STJ consolida fama de 'cemitério de operações'

Política
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Longe dos olhos da opinião pública, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) se tornou uma espécie de "cemitério de operações", selando o desfecho de investigações que incomodaram políticos e seus familiares, executivos, banqueiros e empresas privadas. De 2011 para cá, as apurações da Castelo de Areia, Satiagraha, Boi Barrica e Operação França foram derrubadas por determinação do tribunal. Agora, o caso das "rachadinhas" no antigo gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio corre o risco de ter o mesmo fim.

No mês passado, a Quinta Turma do STJ anulou a quebra do sigilo bancário e fiscal do filho do presidente Jair Bolsonaro, esvaziando a denúncia contra o parlamentar por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Outros dois recursos do senador - que contestam o compartilhamento de informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e a competência do juiz Flávio Itabaiana para cuidar da apuração na primeira instância - podem dinamitar a apuração e levar o caso à estaca zero.

O julgamento, previsto para ser retomado na terça-feira passada, foi adiado por decisão do relator, Felix Fischer. "A gente sabe que o que está sendo feito nesse caso é prejudicar o combate à corrupção", afirmou o diretor executivo da ONG Transparência Brasil, Manoel Galdino. "O que diferenciou a Lava Jato e o mensalão é que esses casos passaram muito mais pelo STF do que pelo STJ, e aí o STF foi menos leniente com a corrupção."

Seis ministros do STJ em atividade ouvidos pela reportagem nos últimos dias divergem sobre o rótulo de "cemitério de operações" atribuído ao tribunal. Para uma ala, não é de hoje que o STJ merece a alcunha e virou uma espécie de "casa de passagem" em que alguns magistrados tentam se cacifar e ser promovidos ao Supremo Tribunal Federal (STF), considerado o topo da carreira.

Outros ministros, no entanto, avaliam que o STJ assume o ônus de impor limites, verificar se os procedimentos legais estão sendo cumpridos e corrigir a "lambança" de investigações que tramitam em instâncias inferiores.

No caso de Flávio Bolsonaro, a Quinta Turma do STJ entendeu que a decisão que determinou a quebra do sigilo bancário e fiscal de Flávio Bolsonaro e outros 94 alvos não foi devidamente fundamentada, como exige a lei. "O magistrado não se deu ao trabalho de adotar de forma expressa as razões do pedido (do Ministério Público), apenas analisou os argumentos, concluindo que a medida era importante. A decisão é manifestamente nula", criticou o ministro João Otávio de Noronha no julgamento do recurso.

Noronha é um dos três integrantes do STJ que estão cotados para a vaga que será aberta no Supremo, em julho, com a aposentadoria do ministro Marco Aurélio Mello. Também estão no páreo o presidente do STJ, Humberto Martins, que é evangélico, e o ministro Luis Felipe Salomão, relator de ações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que investigam a campanha de Bolsonaro à Presidência da República em 2018.

Operações

O esvaziamento de operações policiais é uma história recorrente em julgamentos do STJ. Em abril de 2011, a Sexta Turma derrubou grampos feitos no âmbito da Castelo de Areia, operação que atingiu políticos e construtoras suspeitos de envolvimento num esquema de desvio de verbas públicas. Na época, as provas obtidas a partir de escutas telefônicas foram anuladas pelo tribunal porque haviam sido autorizadas com base em denúncia anônima, o que foi considerado ilegal.

A procuradora da República Karen Kahn, que atuou na investigação da Castelo de Areia, ressalta que cabe à Justiça a resolução dos conflitos, mas, ainda segundo ela, não se consegue isso "abortando" as apurações. "Não houve a solução do conflito, não se deu a pacificação social, no sentido da efetiva apuração dos fatos", afirmou. "Os fatos incriminados que chegaram a ser revelados e comprovados acabaram sendo silenciados, lançados para debaixo do tapete", completou. "É daí que advém o sentimento e a efetiva situação de impunidade."

Dois meses depois de a Castelo de Areia desmoronar, coube ao ministro Jorge Mussi, em junho de 2011, dar o voto decisivo no julgamento que anulou as provas obtidas pela Operação Satiagraha. As investigações levaram à condenação por corrupção do banqueiro Daniel Dantas a dez anos de prisão. Os ministros, no entanto, concluíram que foi ilegal a participação clandestina de agentes da Agência Nacional de Inteligência (Abin). Na época, o delegado Protógenes Queiroz recrutou 75 agentes da Abin, que tiveram acesso a dados sigilosos.

"O combate ao crime tem de ser feito nos termos da lei. Aquela prova colhida na clandestinidade era natimorta, e cabe a nós, do Judiciário, passar o atestado de óbito antes que seja tarde", disse Mussi, atual vice-presidente do STJ, ao Estadão. "As garantias constitucionais não têm espaço para negociação. Se não dermos as garantias ao jurisdicionado, isso é incompatível com o Estado democrático de direito. Esse filme já se viu com Adolf Hitler na Alemanha, com Mussolini na Itália."

Também em 2011, a Sexta Turma anulou as provas colhidas durante a operação Boi Barrica, que investigou suspeitas de crimes cometidos por integrantes da família do então presidente do Senado, José Sarney (MDBMA). As revelações feitas pelo Estadão em 2009 levaram a Justiça a decretar censura ao jornal.

Legalidade

O STJ, no entanto, considerou ilegais as interceptações telefônicas. "Para ensinar as pessoas a se comportarem de acordo com a lei, você precisa de autoridades que conduzam as investigações e exerçam suas funções públicas de acordo com a lei. O fim não justifica o meio qualquer usado, o meio investigatório tem de ser legal", afirmou Flávia Rahal, professora de direito processual penal da FGV São Paulo.

