Atos golpistas: STF condena 31 réus que se recusaram a fechar acordo com PGR

Política
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O Supremo Tribunal Federal (STF) condenou mais 31 pessoas envolvidas nos atos antidemocráticos de 8 de Janeiro. Os julgamentos ocorreram em sessões virtuais do plenário da Corte entre 12 e 30 de maio. Para 28 réus, as penas foram fixadas em um ano de detenção, substituídas por restrições de direitos. Para os três restantes, a pena foi de dois anos e cinco meses de detenção.

Em todas as ações penais, prevaleceu o voto do relator, ministro Alexandre de Moraes, que entendeu que os réus integravam um grupo com a intenção de derrubar o governo democraticamente eleito em 2022. Ele destacou que, conforme apontado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), tratou-se de um crime de autoria coletiva, no qual todos contribuíram para o resultado por meio de ação conjunta.

As defesas alegaram, entre outros pontos, que os atos não teriam eficácia para concretizar um golpe de Estado e que os acusados apenas pretendiam participar de uma manifestação pacífica. Também negaram a existência de crimes de autoria coletiva.

Contudo, segundo o relator, a PGR demonstrou que os materiais divulgados nas redes sociais "deixam claro que a intenção era impedir o exercício dos Poderes e a tomada de poder". A acusação sustentou que o grupo agia de forma organizada, com tarefas definidas, sendo incumbido de permanecer no acampamento golpista para incentivar outras pessoas à prática de crimes.

Além disso, cabia ao grupo incitar a animosidade entre as Forças Armadas e os Poderes republicanos, o que configuraria os crimes de associação criminosa e incitação ao crime.

Recusa ao acordo que evitaria a condenação

Segundo o STF, embora os 31 sentenciados tenham cometido crimes de menor gravidade, eles rejeitaram o Acordo de Não Persecução Penal (ANPP), proposto pela PGR, que evitaria o prosseguimento da ação penal.

Além da pena de um ano de detenção, substituída por restrições de direitos, eles deverão pagar multa de dez salários mínimos por incitação ao crime, por terem incentivado as Forças Armadas a tomarem o poder sob a alegação de fraude eleitoral.

Alguns réus receberam penas maiores - dois anos e cinco meses, em regime inicial semiaberto - por descumprirem medidas cautelares previamente impostas, como comparecimento em juízo e uso de tornozeleira eletrônica.

Todos os condenados deverão pagar uma indenização no valor de R$ 5 milhões, a ser dividida com os outros condenados pelos mesmos delitos.

Mesmo com a substituição da pena de detenção, os envolvidos deixarão de ser réus primários quando não houver mais possibilidade de recursos e a decisão transitar em julgado. O ministro Alexandre de Moraes ressaltou que mais de 500 pessoas em situação semelhante optaram por confessar os crimes e firmar um acordo.

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O governo americano aprovou recursos para operações de ajuda em Gaza, informou o porta-voz do Departamento de Estado americano, Tommy Pigott, em coletiva de imprensa realizada na tarde desta quinta-feira, 26.

Os EUA aprovaram US$ 30 milhões para a Fundação Humanitária de Gaza, um grupo de ajuda humanitária, mesmo após notícias de mortes próximas de locais de distribuição de comida. O porta-voz exortou ainda que outros países apoiem a fundação.

Pigott disse que o acordo para ampliar os gastos em defesa na esfera dos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) é uma mudança em décadas.

Na coletiva, Pigott anunciou ainda que o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, participará nesta sexta, 27, da assinatura de uma declaração de paz entre a República Democrática do Congo (RDC) e Ruanda no Departamento de Estado.

Rubio também receberá, na próxima semana, representantes do Diálogo de Segurança Quadrilateral (Quad, na sigla em inglês), uma parceira diplomática entre Austrália, Índia, Japão e Estados Unidos. O grupo tem o propósito de defender uma região do Indo-Pacífico livre e aberta.

Os Estados Unidos bombardearam na noite de domingo (22) instalações de Fordow, Natanz e Isfahán.

Relatórios de inteligência fornecidos a governos europeus apontam que o estoque de urânio enriquecido do Irã permanece em grande parte intacto após os ataques dos Estados Unidos, segundo informações do jornal britânico Financial Times, citando dois oficiais de países europeus.

De acordo com o jornal, o relatório de inteligência sinalizou que o estoque de urânio enriquecido de Teerã, que é de 408 kg, não estava concentrado apenas na instalação nuclear de Fordow no momento do ataque americano e foi distribuído para várias outras localizações.

