Bolsonaro admite ter mostrado minuta a Freire Gomes, mas nega ter tentado golpe

Política
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O interrogatório do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) era o mais aguardado na ação da trama golpista. Bolsonaro foi denunciado como líder do plano de golpe. Nesta terça-feira, 10, ele esteve frente a frente com o ministro Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal (STF) para responder às perguntas sobre o processo.

O ex-presidente admitiu que cogitou decretar estado de sítio depois que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitou o pedido do PL para anular parte dos votos do segundo turno. O partido foi multado em R$ 22,9 milhões por má-fé ao questionar o resultado das eleições.

"Sobrou para gente buscar uma alternativa na Constituição. Não foi discutido, foi conversado hipóteses de dispositivos constitucionais. Nada foi assinado", afirmou Bolsonaro.

Em um dos momentos mais tensos do interrogatório, o ministro questionou o ex-presidente sobre a minuta golpista para anular o resultado das eleições de 2022 e prender autoridades do STF e do Congresso.

Bolsonaro negou ter recebido ou alterado o documento, como alega o tenente-coronel Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens, que fechou delação premiada e o implicou na trama de golpe.

"Eu refuto qualquer possibilidade de falar de minuta de golpe, que não esteja enquadrada dentro da Constituição brasileira", afirmou. "Quando se fala em minuta dá a entender que é algo do mal", prosseguiu.

Em interrogatório na segunda, 8, Mauro Cid reafirmou que Bolsonaro recebeu, leu e "enxugou" o documento. "Não procede o enxugamento", rebateu o ex-presidente.

Contudo, Bolsonaro assumiu ter recebido sugestões para decretar estado de sítio no País - a medida suprime direitos individuais e amplia os Poderes do Executivo para fazer frente a situações de grave repercussão nacional. O ex-presidente voltou a repetir que, embora o estado de sítio tenha sido cogitado, não prosperou porque seria necessário um "fato" e a convocação dos conselhos da Defesa e da República.

"Em poucas reuniões abandonamos qualquer possibilidade de ação constitucional. Abandonamos e enfrentamos aí o ocaso do nosso governo", alegou Bolsonaro. "A discussão sobre esse assunto já começou sem força de modo que nada foi à frente."

Na esteira dos questionamentos sobre a minuta golpista, o ex-presidente respondeu a Moraes sobre a reunião com os comandantes da Marinha, Almir Garnier, da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Júnior, e do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, em dezembro de 2022, na qual, segundo a delação de Cid, Bolsonaro teria apresentado uma proposta de ruptura institucional.

"Em nenhum momento, eu, ministro da Defesa ou comandante de força pensamos em fazer algo ao arrepio da lei ou da nossa Constituição", afirmou.

Bolsonaro afirmou ter tratado com os comandantes das Forças Armadas a decretação de uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para lidar com os acampamentos com reivindicações golpistas em frentes ao quartéis e com o bloqueio de rodovias no Pará por caminhoneiros. "Nós estudamos possibilidades outras dentro da Constituição. Nada fora disso", disse.

O ex-presidente negou que Freire Gomes tenha ameaçado prendê-lo na reunião, como alega o ex-comandante da Aeronáutica. Bolsonaro afirmou que foi um "exagero" de Baptista Júnior. O ex-chefe do Exército foi ouvido como testemunha e também negou ter dado voz de prisão ao então presidente. Segundo Freire Gomes, ele apenas "alertou" que Bolsonaro "poderia ser enquadrado juridicamente".

Ex-presidente responde a perguntas do ministro do STF no processo em que é acusado de articular um plano de golpe após a derrota nas eleições de 2022.

Fraude nas urnas

O primeiro questionamento de Moraes foi sobre as urnas eletrônicas. O ministro quis saber "qual era concretamente o fundamento" do ex-presidente para alegar que havia fraudes nas eleições e nas urnas e que os ministros do TSE estavam direcionando as eleições.

Bolsonaro afirmou que essa sempre foi sua "retórica" e que defende o voto impresso desde que foi deputado federal. "A questão da desconfiança, suspeição ou crítica às urnas não é algo privativo meu."

Ao abordar a reunião ministerial de 5 de julho de 2022, em que questionou a segurança do sistema de votação e cobrou ministros do governo a agirem antes das eleições, o ex-presidente afirmou que foi um "desabafo".