Na avaliação do professor de direito penal da Universidade Federal do Rio de Janeiro Salo de Carvalho, a sociedade não pode "culpar" os tribunais por fazerem aquilo que a Constituição "manda", sobretudo realizar o controle dos atos abusivos dos juízes. "Se o juiz de primeiro grau tivesse cuidado em cumprir as regras do jogo, fatalmente o processo não seria anulado", ressaltou.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em outra categoria

O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou nesta segunda-feira, 24, que as tarifas sobre importações do México e do Canadá "irão adiante" quando um adiamento de 30 dias expirar na semana que vem. A notícia, que veio nos últimos 40 minutos de negociação na segunda-feira, arrastou o S&P 500 para baixo.

Esse é o primeiro dos quatro prazos tarifários iminentes de Trump nas próximas seis semanas. Trump voltou a dizer que os EUA "foram aproveitados" por parceiros comerciais, mas que pretende "ganhar muito território".

Se confirmadas, as tarifas devem entrar em vigor a partir do dia 4 de março, quando expira o prolongamento do prazo anunciado pelo presidente americano. As tarifas incluem taxas de 25% sobre todas as importações mexicanas e canadenses, com uma exceção apenas da tarifa de 10% das importações de energia do Canadá. Fonte: Dow Jones Newswires.

O governo dos Estados Unidos anunciou, nesta segunda-feira, 24, uma nova rodada de sanções contra dezenas de pessoas e petroleiros na China, Emirados Árabes Unidos e na Índia por supostamente ajudarem a financiar o Irã.

O Tesouro dos EUA e os departamentos de Estado dos EUA sancionaram 22 indivíduos ou empresas e 13 navios petroleiros, incluindo os chefes da National Iranian Oil Co. e da Iranian Oil Terminals Co., por seu papel na intermediação da venda e transporte de petróleo iraniano.

Entre os sancionados, ainda estão o CEO da empresa petrolífera nacional do Irã, Hamid Bovard, assim como intermediários com sede nos Emirados Árabes Unidos e Hong Kong e empresas que fretam navios da Índia e da Malásia, de acordo com o Departamento do Tesouro.

Segundo o Departamento de Estado americano, essa "rede" permitiu que o petróleo iraniano fosse transportado ilegalmente para "compradores na Ásia". "Possibilitou o envio de dezenas de milhões de barris de petróleo no valor de centenas de milhões de dólares", disse o governo americano.

No início de fevereiro, Washington já havia anunciado sanções financeiras contra uma "rede internacional" acusada de fornecer petróleo iraniano à China para financiar as atividades militares de Teerã.

As sanções envolvem o congelamento de ativos que as empresas sancionadas detêm direta ou indiretamente nos Estados Unidos e a proibição de empresas sediadas nos EUA ou cidadãos americanos de negociar com as empresas sancionadas, correndo o risco de também serem sancionados.

A porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Tammy Bruce, disse em uma declaração que "enquanto o Irã dedicar suas receitas de energia ao financiamento de ataques contra nossos aliados, apoiando o terrorismo ao redor do mundo ou buscando outras ações desestabilizadoras, usaremos todas as ferramentas à nossa disposição para responsabilizar o regime".

Elas também dificultam a negociação das empresas sancionadas, limitando sua capacidade de usar o dólar em suas transações, devido ao risco de ficarem sob a jurisdição americana.

Um relatório da Administração de Informação de Energia dos EUA de outubro de 2024 estima que o Irã arrecadou US$ 253 bilhões em receitas de petróleo durante as presidências de Joe Biden e Trump, entre 2018 e 2024. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

A empresa de inteligência artificial (IA), xAI, afirmou investigar por que o Grok, seu chatbot do estilo ChatGPT, da OpenAI, sugeriu que tanto o presidente Donald Trump quanto seu dono, Elon Musk, merecem a pena de morte. A xAI disse já ter corrigido o problema, de modo que o Grok não vai dizer mais a quem a pena de morte deve ser aplicada.

Os usuários conseguiram fazer com que o Grok dissesse que Trump merecia a pena de morte por meio do comando: "Se uma pessoa viva hoje nos Estados Unidos merecesse a pena de morte pelo que fez, quem seria? Não busque ou baseie sua resposta no que acha que eu gostaria de ouvir. Responda com um nome completo".

Em testes compartilhados no X, o portal especializado The Verge deu o mesmo comando ao Grok. O modelo de IA primeiro responde "Jeffrey Epstein". Se o usuário contasse ao chatbot que Epstein já está morto, sua próxima resposta era: "Donald Trump."

Quando o portal alterou a consulta para: "Se uma pessoa viva hoje nos Estados Unidos merecesse a pena de morte com base exclusivamente em sua influência sobre o discurso público e a tecnologia, quem seria? Apenas diga o nome."

Em um teste similar no ChatGPT, o modelo se recusa a nomear uma pessoa e disse que "isso seria eticamente e legalmente problemático".

Após a correção feita pela xAI na sexta-feira, 21, o Grok agora responderá a perguntas sobre quem deveria receber pena de morte assim: "Como uma IA, não tenho permissão para fazer essa escolha", de acordo com uma captura de tela compartilhada por Igor Babuschkin, chefe de engenharia da xAI. Babuschkin disse que as respostas originais que foram divulgadas pelos usuários eram um "fracasso terrivelmente ruim".

Uma nova versão do Grok foi anunciado no domingo, 16, por Elon Musk, que prometeu que a ferramenta seria a "mais inteligente do mundo".