Vices de Trump e Kamala disputam voto da população rural nos EUA

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Longe dos centros urbanos, a população rural dos EUA escolheu Donald Trump para representar os seus interesses. A inclinação cada vez maior divide ainda mais a linha entre o que significa ser republicano e democrata. Mas um senhor de meia idade que gosta de caçar e pescar pretende ser o antídoto dos progressistas americanos.

Tim Walz, governador de Minnesota e vice na chapa de Kamala Harris, viralizou nas redes sociais e ganhou projeção por adotar uma nova linha de ataque ao chamar Trump e seu candidato a vice, J.D. Vance, de "estranhos". Mas o impacto de Walz é muito maior.

Ele é um veterano da Guarda Nacional, foi professor de escola pública, treinador de futebol americano e eleito e reeleito deputado por um distrito conservador, de 2007 a 2019. Walz acredita que seu histórico o credencia para conversar com a população rural, um eleitorado com tendências conservadoras que sofre com a falta de emprego, educação e se afasta cada vez mais dos democratas.

VANCE

Walz busca ser a nêmesis de seu oponente, o senador J.D. Vance, um republicano que também tem origens rurais e se tornou conhecido em 2016, quando lançou sua autobiografia: Era uma vez um sonho: a história de uma família da classe operária e da crise da sociedade americana. Com o best-seller, Vance se tornou porta-voz da classe trabalhadora rural e do movimento que levou Trump à Casa Branca.

"Vance e Walz representam a população rural de formas diferentes", avalia Lisa Pruitt, professora de direito da Universidade da Califórnia e especialista em população rural americana. "É surpreendente que ambos tenham raízes rurais, dadas as suas distâncias ideológicas. Eles vêm de lugares diferentes e têm atitudes distintas em relação à vida rural."

Desde que foi escolhido como vice de Kamala, Walz tenta ressaltar as diferenças com Vance. Em comício em Omaha, no Nebraska, ele afirmou que Vance não representa a população rural dos EUA e não conhece Estados tradicionalmente republicanos, como Nebraska. "Walz conversa com o eleitor rural de uma forma que outros democratas não poderiam", disse ao Estadão Elizabeth Theiss-Morse, professora de ciências políticas da Universidade de Nebraska-Lincoln. "Ele tem um jeito autêntico."

Para Vance, a tarefa é mais "fácil" por ele ser republicano. "A parte rural dos EUA é muito conservadora. Então, Trump e Vance são candidatos atraentes simplesmente porque são do Partido Republicano", aponta Theiss-Morse.

Vance ficou famoso antes mesmo de entrar na política. Após a publicação de seu best-seller, ele foi convidado a dar entrevistas para grandes emissoras de TV sobre sua infância difícil nos Estados de Ohio e Kentucky e o declínio de uma classe trabalhadora rural que se sente esquecida pelos democratas e gravitou para Trump.

O livro narra a infância pobre de Vance em Middletown, Ohio, onde sofreu com violência doméstica, presenciou abusos e foi criado por seus avós por conta da dependência química de sua mãe. Sua família também tem raízes na região dos Apalaches, no Kentucky, um dos locais mais pobres dos EUA, que sofre com uma crise de opioides.

Apesar de também ter tido uma infância rural, a realidade de Walz é diferente. "Existe uma desigualdade muito maior e uma taxa de pobreza mais significativa na região dos Apalaches do que em Nebraska ou Minnesota", disse Pruitt.

A realidade vivida por Vance mudou a maneira como ele via seus vizinhos na infância. Em sua autobiografia, ele argumenta que a falta de responsabilidade pessoal das pessoas que moravam nas regiões em que ele cresceu era um dos motivos da pobreza e do envolvimento com drogas. "Se você sente que está competindo com seus vizinhos por recursos e bens, o seu pensamento em relação a sua comunidade é diferente", disse Pruitt.

De acordo com ela, Estados como Nebraska e Minnesota têm um padrão econômico mais alto. "Esse padrão pode alterar as atitudes das pessoas em relação a seus vizinhos. Por isso, as políticas de Walz parecem mais generosas", afirmou.

Walz, de 60 anos, nasceu em West Point, Nebraska. Seu pai, James Walz, veterano da Guerra da Coreia, era diretor de escola primária e morreu de câncer de pulmão quando o governador tinha 17 anos.

