Rússia anuncia exercícios com armas nucleares após comentários de líderes de países ocidentais

Internacional
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O Ministério da Defesa da Rússia anunciou nesta segunda-feira, 6, planos de realizar exercícios simulando o uso de armas nucleares táticas em campo de batalha, poucos dias depois de o Kremlin reagir a comentários de altos funcionários ocidentais sobre a guerra na Ucrânia e Moscou alertar que as tensões com o Ocidente estão se aprofundando.

Os exercícios são uma resposta a "declarações provocativas e ameaças de certos funcionários ocidentais em relação à Federação Russa", disse o Ministério da Defesa em comunicado.

É a primeira vez que a Rússia anuncia publicamente exercícios envolvendo armas nucleares táticas, embora suas forças nucleares estratégicas realizem exercícios regularmente.

Armas nucleares táticas incluem bombas aéreas, ogivas para mísseis de curto alcance e munições de artilharia destinadas a serem usadas em campo de batalha. Elas são menos poderosas do que as ogivas massivas que equipam mísseis balísticos intercontinentais e que podem destruir cidades inteiras.

O anúncio russo parece ser um alerta aos aliados ocidentais da Ucrânia sobre se envolverem mais profundamente na guerra que já dura mais de dois anos.

Alguns dos parceiros ocidentais da Ucrânia expressaram anteriormente preocupação em acirrar o conflito com receio de que possa se espalhar além da Ucrânia e se tornar uma guerra entre a Otan e a Rússia.

Um novo round

O presidente francês Emmanuel Macron repetiu na semana passada que não exclui enviar tropas para a Ucrânia, e o secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, David Cameron, disse que as forças de Kiev poderão usar armas britânicas de longo alcance para atingir alvos dentro da Rússia.

Alguns outros países da Otan que fornecem armas para Kiev hesitaram diante dessa possibilidade.

O Kremlin rotulou esses comentários como perigosos, aumentando a tensão entre a Rússia e a Otan.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse na segunda-feira que a recente declaração de Macron e outras observações de autoridades britânicas e americanas provocaram os exercícios nucleares.

"É um novo round de escalada", disse Peskov, referindo-se ao que o Kremlin considerou como declarações provocativas. "É sem precedentes e requer atenção e medidas especiais", disse aos repórteres.

Dmitry Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, presidido pelo presidente Vladimir Putin, disse que os comentários de Macron e Cameron arriscam levar o mundo armado nuclear a uma "catástrofe global".

Não foi a primeira vez que o apoio militar da Europa à Ucrânia irritou as autoridades russas e provocou ameaças nucleares. Em março do ano passado, após a decisão do governo britânico de fornecer à Ucrânia projéteis perfurantes de armadura contendo urânio empobrecido, Putin anunciou que pretendia implantar armas nucleares táticas no território da Bielo-Rússia.

O ministério disse que o exercício tem como objetivo "aumentar a prontidão das forças nucleares não estratégicas para cumprir tarefas de combate" e será realizado por ordem de Putin. Os exercícios envolverão unidades de mísseis do Distrito Militar do Sul, juntamente com a Força Aérea e a Marinha, afirmou o ministério. Autoridades ocidentais culpam a Rússia por ameaçar uma guerra mais ampla por meio de atos provocativos.

Países da Otan disseram na semana passada que estão profundamente preocupados com uma campanha de atividades híbridas no solo da aliança militar, acusando a Rússia de estar por trás delas e dizendo que representam uma ameaça à sua segurança. Peskov rejeitou essas alegações como "novas acusações infundadas feitas contra nosso país".

Tensão em Belgorod

Enquanto isso, drones ucranianos atingiram dois veículos na região de Belgorod, na Rússia, nesta segunda-feira, matando seis pessoas e ferindo outras 35, incluindo duas crianças, disseram autoridades locais, em uma área frequentemente atingida pelas forças de Kiev nos últimos meses.

Um dos veículos era uma van que transportava trabalhadores rurais, disse o governador de Belgorod, Vyacheslav Gladkov. Nenhuma outra informação estava disponível imediatamente, e não foi possível confirmar independentemente o relatório da região fronteiriça.

Enquanto o exército ucraniano está em grande parte encurralado na linha de frente de mil quilômetros devido à falta de tropas e munições, ele usou sua artilharia de longo alcance para atingir alvos no interior da Rússia. O objetivo aparente é perturbar o sistema logístico de guerra da Rússia atingindo refinarias e depósitos de petróleo e inquietar as regiões fronteiriças russas.

A região de Belgorod foi uma base para a invasão em grande escala da Rússia à Ucrânia em fevereiro de 2022. Ela tem sido regularmente atacada desde que as forças russas se retiraram de lá do nordeste da Ucrânia no início da guerra, após uma contraofensiva de Kiev. A Rússia também tem dependido muito de mísseis de longo alcance, artilharia e drones para causar danos na Ucrânia.

