EUA enviam diplomata ao Brasil para discutir influência do Irã; Teerã reage

Internacional
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A presença de um enviado do governo dos Estados Unidos no Brasil para discutir com autoridades do governo Luiz Inácio Lula da Silva sobre sanções e atividades do Irã na região irritou Teerã. Diplomatas iranianos relataram nesta sexta-feira, dia 21, incômodo com a viagem ao País de Abram Paley, representante do Departamento de Estado, e questionaram os objetivos de seus encontros em Brasília.

Abram Paley exerce o cargo de enviado especial adjunto para o Irã. Antes, foi conselheiro da vice-presidente Kamala Harris sobre Oriente Médio. Ele é diplomata de carreira com larga experiência prévia no tema, tendo servido em embaixadas na Arábia Saudita, Israel e Iraque e trabalhado como diretor para Iêmen, no Conselho de Segurança Nacional.

Em viagem discreta, ele esteve em Brasília nesta semana e manteve contatos com autoridades federais. O próprio enviado especial relatou na terça-feira, dia 18, sobre a visita a Brasília, que surpreendeu as autoridades iranianas no País e motivou as reclamações contra um possível aumento de sanções e restrições comerciais.

"Acabo de regressar do Brasil, onde tive reuniões construtivas com autoridades sobre as nossas preocupações sobre as atividades desestabilizadoras do Irã e dos seus proxis na região, a aplicação de sanções, a cooperação contra o terrorismo e nossos objetivos compartilhados de não-proliferação", afirmou o diplomata, em publicação no X (antigo Twitter).

O Itamaraty informou ao Estadão que o embaixador Carlos Duarte, secretário de África e Oriente Médio, reuniu-se com o enviado do governo Biden na segunda-feira, dia 17. Segundo o ministério, ele foi recebido para tratar da situação no Oriente Médio. A embaixada dos Estados Unidos não quis divulgar mais informações a respeito.

Um alto representante de Teerã no Brasil classificou a viagem do norte-americano como um exemplo da política de "pressão máxima" exercida por Washington e um "comportamento bárbaro" contra o povo iraniano, com objetivos políticos. Ele relacionou a presença do enviado do governo Joe Biden a uma tentativa de constranger a cooperação bilateral e o comércio entre Brasil e Irã: "Por que procuram reduzir as exportações brasileiras - carne e grãos - para o Irã"?

No governo Lula, houve sinais de reaproximação em alto nível político, inclusive com diálogo presidencial, entre Brasil e Irã. O país é um dos novos membros do Brics e vem recebendo sinais de confiança do governo petista, inclusive em fóruns internacionais. O Brasil deixou de votar nas Nações Unidas favoravelmente a uma investigação contra Teerã por causa da violação de direitos de mulheres.

Após o histórico ataque aéreo com drones e mísseis contra Israel, o governo brasileiro divulgou uma nota oficial que não condenava o bombardeio sem precedentes - o que seria feito somente após cobranças e uma repercussão negativa, pelo chanceler Mauro Vieira.

Navios de Guerra

No ano passado, o governo dos Estados Unidos tentou, sem sucesso, apelar ao governo Lula para impedir a passagem pela costa brasileira e a ancoragem de dois navios de guerra do Irã. Os Estados Unidos acusam o país e seus braços militares de se envolverem em atividades terroristas. O Irã rechaça a pecha.

Na ocasião, a Marinha deu aval para que os navios atracassem no Porto do Rio. Autoridades militares e diplomáticas do Brasil e do Irã participaram de uma celebração nos navios iranianos, sobre os 120 anos de relações entre os países. O Itamaraty e o Palácio do Planalto ignoraram a pressão da embaixada norte-americana.

No governo Jair Bolsonaro, o Irã precisou recorrer ao Supremo Tribunal Federal para conseguir aval para o reabastecimento de navios sancionados nos EUA, que trouxeram ureia e voltariam ao país com carregamento de milho.