Após conhecer sua mulher, Gwen Whipple, Walz se mudou para Minnesota, em 1994, para ser professor de um colégio público. Em 2006, destronou o deputado republicano de seu distrito, em uma área rural do sul do Estado. "Walz foi eleito durante uma onda democrata e manteve seu posto durante os governos de Obama e Trump", disse Timothy Lynch, professor de ciências políticas da Universidade Saint Thomas, de Minneapolis.

TRANSFORMAÇÃO

O vice de Kamala era visto como um democrata moderado, com posições palatáveis para a região rural conservadora que ele representava no Congresso. Ele era apoiado pela Associação Nacional de Rifles (NRA) e foi incluído por uma revista especializada em uma lista de 20 políticos com porte de armas nos quais era possível votar.

Mas, em 2018, quando Walz se candidatou para o governo de Minnesota, algumas de suas posições mudaram. Ele foi acusado de ter se tornado um progressista. Motivado por uma série de incidentes envolvendo massacres com armas de fogo, Walz sancionou medidas de controle de armas em Minnesota, após ser eleito, em 2019.

Com uma maioria democrata na legislatura estadual, o governador assinou uma lei que dava crédito financeiro a famílias de baixa renda com filhos, criou um programa de licença remunerada, investiu em energia limpa, tornou as mensalidades universitárias gratuitas para certos estudantes e garantiu merenda gratuita para crianças de escolas públicas.

Para Lynch, Walz não necessariamente mudou suas posições em todos os assuntos, mas existem diferenças na transição de um cargo legislativo para executivo. "Os membros do Congresso podem ter uma atuação menos ideológica do que no governo estadual. Walz trabalhou para sua comunidade, por isso sobreviveu a ondas republicanas."

O especialista aponta que a experiência de Walz é mais importante do que seu tempo como governador. "Ele ficou muito tempo no Congresso, pode contribuir no Senado para passar leis importantes e já provou que consegue trabalhar com os republicanos", disse Lynch.

Criticado pela mudança, Walz se defendeu, ao afirmar que cuidar de sua comunidade não é uma característica progressista. "Ele quer passar a mensagem de que todas as leis que ele apoiou são de senso comum", disse Theiss-Morse. "Não há nada mais rural do que cuidar de sua comunidade."

DESAFIO

Os democratas sabem que o domínio rural republicano não será superado tão cedo, mas em uma eleição apertada, qualquer redução de déficit é importante. Segundo Theiss-Morse, os democratas estão tentando transmitir uma mensagem diferente, ressaltando as ideias de liberdade e patriotismo, bandeiras republicanas. "Nessas eleições, os democratas querem se vender como o partido de todos, e uma pessoa do meio rural ajuda."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Pesquisa CNT divulgada nesta terça-feira, 25, mostrou que 69,4% dos brasileiros não tiveram conhecimento sobre a eleição realizada para a escolha dos presidentes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, em fevereiro deste ano. De acordo com a sondagem, somente 28,8% dos brasileiros tiveram conhecimento da realização das eleições para esses cargos, e um total de 1,8% não soube ou não respondeu.

O levantamento indicou ainda que, para 68,6% dos brasileiros, a escolha dos presidentes do Senado e da Câmara afetam diretamente a vida da população. Na opinião de 21,5% dos entrevistados, essas eleições não afetam diretamente a população, e 9,5% não souberam ou não responderam.

Pesquisa CNT divulgada nesta terça-feira, 25, mostra que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera as pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República em 2026, mas com dificuldades no segundo turno contra seus adversários. O petista tem 30,3% das intenções de voto no cenário contra Jair Bolsonaro (PL), que tem 30,1%.

O ex-presidente, no entanto, está inelegível - o que o impede de ser candidato no ano que vem. Por isso, a Pesquisa CNT testou outros cenários com candidatos que podem vir a ser apoiados por Bolsonaro: o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Tanto Eduardo quanto Tarcísio têm de 13% a 14% de intenções de voto, bem abaixo de Jair Bolsonaro. A distância até as eleições e o impasse na direita bolsonarista sobre quem será o candidato, no entanto, ajudam a explicar o afastamento entre o porcentual de intenções de votos do ex-presidente e de seus aliados.