"Não tinha prova de nada no tocante a isso daí. Um desabafo meu, com toda certeza", justificou.

"A minha retórica me levou a falar dessa maneira. Essa reunião não era para ter sido gravada. Era algo reservado. Alguém gravou, no meu entender, de má-fé. Essa foi a minha retórica que usei muito enquanto deputado e depois como presidente buscando o voto impresso."

Pedido de desculpas

Em sua primeira resposta, o ex-presidente pediu desculpas aos ministros Moraes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso, atual presidente do STF, por acusá-los de terem recebido entre US$ 30 e US$ 50 milhões para fraudar as eleições.

Bolsonaro fez as declarações na reunião ministerial do dia 5 de julho de 2022. Ao explicar as suas falas nesta terça-feira, 10, o ex-presidente minimizou o episódio.

"Era uma retórica. Se fossem outros três ocupantes (do Tribunal Superior Eleitoral) eu teria a mesma conduta. Me desculpe. Não tinha intenção", explicou.

Em outro momento, Bolsonaro disse que para ele era "bastante desagradável" estar frente a frente com Moraes.

Live sobre as urnas

Questionado sobre a transmissão ao vivo feita no dia 29 de julho de 2021, no Palácio da Alvorada, que segundo a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) marca o início da trama golpista, Bolsonaro insistiu na narrativa de fraude.

"Acredito que, dado o que vinha acontecendo, de reclamações por ocasião das eleições, para o bem da democracia seria bom que algo fosse aperfeiçoado para que não pudesse haver qualquer dúvida sobre o sistema eletrônico. Se não houvesse essa dúvida, com toda certeza nós não estaríamos aqui hoje", afirmou.

Moraes rebateu o ex-presidente e saiu em defesa do sistema de votação: "Na verdade não há nenhuma dúvida sobre o sistema eletrônico."

Ex-presidente responde a perguntas do ministro do STF no processo em que é acusado de articular um plano de golpe após a derrota nas eleições de 2022.

Reunião com embaixadores

Moraes também questionou sobre a reunião convocada por Bolsonaro, então presidente, com embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada, em 18 de julho de 2022, para disseminar mentiras sobre o sistema de votação brasileiro e as urnas eletrônicas. As falas do presidente foram transmitidas pela TV Brasil.

O ex-presidente justificou que a reunião com diplomatas é "uma política privativa do chefe do Executivo" e que pode ter "exagerado na forma, na entonação", mas mantém o posicionamento. "A intenção minha não é desacreditar, sempre foi alertar."

Por causa do encontro, Bolsonaro foi condenado pelo TSE à inelegibilidade até 2030.

Comissão de transparência eleitoral

A Procuradoria-Geral da República afirma que o ex-presidente tentou interferir no relatório produzido pela comissão eleitoral do Ministério da Defesa sobre as eleições de 2022. Segundo a PGR, Bolsonaro queria que o texto sugerisse a possibilidade de fraude, embora nenhuma irregularidade tenha sido encontrada.

O ex-presidente negou ter pressionado o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, para alterar o relatório.

"Não houve pressão em cima dele para fazer isso ou aquilo. Nós conversávamos sobre o ocorrido. O relatório dele contou com o meu acordo", declarou.

"O meu relacionamento com qualquer ministro nunca foi sob pressão ou autoritarismo. Em especial, eu posso dizer até os chefes militares, aí incluídos os comandantes, era uma relação bastante fraternal entre nós. Jamais pressionei seja o ministro que for."

Derrota em 2022

Bolsonaro afirmou que ficou "recluso" após a derrota nas eleições de 2022 e que não participou da cerimônia de transmissão da faixa presidencial ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no dia 1º de janeiro de 2023, porque não ia se "submeter à maior vaia da história do Brasil".

"O sentimento de todo mundo era de que não tinha mais do que fazer. Se tivesse que ser feita alguma coisa seria lá atrás, via Congresso Nacional, não foi feito. Então tínhamos que entubar o resultado da eleição."

8 de Janeiro

Bolsonaro negou ter colaborado com o 8 de Janeiro. O ex-presidente alegou que não desmobilizou os acampamentos em Brasília para evitar um cenário "pior ainda" - a dispersão dos manifestantes para a Praça dos Três Poderes.

