Queda do chefe do cartel de Sinaloa provoca onda de violência no México

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A prisão de Ismael "El Mayo" Zambada, líder mais antigo do cartel de Sinaloa, encerrou uma busca de 40 anos, provocou uma onda de violência e deixou várias perguntas sem respostas no México. Desde que agentes dos EUA detiveram Mayo, em uma operação cinematográfica, em julho, dez pessoas foram mortas em Sinaloa em conexão com o caso, incluindo o ex-prefeito de Culiacán Héctor Melesio Cuén.

Mayo era o último dos fundadores do cartel que estava em liberdade. O fato em si muda a dinâmica do crime organizado no México, mas as circunstâncias agravam as consequências. Ele foi preso ao lado de Joaquín Guzmán López, filho de Chapo Guzmán, sócio de Mayo, que o acusa de traição. Ambos embarcaram em um avião para o Texas e receberam ordem de prisão assim que pisaram nos EUA - para espanto do governo mexicano.

A operação é um mistério. Uma hipótese é que Mayo tenha negociado sua rendição com os americanos para tratar de um câncer. Outra é que o filho de Chapo teria sequestrado o chefão de Sinaloa - tese difundida pelo próprio Zambada em carta. Ambas abrem espaço para uma violenta corrida pela sucessão e reorganização do grupo. O avanço de rivais sobre os domínios do cartel e denúncias de corrupção política formam a receita de um tsunami de violência.

MORTES

O primeiro assassinato ocorreu no mesmo dia da prisão. Héctor Cuén, ex-prefeito de Culiacán, capital de Sinaloa, foi morto com quatro tiros. O Ministério Público garantiu que a morte havia ocorrido durante um assalto, mas Mayo demoliu a versão com uma carta que causou a renúncia da procuradora-geral do Estado, Sara Quiñonez.

Segundo o Zambada, Cuén foi morto no dia da operação americana. O ex-prefeito tinha um encontro marcado com ele e com o governador de Sinaloa, Rubén Moya, para resolver uma divergência política. Mayo foi preso. O ex-prefeito foi ao encontro e acabou assassinado. "Eles o mataram ao mesmo tempo e no mesmo lugar onde me sequestraram", escreveu Mayo.

As versões mostraram que as autoridades mexicanas não tinham a menor ideia do que estava acontecendo. E a reunião entre dois políticos com o narco mais procurado do México levantou novamente o tapete para onde o Estado tenta varrer a sujeira do crime organizado.

PERFIL

Mayo era discreto e cultivou uma rede de aliados, de políticos a militares, empresários e outros traficantes. A captura destrincha a extensão de seus contatos. Ele carrega seis décadas de crimes nas costas. Sua influência explica por que os EUA bancaram a operação sem o conhecimento do México, o que irritou o presidente Andrés Manuel López Obrador (AMLO). "Certamente, queriam evitar um vazamento", disse Raúl Benítez Manaut, professor da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam).

REAÇÃO

No dia 6 de agosto, AMLO declarou esperar que o capo revelasse seus elos com autoridades mexicanas e americanas. "Temos de saber quanto apoio lhe deram, quem o protegia. Tudo isso vai ajudar a esclarecer os fatos", disse o presidente.

Quatro dias depois, Zambada publicou a carta que envolveu Moya, governador de Sinaloa, do mesmo partido de AMLO, o Movimento Regeneração Nacional (Morena). A acusação respingou em Obrador, que ficou na defensiva. "Não somos corruptos", disse.

Uma semana depois, mais assassinatos. No dia 16, morreram os traficantes Juan Carlos, "El Vampi", e Ivan Ivanhoe, "El Tocino". No dia seguinte, os corpos dos irmãos Martín e Leobardo García Corrales foram descobertos com sinais de tortura. Ambos eram ligados a Mayo.

Na semana passada, Moya convocou uma entrevista coletiva, confirmou a relação das quatro mortes com a prisão de Zambada e acrescentou outras seis ocorridas no mesmo fim de semana em Sinaloa. A onda de violência revela uma fratura no cartel de Sinaloa, que começou em 2016, com a queda de Chapo (hoje em prisão perpétua nos EUA) e a ascensão de seus quatro filhos, conhecidos como "Chapitos".

