STF retoma oitivas; Cid reafirma que Bolsonaro recebeu minuta do golpe

Política
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O tenente-coronel Mauro Cid afirmou nesta segunda-feira, 14, durante audiência no Supremo Tribunal Federal (STF), que o ex-assessor da Presidência Filipe Martins, a pedido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), fez alterações na minuta que previa medidas de exceção para reverter o resultado da eleição de 2022. Martins negou.

O Supremo começou a ouvir as testemunhas de defesa e de acusação dos núcleos 2, 3 e 4 da tentativa de golpe de Estado. As audiências, que vão até o dia 23, são realizadas por videoconferência.

Ex-ajudante de ordens da Presidência, Cid prestou depoimento na condição de informante por ter firmado acordo de colaboração premiada. De acordo com o tenente-coronel, Martins exibiu os "considerandos" do decreto golpista em reunião com Bolsonaro e os comandantes das Forças Armadas na biblioteca do Palácio da Alvorada, no fim de 2022.

Ao responder a questionamento do relator da trama golpista no STF, Alexandre de Moraes, o militar relatou que Martins se reuniu com Bolsonaro depois da eleição de 2022 e saiu do encontro com o decreto golpista "rabiscado". Os rabiscos seriam as mudanças pedidas pelo ex-presidente.

"Foi quando ele (Martins) pegou o computador para fazer as modificações sugeridas pelo presidente", declarou. "O documento em si, propriamente dito, era composto de prisão de autoridades, decretação de novas eleições e medidas relacionadas a ações em torno disso aí", prosseguiu Cid. O tenente-coronel já havia mencionado esses encontros do ex-assessor com o ex-presidente em outros depoimentos.

Ex-comandante

O advogado de Martins, Jeffrey Chiquini, confrontou Cid com o depoimento do ex-comandante do Exército, o general Marco Antônio Freire Gomes, que disse não se lembrar da presença do ex-assessor nas reuniões. Cid disse que tanto Martins quanto Freire Gomes estiveram em alguns desses encontros.

Cid também foi questionado sobre a atuação de outros réus da trama golpista, como o general da reserva Mario Fernandes. Segundo o tenente-coronel, o militar que comandou as Forças Especiais do Exército, os chamados "kids pretos", estava "bem ostensivo e acintoso" depois da derrota de Bolsonaro na eleição.

"Ele (Mario Fernandes) procurava o presidente, estava sempre com uma visão mais, digamos assim, radical das ações", declarou o ex-ajudante de ordens da Presidência.

Atritos

Durante a audiência, Moraes teve uma série de atritos com o advogado Jeffrey Chiquini. O magistrado chegou a dizer para o representante de Martins se calar e parar de fazer "teatrinho". Logo no início, Moraes criticou a abordagem de Chiquini ao questionar Cid. "Se o senhor deseja denunciar alguém, deveria ter prestado concurso para o Ministério Público", disse.

O ministro ainda indeferiu uma das perguntas feitas pela defesa de Martins por considerá-la "impertinente". O advogado tinha questionado Cid se ele desejava um golpe de Estado depois da eleição de 2022.

Suspensão

A defesa de Martins, por meio de um mandado de segurança, pediu que sejam suspensas as investigações sobre a trama golpista. O ministro André Mendonça deve negar a solicitação. Chiquini alega que Moraes teria cerceado a defesa por ter vetado depoimentos de testemunhas indicadas por Martins - entre elas, Eduardo e Carlos Bolsonaro.

O mandado foi sorteado para a relatoria de Mendonça, que foi indicado para o STF por Bolsonaro. No X, Chiquini comemorou. "Podemos ter a primeira vitória contra a farsa da 'trama golpista", escreveu. A interlocutores, porém, o ministro ponderou que deve negar o pedido por questões processuais, sem examinar o mérito. Isso porque o instrumento usado pela defesa não estaria correto.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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A CEO de notícias da BBC, Deborah Turness, e o diretor-geral da emissora britânica, Tim Davie, renunciaram ao cargo neste domingo, 9. A saída acontece após o jornal The Telegraph mostrar que a BBC havia editado enganosamente um discurso do presidente dos EUA, Donald Trump, para dar a impressão de que ele havia incitado diretamente à violência nos atos de invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021. A fala distorcida de Trump foi exibida no programa Panorama de 3 de novembro de 2024, a uma semana das eleições presidenciais nos Estados Unidos.