Segundo Bolsonaro, os apoiadores que invadiram os prédios do Planalto, do STF e do Congresso "mal sabiam o que estavam fazendo".

Para o ex-presidente, ocorreu uma "baderna", mas não uma tentativa de golpe. "Sem qualquer participação minha, sem qualquer liderança, sem Forças Armadas, sem armas, sem um núcleo financeiro, sem nada. Isso não é golpe."

Discurso 'pós-golpe' apreendido na sede do PL

O ex-presidente negou ter escrito o discurso "pós-golpe" apreendido na sala dele no PL, em Brasília. O texto apócrifo seria um suposto pronunciamento à nação detalhando os motivos e argumentos para a decretação de um estado de sítio e uso da GLO.

Segundo Bolsonaro, o documento foi retirado da própria investigação e enviado a ele por seu advogado, Paulo Amador da Cunha Bueno.

"Quem mandou para mim foi o doutor Paulo, que extraiu do inquérito", explicou o ex-presidente. "O discurso não é meu não. Alguém pegou em algum lugar esse discurso aí. Foi parte do inquérito e aí foi mandado para mim."

Reunião com hacker

Bolsonaro confirmou que se encontrou com a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e do hacker Walter Delgatti, o Vermelho, mas disse que "não sentiu confiança".

"Eu recebi, não entendo nada de informática, não senti confiança nele, encaminhei para a Comissão de Transparência Eleitoral e nunca mais tive contato."

A deputada e o hacker foram condenados pela invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Interrogatórios

A audiência é a grande oportunidade para Bolsonaro exercer sua autodefesa. Ele pode apresentar sua versão e tentou desqualificar a denúncia da PGR e a colaboração premiada do tenente-coronel Mauro Cid.

Os réus estão sendo chamados por ordem alfabética. Bolsonaro é o penúltimo a depor. Depois dele, falarão os ex-ministros Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira e Walter Braga Netto, que será ouvido por videoconferência do Comando da 1ª Divisão de Exército, no Rio de Janeiro, onde está preso desde dezembro de 2024.

Quando chegou no STF, pela manhã, o ex-presidente prometeu falar por "horas" e disse que gostaria de exibir vídeos na audiência. No entanto, Moraes não autorizou a exibição das gravações. Em sua decisão, o ministro justificou que "não é o momento adequado para apresentação de provas novas". O interrogatório de Bolsonaro durou cerca de três horas.

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A Rússia anunciou, nesta quinta-feira, 31, que suas forças assumiram o controle total da cidade estrategicamente importante de Chasiv Iar, na região oriental de Donetsk, no leste na Ucrânia. Kiev nega ocupação.

O Ministério da Defesa russo indicou em um comunicado que Chasiv Iar "foi libertada pelas forças russas". Moscou segue conquistando territórios na Ucrânia, embora o presidente americano, Donald Trump, tenha imposto um prazo de seis dias, a partir de terça-feira, 29, para que seu homólogo russo, Vladimir Putin, encerre o conflito, sob pena de sanções.

Tropas russas e ucranianas lutam pelo controle de Chasiv Iar há quase 18 meses. A região inclui um topo de colina de onde as tropas podem atacar outros pontos-chave na região, que formam a espinha dorsal das defesas orientais da Ucrânia.

Victor Trehubov, porta-voz militar ucraniano, negou a alegação da Rússia. "Apenas uma invenção, não houve nem mesmo uma mudança na situação", disse ele à agência Associated Press.

Um relatório divulgado nesta quinta pelo Estado-Maior do Exército da Ucrânia informou que houve sete confrontos em Chasiv Iar nas últimas 24 horas. Um mapa anexo mostrava a maior parte da cidade sob controle russo.

O DeepState, um mapa ucraniano de código aberto amplamente utilizado pelos militares e analistas, mostrou na manhã desta quinta que os bairros ao sul e oeste de Chasiv Iar permaneciam como as chamadas zonas cinzentas, ou seja, não controlados por nenhum dos lados.

Moscou também intensificou seus ataques nas últimas semanas, muitas vezes com centenas de drones e mísseis, segundo Kiev.

