Sem UE, Mercosul acelera negociações com países do Oriente Médio, América Central e Ásia

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Sem conseguir destravar o acordo com a União Europeia, os países do Mercosul tentam acelerar negociações paralelas de livre comércio com países de outras regiões e agremiações, expandindo sua rede ao Oriente Médio, América Central e Ásia.

Entre as tratativas que ganharam fôlego recentemente estão Emirados Árabes Unidos, El Salvador, Japão, República Dominicana, Panamá e o bloco Efta - a Associação Europeia de Comércio Livre, formada por Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça. O Mercosul já estima que, ao menos no caso dos Emirados, o acordo pode ser concluído neste ano.

Os líderes do Mercosul se reúnem no Paraguai, neste fim de semana, e realizam na segunda-feira, dia 8, a cúpula de chefes de Estado, em Assunção.

O país anfitrião anunciou que concluiu na sexta-feira, dia 5, a primeira rodada de negociações com a delegação dos Emirados Árabes. Durante quatro dias, os negociadores debateram sobre o acesso a mercado de bens, regras de origem, medidas sanitárias e fitosanitárias, obstáculos ao comércio e serviços. O prognóstico do Paraguai é positivo. A chancelaria fala em concluir as tratativas e assinar ainda em 2024. O Itamaraty também opina que existe "potencial de conclusão rápida" com os EAU.

O interesse do bloco é fundamentalmente na exportação de produtos do agronegócio originários no Cone Sul. No ano passado, os países do Mercosul regristraram exportações de US$ 3,5 bilhões aos Emirados Árabes Unidos, contra importações de US$ 1,6 bilhões.

Apear de um empuxo político no ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não conseguiu levar adiante os ajustes que exigia nos termos do acordo com a UE. Ele foi bloqueado, principalmente, pela França. O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que não seria louco de seguir adiante e defende reabrir os termos, em postura vista pelo lado brasileiro como protecionista para atender o lobby agrícola francês e europeu.

A negociação do acordo de associação Mercosul-UE se arrasta há 25 anos. Em 2019, quando a conclusão da fase técnica foi celebrada, o Mercosul e a União Europeia falavam na criação de uma zona de livre comércio de 800 milhões de pessoas e comércio bilateral de US$ 100 billhões.

Mas logo os europeus anunciaram que apresentariam exigências ambientais adicionais. Uma carta paralela com as condições, entregue em 2023, seria imediatamente rechaçada por pelo governo Lula, com apoio dos demais países. O Brasil continua a liderar essas tratativas.

O governo Lula, então, respondeu apontando objeções, principalmente, nos termos sobre compras governamentais, sob a alegação de que poderia prejudicar a indústria nacional. Lula tem dito que tudo se encontra agora equacionado, a espera de uma decisão política do lado europeu. Segundo diplomatas, restam ainda algumas pendências, mas houve avanços.

"Mantemos nosso interesse e o objetivo segue vigente de concluir o acordo proximamente. As pendências são poucas e estão bem delimitadas. Houve avanços em compras governamentais, que são de profundo interesse do Brasil. É preciso de vontade política. Passadas as eleições no Parlamento Europeu e com a confirmação da Ursula von der Leyen (como presidente reeleita da Comissão Europeia) as coisas podem andar", disse a embaixadora Gisela Padovan, secretária de América Latina e Caribe.

Por outro lado, o governo exige "equilíbrio" nos termos em discussão e monitora e se prepara para entrada em vigência da possibilidade de sanções e fechamento de portas ao mercado europeu, principalmente por meio da lei antidesmatamento (EUDR). Ela bane produtos de sete cadeias produtivas caso oriundos de terras desmatadas.

Em paralelo, o Mercosul também segue em tratativas com o bloco Efta. Os quatro países europeus atrelavam um avanço à conclusão do acordo com a UE, mas desvincularam as agendas. Uma comitiva foi ao Brasil no início do ano para retomar contatos presenciais.

O Mercosul busca expandir negociações na América Central e Caribe. O Brasil ficou à frente da coordenação com a República Dominicana. No caso de El Salvador, o Estadão apurou que os termos de referência já estão prontos. Há sinais positivos, segundo embaixadores, na negociação liderada pela Argentina.

Além disso, o novo presidente do Panamá, José Raúl Mulino, indicou no discurso de posse que deseja fechar com o Mercosul e foi convidado pelos paraguaios para participar da cúpula na segunda-feira.

Já houve também uma rodada inicial de conversas com o Japão. Na Ásia, o primeiro acordo foi fechado no ano passado, com Singapura. Há contatos com Vietnã, Indonésia e Canadá.

