentos. O canal tinha quase 2,5 milhões de inscritos antes de ser tirado do ar.

De maio a agosto de 2023, Ruby criou um "ambiente semelhante a um campo de concentração" para dois de seus filhos, que tinham 9 e 11 anos na época, disse Eric Clarke, o procurador do condado de Washington, durante o audiência de sentença. Regularmente, ela negava a eles comida, água, entretenimento e camas adequadas, e os isolava de outras pessoas, disse ele.

Ruby também forçou seus filhos a realizar tarefas físicas sob calor extremo, sem sapatos, meias ou água, disse Clarke. Eles foram forçados a permanecer em pé sobre concreto quente no calor do verão por horas, às vezes, dias seguidos, acrescentou. Também foram espancados e regularmente amarrados pelas mãos e pelos pés. Os ferimentos foram tão graves que as crianças precisaram de hospitalização.

"Se o filho mais velho não tivesse tido a coragem de fugir e pedir a um vizinho que chamasse a polícia, só Deus sabe quanto tempo ele poderia ter sobrevivido naquela situação", disse Clarke.

"Nos últimos quatro anos, optei por seguir conselhos e orientações que me levaram a uma ilusão sombria", disse Franke na audiência de sentença na terça-feira.

"Fui levada a acreditar que este mundo era um lugar maligno cheio de polícias que controlam, hospitais que ferem, agências governamentais que fazem lavagem cerebral, líderes religiosos que mentem e cobiçam, maridos que se recusam a proteger e crianças que precisam de abuso", acrescentou ela. Ela expressou remorso na terça-feira e disse que assumiu "total responsabilidade" pelas escolhas que fez.

Franke disse que não iria defender uma pena mais curta antes de se levantar para agradecer aos polícias, médicos e assistentes sociais locais por serem os "anjos" que salvaram os seus filhos dela de um momento que ela dizia estar sob a influência de sua sócia de negócios, Jodi. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

Em outra categoria

A rede social criada por Donald Trump, Truth Social, e a plataforma de vídeos Rumble entraram com um pedido de liminar em um tribunal dos Estados Unidos contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. A informação é da agência de notícias Reuters.

O pedido busca impedir ordens emitidas pelo ministro, sob o argumento de que elas "violam a soberania americana, a Constituição e as leis dos Estados Unidos". Elas também disseram que Moraes ameaçou processar criminalmente o CEO do Rumble, Chris Pavlovski.

Na sexta-feira, 21, Moraes havia determinado a suspensão do Rumble no Brasil por tempo indeterminado, até que a plataforma cumprisse as ordens judiciais dadas e o pagamento de multas. Isso porque antes ele ordenara que a empresa indicasse representantes legais no País.

O STF já definiu que plataformas estrangeiras precisam constituir representantes no Brasil para receber intimações e responder pelas empresas.

Entenda a polêmica

Em um despacho, o ministro afirmou que a plataforma incorreu em "reiterados, conscientes e voluntários descumprimentos das ordens judiciais, além da tentativa de não se submeter ao ordenamento jurídico e Poder Judiciário brasileiros".

"Chris Pavlovski confunde liberdade de expressão com uma inexistente liberdade de agressão, confunde deliberadamente censura com proibição constitucional ao discurso de ódio e de incitação a atos antidemocráticos", escreveu Moraes.

Além de exigir a indicação de um representante legal, o ministro também havia determinado o bloqueio do canal do blogueiro Allan dos Santos e a interrupção de repasses de monetização ao influenciador. Também ordenou que novos perfis do influenciador fossem barrados. Outras redes sociais, como YouTube, Facebook, Twitter e Instagram, foram notificadas para bloquear as contas de Allan dos Santos e cumpriram as decisões de Moraes.

O STF não conseguiu intimar o Rumble porque a empresa não tem um responsável no Brasil. Os advogados localizados informaram que não são representantes legais da plataforma e que não têm poderes para receber citações ou intimações. No dia 17 de fevereiro, eles renunciaram ao mandato que tinham para atuar em causas da rede social.

O Rumble move uma ação contra Moraes na Justiça dos Estados Unidos, em conjunto com Trump Media, ligada ao presidente americano. As companhias alegam que o ministro do STF violou a soberania norte-americana ao ordenar a suspensão do perfil de Allan dos Santos. O blogueiro teve prisão preventiva decretada em 2021 e está foragido desde então.

O Rumble voltou a funcionar no Brasil em fevereiro deste ano. A plataforma, que estabelece uma política menos restrita de moderação de conteúdo, foi desativada no País em dezembro de 2023 por discordar das exigências da Justiça brasileira. Ela é conhecida por abrigar personalidades e usuários de extrema direita.

O influenciador Pablo Marçal (PRTB) foi condenado à inelegibilidade porque vendeu apoio político na campanha de 2024. Em vídeo publicado nas redes sociais, ele se ofereceu para gravar vídeos divulgando candidatos a vereador por R$ 5 mil.

Em uma transmissão ao vivo na sexta-feira, 21, o influenciador disse que vai recorrer da decisão. Ele alegou que não chegou a "materializar" os vídeos porque foi barrado pela equipe jurídica da campanha.

