EUA: Minoria diz que Suprema Corte tornou presidentes 'reis acima da lei'

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As juízas que compõem a minoria liberal na Suprema Corte dos Estados Unidos divergiram veementemente da decisão que garantiu imunidade parcial a Donald Trump. O voto contrário afirma que a maioria conservadora transformou a figura do presidente em "rei acima da lei".

Por seis votos a três, a corte determinou nesta segunda-feira, 1, que ex-presidentes têm imunidade absoluta nos atos oficiais, mas podem responder por suas ações pessoais. A decisão, vista como uma vitória para Trump, na prática, posterga processos no momento em que o líder republicano tenta voltar à Casa Branca.

Sonia Sotomayor escreveu que a maioria estava profundamente equivocada e que a decisão terá consequências severas para o futuro da democracia americana. A opinião foi compartilhada pelas juízas Elena Kagan e Ketanji Brown Jackson, todas indicadas por presidentes do Partido Democrata.

"Ordena que o Seal Team Six (unidade especial) da Marinha assassine um rival político? Imune. Organiza um golpe militar para manter o poder? Imune. Aceita um suborno em troca de um perdão? Imune. Imune, imune, imune", criticou Sotomayor.

As teses foram levantadas quando a Suprema Corte ouviu o pedido de Donald Trump por imunidade absoluta. Na ocasião, a defesa alegou que os presidentes precisavam dessa garantia para governar com independência e sustentou argumento ao ser confrontada com hipóteses extremas, da venda de segredos nucleares a assassinatos e golpes de Estado.

"Mesmo que esses cenários de pesadelo nunca se concretizem, e eu rezo para que nunca se concretizem, o dano já foi feito", escreveu a juíza. "Em cada uso do poder oficial, o Presidente é agora um rei acima da lei".

Sotomayor acusou a maioria de ignorar precedentes legais e argumentou que o parecer favorece apenas a defesa de Trump. Ela criticou, entre outras coisas, a decisão de que os promotores não poderiam usar os atos oficiais como evidência em um julgamento - mesmo que esses atos oficiais estejam relacionados a ações pessoais, passíveis de responsabilidade.

A acusação contra Trump, por exemplo, alega que ele explorou o poder do Departamento de Justiça para pressionar Estados a aceitar listas com eleitores falsos. Os juízes decidiram que as conversas de Trump com os funcionários do Departamento se qualificariam como atos oficiais e não poderiam ser usadas como evidência.

"Argumento por argumento, a maioria inventa imunidade por meio da força bruta", escreveu Sotomayor, acrescentando que a decisão estreita tanto a linha entre atos oficiais e não oficiais que torna quase impossível processar um ato não oficial.

Ela concluiu seu posicionamento de forma dura. No lugar do "respeitosamente, discordo" que frequentemente encerra os votos de divergência na Suprema Corte, escreveu: "Com medo por nossa democracia, eu discordo."

O voto da maioria, escrito pelo presidente da Suprema Corte John Roberts, afirma que a divergência da ala liberal tem um tom desproporcional. As dissidentes, por outro lado, afirmam que a preocupação é justificada.

Além de seguir a opinião de Sonia Sotomayor, a juíza Ketanji Brown Jackson, indicada de Joe Biden para Suprema Corte, apresentou uma divergência separada.

"A maioria dos meus colegas parece ter confiado na capacidade da Corte de impedir que os presidentes se tornem reis por meio da avaliação caso a caso do novo paradigma de responsabilidade presidencial", escreveu. "Temo que eles estejam errados. Mas, para o bem de todos nós, espero que eles estejam certos."

Trump alegou imunidade presidencial ao recorrer das acusações do procurador especial Jack Smith, que miram nos esforços do líder republicano para reverter a derrota na última eleição. O pedido chegou à Suprema Corte depois de ser rejeitado por tribunais inferiores.

O resultado da votação por seis votos a três reflete a divisão do tribunal, que tem seis juízes conservadores, sendo três deles indicados pelo próprio Donald Trump, e três liberais.