Em sua rede social, a Truth Social, Donald Trump celebrou a demissão de quem chamou de "jornalistas corruptos". "Essas são pessoas muito desonestas que tentaram manipular as eleições presidenciais. Para piorar, vêm de um país estrangeiro, um que muitos consideram nosso principal aliado. Que terrível para a democracia!", postou.

A ministra britânica da Cultura, Lisa Nandy, havia classificado horas antes como "extremamente grave" a acusação contra a BBC por apresentar declarações de Trump de maneira enganosa.

"É um dia triste para a BBC. Tim foi um excelente diretor-geral durante os últimos cinco anos", afirmou o presidente da Corporação Britânica de Radiodifusão, Samir Shah, em comunicado. Ele acrescentou que Davie enfrentava "pressão constante (...) que o levou a tomar a decisão" de renunciar.

Colagem de trechos separados levou a versão distorcida do discurso

O caso, revelado na terça-feira, 4, baseia-se em um documentário exibido uma semana antes das eleições presidenciais dos EUA de 2024. A BBC é acusada de ter montado trechos separados de um discurso de Trump de 6 de janeiro de 2021 de forma que parece indicar que ele teria dito a seus apoiadores que marchariam com ele até o Capitólio para "lutar como demônios".

Na versão completa, o então presidente republicano - já derrotado nas urnas pelo democrata Joe Biden - diz: "Vamos marchar até o Capitólio e vamos incentivar nossos valentes senadores e representantes no Congresso."

A expressão "lutar como demônios" corresponde, na verdade, a outro momento do discurso.

Em carta enviada ao conselho da BBC e publicada no site, a CEO de notícias disse que a polêmica em torno do programa Panorama sobre o presidente Trump chegou a um ponto em que está prejudicando a BBC - uma instituição que ela adora.

Já Tim Davie, diretor-geral, disse que abdicou ao cargo após intensas exigências pessoais e profissionais de gerir o posto ao longo de muitos anos nestes "tempos turbulentos".

Um dia antes do início oficial da COP30 em Belém, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicou em sua rede social, a Truth Social, nesta domingo, 9, uma mensagem dizendo que a Amazônia foi destruída para a construção de uma estrada.

"Eles destruíram a floresta amazônica no Brasil para a construção de uma rodovia de quatro faixas para que ambientalistas pudessem viajar", escreveu Trump na mensagem, ressaltando que o caso "se tornou um grande escândalo".

Junto com a mensagem, Trump postou um vídeo de quatro minutos da Fox News, com uma reportagem do enviado da emissora a Belém para cobrir a COP30.

Na reportagem, o editor Marc Morano diz, com uma imagem de Belém ao fundo, que mais de 100 mil árvores foram cortadas na Amazônia para construir a estrada e mostrar como o "governo brasileiro está cuidando da floresta tropical".

Ainda na reportagem postada por Trump, o jornalista destaca que pela primeira vez não há uma delegação oficial dos Estados Unidos em uma conferência das Nações Unidas sobre o clima desde 1992. Mesmo países europeus estão deixando esses compromissos de lado, ressalta o jornalista.

A reportagem fala ainda da queda das vendas de carros elétricos e de demissões em fábricas nos Estados Unidos.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse há pouco que a BBC alterou seu discurso de 6 de janeiro de 2021, dia da invasão ao Capitólio, e celebrou a demissão de "pessoas muito desonestas que tentaram influenciar uma eleição presidencial".

"As principais pessoas da BBC, incluindo TIM DAVIE, o CHEFE, estão todas se demitindo/DEMITIDAS, porque foram pegas 'alterando' meu excelente (PERFEITO!) discurso de 6 de janeiro. Além de tudo, eles são de um país estrangeiro, que muitos consideram nosso Aliado Número Um. Que coisa terrível para a Democracia!", escreveu o republicano na Truth Social.

A CEO de notícias da BBC, Deborah Turness, e o diretor-geral da emissora britânica, Tim Davie, renunciaram ao cargo nesta trade. A saída acontece após o jornal The Telegraph mostrar que a BBC havia editado enganosamente um discurso de Trump para dar a impressão de que ele havia incitado diretamente à violência nos atos de invasão ao Capitólio.