Pablo Marçal foi candidato à Prefeitura de São Paulo nas eleições municipais de 2024 e terminou em terceiro lugar, com 1.719.274 de votos (28,14% dos votos válidos).

Ao se oferecer para divulgar os vereadores, ele afirmou que estava "concorrendo a uma eleição desleal" porque não usou dinheiro público enquanto "os 'bonitões' gastam R$ 100 milhões para fazer propaganda enganosa".

"Você conhece alguém que queira ser vereador e é candidato, que não seja de esquerda, tá, esquerda não precisa avisar. Se essa pessoa é do bem e quer um vídeo meu para ajudar a impulsionar a campanha dela, você vai mandar esse vídeo e falar 'mano, olha aqui que oportunidade, né?' Essa pessoa vai fazer o quê? Ela vai mandar um Pix para a minha campanha de doação, Pix de cinco mil. Fez essa doação, eu mando o vídeo. Vai clicar aqui no formulário, clicou aqui no formulário, cadastra, a equipe vai entrar em contato. Tamo junto, fechou, você ajuda daqui em São Paulo e eu ajudo daí."

O juiz Antonio Maria Patiño Zorz, da 1.ª Zona Eleitoral, declarou Pablo Marçal inelegível por abuso de poder econômico e político, uso indevido de meios de comunicação social e captação ilícita de recursos.

A sentença afirma que a oferta feita pelo influenciador "foi levada a sério por candidatos a vereador que efetuaram doações confirmadas pelo requeridos" e teve "potencialidade para macular a integridade do processo eleitoral em razão do efeito que produziram na consciência política dos cidadãos".

O juiz Antonio Zorz afirmou ainda que ele espalhou fake news sobre o fundo partidário e se "colocou, de forma gravemente distorcida, como vítima de um sistema eleitoral desleal que não lhe permitiu usar financiamento público do fundo eleitoral". Com isso, na avaliação do magistrado, o influenciador comprometeu a "normalidade e legitimidade" da eleição.

Como a decisão foi tomada na primeira instância, há possibilidade de recurso ao Tribunal Regional Eleitoral.

Deflagrada pela Polícia Federal em 2015, a Operação Zelotes inicialmente apurava suspeitas de um esquema de corrupção no Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf) - órgão colegiado do Ministério da Fazenda - que é a última instância administrativa para o julgamento de autuações da Receita Federal a empresas e pessoas físicas. O objetivo do esquema seria vender, por meio de conselheiros e auditores, informações privilegiadas e facilidades que pudessem resultar na reversão de multas discutidas no Carf.

Quando a operação foi deflagrada, o Carf era ocupado por 216 conselheiros, metade indicada pela Receita e outra parte por confederações empresariais, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI), e uma parte menor pelas centrais sindicais.

Até então, os conselheiros indicados pelo setor privado podiam desempenhar suas funções no Carf e, ao mesmo tempo, advogar em casos tributários. No mês seguinte à revelação do escândalo, o governo fixou novas regras para funcionamento do órgão, com remuneração para seus integrantes e restrições ao exercício das atividades profissionais.

De acordo com os investigadores, o esquema de corrupção no Carf era "legalizado" por contratos de serviços prestados por escritórios de advocacia e consultorias que faziam lobby para influenciar nas decisões do órgão. Após abordagem das empresas alvos de multas da Receita, esses consultores elaboravam contratos para forjar a legalidade do serviço prestado. A partir daí, segundo a investigação, as empresas pagavam propina por meio de depósitos em diversas contas bancárias para evitar o rastreamento.

Os investigadores dizem que vários conselheiros do Carf se recusaram a participar do esquema e repudiaram a abordagem, mas outros aceitaram negociar decisões. À época, tramitavam no órgão mais de 115 mil processos tributários que englobam cerca de R$ 500 bilhões em discussão.

Desdobramentos da Zelote levaram a outros casos e até suspeita de compra de Medida Provisória

Com desdobramentos, a operação Zelotes foi ampliada e virou um guarda-chuva para grandes investigações sobre suspeitas de corrupção que atingiram grandes personagens da República. O ex-ministro Antonio Palocci foi uma testemunha nas investigações. O ex-ministro Guido Mantega virou réu, mas o caso dele acabou prescrito.

O caso da venda de uma Medida Provisória para favorecer montadores de veículos no segundo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2009, também acabou entrando no escopo da Zelotes. A denúncia foi publicada pelo Estadão em outubro de 2015.

Lula chegou a virar réu nesse caso por suposto tráfico de influência, mas foi absolvido em 2021 depois de a Justiça entender que a acusação não demonstrou de maneira convincente o envolvimento dele.

Até um filho de Lula virou réu, junto com o pai, em um processo que apontava tráfico de influência na compra de caças suecos pelo governo brasileiro. O caso das aeronaves foi suspensa pelo então ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, em 2022.

A decisão permitiu que Lula disputasse as eleições daquele ano sem responder a ações penais na Justiça. Lewandowski, hoje ministro da Justiça do governo Lula, entendeu que procuradores do DF agiam de forma articulada com membros da Lava Jato. Ele se baseou em trocas de mensagens da força-tarefa de Curitiba que acabaram vazadas por hackeamento.

Apesar dos dez anos desde a deflagração da Zelotes, ainda há ações sem julgamento e sem trânsito em julgado.