Bebê de 1 ano teria 'produzido' ata de empresa que Gayer usaria para desvios

Política
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Em meio às investigações que culminaram na abertura da Operação Discalculia, na manhã desta sexta-feira, 25, a Polícia Federal se deparou com um documento curioso que levantou suspeitas de falsificação de papéis no suposto esquema de desvio de verba parlamentar atribuído ao deputado bolsonarista Gustavo Gayer (PL-GO) e aliados. O documento teria sido lavrado em 2003, referente a uma empresa com composição inusitada: um presidente de 8 anos de idade, um tesoureiro de 6 e um vice-presidente de 9. Atraiu ainda mais a atenção dos investigadores o detalhe de que a ata foi 'produzida' por uma bebê de um aninho, nominada secretária da assembleia da firma.

Nas redes, Gayer salientou que a PF entrou em ação apenas dois dias antes do segundo turno das eleições. O candidato apoiado por ele concorre em Goiânia. "(As buscas) visam claramente prejudicar meu candidato."

A Operação Discalculia fez buscas em endereços ligados ao deputado e assessores dele. Gayer e seu grupo estão sob suspeita de associação criminosa voltada para desvio de cota parlamentar. A PF apreendeu R$ 72 mil na casa de um assessor do deputado.

O documento que faz parte dos autos da Operação Discalculia contém dados de uma assembleia da Associação Comercial das Micro e Pequenas Empresas de Cidade Ocidental, fundada em 1999 com prazo de duração de quatro anos. No decorrer dos 'debates', as crianças investidas no papel de executivos teriam decidido mudar a diretoria da empresa, o endereço da sede, a razão social e o nome fantasia, dando vida formal ao Instituto de Desenvolvimento e Investimento Socioeducacional.

Apesar de a assembleia ter ocorrido em 30 de outubro de 2003, o pedido de registro da ata em cartório ocorreu 20 anos depois, em maio de 2023. Esse lapso temporal, somado ao quadro societário único da empresa, fez a PF suspeitar de que a Associação teria sido comprada por Gustavo Gayer e seus aliados para desviar dinheiro público da Câmara.

A PF vê indícios de que Gayer comprou a empresa desativada por R$ 6 mil, pagos diretamente pelo deputado. A corporação aponta que o bolsonarista e auxiliares pretendiam qualificar a associação como uma organização da sociedade civil de interesse público para receber verbas públicas via emendas parlamentares.

Para tal fim teria sido operacionalizada a suposta falsificação da ata lavrada pela bebê de um ano. No entanto, o registro não foi realizado pelo Cartório, que considerou que a empresa já estava extinta. Os investigados então realizaram um novo requerimento de registro, em outro cartório, também com indícios de falsificação de documentos, segundo a investigação.

A PF não conseguiu identificar se o grupo 'atingiu o escopo pretendido de qualificar a associação como Oscip e se recebeu recursos públicos por meio da associação adquirida'. Para afastar dúvidas e coletar mais indícios, os investigadores pediram autorização ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, para decolar a Operação Discalculia.

A PF cita diálogos que, em sua avaliação, reforçam o suposto objetivo do grupo de 'comprar' uma associação para receber verbas públicas. As mensagens foram trocadas entre João Paulo de Sousa Cavalcante, assessor de Gayer, e uma outra investigada.

Segundo a PF, Cavalcante fala da 'necessidade de organizar a associação devido a demandas de emendas parlamentares e pressão de alguns pastores'.

"Quero ver com você o seguinte, nós precisamos organizar aquela questão da associação. Já está havendo algumas aqui, pedir emenda pro Gustavo, já estou segurando. Tem essa de Goiânia inclusive essa associação que recebeu emenda federal pelo que eu constei aqui. Acho que é para ajuda com crianças", disse João Cavalcante.