Na prática, a decisão atrasa o processo e torna improvável que o ex-presidente seja julgado antes das eleições. Isso porque caberá a juíza Tanya Chutkan convocar novas audiências para traçar a linha entre o que são atos oficiais e o que são ações pessoais de Trump no caso apresentado por Jack Smith. Se eleito, Trump poderia ordenar que o Departamento de Justiça encerre as acusações ou conceder perdão a si mesmo. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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A vereadora Cris Monteiro (Novo) afirmou nesta terça-feira, 29, durante discurso na tribuna da Câmara Municipal de São Paulo, que "mulher branca, bonita e rica incomoda". A declaração foi dirigida a sindicalistas que acompanhavam a votação do reajuste dos servidores municipais e gerou forte reação da plateia e de parlamentares.

Durante sua fala, Cris repreendeu a vereadora Luana Alves (PSOL), que tentava confrontá-la, e disse: "Por favor, Luana, calada. Pode me devolver o tempo. Eu escutei todos vocês calados (...) Agora, quando vem uma mulher branca aqui, falar a verdade para vocês, vocês ficam todos nervosos. Porque uma mulher branca, bonita e rica incomoda muito vocês".

Ela completou dizendo que representa uma parcela da população que a elegeu e criticou os grevistas. "Eu não vou defender essas pessoas que deixam as nossas crianças na sala de aula fazendo greve."

A vereadora Luana Alves, que é negra, classificou a fala como racista e pediu a suspensão da sessão. Segundo ela, Cris Monteiro teria direcionado suas palavras diretamente a ela enquanto discursava.

O áudio da transmissão oficial da sessão pela Rede Câmara, canal da Casa no YouTube, chegou a ser interrompido por alguns minutos, mas foi restabelecido em seguida. Após o retorno, a vereadora do Novo pediu desculpas.

"Lamento profundamente se alguém em particular se sentiu ofendido com a minha fala, não foi minha intenção. Faço uso da tribuna, como qualquer parlamentar, para defender minhas ideias e falar o que penso".

O presidente da Câmara, Ricardo Teixeira (União), disse que a Casa "não permite racista" e mencionou o caso do ex-vereador Camilo Cristófaro (Avante), cassado em 2023 por fala racista. No entanto, após rever o vídeo da declaração de Cris, avaliou que não houve racismo.

"Nós vimos e revimos várias vezes o vídeo. Na nossa opinião, não houve racismo", afirmou o presidente da Câmara. Segundo ele, a Corregedoria da Câmara acompanhará o caso. "Esse fato será analisado com sangue tranquilo, temperatura normal, pressão também".

A vereadora do PSOL, no entanto, reforçou a acusação. Para ela e outros vereadores, se tratou de um ato de racismo evidente.

"A vereadora Cris irá responder na Corregedoria. Fico muito triste que uma cassação não tenha sido suficiente para aprenderem que não se pode desrespeitar a população negra nessa Câmara", disse. Ela espera que o desfecho seja semelhante ao do caso Cristófaro.

Essa não foi a primeira polêmica envolvendo a vereadora Cris Monteiro. Em 2021, ela se envolveu em um episódio de agressão com a então vereadora Janaína Lima, à época também filiada ao Novo. Na ocasião, Cris afirmou esperar que Janaína fosse cassada.

Um relatório da Corregedoria da Câmara Municipal recomendou a suspensão das funções legislativas de ambas - Janaína e Cris - após a briga ocorrida no banheiro ao lado do Plenário, durante a votação da reforma da Previdência. No entanto, a ação disciplinar não avançou.

O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, afirmou a jornalistas, nesta terça-feira, 29, que está "totalmente" descartada a possibilidade de seu afastamento do ministério. As declarações ocorreram após depoimento na Comissão de Previdência da Câmara dos Deputados.

