Órgão recomenda perda de postos de militares acusados na morte de Rubens Paiva

Política
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O Conselho Nacional dos Direitos Humanos recomendou ao Ministério da Defesa que os militares da reserva José Antônio Nogueira Belham e Jacy Ochsendorf e Souza sejam declarados "indignos do oficialato". Caso o pedido seja aceito, eles perderão postos e patentes.

Belham, general da reserva, e Ochsendorf, major da reserva, foram denunciados pelo Ministério Público Federal sob acusação de desaparecimento, tortura, morte e ocultação do cadáver do ex-deputado Rubens Paiva, em 1971. Outros três militares acusados pelo crime já morreram.

Em resposta ao Estadão, o Ministério da Defesa afirmou que recebeu o documento do conselho em 27 de dezembro de 2024 e as recomendações estão sob análise.

O documento foi aprovado após a reabertura do caso, em 2 de abril de 2024, e, segundo o conselho, representa o "primeiro passo" para a reparação dos crimes cometidos. O texto menciona que a família do ex-deputado continua sem respostas e sofre com a "tortura psicológica da dúvida eterna".

O documento também recomenda que sejam declarados indignos "qualquer militar da ativa ou da reserva que professe doutrina contrária ao Estado Democrático de Direito ou favorável a regimes autoritários como o instaurado no Brasil a partir de 1964".

O conselho sugere ainda que o edifício onde funcionou o DOI-Codi no Rio de Janeiro seja desocupado e transformado num espaço de memória sobre os crimes cometidos durante a ditadura militar. O relatório defende que a reparação dos crimes de Estado deve ter múltiplas dimensões.

Entre outras medidas propostas ao Ministério da Defesa, estão uma declaração pública de repúdio à tortura e um pedido de desculpas às vítimas e aos familiares de mortos e desaparecidos políticos. O conselho também sugere que todo 1.º de março seja marcado por uma ordem do dia em referência ao golpe de 1964.

A história do desaparecimento de Rubens Paiva é contada no filme "Ainda Estou Aqui", que estreou no fim do ano passado e já foi visto nos cinemas por cerca de 4 milhões de brasileiros. Dirigido por Walter Salles, o longa-metragem foi indicado a três categorias do Oscar: Melhor Filme, algo inédito para o Brasil; Melhor Filme Estrangeiro; e Melhor Atriz para Fernanda Torres pela interpretação de Eunice Paiva. Torres venceu o Globo de Ouro no começo do mês. A obra é baseada no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-deputado.

O Conselho Nacional dos Direitos Humanos, vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, é formado por 22 integrantes, sendo 11 representantes da sociedade civil e 11 do poder público, incluindo membros da Defensoria Pública da União, do Ministério Público Federal, do Ministério da Justiça e do Poder Legislativo.

STF deve decidir sobre Lei da Anistia

A punição dos militares acusados pela morte de Rubens Paiva esbarra na Lei da Anistia, promulgada em 1979. O Ministério Público Federal argumenta que o crime configura uma violação de direitos humanos e, portanto, não deveria ser coberto pela anistia.

O caso chegou ao Supremo Tribunal Federal após o Superior Tribunal de Justiça ter arquivado a ação penal em 2019. O ministro Joel Ilan Paciornik entendeu que os crimes estavam perdoados pela Lei da Anistia. O MPF recorreu, e o processo foi encaminhado ao ministro Alexandre de Moraes em 2021. Ele só deu andamento à ação em novembro do ano passado, após o lançamento do filme.

Agora, caberá ao Supremo decidir se os acusados podem ser responsabilizados. A Procuradoria-Geral da República reforçou que a decisão deve partir da mais alta Corte do País.

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta sexta-feira que pedirá ao Departamento de Justiça (DoJ) que investigue os supostos vínculos de Jeffrey Epstein com grandes instituições financeiras e figuras democratas de destaque, incluindo o ex-presidente Bill Clinton. O movimento ocorre após a divulgação de milhares de documentos por um comitê do Congresso, que reacendeu questionamentos sobre a própria relação de Trump com Epstein.

Em publicações na Truth Social, Trump disse que solicitará à procuradora-geral Pam Bondi, ao DoJ e ao FBI que apurem a participação e relação de Epstein com Clinton, o ex-secretário do Tesouro Larry Summers, o cofundador do LinkedIn e democrata, Reid Hoffman, o JPMorgan Chase "e muitas outras pessoas e instituições". Segundo ele, o objetivo é "determinar o que estava acontecendo com eles, e com ele".

À Reuters, o JPMorgan afirmou lamentar qualquer associação que tenha sido feita ao caso Epstein e negou tê-lo ajudado a "cometer seus atos horríveis. Encerramos nossa relação com ele anos antes de sua prisão por acusações de tráfico sexual".