No final do ano passado, autoridades de Belgorod disseram que 25 pessoas foram mortas, incluindo cinco crianças, e mais de 100 ficaram feridas em um ataque ucraniano, e ataques regulares de foguetes e drones continuaram desde então. A área pode ser alcançada por armas relativamente simples e móveis, como lançadores múltiplos de foguetes, a partir de florestas no lado ucraniano.

Autoridades russas disseram em março que planejavam evacuar cerca de 9 mil crianças da área devido aos bombardeios contínuos, depois que Putin disse que queria criar uma zona de amortecimento para ajudar a proteger as regiões fronteiriças. Além disso, as forças do Kremlin mantiveram seu bombardeio da rede elétrica da Ucrânia, com um ataque noturno de drones russos visando infraestrutura energética na região norte da Ucrânia de Sumy.

Múltiplas cidades e vilarejos na região, incluindo Sumy, ficaram sem energia, disseram autoridades regionais.

A Rússia atacou alvos ucranianos com 13 drones Shahed durante a noite, dos quais 12 foram interceptados na região de Sumy, disse a Força Aérea da Ucrânia. Fonte: Associated Press.

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A rede social criada por Donald Trump, Truth Social, e a plataforma de vídeos Rumble entraram com um pedido de liminar em um tribunal dos Estados Unidos contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. A informação é da agência de notícias Reuters.

O pedido busca impedir ordens emitidas pelo ministro, sob o argumento de que elas "violam a soberania americana, a Constituição e as leis dos Estados Unidos". Elas também disseram que Moraes ameaçou processar criminalmente o CEO do Rumble, Chris Pavlovski.

Na sexta-feira, 21, Moraes havia determinado a suspensão do Rumble no Brasil por tempo indeterminado, até que a plataforma cumprisse as ordens judiciais dadas e o pagamento de multas. Isso porque antes ele ordenara que a empresa indicasse representantes legais no País.

O STF já definiu que plataformas estrangeiras precisam constituir representantes no Brasil para receber intimações e responder pelas empresas.

Entenda a polêmica

Em um despacho, o ministro afirmou que a plataforma incorreu em "reiterados, conscientes e voluntários descumprimentos das ordens judiciais, além da tentativa de não se submeter ao ordenamento jurídico e Poder Judiciário brasileiros".

"Chris Pavlovski confunde liberdade de expressão com uma inexistente liberdade de agressão, confunde deliberadamente censura com proibição constitucional ao discurso de ódio e de incitação a atos antidemocráticos", escreveu Moraes.

Além de exigir a indicação de um representante legal, o ministro também havia determinado o bloqueio do canal do blogueiro Allan dos Santos e a interrupção de repasses de monetização ao influenciador. Também ordenou que novos perfis do influenciador fossem barrados. Outras redes sociais, como YouTube, Facebook, Twitter e Instagram, foram notificadas para bloquear as contas de Allan dos Santos e cumpriram as decisões de Moraes.

O STF não conseguiu intimar o Rumble porque a empresa não tem um responsável no Brasil. Os advogados localizados informaram que não são representantes legais da plataforma e que não têm poderes para receber citações ou intimações. No dia 17 de fevereiro, eles renunciaram ao mandato que tinham para atuar em causas da rede social.

O Rumble move uma ação contra Moraes na Justiça dos Estados Unidos, em conjunto com Trump Media, ligada ao presidente americano. As companhias alegam que o ministro do STF violou a soberania norte-americana ao ordenar a suspensão do perfil de Allan dos Santos. O blogueiro teve prisão preventiva decretada em 2021 e está foragido desde então.

O Rumble voltou a funcionar no Brasil em fevereiro deste ano. A plataforma, que estabelece uma política menos restrita de moderação de conteúdo, foi desativada no País em dezembro de 2023 por discordar das exigências da Justiça brasileira. Ela é conhecida por abrigar personalidades e usuários de extrema direita.

O influenciador Pablo Marçal (PRTB) foi condenado à inelegibilidade porque vendeu apoio político na campanha de 2024. Em vídeo publicado nas redes sociais, ele se ofereceu para gravar vídeos divulgando candidatos a vereador por R$ 5 mil.

Em uma transmissão ao vivo na sexta-feira, 21, o influenciador disse que vai recorrer da decisão. Ele alegou que não chegou a "materializar" os vídeos porque foi barrado pela equipe jurídica da campanha.

Pablo Marçal foi candidato à Prefeitura de São Paulo nas eleições municipais de 2024 e terminou em terceiro lugar, com 1.719.274 de votos (28,14% dos votos válidos).

Ao se oferecer para divulgar os vereadores, ele afirmou que estava "concorrendo a uma eleição desleal" porque não usou dinheiro público enquanto "os 'bonitões' gastam R$ 100 milhões para fazer propaganda enganosa".