Para a PF, o grupo não tinha o objetivo de direcionar verbas parlamentares ao terceiro setor seguindo critérios de relevância. "O escopo era criar um ambiente voltado para a administração total dos recursos, sem amparo legal, e especialmente para o pagamento de pessoal", diz a PF. "Este é o cenário fático que escancara os efeitos nocivos da predestinação dos recursos públicos que se descortinou neste inquérito."

COM A PALAVRA, GUSTAVO GAYER

Nas redes, o deputado destacou o fato de que a Polícia Federal entrou em ação dois dias antes do segundo turno das eleições - o candidato apoiado por Gayer concorre em Goiânia. "(As buscas) visam claramente prejudicar meu candidato. Vieram na minha casa, levaram meu celular, meu HD. Essa democracia relativa está custando caro."

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Um grupo militante curdo reivindicou nesta sexta-feira, 25, a responsabilidade por um ataque à sede de uma importante empresa de defesa em Ancara, na Turquia, que matou pelo menos cinco pessoas. Um comunicado da ala militar do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) afirmou que o ataque de quarta-feira nas instalações da empresa aeroespacial e de defesa Tusas foi realizado por dois membros de seu chamado "Batalhão Imortal" em resposta aos "massacres" e outras ações da Turquia nas regiões curdas.

Um homem e uma mulher invadiram as instalações da Tusas nos arredores de Ancara, detonando explosivos e abrindo fogo. Quatro funcionários da Tusas foram mortos no local. Os agressores chegaram ao local em um táxi, que tomaram à força após matar seu motorista. Eles também foram mortos em um confronto subsequente com as forças de segurança, e mais de 20 pessoas ficaram feridas no ataque.

A Turquia atribuiu o ataque ao PKK e imediatamente lançou uma série de ataques aéreos em locais e instalações suspeitas de serem usadas pelo grupo militante no norte do Iraque ou por seus afiliados no norte da Síria.

O ataque à Tusas ocorreu em um momento de indícios crescentes de uma possível nova tentativa de diálogo para acabar com o conflito de mais de quatro décadas entre o PKK e o exército turco. No início da semana, o líder do partido nacionalista de extrema direita da Turquia, aliado do presidente Recep Tayyip Erdogan, levantou a possibilidade de que Abdullah Ocalan, o líder preso do PKK, pudesse ser libertado sob condicional se renunciasse à violência e dissolvesse sua organização.

Ocalan, que cumpre uma sentença de prisão perpétua em uma ilha-prisão perto de Istambul, disse em uma mensagem transmitida por seu sobrinho na quinta-feira que estava pronto para trabalhar pela paz.

Agenda Política

A ala militar do PKK, o Centro de Defesa do Povo, afirmou, no entanto, que o ataque não estava relacionado com a "agenda política" mais recente, insistindo que ele havia sido planejado há muito tempo. O grupo disse que a Tusas foi escolhida como alvo porque as armas produzidas lá "mataram milhares de civis, incluindo crianças e mulheres, no Curdistão".

A Tusas projeta, fabrica e monta aeronaves civis e militares, veículos aéreos não tripulados e outros sistemas da indústria de defesa e espaciais. Seus sistemas de defesa são considerados fundamentais para que a Turquia obtenha vantagem em sua luta contra os militantes curdos.

Intensos bombardeios

Na sexta-feira, um oficial de segurança iraquiano disse que aviões turcos intensificaram seus bombardeios a alvos pertencentes ao PKK e outras forças leais na região de Sinjar, no norte do Iraque. Os intensos bombardeios visaram túneis, sedes e pontos militares do Partido dos Trabalhadores e das Unidades de Proteção de Sinjar dentro da área montanhosa de Sinjar. Um oficial local e um oficial de segurança disseram que os bombardeios mataram cinco yazidis. Os oficiais falaram sob condição de anonimato, de acordo com os regulamentos.

