Agentes da Abin cobram demissão de diretor da agência após indiciamento: 'Indignação'

Política
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) pediram nesta terça-feira, 17, a demissão do atual diretor da instituição, o delegado federal Luiz Fernando Corrêa, após seu indiciamento no inquérito da "Abin paralela".

O Estadão pediu manifestação de Luiz Fernando Corrêa e, até a publicação deste texto, não havia recebido uma resposta. O espaço segue aberto.

Em carta aberta, os agentes e servidores administrativos afirmam que é "absurdo sequer cogitar" manter Corrêa no cargo. Também manifestam "indignação" por sua permanência, mesmo após a conclusão da investigação da Polícia Federal.

"O próprio diretor-geral afastou de cargos servidores orgânicos que eram apenas citados nas investigações. Pela mesma lógica, não pode ele próprio se manter no cargo máximo da agência, com poderes para seguir incorrendo nos alegados crimes", diz um trecho da carta.

O diretor da Abin foi indiciado por suspeita de obstrução de justiça. A PF aponta que houve "conluio" entre a atual gestão da Abin e a direção anterior para evitar que monitoramentos ilegais no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) viessem a público.

O ex-diretor-adjunto da Abin, Alessandro Moretti, antigo número dois da agência, que também foi indiciado pela Polícia Federal, foi exonerado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em janeiro de 2024, em meio às investigações. Outros seis diretores também foram substituídos na ocasião.

O presidente Lula manteve o delegado Luiz Fernando Corrêa, nome de sua confiança, no comando do órgão. Os dois mantêm uma longa relação - Corrêa foi diretor-geral da Polícia Federal no segundo mandato do petista, entre 2007 e 2011.

A Abin é o principal órgão do sistema de inteligência federal e tem como atribuição produzir informações estratégicas sobre temas sensíveis, como ameaças à democracia e às fronteiras, segurança das comunicações do governo, política externa e terrorismo. Para a PF, a agência foi instrumentalizada no governo Bolsonaro e usada para atender interesses privados do grupo político do ex-presidente.

Leia a íntegra da carta divulgada pelos servidores da Abin:

A Intelis manifesta sua indignação diante da permanência, no comando do órgão central do SISBIN, de pessoas acusadas de obstrução de justiça, mesmo após o encerramento do inquérito da chamada "ABIN paralela" e o indiciamento de toda a atual cúpula da Agência - incluindo o atual corregedor.

É inadmissível que indivíduos sobre quem pesam acusações graves de obstrução de justiça continuem ocupando cargos de comando na ABIN. O próprio Diretor-Geral afastou de cargos servidores orgânicos que eram apenas citados nas investigações. Pela mesma lógica, não pode ele próprio se manter no cargo máximo da Agência, com poderes para seguir incorrendo nos alegados crimes.

A Intelis reiteradamente alertou a sociedade e o governo sobre o absurdo de se impor mais uma gestão de delegados da Polícia Federal à frente da ABIN, após escândalos protagonizados por gestões anteriores. Denunciamos, também, a nomeação de um delegado da PF para a Corregedoria em meio ao escândalo da "ABIN paralela", majoritariamente composta por policiais federais. Nossos alertas foram mais uma vez ignorados porque a Inteligência de Estado segue não sendo levada a sério no Brasil.

Vale lembrar que o delegado Ramagem foi impedido de assumir o cargo de Diretor-Geral da Polícia Federal no governo anterior, mas pôde retornar para reassumir a Direção-Geral da ABIN, em mais um grave descaso com a principal agência de Inteligência do país.

É absurdo sequer cogitar a permanência da atual direção e a continuidade do processo de definhamento e desmonte da Inteligência de Estado, a mais maltratada e desvalorizada entre os grandes países do mundo. É ainda pior que membros de outro órgão do poder executivo queiram opinar na mídia sobre os rumos de uma atividade que desconhecem e que não deveriam possuir ingerência.

Alertamos uma vez mais, esperando não sermos novamente ignorados: é imperioso que a ABIN seja gerida por Profissionais de Inteligência orgânicos.

Em outra categoria

A CEO de notícias da BBC, Deborah Turness, e o diretor-geral da emissora britânica, Tim Davie, renunciaram ao cargo neste domingo, 9. A saída acontece após o jornal The Telegraph mostrar que a BBC havia editado enganosamente um discurso do presidente dos EUA, Donald Trump, para dar a impressão de que ele havia incitado diretamente à violência nos atos de invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021. A fala distorcida de Trump foi exibida no programa Panorama de 3 de novembro de 2024, a uma semana das eleições presidenciais nos Estados Unidos.