FRAGMENTAÇÃO

Segundo relatório da DEA, a agência antidrogas dos EUA, publicado em maio, a prisão de Chapo serviu de gatilho para um fenômeno comum no submundo do crime organizado: o vácuo deixado por um líder, morto ou preso, tende a ser ocupado por alguém. Essa disputa pelo espólio é sempre acompanhada de violência. Foi o que ocorreu quando os Chapitos quiseram assumir os negócios do pai e bateram de frente com Mayo.

Diferentemente de outros cartéis, Sinaloa tem uma organização horizontal e descentralizada, uma estrutura que se assemelha a uma federação, com diferentes facções cooperando entre si. Em teoria, diz a DEA, isso permite o compartilhamento de rotas, contratos, fornecedores e redes de lavagem de dinheiro.

O modelo enfraqueceu nos últimos anos e, com a prisão de Zambada, pode ter chegado ao fim. "O cartel está fraco", disse Manaut. "Sinaloa deve se fragmentar e se transformar em grupos independentes e menores, como aconteceu com o cartel do Golfo no passado."

A queda de Mayo é uma vitória dos americanos. A recompensa por ele era de US$ 15 milhões e as acusações eram extensas: narcotráfico, crime organizado, conspiração em assassinatos e lavagem de dinheiro. Nada disso, no entanto, representa uma ameaça existencial ao crime organizado no México, segundo analistas.

A guerra civil entre os narcos apenas favorece o crescimento de outras organizações. Sinaloa é um gigante do narcotráfico, com operações em 47 países, segundo a DEA. Sua maior ameaça é o cartel Jalisco Nova Geração, fundado em 2011, após uma dissidência de Sinaloa, que seu expandiu rapidamente para 40 países.

Os dois cartéis dominam as rotas de fentanil e cocaína para os EUA e disputam territórios em busca de novas áreas de influência. "Existe o risco de uma violência explosiva entre Sinaloa e cartéis rivais, principalmente o Jalisco Nova Geração, que vai tentar tirar vantagem da instabilidade", afirmou Robert Muggah, cientista político e cofundador do Instituto Igarapé.

Um relatório do Congresso dos EUA, publicado em 2021, apontou os Estados de Sinaloa e Durango como centros do cartel de Mayo, que atua também em Sonora, Baja California e Chihuahua - todos na fronteira americana. Em 2023, três das cinco cidades mais violentas do México estavam no centro das disputas entre Sinaloa e grupos rivais.

CRESCIMENTO

Enquanto isso, o fluxo de drogas para o mercado americano segue aumentando. O fentanil matou mais de 112 mil pessoas nos EUA, em 2023, se transformando na maior causa de morte entre pessoas de até 50 anos. "É pouco provável que os surtos violentos afetem o fluxo de drogas, uma vez que muitas das estruturas básicas do cartel permanecerão intactas", disse Muggah. "A principal razão para isto é que as estruturas e redes dos cartéis estão profundamente enraizadas."

A iminência de mais violência após a prisão de Mayo levou AMLO a enviar 200 militares para o noroeste do país e pedir que os cartéis evitassem um derramamento de sangue. Os assassinatos dos últimos dias, no entanto, mostram que o México caminha em outra direção. "Apesar das guerras violentas, dentro e entre os cartéis, todos estão unidos no objetivo comum de enviar drogas para os EUA", afirma Muggah.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Termina nesta quinta-feira, 6, o prazo para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e os demais denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) no inquérito do golpe enviarem suas defesas prévias ao Supremo Tribunal Federal (STF).

A defesa prévia é o conjunto de argumentos apresentado pelos acusados antes da instauração formal do processo. Serve justamente para tentar convencer os ministros a rejeitar a denúncia e, com isso, encerrar o caso sem a deflagração de uma ação penal.

O prazo de 15 dias começou a contar a partir da notificação dos advogados, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes no dia 19 de fevereiro.

A Primeira Turma do STF vai analisar as manifestações das defesas para decidir se há elementos suficientes para receber a denúncia da PGR. Pelas regras internas do Supremo, as duas turmas da Corte são responsáveis pelos julgamentos de casos criminais.

