BH: Fuad mantém Lula longe, mas é apoiado pela esquerda, enquanto Engler unifica direita

Política
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times
O prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), chega às vésperas do segundo turno reforçado pelo apoio da esquerda que quer impedir a vitória de Bruno Engler (PL), deputado bolsonarista de extrema-direita, na capital mineira. Embora tenha feito acenos às forças progressistas, Fuad manteve distância protocolar de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sem realizar agendas com o presidente ou exibi-lo na propaganda eleitoral.

Já Engler conseguiu unificar a direita na segunda etapa: recebeu o apoio do governador Romeu Zema (Novo) e do Republicanos de Mauro Tramonte (Republicanos); o apresentador de TV, terceiro colocado no primeiro turno com 15,22%, ficou neutro. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), também endossou a candidatura do PL.

Engler terminou o primeiro turno na liderança com 34,38% dos votos contra 26,54% de Fuad. O cenário rapidamente se inverteu e o prefeito apareceu à frente nas principais pesquisas da segunda etapa. Fuad lidera nos levantamentos mais recentes da AtlasIntel (52,4% a 46,4%) e do Datafolha (46% a 39%). Na Quaest, há empate técnico no limite da margem de erro de três pontos percentuais: o candidato do PSD tem 46% e o bolsonarista, 40%.

O principal assunto da reta final da campanha é um livro escrito por Fuad Noman em 2020. Na obra, intitulada "Cobiça", a protagonista narra ter sido vítima de uma tentativa de estupro quando tinha 12 anos. "Ele (Fuad) se defende dizendo que é uma ficção. Mas como alguém sequer pode pensar no estupro de uma criança?", questiona Cláudia Romualdo (PL), candidata a vice na chapa de Engler, em um vídeo publicado nas redes sociais e que também foi exibido na propaganda eleitoral.

Após a veiculação, o prefeito acionou a Justiça Eleitoral, que determinou que as emissoras interrompessem a transmissão da peça. Segundo o juiz Adriano Zocche, o livro foi "gravemente descontextualizado" porque a propaganda dá a entender que Fuad endossaria a prática de estupro. "A descrição de cena em livro de ficção pode ocorrer, portanto, sem que configure estímulo ou concordância com a prática, por mais reprovável que seja", disse o magistrado.

Fuad Noman contra-atacou explorando a condenação de Engler por ter associado o influenciador Felipe Neto à prática de pedofilia. E ironizou: "De mim, você só vai ouvir propostas. Do outro lado vai vir muito lixo essa semana. E lixo a gente recolhe, separa e recicla para não contaminar o ambiente", afirmou o prefeito.

Fuad não se encontra com Lula e Bolsonaro vai a Belo Horizonte

Antes da eleição começar, o PSD tentou, sem sucesso, convencer o PT a não lançar candidato. Depois de Rogério Correia (PT) naufragar e ficar em sexto, o ministro Alexandre Padilha (PT), das Relações Institucionais, convidou Fuad para ir à Brasília se encontrar com Lula no segundo turno, segundo fontes da campanha.

O prefeito recusou após conversar com aliados. Pesou a avaliação de que Fuad passou para a segunda etapa sem o apoio do presidente e que os votos da esquerda migrariam naturalmente para ele, já que Correia e a deputada federal Duda Salabert (PDT), que juntos tiveram 12% dos votos, declararam apoio nos dias seguintes ao primeiro turno.

Fontes ligadas ao governo Lula, contudo, negam ter havido uma recusa de Fuad e apresentam outra versão: o prefeito teria pedido um encontro com Padilha após o primeiro turno, mas a reunião acabou não acontecendo por problemas na agenda do prefeito. Além disso, afirmam que já está alinhavada uma agenda de Fuad com ministros em Brasília após o segundo turno para tratar de medidas para Belo Horizonte.

"O que eu preciso do presidente Lula não é o apoio eleitoral dele. Eu não quero transformar Belo Horizonte em uma polarização. Temos um candidato que só fala em Bolsonaro, Bolsonaro, Bolsonaro. Eu não vou fazer campanha falando no oponente do Bolsonaro porque (senão) eu vou nacionalizar a eleição. O problema de Belo Horizonte é ônibus, enchente, buraco na rua. Nesses assuntos o presidente Lula pode me ajudar", disse Fuad à CNN Brasil ao ser questionado sobre a ausência do presidente da República em sua propaganda eleitoral e o fato de não terem feito campanha juntos.

PT e PSD são aliados em Minas Gerais. Com o enfraquecimento do petismo no Estado, a tendência é que Lula incentive a candidatura de Rodrigo Pacheco (PSD), presidente do Senado, ou de Alexandre Silveira (PSD), ministro de Minas e Energia, ao governo mineiro em 2026. O arranjo seria semelhante ao de 2022, quando o PT indicou o vice em uma chapa encabeçada pelo PSD.

Na contramão do adversário, Engler dobrou a aposta e reforçou a associação com Jair Bolsonaro (PL). O ex-presidente participou de uma carreata no último sábado, 19, ao lado da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e do deputado federal Nikolas Ferreira (PL).

A ausência mais sentida foi a de Zema. Apesar de ter declarado apoio, o governador não fez campanha ao lado de Engler e a participação deve se limitar a um vídeo nas redes sociais. O chefe do Executivo mineiro tem relação conturbada com policiais e bombeiros, um dos principais pilares da candidatura de Engler.

A categoria entra em rota de colisão ano após ano com Zema na tentativa de conseguir reajustes acima da inflação para compensar a perda de poder de compra sofrida na gestão de Fernando Pimentel (PT).