Bombardeios durante a noite na capital da Ucrânia mataram pelo menos 13 pessoas, incluindo um menino de 6 anos, e feriram outras 132, disseram autoridades nesta quinta.

Uma menina de 5 meses estava entre as 14 crianças feridas, informou o Serviço de Emergência da Ucrânia. Foi o maior número de crianças feridas em um único ataque a Kiev desde o início da invasão russa, há três anos, de acordo com registros públicos consultados pela Associated Press.

A Rússia disparou 309 drones Shahed e de distração, além de oito mísseis de cruzeiro Iskander-K durante a noite, informou a Força Aérea Ucraniana. As defesas aéreas interceptaram e bloquearam 288 drones de ataque e três mísseis. Cinco mísseis e 21 drones atingiram alvos.

Os esforços diplomáticos parecem estar em um impasse. Putin exige que a Ucrânia ceda à Rússia as regiões de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia, cuja anexação foi reivindicada por Moscou, e que a Ucrânia desista de aderir à Otan.

As condições são consideradas inaceitáveis pela Ucrânia e seus aliados ocidentais.

A Ucrânia exige que o Exército russo se retire completamente do seu território.

"Hoje, o mundo viu mais uma vez a resposta da Rússia ao nosso desejo de paz com os EUA e a Europa", disse o presidente ucraniano Volodmir Zelenski. "Novos assassinatos demonstrativos. É por isso que a paz sem força é impossível."

Ele pediu aos aliados da Ucrânia que cumpram os compromissos de defesa e pressionem Moscou por negociações reais.

Líderes ocidentais acusaram Putin de procrastinar os esforços de paz liderados pelos EUA na tentativa de conquistar mais terras ucranianas. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

Um bebê de um ano teria mordido uma cobra até a morte enquanto brincava em sua casa na cidade de Bettiah, no estado de Bihar, no norte da Índia, perto da fronteira com o Nepal. As informações são do jornal britânico The Independent, que cita o noticiário local.

O menino foi identificado como Govinda Kumar. A avó da criança contou à imprensa indiana que a família viu a cobra enrolada no braço de Govinda e todos correram em sua direção, "mas, enquanto isso, ele já havia mordido a cobra, matando-a na hora".

Govinda desmaiou, foi levado às pressas para um centro de saúde primário para tratamento inicial e depois para o Hospital Universitário Médico do Governo da cidade, onde ficou em observação até ter alta, segundo o veículo britânico e a mídia local.

O veneno teve efeitos supostamente leves, apenas deixando o menino inconsciente. "O tratamento oportuno salvou a vida de Govinda", disse Saurabh Kumar, médico do hospital, ao Times of India.

Segundo a equipe médica, a morte da cobra parece ter sido decorrente de traumatismo craniano e bucal causados pela mordida de Govinda, diz o Times of India.

O The Independent afirma que a Índia possui cerca de 300 espécies de cobras, incluindo 60 altamente venenosas, e que o país registrou mais de um milhão de mortes por picadas de cobra de 2000 a 2019, de acordo com um estudo publicado em 2020 na revista eLife.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou na manhã desta quinta-feira, 31, que seria "muito difícil" fazer um acordo comercial com o Canadá depois que o primeiro-ministro do país, Mark Carney, anunciou na quarta-feira, 30, que planejava reconhecer a Palestina como um Estado em setembro.

O comunicado do primeiro-ministro canadense ocorre depois que o presidente da França, Emmanuel Macron, disse que também iria reconhecer a Palestina em setembro, assim como o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer.

"Isso tornará muito difícil para nós fazermos um acordo comercial com eles", afirmou Trump em uma publicação na plataforma Truth Social.

Trump estabeleceu o prazo de 1º de agosto para que diversos países terminassem de negociar acordos comerciais com sua administração; caso contrário, ele disse, tarifas de até 50% seriam impostas sobre os produtos que eles enviam para os Estados Unidos.

A partir de sexta-feira, as exportações do Canadá, o segundo maior parceiro comercial dos Estados Unidos, sofreriam uma tarifa de 35% caso não haja um acordo.

Pressão

Desde que assumiu o cargo em janeiro, Trump frequentemente pressionou aliados a mudar políticas, ameaçando tarifas mais altas ou dificultando negociações comerciais.

