Conheça as provas citadas pela PGR de que Bolsonaro sabia de plano para matar Lula

Política
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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi denunciado ao Supremo Tribunal Federal (STF) por tentar um golpe de Estado após as eleições de 2022. Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), Bolsonaro, enquanto presidente, soube e concordou com um plano de execuções de autoridades públicas batizado de "Punhal Verde e Amarelo".

A PGR menciona provas coletadas pela Polícia Federal (PF) para concluir que Bolsonaro soube do plano de assassinatos por meio do general Mário Fernandes, secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência e autor do esboço criminoso. Fernandes estava em posse do plano de assassinatos em duas ocasiões em que se encontrou com Jair Bolsonaro: na tarde de 9 de novembro de 2022, no Palácio da Alvorada, e na noite de 6 de dezembro, no Palácio do Planalto.

Em 9 de novembro, Fernandes imprimiu o "Punhal" no Planalto, 39 minutos antes de entrar no Alvorada, onde estavam Jair Bolsonaro e o tenente-coronel Mauro Cid, seu então ajudante de ordens. Em 6 de dezembro, Fernandes voltou a imprimir o "Punhal" em um equipamento do Planalto. Naquele momento, Bolsonaro, Cid e um "kid preto" estavam no local. Três dias depois, Fernandes enviou um áudio a Cid elogiando Bolsonaro por ter "aceitado o nosso assessoramento".

"O plano foi arquitetado e levado ao conhecimento do presidente da República, que a ele anuiu", concluiu o procurador-geral da República, Paulo Gonet.

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, era uma das quatro vítimas do plano, além da chapa eleita nas urnas no mês anterior, composta por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSB). Uma quarta vítima, apelidada de "Juca", foi descrita pelos golpistas como "iminência parda do futuro governo", mas não foi identificada pela PF. A ação contaria com o apoio operacional de "kids pretos", como são chamados os militares das Forças Especiais do Exército Brasileiro.

Bolsonaro foi denunciado por cinco crimes que, somados, podem ultrapassar 43 anos de reclusão, consideradas as penas máximas para cada delito e os agravantes. Outros 33 nomes foram implicados pela PGR na trama golpista, entre os quais aliados próximos do ex-presidente e militares de alta patente. A apreciação da denúncia cabe à Primeira Turma do STF. A defesa de Bolsonaro disse, em nota, que a denúncia da PGR é "inepta".

No dia 8 de novembro de 2022, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, enviou uma mensagem ao "kid preto" Rafael Martins de Oliveira. "Rascunha alguma coisa", disse Cid ao militar. "Fica tranquilo!! Tá sendo feito!!", responde Rafael Oliveira. A mensagem, segundo a PF, indica que a concepção do plano de execuções estava em andamento.

No dia seguinte, às 09h23, Mário Fernandes entrou no Palácio do Planalto e, de lá, redigiu e imprimiu o plano de assassinatos. A PF identificou que o "Punhal" estava contido em um arquivo digital de nome "Fox_2017.docx". Segundo a investigação, o nome do arquivo refere-se a um dos carros do general: um modelo Fox, da Volkswagen, ano 2017. O secretário-executivo nomeava arquivos de conteúdo sensível com referências aos seus carros.

Mário Fernandes terminou de modificar o arquivo "Fox_2017.docx" às 17h05. O general renomeou o item para "Microsoft Word - Plj.docx" e o imprimiu às 17:09. As letras "Plj" referem-se a "planejamento". Trinta e nove minutos depois, às 17:48, Fernandes registrou entrada no Alvorada. Neste mesmo momento, Bolsonaro e Cid estavam no local.

"Há nos autos elementos probatórios demonstrando que no dia 9 de novembro de 2022, após elaborar e imprimir o documento no palácio do Planalto, Mário Fernandes foi até o Palácio da Alvorada, local onde estava o presidente Jair Bolsonaro", afirmou a PF. "Cabe destacar que Mauro Cid estava no Palácio da Alvorada no mesmo período da visita do general Mario Fernandes", completaram os investigadores.

Mais detalhes do plano foram acertados em 12 de novembro, em uma reunião na casa do general Walter Braga Netto, ex-ministro de Jair Bolsonaro e candidato a vice-presidente na chapa do PL em 2022. O plano de assassinatos pretendia criar forte comoção nacional para que, em seguida, fosse criado um gabinete de crise. Braga Netto estaria à frente do gabinete.

O "Punhal" voltou a ser impresso no Palácio do Planalto em 6 de dezembro, às 18h09. Naquele momento, Jair Bolsonaro também estava no local. A PF chegou a essa conclusão ao checar mensagens de um grupo de WhatsApp denominado "Acompanhamento", no qual assessores se revezavam para acompanhar os locais aos quais o presidente se dirigia.

Durante a tarde, o presidente participou de uma cerimônia de posse de ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A chegada estimada do presidente ao Planalto é às 17h56. Nesse horário, o ajudante de ordens Jonathas Diniz Vieira Coelho enviou uma mensagem no grupo "Acompanhamento" com os dizeres: "PR no Planalto". PR refere-se a presidente da República. Às 18h31, Bolsonaro já estava no Alvorada, segundo mensagem de Diniz Coelho.

Além de Fernandes e Bolsonaro, Mauro Cid e Rafael Martins de Oliveira também estavam no Planalto em horários compatíveis com a impressão do "Punhal". Nos casos de Cid e Oliveira, a PF chegou a essa conclusão utilizando dados de localização por satélite.