As defesas montaram forças-tarefa para analisar os autos e preparar sua argumentação. O Estadão apurou que os criminalistas Paulo Amador da Cunha Bueno e Celso Vilardi, que representam o ex-presidente Jair Bolsonaro, vão apresentar questões preliminares de ordem processual e entregar o rol de testemunhas para serem ouvidas se a denúncia for recebida.

Em entrevista ao Estadão, logo após a denúncia do procurador-geral Paulo Gonet chegar ao STF, os advogados afirmaram que a tese da acusação "não faz qualquer sentido". Segundo a denúncia, o plano golpista fracassou porque a cúpula do Exército não aderiu. Um dos argumentos da defesa do ex-presidente é o de que, se quisesse dar um golpe, Bolsonaro poderia ter trocado os comandantes das Forças Armadas para obter apoio dos militares.

Prazo

As defesas pediram a suspensão da contagem do prazo alegando que não tiveram acesso a todas as provas da investigação. Os advogados exigem, por exemplo, o espelhamento de todas as mensagens extraídas dos celulares apreendidos no inquérito.

Os criminalistas Paulo Amador da Cunha Bueno e Celso Vilardi também defenderam que o prazo deveria ser prorrogado para que as defesas tivessem direito a, no mínimo, o mesmo tempo usado pela PGR para formular a denúncia (83 dias).

Todos os pedidos foram rejeitados por Alexandre de Moraes. O ministro alegou que "o amplo e integral acesso aos elementos de prova já documentados nos autos está plenamente garantido à defesa dos denunciados". Também apontou que os advogados "sempre tiveram total acesso aos autos, inclusive retirando cópias e com ciência dos despachos proferidos".

Alexandre de Moraes levantou o sigilo dos autos depois de receber a denúncia. São 18 volumes de documentos que somam mais de 3 mil páginas.

A delação do tenente-coronel Mauro Cid também foi tornada pública. O STF deu publicidade aos anexos do termo de colaboração premiada, tanto em vídeo como por escrito.

Moraes ainda compartilhou com todos os 34 denunciados provas de investigações sigilosas que têm relação com a denúncia. São investigações que envolvem o aparelhamento da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o uso da Polícia Rodoviária Federal para influenciar as eleições de 2022 e os atos do 8 de Janeiro.

Veja quais crimes são atribuídos a Bolsonaro e a seus aliados:

- tentativa de abolição violenta do estado democrático de direito (pena de 4 a 8 anos);

- golpe de estado (pena de 4 a 12 anos);

- organização criminosa armada (pena de 3 a 8 anos que pode ser aumentada para 17 anos com agravantes citados na denúncia);

- dano qualificado pela violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima (pena de 6 meses a 3 anos);

deterioração de patrimônio tombado (pena de 1 a 3 anos).

Veja a lista completa de denunciados:

Ailton Gonçalves Moraes Barros

Alexandre Ramagem

Almir Garnier Santos

Anderson Torres

Angelo Martins Denicoli

Augusto Heleno

Bernardo Romão Correa Netto

Carlos Cesar Moretzsohn Rocha

Cleverson Ney Magalhães

Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira

Fabrício Moreira de Bastos

Fernando de Sousa Oliveira

Filipe Garcia Martins

Giancarlo Gomes Rodrigues

Guilherme Marques de Almeida

Hélio Ferreira Lima

Jair Bolsonaro

Marcelo Bormevet

Márcio Nunes de Rezende Júnior

Marcelo Costa Câmara

Mario Fernandes

Marília Ferreira de Alencar

Mauro Cid

Nilton Diniz Rodrigues

Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho

Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira

Rafael Martins de Oliveira

Reginaldo de Oliveira Abreu

Rodrigo Bezerra de Azevedo

Ronald Ferreira de Araujo Júnior

Silvinei Vasques

Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros

Walter Souza Braga Netto

Wladimir Matos Soares

O ministro João Otávio de Noronha, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), autorizou a devolução de celulares, computadores, veículos e joias apreendidos pela Polícia Federal na Operação 18 Minutos, que mira suspeitas de corrupção no Tribunal de Justiça do Maranhão.