Trump acusou os democratas de usar o caso para desviar atenções do "desastroso SHUTDOWN". Para o presidente, a oposição estaria "fazendo tudo em seu poder decadente" para reacender o tema, mesmo após o DoJ divulgar 50 mil páginas de documentos. O republicano concluiu dizendo que Epstein "era um democrata, e é problema dos democratas".

O porta-voz do Ministério da Defesa da China, coronel Jiang Bin, fez um alerta para que os cidadãos chineses não realizem viagens ao Japão e disse que, caso o lado japonês "não aprenda com a história e ouse correr riscos", ou até mesmo usar a força para interferir na questão de Taiwan, "sofrerá uma derrota esmagadora contra o Exército de Libertação Popular da China (ELP) e pagará um preço muito alto", em declaração feita nesta sexta-feira, 14.

O comentário acontece em resposta à afirmação da primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi, dizendo que, se a China continental usar navios de guerra e outras forças contra Taiwan, isso criará uma situação que pode ameaçar a sobrevivência do Japão. Segundo ela, diante do possível cenário, as Forças de Autodefesa do Japão podem exercer "o direito de autodefesa coletiva de acordo com a lei".

Jiang classificou as declarações de Tóquio sobre Taiwan como "errôneas" e alegou que constituem "uma grave interferência nos assuntos internos da China", não admitindo interferência estrangeira. "Tais palavras são de natureza ultrajante e causaram um impacto muito negativo. São extremamente irresponsáveis e perigosas", cita o texto.

O Irã apreendeu nesta sexta-feira, 14, um navio petroleiro com bandeira das Ilhas Marshall que navegava pelo Estreito de Ormuz, de acordo com uma autoridade dos Estados Unidos. A embarcação foi levada para águas iranianas, no que representa a primeira ação desse tipo em meses em uma das rotas de petróleo mais importantes do mundo.

Um oficial de defesa dos EUA, que não teve a identidade revelada, disse à agência Associated Press que o Talara viaja de Ajman, nos Emirados Árabes Unidos, com destino a Singapura, quando foi interceptado por forças iranianas. Um drone MQ-4C Triton da Marinha dos EUA sobrevoou a área onde o Talara estava por horas nesta sexta-feira e observou a apreensão, de acordo com dados de rastreamento de voo analisados pela Associated Press.

Teerã não confirmou a apreensão até o momento, embora o episódio ocorra em um contexto no qual o governo iraniano tem reiterado sua capacidade de retaliar após o conflito de 12 dias com Israel, em junho, que resultou em ataques dos EUA a instalações nucleares iranianas.

A empresa de segurança privada Ambrey disse que o ataque envolveu três pequenas embarcações que se aproximaram do Talara. O Centro de Operações de Comércio Marítimo do Reino Unido (UKMTO, na sigla em inglês), das Forças Armadas Britânicas, também reconheceu o incidente, mas afirmou que uma possível "atividade estatal" forçou o Talara a entrar em águas iranianas.

A organização Columbia Shipmanagement, que tem sede no Chipre, declarou, em comunicado, que havia "perdido contato" com o petroleiro, que transportava gasóleo com alto teor de enxofre. A empresa disse que "notificou as autoridades competentes e está trabalhando em estreita colaboração com todas as partes envolvidas - incluindo as agências de segurança marítima e o proprietário da embarcação - para restabelecer o contato com o navio". "A segurança da tripulação continua sendo nossa principal prioridade."

A Marinha dos EUA responsabiliza o Irã por uma série de ataques com minas magnéticas contra navios-tanque em 2019, que danificaram diversas embarcações, além de um ataque fatal com drone, em 2021, contra um petroleiro ligado a Israel, que matou dois tripulantes europeus.

Esses ataques ocorreram após o presidente dos EUA, Donald Trump, em seu primeiro mandato, retirar unilateralmente o país do acordo nuclear de 2015. A última grande apreensão havia ocorrido em maio de 2022, quando o Irã confiscou dois petroleiros gregos e os manteve sob custódia até novembro daquele ano.

Esses episódios foram ofuscados pelos ataques do grupo rebelde Houthis, apoiado pelo Irã, contra navios durante a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza, o que reduziu drasticamente a navegação no crucial corredor do Mar Vermelho. Os anos de tensões entre o Irã e o Ocidente, somados à situação na Faixa de Gaza, culminaram em uma guerra de grande escala que durou 12 dias em junho.

O Irã há muito ameaça fechar o Estreito de Ormuz - a estreita passagem que liga o Golfo Pérsico ao oceano - por onde passa cerca de 20% do petróleo comercializado globalmente. A Marinha dos EUA patrulha a região há anos, por meio de sua 5ª Frota, sediada no Bahrein, para manter as rotas marítimas desobstruídas.