Como o próprio Lula não tem confirmado que será candidato, a Pesquisa CNT também testou um cenário em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, seja o candidato do PT à Presidência da República em 2026. Haddad teve 16,2% das intenções de voto, atrás apenas de Ciro Gomes (PDT), que teve 19,7% das intenções de voto. Neste cenário, o candidato bolsonarista é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que teve 14,4% das intenções de voto.

No segundo turno, porém, o cenário é desfavorável para os petistas. De acordo com os dados da pesquisa, Lula está numericamente atrás de Bolsonaro nas intenções de voto (43,4% para o ex-presidente contra 41,6% para o petista) e pouco à frente de Tarcísio (41,2% para o presidente contra 40,7% para o governador). Haddad, por sua vez, está atrás de Bolsonaro (43,1% para o ex-presidente contra 39,4% para o ministro) e de Tarcísio (38,3% para o governador contra 37,3% para o ministro). Essas diferenças, no entanto, estão dentro da margem de erro da pesquisa, de 2,2 pontos porcentuais para mais ou para menos.

Na pesquisa espontânea, Lula está na liderança, com 23,5% dos entrevistados dizendo que votariam nele sem que nenhum nome de candidato fosse apresentado. Bolsonaro vem logo atrás, com 19,6% das intenções de voto nesse cenário. Os demais políticos têm porcentuais ínfimos: Tarcísio de Freitas tem 1,8%, Pablo Marçal, 0,9%, Nikolas Ferreira, 0,9%, e Ciro Gomes, 0,8%.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), aparece à frente em três cenários testados pelo instituto Paraná Pesquisas para as eleições estaduais de 2026, conforme levantamento divulgado nesta terça-feira, 25. No entanto, a pesquisa indica que ele poderia enfrentar um segundo turno em disputas contra o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o empresário Pablo Marçal (PRTB), recentemente condenado pela Justiça Eleitoral de São Paulo e inelegível. Cabe recurso da decisão.

A pesquisa foi realizada entre os dias 20 e 23 de fevereiro de 2025, ouvindo 1.650 eleitores em 86 municípios paulistas. A margem de erro é de 2,5 pontos porcentuais, para mais ou para menos, com um nível de confiança de 95%.

No primeiro cenário estipulado, Tarcísio aparece com 37,8% das intenções de voto, seguido por Alckmin, que registra 24,7%. Pablo Marçal soma 16,2%, enquanto o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), tem 4,8%, e o ex-prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB), 3%. Nesse contexto, Alckmin impediria uma vitória do atual governador no primeiro turno caso considerados apenas os votos válidos.

Quando a disputa ocorre sem Alckmin, Tarcísio amplia sua vantagem. No segundo cenário, ele aparece com 40,3%, seguido por Marçal, com 17,6%, e Márcio França (PSB), que soma 12,7%. Alexandre Padilha atinge 7,1% e Paulo Serra, 5%. Ainda assim, o levantamento sugere que um segundo turno seria necessário entre Tarcísio e Marçal.

Já no terceiro cenário, sem Alckmin e Marçal, Tarcísio chega a 48,6% das intenções de voto, enquanto França tem 16,6%. Alexandre Padilha aparece com 8,5% e Paulo Serra, com 5,9%. Nesse contexto, o governador venceria no primeiro turno.

Disputa sem Tarcísio

O levantamento também simulou cenários sem a participação de Tarcísio de Freitas. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), lidera os panoramas em que é incluído como opção de voto.

Em um dos cenários testados, Nunes aparece com 27% das intenções de voto, seguido por Marçal, com 25,6%, em empate técnico. Márcio França soma 17%, Padilha tem 6,3% e Paulo Serra, 5,1%.

Em cenários sem Tarcísio nem Nunes, Márcio França e a ex-ministra e ex-prefeita Marta Suplicy (PT) figuram em empate técnico. Em um dos cenários testados, França tem 18,8%, Marta, 18,3%. Eles são seguidos pelo ex-governador Rodrigo Garcia (sem partido), com 12,3%, o prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga (Republicanos), com 9,5% e pelo secretário de Governo, Gilberto Kassab (PSD), com 4,7%.