Recentemente, sua ameaça de se retirar das negociações comerciais com Camboja e Tailândia pareceu contribuir para um rápido acordo de cessar-fogo após um conflito de cinco dias entre os países. Na quarta-feira, o republicano afirmou que iria impor uma tarifa de 25% sobre todos os produtos indianos, citando suas compras de petróleo e equipamento militar da Rússia.

No início deste ano, ele ameaçou o Canadá com tarifas caso não agisse para impedir o tráfico de fentanil através de sua fronteira com os Estados Unidos, que é mínimo.

Ameaça de anexação

O presidente americano também tem um longo histórico de ameaças de anexação do Canadá e imposição de tarifas pesadas.

O assédio do republicano provocou uma reviravolta eleitoral no país vizinho, que fez o conservador Pierre Poilievre perder o favoritismo que tinha após um desgaste e uma queda de popularidade do governo liberal de Justin Trudeau.

Após a renúncia de Trudeau em janeiro e a entrada de Mark Carney como novo líder do Partido Liberal, a legenda governista passou os conservadores nas pesquisas e venceu as eleições. Apesar de representar um partido considerado impopular, Carney conseguiu se colocar como um outsider por conta de sua experiência como presidente do Banco do Canadá e do Banco da Inglaterra depois do Brexit.

Já Poilievre, que era frequentemente comparado com Trump devido às suas políticas e retórica, amargou uma derrota e a perda do próprio assento no Parlamento canadense.

A retórica de Trump sobre a anexação diminuiu depois da vitória de Carney e os dois líderes se encontraram na Casa Branca, mas ainda não conseguiram fechar um acordo comercial.

Anúncio de Carney

O anúncio de Carney sobre a Palestina ocorreu em uma ação coordenada com a França e o Reino Unido. Apesar de Trump criticar e ameaçar o Canadá, ele afirmou na segunda-feira em uma reunião com o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, que "não se importava" se ele tomasse uma posição.

Segundo o primeiro-ministro canadense, o reconhecimento será feito para preservar a esperança de uma solução de dois Estados na questão Israel-Palestina. Apesar disso, Carney ressaltou que certas "condições" como a realização de eleições precisam ocorrer dentro da Autoridade Palestina para o reconhecimento.

Assim como fez com a França e o Reino Unido, Israel criticou de imediato a iniciativa, que considera parte de uma "campanha distorcida de pressão internacional".

"Reconhecer um Estado palestino na ausência de um governo responsável, instituições funcionais ou uma liderança benevolente, recompensa e legitima a monstruosa barbárie do Hamas em 7 de outubro de 2023", afirmou a embaixada de Israel em Ottawa.

Carney declarou que a decisão se baseou na convicção "arraigada" do Canadá em uma solução de dois Estados para o conflito, que existe desde a criação do Estado de Israel, em 1948.

O anúncio acontece em um momento em que Israel prossegue com a campanha militar na Faixa de Gaza, iniciada após o ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023. Mais de 60 mil palestinos morreram, incluindo as principais lideranças do Hamas, e nos últimos meses Israel tem impedido a entrada de ajuda humanitária no território.

O bloqueio da ajuda humanitária agravou a situação de miséria e fome na Faixa de Gaza. Mais de 100 organizações humanitárias e a ONU denunciaram na semana passada uma crise de fome generalizada no local, incluindo mortes causadas por desnutrição.

Em paralelo, algumas autoridades do governo israelense defendem a anexação do território, com a expulsão de palestinos.

"Essa possibilidade de uma solução de dois Estados está se erodindo diante dos nossos olhos", afirmou Mark Carney.

O primeiro-ministro canadense falou em "contínuo fracasso" de Israel para prevenir a catástrofe humanitária em Gaza e citou a expansão de assentamentos israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.

"Durante décadas, esperou-se que [a solução de dois Estados] fosse alcançada como parte de um processo de paz baseado em um acordo negociado entre o governo israelense e a Autoridade Palestina", ressaltou. "Lamentavelmente, este enfoque já não é sustentável", acrescentou.

Hoje, 143 países entre os 193 que fazem parte da ONU, incluindo o Brasil, reconhecem a Palestina como Estado. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)