As Forças Democráticas Sírias, lideradas pelos curdos, disseram na quinta-feira que aviões e drones turcos atacaram padarias, uma estação de energia, instalações de petróleo e postos de controle da polícia local. Pelo menos 12 civis foram mortos e outros 25 ficaram feridos. O comunicado do Centro de Defesa do Povo afirmou que não houve baixas entre os combatentes do PKK nos ataques aéreos.

Enquanto isso, a polícia em Istambul deteve pelo menos 35 pessoas suspeitas de ligações com o PKK, informou a agência estatal Anadolu. O PKK luta pela autonomia no sudeste da Turquia em um conflito que matou dezenas de milhares de pessoas desde a década de 1980. Ele é considerado um grupo terrorista pela Turquia e por seus aliados ocidentais.

O Exército de Israel confirmou ter lançado uma série de ataques aéreos contra o Irã, cumprindo a promessa de retaliação pelo disparo de mísseis iranianos no começo do mês. O ataque aumenta os temores que o conflito possa se transformar em uma guerra total no Oriente Médio.

Moradores de Teerã relataram ter ouvido várias explosões na madrugada deste sábado (horário local). A agência iraniana Fars News disse que Israel atacou várias bases militares no oeste e no sul da capital iraniana. Foram reportadas ainda explosões na área do Aeroporto Internacional Imam Khomeini, mas a agência estatal IRNA afirma que o terminal segue em funcionamento, sem ordem para o cancelamento de voos.

Maryam Naraghi, uma jornalista iraniana, disse que ouviu fortes explosões no leste de Teerã, onde vive. "Foi muito perto de onde estou", relatou. Em vídeos que circulam nas redes sociais, é possível ouvir as sirenes na região, que inclui bases militares e o complexo de Parchin, associado à fabricação de mísseis.

O porta-voz do Exército de Israel, Daniel Hagari, disse em comunicado por vídeo que as capacidades ofensivas e defensivas estão completamente mobilizadas. E que não há mudanças nas recomendações para os israelenses até o momento.

"Em resposta aos meses de ataques contínuos do regime iraniano contra o Estado de Israel, as Forças de Defesa de Israel estão neste momento conduzindo ataques precisos contra alvos militares no Irã", anunciou Hagari.

"O regime do Irã e seus representantes na região têm atacado implacavelmente Israel desde 7 de outubro", seguiu o porta-voz. "Como qualquer outro país soberano do mundo, o Estado de Israel tem o direito e o dever de responder."

Oficialmente, o governo americano confirmou o ataque e defendeu o direito de defesa israelense. "Entendemos que Israel está realizando ataques direcionados contra alvos militares no Irã como um exercício de autodefesa e em resposta ao ataque de mísseis balísticos do Irã contra Israel", disse Sean Savett, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional.

O Irã lançou o segundo ataque direto contra o território israelense no começo do mês, quando disparou quase 200 mísseis em retaliação pelos assassinatos de líderes do Hamas, Ismail Haniyeh, e do Hezbollah, Hasan Nasrallah.

O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu disse na época que o ataque foi um "grande erro" e prometeu que o Irã pagaria o preço. O regime iraniano, por sua vez, ameaçou bombardear "toda infraestrutura" israelense se fosse atacado. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

Israel lançou seis ataques aéreos nos subúrbios de Beirute na madrugada de sábado (horário local), informou a agência estatal do Líbano The National News Agency. A ofensiva acontece no mesmo momento em que as Forças de Defesa Israelense (IDF, na sigla em inglês) conduz uma série de bombardeios a alvos militares no Irã.

Também há relatos de explosões na Síria, de acordo com a imprensa local. Os ataques marcam uma nova escalada no conflito no Oriente Médio, em meio as persistentes tensões entre Israel e o grupo extremista libanês Hezbollah.

Há pouco, a IDF publicou uma foto na rede social que mostra o chefe do Estado maior de Israel, Herzi Halevi, e do comandante oficial, Tomer Bar, no centro de comando da força aérea de Camp Rabin, de onde coordenam a série de ataques.