"Você conhece alguém que queira ser vereador e é candidato, que não seja de esquerda, tá, esquerda não precisa avisar. Se essa pessoa é do bem e quer um vídeo meu para ajudar a impulsionar a campanha dela, você vai mandar esse vídeo e falar 'mano, olha aqui que oportunidade, né?' Essa pessoa vai fazer o quê? Ela vai mandar um Pix para a minha campanha de doação, Pix de cinco mil. Fez essa doação, eu mando o vídeo. Vai clicar aqui no formulário, clicou aqui no formulário, cadastra, a equipe vai entrar em contato. Tamo junto, fechou, você ajuda daqui em São Paulo e eu ajudo daí."

O juiz Antonio Maria Patiño Zorz, da 1.ª Zona Eleitoral, declarou Pablo Marçal inelegível por abuso de poder econômico e político, uso indevido de meios de comunicação social e captação ilícita de recursos.

A sentença afirma que a oferta feita pelo influenciador "foi levada a sério por candidatos a vereador que efetuaram doações confirmadas pelo requeridos" e teve "potencialidade para macular a integridade do processo eleitoral em razão do efeito que produziram na consciência política dos cidadãos".

O juiz Antonio Zorz afirmou ainda que ele espalhou fake news sobre o fundo partidário e se "colocou, de forma gravemente distorcida, como vítima de um sistema eleitoral desleal que não lhe permitiu usar financiamento público do fundo eleitoral". Com isso, na avaliação do magistrado, o influenciador comprometeu a "normalidade e legitimidade" da eleição.

Como a decisão foi tomada na primeira instância, há possibilidade de recurso ao Tribunal Regional Eleitoral.

Deflagrada pela Polícia Federal em 2015, a Operação Zelotes inicialmente apurava suspeitas de um esquema de corrupção no Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf) - órgão colegiado do Ministério da Fazenda - que é a última instância administrativa para o julgamento de autuações da Receita Federal a empresas e pessoas físicas. O objetivo do esquema seria vender, por meio de conselheiros e auditores, informações privilegiadas e facilidades que pudessem resultar na reversão de multas discutidas no Carf.

Quando a operação foi deflagrada, o Carf era ocupado por 216 conselheiros, metade indicada pela Receita e outra parte por confederações empresariais, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI), e uma parte menor pelas centrais sindicais.

Até então, os conselheiros indicados pelo setor privado podiam desempenhar suas funções no Carf e, ao mesmo tempo, advogar em casos tributários. No mês seguinte à revelação do escândalo, o governo fixou novas regras para funcionamento do órgão, com remuneração para seus integrantes e restrições ao exercício das atividades profissionais.

De acordo com os investigadores, o esquema de corrupção no Carf era "legalizado" por contratos de serviços prestados por escritórios de advocacia e consultorias que faziam lobby para influenciar nas decisões do órgão. Após abordagem das empresas alvos de multas da Receita, esses consultores elaboravam contratos para forjar a legalidade do serviço prestado. A partir daí, segundo a investigação, as empresas pagavam propina por meio de depósitos em diversas contas bancárias para evitar o rastreamento.

Os investigadores dizem que vários conselheiros do Carf se recusaram a participar do esquema e repudiaram a abordagem, mas outros aceitaram negociar decisões. À época, tramitavam no órgão mais de 115 mil processos tributários que englobam cerca de R$ 500 bilhões em discussão.

Desdobramentos da Zelote levaram a outros casos e até suspeita de compra de Medida Provisória

Com desdobramentos, a operação Zelotes foi ampliada e virou um guarda-chuva para grandes investigações sobre suspeitas de corrupção que atingiram grandes personagens da República. O ex-ministro Antonio Palocci foi uma testemunha nas investigações. O ex-ministro Guido Mantega virou réu, mas o caso dele acabou prescrito.

O caso da venda de uma Medida Provisória para favorecer montadores de veículos no segundo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2009, também acabou entrando no escopo da Zelotes. A denúncia foi publicada pelo Estadão em outubro de 2015.

Lula chegou a virar réu nesse caso por suposto tráfico de influência, mas foi absolvido em 2021 depois de a Justiça entender que a acusação não demonstrou de maneira convincente o envolvimento dele.

Até um filho de Lula virou réu, junto com o pai, em um processo que apontava tráfico de influência na compra de caças suecos pelo governo brasileiro. O caso das aeronaves foi suspensa pelo então ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, em 2022.

A decisão permitiu que Lula disputasse as eleições daquele ano sem responder a ações penais na Justiça. Lewandowski, hoje ministro da Justiça do governo Lula, entendeu que procuradores do DF agiam de forma articulada com membros da Lava Jato. Ele se baseou em trocas de mensagens da força-tarefa de Curitiba que acabaram vazadas por hackeamento.

Apesar dos dez anos desde a deflagração da Zelotes, ainda há ações sem julgamento e sem trânsito em julgado.