Três dias depois, na tarde de 9 de dezembro, Bolsonaro realizou seu primeiro posicionamento após a derrota eleitoral. Em discurso a apoiadores no Alvorada, o presidente afirmou que "nada estava perdido". À noite, Mário Fernandes enviou uma mensagem de áudio a Mauro Cid celebrando o aceite de Bolsonaro ao "nosso assessoramento".

"Força, Cid. Meu amigo, muito bacana o presidente ter ido lá à frente ali do Alvorada e ter se pronunciado, cara. Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento", disse o general.

"O áudio não deixa dúvidas de que a ação violenta era conhecida e autorizada por Jair Messias Bolsonaro, que esperava a sua execução ainda no mês de dezembro. O grupo planejava agir com a maior brevidade possível, a fim de impedir a assunção do Poder pelo novo governo eleito", afirmou Paulo Gonet na denúncia da PGR.

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A CEO de notícias da BBC, Deborah Turness, e o diretor-geral da emissora britânica, Tim Davie, renunciaram ao cargo neste domingo, 9. A saída acontece após o jornal The Telegraph mostrar que a BBC havia editado enganosamente um discurso do presidente dos EUA, Donald Trump, para dar a impressão de que ele havia incitado diretamente à violência nos atos de invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021. A fala distorcida de Trump foi exibida no programa Panorama de 3 de novembro de 2024, a uma semana das eleições presidenciais nos Estados Unidos.

Em sua rede social, a Truth Social, Donald Trump celebrou a demissão de quem chamou de "jornalistas corruptos". "Essas são pessoas muito desonestas que tentaram manipular as eleições presidenciais. Para piorar, vêm de um país estrangeiro, um que muitos consideram nosso principal aliado. Que terrível para a democracia!", postou.

A ministra britânica da Cultura, Lisa Nandy, havia classificado horas antes como "extremamente grave" a acusação contra a BBC por apresentar declarações de Trump de maneira enganosa.

"É um dia triste para a BBC. Tim foi um excelente diretor-geral durante os últimos cinco anos", afirmou o presidente da Corporação Britânica de Radiodifusão, Samir Shah, em comunicado. Ele acrescentou que Davie enfrentava "pressão constante (...) que o levou a tomar a decisão" de renunciar.

Colagem de trechos separados levou a versão distorcida do discurso

O caso, revelado na terça-feira, 4, baseia-se em um documentário exibido uma semana antes das eleições presidenciais dos EUA de 2024. A BBC é acusada de ter montado trechos separados de um discurso de Trump de 6 de janeiro de 2021 de forma que parece indicar que ele teria dito a seus apoiadores que marchariam com ele até o Capitólio para "lutar como demônios".

Na versão completa, o então presidente republicano - já derrotado nas urnas pelo democrata Joe Biden - diz: "Vamos marchar até o Capitólio e vamos incentivar nossos valentes senadores e representantes no Congresso."

A expressão "lutar como demônios" corresponde, na verdade, a outro momento do discurso.

Em carta enviada ao conselho da BBC e publicada no site, a CEO de notícias disse que a polêmica em torno do programa Panorama sobre o presidente Trump chegou a um ponto em que está prejudicando a BBC - uma instituição que ela adora.

Já Tim Davie, diretor-geral, disse que abdicou ao cargo após intensas exigências pessoais e profissionais de gerir o posto ao longo de muitos anos nestes "tempos turbulentos".

Um dia antes do início oficial da COP30 em Belém, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicou em sua rede social, a Truth Social, nesta domingo, 9, uma mensagem dizendo que a Amazônia foi destruída para a construção de uma estrada.

"Eles destruíram a floresta amazônica no Brasil para a construção de uma rodovia de quatro faixas para que ambientalistas pudessem viajar", escreveu Trump na mensagem, ressaltando que o caso "se tornou um grande escândalo".

Junto com a mensagem, Trump postou um vídeo de quatro minutos da Fox News, com uma reportagem do enviado da emissora a Belém para cobrir a COP30.

Na reportagem, o editor Marc Morano diz, com uma imagem de Belém ao fundo, que mais de 100 mil árvores foram cortadas na Amazônia para construir a estrada e mostrar como o "governo brasileiro está cuidando da floresta tropical".

Ainda na reportagem postada por Trump, o jornalista destaca que pela primeira vez não há uma delegação oficial dos Estados Unidos em uma conferência das Nações Unidas sobre o clima desde 1992. Mesmo países europeus estão deixando esses compromissos de lado, ressalta o jornalista.

A reportagem fala ainda da queda das vendas de carros elétricos e de demissões em fábricas nos Estados Unidos.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse há pouco que a BBC alterou seu discurso de 6 de janeiro de 2021, dia da invasão ao Capitólio, e celebrou a demissão de "pessoas muito desonestas que tentaram influenciar uma eleição presidencial".

"As principais pessoas da BBC, incluindo TIM DAVIE, o CHEFE, estão todas se demitindo/DEMITIDAS, porque foram pegas 'alterando' meu excelente (PERFEITO!) discurso de 6 de janeiro. Além de tudo, eles são de um país estrangeiro, que muitos consideram nosso Aliado Número Um. Que coisa terrível para a Democracia!", escreveu o republicano na Truth Social.

A CEO de notícias da BBC, Deborah Turness, e o diretor-geral da emissora britânica, Tim Davie, renunciaram ao cargo nesta trade. A saída acontece após o jornal The Telegraph mostrar que a BBC havia editado enganosamente um discurso de Trump para dar a impressão de que ele havia incitado diretamente à violência nos atos de invasão ao Capitólio.