Apesar das restrições, o comércio bilateral entre Brasil e Irã cresceu nos últimos anos e chegou a US$ 4,4 bilhões no ano passado. Os iranianos citam números ainda maiores, por causa de um fluxo indireto de produtos, que passam antes por outros países para driblar barreiras. A base são produtos como milho, soja, carne bovina e de aves e açúcar. O Brasil tem superávit nos últimos 20 anos.

No entanto, as sanções ainda constrangem a expansão do comércio e causam problemas para o Irã. O país não conseguiu por exemplo destravar a compra milionária de aviões da Embraer. O Irã sofre dificuldades para repor a frota aérea que opera voos comerciais internos e também para realizar a manutenção de aeronaves.

No mês passado, a queda de um helicóptero que voava em condições de mau tempo matou o então presidente do país, Ebrahim Raisi, e o então ministro das Relações Exteriores, Hossein Amir-Abdollahian.

A tragédia ainda está sob investigação, mas autoridades do país já admitiram falha técnica. Sob o comando do líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, foram convocadas eleições para a próxima sexta-feira, dia 28 de junho.

Em outra categoria

A republicana Nikki Haley, a segunda colocada contra Donald Trump na corrida pela indicação do Partido Republicano deste ano, disse que os democratas precisam abandonar o presidente Biden como seu candidato, após o desempenho decepcionante no debate. Ao mesmo tempo, Haley reiterou seus pedidos de testes cognitivos para todos os candidatos federais.

Mas a ex-governadora da Carolina do Sul, em uma entrevista ao Wall Street Journal, alertou também que os republicanos não devem presumir que a substituição de Biden ajudaria Trump de forma inerente.

"Eles vão ser inteligentes: vão trazer alguém mais jovem, vão trazer alguém vibrante, vão trazer alguém testado", disse ela. "Este é um momento para os republicanos se prepararem para o que está por vir, porque não há como haver um Partido Democrata sobrevivente se eles permitirem que Joe Biden continue a ser o candidato."

Haley revelou que conversou há cerca de uma semana com Trump - o ex-presidente e presumível candidato republicano - pela primeira vez desde que deixou a disputa no início de março, para oferecer pessoalmente seu apoio depois de declarar em maio que votaria nele. Segundo ela, foi uma "boa conversa", mas não houve discussão sobre um papel de campanha para Haley ou participação na Convenção Nacional Republicana do próximo mês em Milwaukee.

Sobre os testes cognitivos, a republicana argumentou que Washington está "repleta de pessoas idosas" e os eleitores precisam saber "quem está à altura do desafio e quem não está", defendendo que essa informação seja divulgada publicamente assim como relatórios financeiros básicos.

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou nesta sexta-feira, 28, que caberá ao Poder Judiciário, e mais especificamente à Corte, dar a última palavra caso prospere no Congresso uma proposta de anistia aos investigados, acusados, condenados e presos por envolvimento nos atos golpistas de 8 de janeiro do ano passado.

No início deste mês, a presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, Caroline de Toni (PL-SC), designou o colega Rodrigo Valadares (União Brasil-SE) como relator de um projeto de lei que concede anistia aos implicados na depredação das sedes dos Poderes em Brasília. Os dois parlamentares são aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O ex-presidente é investigado em um dos inquéritos dos atos golpistas. A anistia é defendida por aliados de Bolsonaro no Congresso e tem sido citada nos bastidores do Parlamento como moeda de troca pelo apoio do campo bolsonarista nas eleições pelas presidências da Câmara e do Senado, em 2025.

Constituição

"Quem admite anistia ou não é a Constituição Federal e quem interpreta a Constituição é o Supremo Tribunal Federal", disse Moraes durante o Fórum Jurídico de Lisboa, evento promovido por instituição de ensino superior do ministro Gilmar Mendes. "O Supremo Tribunal Federal vai garantir a responsabilização de todos os culpados pelo dia 8 de janeiro", garantiu o ministro em sua palestra.