Em sua rede social, a Truth Social, Donald Trump celebrou a demissão de quem chamou de "jornalistas corruptos". "Essas são pessoas muito desonestas que tentaram manipular as eleições presidenciais. Para piorar, vêm de um país estrangeiro, um que muitos consideram nosso principal aliado. Que terrível para a democracia!", postou.

A ministra britânica da Cultura, Lisa Nandy, havia classificado horas antes como "extremamente grave" a acusação contra a BBC por apresentar declarações de Trump de maneira enganosa.

"É um dia triste para a BBC. Tim foi um excelente diretor-geral durante os últimos cinco anos", afirmou o presidente da Corporação Britânica de Radiodifusão, Samir Shah, em comunicado. Ele acrescentou que Davie enfrentava "pressão constante (...) que o levou a tomar a decisão" de renunciar.

Colagem de trechos separados levou a versão distorcida do discurso

O caso, revelado na terça-feira, 4, baseia-se em um documentário exibido uma semana antes das eleições presidenciais dos EUA de 2024. A BBC é acusada de ter montado trechos separados de um discurso de Trump de 6 de janeiro de 2021 de forma que parece indicar que ele teria dito a seus apoiadores que marchariam com ele até o Capitólio para "lutar como demônios".

Na versão completa, o então presidente republicano - já derrotado nas urnas pelo democrata Joe Biden - diz: "Vamos marchar até o Capitólio e vamos incentivar nossos valentes senadores e representantes no Congresso."

A expressão "lutar como demônios" corresponde, na verdade, a outro momento do discurso.

Em carta enviada ao conselho da BBC e publicada no site, a CEO de notícias disse que a polêmica em torno do programa Panorama sobre o presidente Trump chegou a um ponto em que está prejudicando a BBC - uma instituição que ela adora.

Já Tim Davie, diretor-geral, disse que abdicou ao cargo após intensas exigências pessoais e profissionais de gerir o posto ao longo de muitos anos nestes "tempos turbulentos".

Um dia antes do início oficial da COP30 em Belém, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicou em sua rede social, a Truth Social, nesta domingo, 9, uma mensagem dizendo que a Amazônia foi destruída para a construção de uma estrada.

"Eles destruíram a floresta amazônica no Brasil para a construção de uma rodovia de quatro faixas para que ambientalistas pudessem viajar", escreveu Trump na mensagem, ressaltando que o caso "se tornou um grande escândalo".

Junto com a mensagem, Trump postou um vídeo de quatro minutos da Fox News, com uma reportagem do enviado da emissora a Belém para cobrir a COP30.

Na reportagem, o editor Marc Morano diz, com uma imagem de Belém ao fundo, que mais de 100 mil árvores foram cortadas na Amazônia para construir a estrada e mostrar como o "governo brasileiro está cuidando da floresta tropical".

Ainda na reportagem postada por Trump, o jornalista destaca que pela primeira vez não há uma delegação oficial dos Estados Unidos em uma conferência das Nações Unidas sobre o clima desde 1992. Mesmo países europeus estão deixando esses compromissos de lado, ressalta o jornalista.

A reportagem fala ainda da queda das vendas de carros elétricos e de demissões em fábricas nos Estados Unidos.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse há pouco que a BBC alterou seu discurso de 6 de janeiro de 2021, dia da invasão ao Capitólio, e celebrou a demissão de "pessoas muito desonestas que tentaram influenciar uma eleição presidencial".

"As principais pessoas da BBC, incluindo TIM DAVIE, o CHEFE, estão todas se demitindo/DEMITIDAS, porque foram pegas 'alterando' meu excelente (PERFEITO!) discurso de 6 de janeiro. Além de tudo, eles são de um país estrangeiro, que muitos consideram nosso Aliado Número Um. Que coisa terrível para a Democracia!", escreveu o republicano na Truth Social.

A CEO de notícias da BBC, Deborah Turness, e o diretor-geral da emissora britânica, Tim Davie, renunciaram ao cargo nesta trade. A saída acontece após o jornal The Telegraph mostrar que a BBC havia editado enganosamente um discurso de Trump para dar a impressão de que ele havia incitado diretamente à violência nos atos de invasão ao Capitólio.