As novas informações colocam em dúvida a afirmação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que o bombardeio americano havia "acabado" com o programa nuclear do Irã.

Os oficiais citados pelo Financial Times apontaram que os governos da UE estavam esperando por um relatório de inteligência completo sobre os danos em Fordow. A avaliação parcial é de que a instalação sofreu "danos extensos, mas não destruição completa".

O Irã sinalizou que o estoque de urânio enriquecido foi movido antes dos ataques de Washington.

Ataque

No dia 21 de junho, os EUA decidiram entrar na guerra contra o Irã e atacaram o país persa com bombas de fragmentação que atingiram as instalações nucleares de Fordow, Natanz e Isfahan.

Após o ataque, que Trump classificou como um "sucesso", o presidente americano disse que não acreditava em uma avaliação provisória da inteligência dos EUA que dizia que o programa nuclear iraniano havia sido atrasado apenas por alguns meses.

Um outro relatório divulgado por Israel apontou que o ataque americano ao local nuclear iraniano reforçado em Fordow "destruiu a infraestrutura crítica do local e tornou a instalação de enriquecimento inoperante".

O Irã ainda teria condições de produzir uma arma atômica, caso tenha conseguido manter o seu estoque de urânio enriquecido. Teerã insiste que seu programa é para fins civis pacíficos.

Antes do início da guerra com Israel no dia 13 de junho, o Irã chegou a enriquecer urânio com até 60% de pureza, grau próximo do necessário para construir armas.

Acordo nuclear

Antes do início da guerra, o governo Trump vinha mantendo negociações indiretas com o Irã para costurar um acordo nuclear. As negociações foram interrompidas durante a guerra e devem retornar na semana que vem, segundo informações divulgadas pelo próprio Trump durante uma entrevista coletiva em Haia, durante a cúpula da Otan.

O republicano sinalizou que um acordo não era necessário após os ataques americanos.

"Não me importo se tenho um acordo ou não", disse Trump. "A única coisa que pediríamos é o que pedíamos antes, que não queremos armas nucleares."

Não está claro qual seria o formato das novas discussões. O secretário de Estado Marco Rubio disse que os Estados Unidos estavam buscando negociações diretas entre os países.

O embaixador do Irã em Brasília, Abdollah Nekounam, indicou nesta quinta-feira, 26, que o presidente Masoud Pezeshkian deve visitar o Brasil para participar da Cúpula do Brics, entre 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro. A presença dele esteve em dúvida por causa da guerra com Israel e dos ataques aéreos realizados contra instalações nucleares no país pelos Estados Unidos, mas com o cessar-fogo entre as partes em vigor, a visita deve ocorrer.

Segundo o embaixador, o governo iraniano está dando sequência à programação da primeira visita de Pezeshkian ao Brasil. "Estamos na fase de programação para essa possibilidade de o senhor presidente da República Islâmica do Irã Dr. Masoud Pezeshkian ir à Cúpula do Brics. Estamos seguindo as nossas programações", afirmou Nekounam.

Diplomatas do Brasil consideram a viagem complexa do ponto de vista da segurança, mas integrantes da diplomacia iraniana sinalizaram reservadamente acreditar que não deve haver problemas relacionados a isso durante a viagem. A reabertura do espaço aéreo do país para voos comerciais, algo esperado para ocorrer nos próximos dias, deve ser um indicativo de que a viagem deve ocorrer.

Pezeshkian poderia usar o Brics no Brasil como plataforma para falar sobre o conflito. Se o presidente não vier, deverá ser substituído e representado pelo chanceler iraniano Abbas Aragchi, que tem sido o porta-voz do país nos últimos dias em viagens internacionais a países próximos entre eles a Rússia e a Turquia.

Caso venha ao Brasil, o presidente iraniano deve se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela primeira vez, em conversa bilateral no Rio.

O embaixador agradeceu a manifestação do presidente Lula em defesa do Irã, condenando com veemência os ataques, e também a nota do Brics em sequência - o tom do petista foi, inclusive, considerado pelos iranianos mais duro do que o adotado em sequência pelo próprio bloco e em detrimento das relações entre Brasil e EUA.

O Irã faz parte do grupo de países emergentes desde o ano passado, tendo sido convidado em 2023. Pezeshkian participou da Cúpula de 2024, em Kazan, na Rússia, pela primeira vez.

Em 2023, o ex-presidente Ebrahim Raisi compareceu à Cúpula de Johannesburgo, na África do Sul, e se reuniu com Lula. Ele morreria em acidente aéreo de helicóptero, em maio de 2024, por causa de complicações de aeronavegabilidade por mau tempo, segundo a investigação oficial.