Na ocasião, Lupi havia respondido questionamentos de parlamentares sobre as fraudes no Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Ao ser questionado se houve alguma conversa sobre o seu afastamento do ministério, Lupi respondeu "nenhuma". Ele acrescentou: "Quem tem que decidir sobre isso é o presidente Lula. Eu sei que eu tenho a confiança dele e estou trabalhando para elucidar tudo o que tiver de errado", declarou.

Lupi voltou a dizer que não houve demora nas providências ao tomar conhecimento das denúncias de fraudes no INSS. "Isso é uma formação de quadrilha: grupos que se montaram para criar instituições e para roubar dinheiro de aposentado. Isso é chocante para mim", declarou.

O ministro prosseguiu: "Eu fui surpreendido com o volume disto. Porque eu sabia que tinha uma denúncia aqui, outra acolá, a gente sempre soube, a gente recebia queixa, na própria plataforma do INSS aparecia algumas pessoas se queixando. Agora, nesse quantitativo, por uma organização, eu tomei conhecimento agora".

Lupi também argumentou que a base para as investigações da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) vieram de apurações que ele determinou no INSS. Questionado se houve demora nas providências, ele negou.

"Aí, é outra discussão. Quando eu fiz a comparação com o botequim da esquina, eu adoro um pão na chapa no botequim da esquina. Quando eu fiz a comparação, é no sentido de que isso não é simples, são 7 milhões de pessoas. Como é que você verifica, checa, cria biometria de 7 milhões de pessoas?", afirmou.

Ainda em resposta aos jornalistas, Lupi afirmou: "Não demorei a determinar (as apurações). Foi tomado conhecimento dos vários fatos, inclusive no Conselho. O Conselho não é executivo, é um conselho de debate, de deliberações macro sobre visão da Previdência Social. Estava lá no assento o presidente do INSS e o diretor do INSS. Eu pedi para que tomassem providências disso, tanto é que eu demiti o diretor".

Conforme mostrou o Broadcast Político (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), Lupi argumenta que demitiu o diretor de Benefícios André Félix Fidélis, que teria apresentado lentidão para avançar com as apurações. Uma reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, mostrou que o ministro foi alertado sobre as fraudes em junho de 2023, mas adiou a discussão e só tomou providências após quase um ano.

A auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) nos descontos em contracheques de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) revelou situações flagrantes de fraude.

Foram descobertos cadastros em nome de analfabetos, indígenas de comunidades isoladas, idosos com doenças graves, pessoas com deficiência e aposentados.

São pessoas que, segundo a CGU, não teriam como comparecer pessoalmente às associações e nem como assinar fichas de filiação e termos de autorização para os descontos em benefício dessas entidades. Algumas até residem no exterior.

Os casos foram descobertos a partir de entrevistas feitas com uma amostra de 1.273 beneficiários do INSS, registrados nos 27 Estados e no Distrito Federal, que tiveram valores descontados de seus contracheques. 97,6% dos entrevistados informaram à CGU não ter autorizado os abatimentos.

Os beneficiários do INSS podem aderir a associações civis e sindicatos e autorizar descontos mensais em seus contracheques para cobrir custos de filiação. Para isso, as entidades devem estar habilitadas junto ao INSS e precisam receber autorização "prévia, pessoal e específica" de aposentados e pensionistas interessados.

Parte dos aposentados ouvidos pela CGU só tomou conhecimento dos descontos no momento das entrevistas.

A Polícia Federal afirma que a auditoria revela um "cenário de incongruências". A PF investiga se idosos foram induzidos a assinar autorizações de desconto sem saber a verdadeira finalidade dos documentos e até se assinaturas foram forjadas.

As suspeitas são investigadas na Operação Sem Desconto. Segundo a Polícia Federal, servidores do INSS venderam dados de aposentados e pensionistas em troca de propinas e facilitaram os descontos indevidos direto nos contracheques dos beneficiários. O esquema teria causado um prejuízo de R$ 6,3 bilhões a milhares de aposentados.

Pressionado, o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, pediu demissão após ter sido afastado do cargo por ordem judicial.