Bolsonaro levantou a ideia de anistia no 8 de Janeiro durante ato na Avenida Paulista que reuniu milhares de pessoas no dia 25 de fevereiro. A manifestação foi convocada pelo próprio ex-presidente após ele ser apontado pela Polícia Federal (PF) como mentor de uma minuta golpista para permanecer no poder depois de ser derrotado na eleição presidencial de 2022. Durante o ato em São Paulo, o ex-presidente pediu pela anistia "para aqueles pobres coitados presos em Brasília" que foram alvo da investigação.

Cerca de um mês depois, uma pesquisa do Datafolha informou que a possibilidade de anistiar os responsáveis pelos ataques golpistas às sedes dos três Poderes, em 8 de janeiro de 2023, era rejeitada por 63% dos entrevistados. Assim como Bolsonaro, 31% dos ouvidos pela pesquisa se manifestaram a favor do perdão, enquanto 2% se disseram indiferentes e 4% não opinaram sobre o assunto. O levantamento ocorreu entre os dias 19 e 20 de março com 2.002 entrevistados.

"O Supremo Tribunal Federal é uma instituição centenária. Obviamente que quando a democracia é mais atacada e a Constituição é mais atacada o Supremo Tribunal Federal tem a missão de defendê-la e assim o fez", disse Moraes durante sua fala no evento em Lisboa.

Recados

Alvo de questionamentos sobre possíveis conflitos de interesse envolvendo partes e a pauta de julgamentos do Supremo (mais informações na página ao lado), o fórum realizado na capital portuguesa serviu para que ministros participantes mandassem recados para o Congresso e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além do tema anistia para implicados no 8 de Janeiro, outro assunto que veio à tona entre os ministros foi a decisão do STF pela descriminalização do porte de maconha.

O presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, afirmou nesta quinta, 27, que a Corte cumpriu o seu papel ao decidir pela descriminalização e que o presidente Lula tem "liberdade de expressão" para discordar da decisão.

Lula disse na quarta-feira, 26, que o STF não tem que se "meter em tudo" e que decisões como a desta semana sobre maconha geram "rivalidade" com outros Poderes. Ainda de acordo com Lula, o STF não pode "pegar qualquer coisa" para julgar.

"Não sou censor do que fala o presidente e menos ainda fiscal do salão. O que posso dizer é que o Supremo julga as ações que chegam ao plenário, inclusive os habeas corpus e recursos extraordinários de pessoas que são presas com pequenas quantidades de drogas", afirmou Barroso ao ser questionado sobre as declarações de Lula.

'Conflagração'

O ministro Flávio Dino também respondeu às críticas feitas pelo presidente da República à decisão da Corte. O magistrado argumentou que o tribunal é instado a decidir sobre temas polêmicos por causa da "conflagração" social. Dino argumentou que temas em conflito na sociedade brasileira têm desaguado no Poder Judiciário, o que obriga os magistrados a agir.

"Quando as situações conflituosas caminham por aquela praça (dos Três Poderes) e não encontram outra porta, acham o prédio do Supremo mais bonito, a rampa é menor, e lá elas entram. Lá chegando, nós (ministros) não podemos jogar os problemas no mar ou no Lago Paranoá, e nós não podemos prevaricar", afirmou Dino.

"É por isso que o Supremo Tribunal Federal 'se mete em muita coisa'. Nós somos metidos em muita coisa justamente em face dessa conflagração que marca a sociedade brasileira", completou o ministro, que foi o titular da Justiça no início do terceiro mandato de Lula na Presidência da República..

A posição do ministro se alinha a de outros integrantes da Corte. Dias Toffoli afirmou anteontem que "se tudo vai parar no Judiciário, é falência dos outros órgãos decisórios".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) insatisfeitos com o apoio do ex-presidente ao prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), têm ajudado, nos bastidores, a pré-campanha de Pablo Marçal (PRTB). O coach é visto como alguém mais próximo das pautas defendidas pelo grupo do que o emedebista.