O bloco conseguiu recentemente mudar o regime de origem e reduzir o índice de conteúdo nacional de 60% para 50% com o Chile, atendendo ao pleito dos fabricantes brasileiros de automóveis. Assim, a expectativa é de mais exportações de carros fabricados no Brasil ao país.

O Mercosul já tem acordos vigentes também com Peru e Colômbia e trabalha para facilitar o acesso ao mercado agrícola, entre outras mudanças, com ambos. Também discute os termos de referência de um acordo com o Equador.

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A Procuradoria-Geral da República (PGR) defendeu nesta quarta-feira, 30, que o ex-presidente Fernando Collor de Mello passe a cumprir pena em prisão domiciliar.

Em resposta ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que pediu um parecer da PGR, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmou que considera o regime domiciliar adequado por causa da idade e do estado de saúde do ex-presidente.

"A manutenção do custodiado em prisão domiciliar é medida excepcional e proporcional à sua faixa etária e ao seu quadro de saúde, cuja gravidade foi devidamente comprovada", afirmou Gonet.

A defesa do ex-presidente pediu prisão domiciliar humanitária alegando que ele enfrenta problemas de saúde graves. A decisão cabe a Moraes.

Os advogados advogados Marcelo Bessa e Thiago Fleury afirmam que, aos 75 anos, Collor tem "comorbidades graves" e faz uso de medicamentos contínuos. Ao ser ouvido na audiência de custódia, no entanto, o ex-presidente negou ter problemas de saúde ou tomar remédios.

Moraes exigiu histórico médico, prontuários, laudos e exames que comprovem as comorbidades. Os documentos foram entregues pela defesa.

O ex-presidente foi preso para cumprir a condenação de 8 anos e 6 meses em um processo da Operação Lava Jato. Ele está detido no Presídio Baldomero Cavalcanti de Oliveira, em Maceió.

Moraes também pediu que a direção do presídio informe se tem condições de oferecer o atendimento médico necessário ao ex-presidente.

O líder do PT na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias (RJ), afirmou que líderes partidários decidiram, em consenso, pedir a cassação do deputado Gilvan da Federal (PL-ES), nesta quinta-feira, 30. Gilvan, que se envolveu em polêmica após desejar a morte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), protagonizou uma nova discussão na terça-feira, 29 e, segundo o petista, xingou a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann.

"O fato é que a gente tem uma gravação onde um deputado federal agride uma ministra, chamando da pior coisa que vocês podem pensar. E houve consenso entre os líderes que isso não dá para continuar dessa forma e que a gente tem que tomar medidas em relação ao Conselho de Ética e à Corregedoria", disse o líder do PT.

Lindbergh afirmou que o pedido de cassação do deputado capixaba será enviado ao Conselho de Ética pelo deputado Isnaldo Bulhões (AL), líder do MDB. Além disso, o petista disse que a Corregedoria da Casa pode ser acionada.

"Gente, chega. Não dá. Sabe quando passa do limite? E foi bom porque houve uma concordância geral e o presidente disse que além do Conselho de Ética, a Corregedoria vai agir", disse Lindbergh. Segundo o parlamentar, a medida também tem como objetivo "organizar a convivência entre deputados".

A Prefeitura de São Paulo entrou com uma ação de execução fiscal na Justiça para cobrar R$ 812 mil em dívidas de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) do ex-governador João Doria. No processo, Doria pode ter os bens penhorados se não regularizar o imóvel.

A cobrança corresponde a uma dívida de 2014 relativa a um imóvel do empresário no bairro Jardins, área nobre da capital paulista. Na ação, a cobrança foi corrigida para valores atuais, em R$ 725 mil, e acrescida de encargos.

Questionada pela reportagem, a Procuradoria Geral do Município de São Paulo confirmou a notificação ao ex-governador. Doria pode parcelar o pagamento da dívida, nas regras estabelecidas pela Portaria FISC nº 1/2023.

Questionada sobre o débito, a assessoria de João Doria disse que ele desconhecia a cobrança até o momento. Segundo nota enviada ao Estadão, o imposto é relativo à unificação de dois terrenos na Rua Itália. A assessoria afirma que o processo pode ter gerado um "lapso relacionado ao pagamento de um saldo remanescente de IPTU".

A assessoria ainda diz que está "realizando a devida verificação junto aos órgãos competentes, para, se for o caso, sanar eventual pendência". Segundo informado, o empresário possui "diversos imóveis na mesma região, todos com valores expressivos de IPTU, os quais se encontram rigorosamente quitados. Nosso compromisso com a regularidade fiscal permanece inalterado".