Pressão diplomática contra Venezuela aumenta hesitação do Brasil sobre suspeita de fraude

Internacional
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A pressão diplomática contra a ditadura de Nicolás Maduro aumentou nesta sexta-feira, 16, com dois movimentos negociados em organismos multilaterais e países envolvidos na tentativa de mediar a crise provocada pela declaração de vitória de Maduro em meio a denúncias de fraude.

De um lado, um grupo de 22 países e a União Europeia divulgou um abaixo assinado pedindo a divulgação das atas eleitorais da Venezuela e a verificação imparcial das eleições. Em paralelo, a Organização dos Estados Americanos (OEA), aprovou uma resolução na mesma linha. A diplomacia brasileira não assinou o primeiro documento, mas votou a favor da discussão na OEA após negociar mudanças no teor do texto.

Desde a eleição, em 28 de julho, o Brasil não reconhece a vitória de Maduro nem da oposição e cobra a divulgação detalhada dos resultados eleitorais, mas tem dados sinais contraditórios sobre as denúncias de fraude na eleição. Além disso, o esforço liderado pelo assessor de assuntos externos do Planalto, Celso Amorim, não trouxe resultados concretos.

O chavismo se nega em divulgar os resultados das atas e rejeita qualquer possibilidade de diálogo com a oposição, que convocou atos de rua contra a ditadura. Nem propostas com algumas concessões aventadas pelo Brasil, Colômbia e México, como a realização de uma espécie de segundo turno da eleição, ou a criação de um governo de união, foram aceitas por Maduro.

Amorim vê brechas para esse desfecho a partir de eventual anulação do pleito pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), a entidade máxima do Judiciário da Venezuela controlada pela ditadura chavista. A tese do assessor do presidente Lula foi desmentida pelo próprio chavismo e criticada pela oposição.

Em meio ao fracasso em encontrar uma saída negociada para a crise, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rejeitou hoje qualificar a Venezuela de uma ditadura, mas reconheceu que o regime de Maduro tem um caráter autoritário. Foi a primeira vez que o petista se referiu à Venezuela nesses termos. Logo após a eleição, Lula disse que não havia "nada de anormal" no país, que no passado elogiou pelo 'excesso de democracia'.

A declaração foi dada semanas depois de o PT saudar Maduro pela eleição e reconhecê-la apesar das evidências de fraude. Membros do governo brasileiro, como o Amorim e o próprio Lula nos últimos dias também trataram a Justiça venezuelana como um ator isento, quando na verdade é controlada por Maduro.

O abaixo-assinado liderado pelos EUA e a UE contou com o apoio de países como Argentina, Canadá, Chile, República Tcheca, Costa Rica, Equador, Espanha, El Salvador, Guatemala, Guiana, Itália, Marrocos, Países Baixos, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Reino Unido, Suriname, Portugal e Uruguai.

Alguns deles, especialmente os latino-americanos como Argentina, Peru e Panamá, romperam relações com Maduro depois da eleição e reconheceram a vitória do opositor Edmundo González. Brasil, Colômbia e México, que ainda mantêm canais de diálogo com Maduro, optaram por não assinar o texto.

A diplomacia brasileira tem visto com algumas ressalvas a atuação de países ocidentais na crise. Na audiência de ontem no Senado, Amorim criticou a União Europeia por 'forçar a barra' nas cobranças a Maduro, o que acabou tendo a permissão para observar a eleição negada. Além disso ele disse que a OEA não tem credibilidade entre os governos progressistas da América Latina.

Ele também disse ver uma brecha para a realização de novas eleições na Venezuela, mas tese do assessor do presidente Lula foi desmentida pelo próprio chavismo e criticada pela oposição. O chavismo a qualificou de 'ideia estúpida' e a oposição de 'desrespeito'.

Na OEA, no entanto, os três governos de esquerda resolveram assinar a resolução de pressão sobre Caracas depois de agir nos bastidores para alterar o teor do texto. Havia resistências do Brasil, Colômbia e México, entre outros países caribenhos e centro-americanos e sul-americanos, pelo fato de a Venezuela não fazer mais parte da OEA. O regime chavista de Maduro rompeu com a organização em 2017, depois de embates políticos por questionamentos a desmandos e violações de direitos humanos na Venezuela. O país também permanece na mira da CIDH, a Corte Interamericana de Direitos Humanos.

As seguidas frustrações tanto de quem ainda tenta dialogar com o chavismo como de quem optou pela ruptura diplomática indicam que a crise está longe de uma solução e que, no momento, o cenário mais provável é o de manutenção da ditadura.

Um protesto foi convocado pela oposição para o sábado, 17, contra as suspeitas de fraude. Desde o mês passado, mais de 1,2 mil pessoas foram presas e mais de 20 morreram na repressão

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Pesquisa CNT divulgada nesta terça-feira, 25, mostrou que 69,4% dos brasileiros não tiveram conhecimento sobre a eleição realizada para a escolha dos presidentes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, em fevereiro deste ano. De acordo com a sondagem, somente 28,8% dos brasileiros tiveram conhecimento da realização das eleições para esses cargos, e um total de 1,8% não soube ou não respondeu.