A aliança de Nunes com Bolsonaro incluiu a indicação do vice na chapa. O nome escolhido pelo ex-presidente foi o do coronel da reserva Ricardo de Mello Araújo (PL), que foi comandante da Rota e diretor da Ceagesp durante o governo Bolsonaro.

O deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) tem sido apontado como o principal interlocutor de Marçal entre militantes, líderes, empresários e jornalistas alinhados a Bolsonaro. Publicamente, o parlamentar e o coach negam o movimento. Salles afirmou que permanecerá neutro na eleição em São Paulo e que não tem contato com Marçal, à exceção de uma participação em um podcast no início do mês.

O ex-ministro do Meio Ambiente chegou a se colocar como pré-candidato a prefeito em duas ocasiões, mas recuou após Bolsonaro e o PL indicarem que apoiariam Nunes. "Essa informação não está correta. Não tenho feito interlocução nenhuma nem encontro com nenhum jornalista", disse Salles ao Estadão após ser questionado sobre o tema.

Pressão

A entrada de Pablo Marçal na disputa eleitoral pressionou Nunes a aceitar a indicação de Mello Araújo como vice, o que o prefeito resistia a fazer, e, sob esse ponto de vista, beneficiou Bolsonaro. A campanha do emedebista teme o avanço do coach sobre eleitores bolsonaristas e, por isso, decidiu selar a parceria com o ex-presidente.

Por outro lado, aliados de Bolsonaro passaram a enxergar Marçal com desconfiança e avaliam que há a possibilidade de ele atrapalhar os planos do grupo em São Paulo caso decida se candidatar ao Senado em 2026. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) é, no momento, um dos mais cotados para concorrer à vaga.

'Erro'

Marçal fez elogios a Salles durante participação no podcast Bradock Show, no dia 11 de junho, e disse que o deputado deveria ser candidato à Prefeitura de São Paulo. "Eu acredito que ainda é um erro grave do Bolsonaro, eu sei que ele não quer apoiar o Nunes, mas, por força da palavra do partido, ele vai seguir naquilo. É um completo erro não ter um candidato de direita, porque o Nunes não é de direita", afirmou o coach.

A declaração ocorreu após Marçal ser questionado por Salles por se classificar como "governalista" e dizer que não é nem de direita nem de esquerda. De acordo com o ex-ministro do Meio Ambiente, quem evita se posicionar politicamente ou é de esquerda ou não sabe o que fará na política.

"Eu vou seguir seu conselho, (porque) sua pergunta tem um conselho embutido. Você falou que ninguém que seguiu isso deu certo. E eu não quero ser o primeiro cara a desafiar você e falar que vai dar certo", respondeu Marçal.

Também bolsonarista, Filipe Sabará (Republicanos) apoia o pré-candidato do PRTB abertamente. Sabará deixou a presidência do Conselho do Fundo Social, comandado pela primeira-dama do Estado de São Paulo, Cristiane Freitas, para assumir a função de coordenador do programa de governo de Marçal.

Sabará almeja ser o vice na chapa do coach e tenta convencer o Republicanos, partido ao qual está filiado, a romper com Nunes e apoiar Marçal. A tarefa, no entanto, deve ser difícil, já que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) não abre mão do apoio ao prefeito e já reiterou "estar fechado" com Bolsonaro na eleição na capital paulista.

Recuo

A deputada estadual Dani Alonso (PL) é outra apoiadora do ex-presidente que já expressou sua preferência por Marçal, de quem é amiga. A parlamentar publicou uma foto com o coach acompanhada da pergunta: "Quem será o próximo prefeito de São Paulo?". A imagem repercutiu e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro respondeu: "Ricardo Nunes". Em um recuo no posicionamento, Dani Alonso tem dito, agora, que seguirá o determinado por Bolsonaro.

A deputada estadual também afirmou, em suas redes sociais, que Marçal iria à Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) para conversar com parlamentares. O encontro com a bancada do PL foi desautorizado publicamente pelo ex-presidente, mas, mesmo assim, o coach foi à sede do Legislativo estadual.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.