A decisão foi tomada após a conclusão do inquérito. A PF indiciou três desembargadores e dois juízes por suposta participação em fraudes processuais em troca de propinas.

O ministro justificou que, encerrado o inquérito e a fase de coleta de provas, a retenção dos bens não é mais necessária. "As diligências investigativas atingiram sua finalidade, permitindo que as apurações avancem sem a necessidade de perpetuação de medidas cautelares que impliquem o agravamento da situação dos investigados", diz um trecho da decisão.

Noronha menciona que o Código Penal assegura a restituição de itens apreendidos na investigação criminal "sempre que cessada sua utilidade para o processo investigativo".

"As medidas cautelares não podem se transvestir em penas antecipadas, devendo permanecer estritamente vinculadas à finalidade processual ou investigativa que justificou sua decretação", complementou o ministro.

Somados, os bens apreendidos e o dinheiro bloqueado na Operação 18 Minutos somaram mais de R$ 29 milhões. A ordem inicial de bloqueio era de R$ 17 milhões. Esse foi outro motivo que levou o ministro a liberar os objetos e veículos.

"Considerando os valores apreendidos, que se manterão acautelados, entendo que a manutenção de bens como telefones, computadores, laptops, veículos e joias não encontra justificativa no momento atual."

A decisão sobre a devolução dos bens aos magistrados foi noticiada inicialmente pelo portal Direito e Ordem e confirmada pelo Estadão.

A operação investigou um esquema de corrupção e fraudes na liberação relâmpago de alvarás para pagamento de honorários advocatícios de grandes valores. O nome 18 Minutos batizou a investigação porque esse foi o tempo que decorreu entre uma autorização judicial e o levantamento de grande soma junto ao banco.

A PF indiciou os desembargadores Luiz Gonzaga Almeida Filho, Nelma Celeste Souza Silva Sarney, cunhada do ex-presidente José Sarney, e Antônio Pacheco Guerreiro Junior e dois juízes de primeiro grau. O Estadão já pediu manifestação dos magistrados. O espaço permanece aberto

A repercussão da vitória de Ainda Estou Aqui como Melhor Filme Internacional no Oscar conseguiu superar a polarização do debate político brasileiro nas redes sociais, aponta um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV). A avaliação é que predominaram publicações que exaltam o orgulho pela cultura nacional e que representam o Brasil de forma positiva para o restante do mundo, escanteando os conflitos políticos entre direita e esquerda.

O levantamento também identificou que houve baixo engajamento de perfis alinhados à direita, com poucas contas parabenizando os responsáveis pelo filme ou comentando a vitória.

À esquerda o movimento foi na direção oposta: as publicações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) e da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) - que assim como o ex-deputado Rubens Paiva, cuja história é narrada no filme, foi presa e torturada pela ditadura militar - estiveram entre as com maior volume de interações.

"Foi interessante o silêncio da direita. Não conseguiram construir nenhum argumento crítico contrário. Soaria impatriótico, desumano e não engajaria", analisou o sociólogo Marco Aurélio Ruediger, diretor da Escola de Comunicação da FGV e um dos responsáveis pelo estudo.

Ele avalia que o filme consegue ser patriótico sem ser chauvinista ou reacionário, ao mesmo tempo que transmite uma mensagem de força e potência das mulheres ao narrar a reconstrução pessoal de Eunice Paiva e de sua família.

"Isso dá pista de haver uma fresta para o Brasil se unir e se reinventar quebrando a polarização com base em valores universais e um repertório cultural mais amplo", diz o sociólogo. "É uma pista para a política agora e em 2026", acrescentou.

A vitória de Ainda Estou Aqui gerou cerca de 4 milhões de publicações no X, no Instagram, no YouTube e em sites de notícia e ultrapassou 75 milhões de engajamento geral no Facebook, no X e no Instagram. As publicações sobre a obra na conta oficial da Academia no Instagram (@theacademy) foram responsáveis por 30% de todas as interações do perfil em 2025. Foram 3,8 milhões de interações e 24 milhões de visualizações.