O levantamento indicou ainda que, para 68,6% dos brasileiros, a escolha dos presidentes do Senado e da Câmara afetam diretamente a vida da população. Na opinião de 21,5% dos entrevistados, essas eleições não afetam diretamente a população, e 9,5% não souberam ou não responderam.

Pesquisa CNT divulgada nesta terça-feira, 25, mostra que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera as pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República em 2026, mas com dificuldades no segundo turno contra seus adversários. O petista tem 30,3% das intenções de voto no cenário contra Jair Bolsonaro (PL), que tem 30,1%.

O ex-presidente, no entanto, está inelegível - o que o impede de ser candidato no ano que vem. Por isso, a Pesquisa CNT testou outros cenários com candidatos que podem vir a ser apoiados por Bolsonaro: o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Tanto Eduardo quanto Tarcísio têm de 13% a 14% de intenções de voto, bem abaixo de Jair Bolsonaro. A distância até as eleições e o impasse na direita bolsonarista sobre quem será o candidato, no entanto, ajudam a explicar o afastamento entre o porcentual de intenções de votos do ex-presidente e de seus aliados.

Como o próprio Lula não tem confirmado que será candidato, a Pesquisa CNT também testou um cenário em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, seja o candidato do PT à Presidência da República em 2026. Haddad teve 16,2% das intenções de voto, atrás apenas de Ciro Gomes (PDT), que teve 19,7% das intenções de voto. Neste cenário, o candidato bolsonarista é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que teve 14,4% das intenções de voto.

No segundo turno, porém, o cenário é desfavorável para os petistas. De acordo com os dados da pesquisa, Lula está numericamente atrás de Bolsonaro nas intenções de voto (43,4% para o ex-presidente contra 41,6% para o petista) e pouco à frente de Tarcísio (41,2% para o presidente contra 40,7% para o governador). Haddad, por sua vez, está atrás de Bolsonaro (43,1% para o ex-presidente contra 39,4% para o ministro) e de Tarcísio (38,3% para o governador contra 37,3% para o ministro). Essas diferenças, no entanto, estão dentro da margem de erro da pesquisa, de 2,2 pontos porcentuais para mais ou para menos.

Na pesquisa espontânea, Lula está na liderança, com 23,5% dos entrevistados dizendo que votariam nele sem que nenhum nome de candidato fosse apresentado. Bolsonaro vem logo atrás, com 19,6% das intenções de voto nesse cenário. Os demais políticos têm porcentuais ínfimos: Tarcísio de Freitas tem 1,8%, Pablo Marçal, 0,9%, Nikolas Ferreira, 0,9%, e Ciro Gomes, 0,8%.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), aparece à frente em três cenários testados pelo instituto Paraná Pesquisas para as eleições estaduais de 2026, conforme levantamento divulgado nesta terça-feira, 25. No entanto, a pesquisa indica que ele poderia enfrentar um segundo turno em disputas contra o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o empresário Pablo Marçal (PRTB), recentemente condenado pela Justiça Eleitoral de São Paulo e inelegível. Cabe recurso da decisão.

A pesquisa foi realizada entre os dias 20 e 23 de fevereiro de 2025, ouvindo 1.650 eleitores em 86 municípios paulistas. A margem de erro é de 2,5 pontos porcentuais, para mais ou para menos, com um nível de confiança de 95%.

No primeiro cenário estipulado, Tarcísio aparece com 37,8% das intenções de voto, seguido por Alckmin, que registra 24,7%. Pablo Marçal soma 16,2%, enquanto o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), tem 4,8%, e o ex-prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB), 3%. Nesse contexto, Alckmin impediria uma vitória do atual governador no primeiro turno caso considerados apenas os votos válidos.

Quando a disputa ocorre sem Alckmin, Tarcísio amplia sua vantagem. No segundo cenário, ele aparece com 40,3%, seguido por Marçal, com 17,6%, e Márcio França (PSB), que soma 12,7%. Alexandre Padilha atinge 7,1% e Paulo Serra, 5%. Ainda assim, o levantamento sugere que um segundo turno seria necessário entre Tarcísio e Marçal.

Já no terceiro cenário, sem Alckmin e Marçal, Tarcísio chega a 48,6% das intenções de voto, enquanto França tem 16,6%. Alexandre Padilha aparece com 8,5% e Paulo Serra, com 5,9%. Nesse contexto, o governador venceria no primeiro turno.

Disputa sem Tarcísio

O levantamento também simulou cenários sem a participação de Tarcísio de Freitas. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), lidera os panoramas em que é incluído como opção de voto.

Em um dos cenários testados, Nunes aparece com 27% das intenções de voto, seguido por Marçal, com 25,6%, em empate técnico. Márcio França soma 17%, Padilha tem 6,3% e Paulo Serra, 5,1%.

Em cenários sem Tarcísio nem Nunes, Márcio França e a ex-ministra e ex-prefeita Marta Suplicy (PT) figuram em empate técnico. Em um dos cenários testados, França tem 18,8%, Marta, 18,3%. Eles são seguidos pelo ex-governador Rodrigo Garcia (sem partido), com 12,3%, o prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga (Republicanos), com 9,5% e pelo secretário de Governo, Gilberto Kassab (PSD), com 4,7%.