"Eu tenho divergências com o governador, tanto é que ele não me apoiou no primeiro turno. Mas o cara é governador de Minas e eu preciso dele para construção de diversas políticas públicas e soluções para Belo Horizonte e para a região Metropolitana", justificou Engler ao ser questionado sobre o assunto em uma reunião na sede da Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares de Minas Gerais na terça-feira, 22. "A gente está votando em mim, não no governador", concluiu.

Em outra categoria

O presidente da Argentina, Javier Milei, aproveitou uma brecha na Constituição e preencheu duas vagas da Suprema Corte por decreto durante o recesso do Congresso. A manobra controvertida foi publicada em Diário Oficial nesta quarta-feira, 26, e enfrenta o primeiro desafio legal. Em petição apresentada à Justiça, uma organização da sociedade civil pede a nulidade das nomeações.

Sem força para aprovar as indicações de Manuel García Mansilla e Ariel Lijo à mais alta Corte de Argentina, a Casa Rosada se utilizou do artigo da Constituição que prevê a nomeação "em comissão", ou seja, de forma interina durante o recesso do Congresso. Para os críticos, contudo, o mecanismo deveria ser usado em casos excepcionais.

Em petição à Justiça, o Centro de Estudos para a Promoção da Igualdade e da Solidariedade (CEPIS) solicitou a anulação do decreto, além de medida cautelar que anule os seus efeitos. No caso, encaminhado a tribunal federal em La Plata, a organização denuncia a "arbitrariedade e ilegalidade" do decreto e aponta para violação de "disposições constitucionais, bem como tratados internacionais que garantem a independência do Poder Judiciário".

No campo político, o líder da União Pela Pátria, José Mayans, ameaçou que a oposição peronista no Senado derrubaria as indicações de Milei no retorno do Legislativo, mês que vem. E até mesmo o PRO, de Mauricio Macri, que tem ministério no governo, se posicionou contra o nome de Ariel Lijo para Suprema Corte. Após reunião da alta cúpula, o partido sinalizou que a maior parte dos seus senadores votaria contra a nomeação, embora tenha decidido não emitir uma declaração pública sobre o encontro.

A Casa Rosada, se defende dizendo que o decreto visa normalizar os trabalhos da Suprema Corte e acusa o Senado de politizar as escolhas de Javier Milei para o Judiciário. "O Senado, em vez de ter realizado uma análise séria e objetiva da adequação dos candidatos propostos, optou repetidamente por adiar seu pronunciamento com base em considerações motivadas por conveniência política", acusou o governo no decreto.

As indicações de Javier Milei para ocupar duas das cinco vagas existentes na Corte enfrentam resistência tanto dos peronistas, quanto de aliados ocasionais do governo. O impasse se arrasta há quase um ano. As críticas recaem especialmente sobre a escolha de Ariel Lijo, acusado de atrasar investigações sobre corrupção envolvendo empresários e políticos. O juiz nega.

Sem conseguir os dois terços do Senado necessários para aprovar as indicações, a Casa Rosada apelou para o decreto. Nesse caso, as nomeações são interinas. Para garantir a vaga na Corte, os juízes precisam ser confirmados pelo Senado até o fim da próxima legislatura, em março de 2026. Antes disso, os argentinos renovam parte do Congresso nas eleições de meio de mandato e espera-se que o partido de Milei, A Liberdade Avança, amplie a sua bancada.

Em meio às críticas, o governo argumenta que está amparado pela Constituição e promete manter as negociações para garantir aprovação de Manuel García Mansilla e Ariel Lijo no Senado. O último presidente argentino a nomear juízes da Suprema Corte por decreto foi Mauricio Macri, que acabou recuando diante da repercussão negativa e agora critica publicamente a escolha de Lijo. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou hoje a revogação das concessões concedidas ao regime de Nicolás Maduro, da Venezuela, por meio de um acordo sobre petróleo firmado durante o governo de Joe Biden. Assinado em 26 de novembro de 2022, o acordo tinha como objetivo principal a retomada parcial das atividades de exploração de petróleo na Venezuela, com a Chevron, uma das maiores petroleiras dos EUA, entre as beneficiadas. Em contrapartida, o regime de Maduro se comprometeria a implementar reformas políticas, incluindo a realização de eleições livres e justas, além da libertação de prisioneiros políticos.

"Estamos, por meio deste, revertendo as concessões que o desonesto Joe Biden fez a Nicolás Maduro", escreveu Trump em seu perfil na Truth Social. De acordo com o republicano, o regime venezuelano não cumpriu as condições estabelecidas, especialmente no que diz respeito à realização de eleições democráticas e à devolução de "criminosos violentos enviados ao nosso país". Trump afirmou que Maduro não tem cumprido a promessa de retornar esses "criminosos com a rapidez com que haviam acordado".

Em sua publicação, Trump também anunciou a decisão de encerrar o que chamou de "ineficaz e não cumprido 'Acordo de Concessão' de Biden". O presidente americano determinou que o acordo será encerrado na data da opção de renovação prevista para 1º de março de 2025.

O Escritório de Administração e Orçamento dos Estados Unidos e o Escritório de Gestão de Pessoal solicitaram de maneira conjunta que as agências federais enviem "planos de reorganização" e se preparem para iniciar demissões em larga escala, a pedidos do presidente do país, Donald Trump, segundo memorando divulgado nesta quarta-feira, 26.

No documento, é mencionado que o governo federal é "caro, ineficiente e profundamente endividado" e não está produzindo resultados, o que exige que a medida seja colocada em prática. "O dinheiro dos impostos está sendo desviado para financiar programas improdutivos e desnecessários que beneficiam grupos de interesse radicais enquanto prejudicam cidadãos americanos trabalhadores", justifica a nota.

O comunicado cita que o Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês) instruiu as agências a "eliminar o desperdício e o inchaço" dos trabalhadores, como parte da "transformação crítica da burocracia federal".