Criminalistas: tentativa de burlar proibição do STF justifica prisão de Bolsonaro

Política
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A prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro foi resultado direto do descumprimento de vedações impostas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, especialmente a proibição do uso direto ou indireto das redes sociais, avaliam criminalistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast.

A defesa de Bolsonaro afirmou ter sido surpreendida pela medida, negou que ele tenha descumprido a medida cautelar e afirmou que irá recorrer da decisão para reverter a prisão domiciliar.

O professor Davi Tangerino, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), afirma que Moraes agiu dentro da coerência esperada a partir da medida cautelar estabelecida pelo ministro. A reincidência de Bolsonaro, inclusive após advertência expressa de Moraes, acabou obrigando o ministro a reagir para preservar a autoridade do Supremo Tribunal Federal (STF).

"A partir do momento em que Bolsonaro reincide, mesmo após ser advertido na decisão anterior, Moraes não tinha outra alternativa. Era uma questão de preservar a legitimidade do Supremo."

No final do mês passado, Moraes proibiu Bolsonaro de utilizar as redes sociais, mesmo por intermédio de terceiros. O ex-presidente descumpriu a medida no dia 21 de julho, quando entrevistas concedidas por ele foram reproduzidas por perfis nas plataformas. Na ocasião, Moraes optou por não decretar a prisão por considerar que o descumprimento foi pontual, mas alertou o ex-presidente que isso não deveria se repetir.

No domingo, 3, o ex-presidente participou por meio de ligação e de chamada de vídeo dos atos contra Moraes e o STF no Rio de Janeiro e em São Paulo. No Rio, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ligou para o pai, que saudou os manifestantes. Na capital paulista, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) transmitiu a imagem de Bolsonaro ao vivo no telão, mas o ex-presidente ficou em silêncio e não se dirigiu aos manifestantes.

Ao decretar a prisão domiciliar, nesta segunda-feira, 4, Moraes afirmou que o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) e o próprio Flávio Bolsonaro replicaram a participação do pai em seus perfis nas redes sociais. O senador, que havia publicado o vídeo com a fala de Bolsonaro em Copacabana, apagou a publicação posteriormente. Carlos publicou uma foto de Bolsonaro à beira da piscina durante a chamada.

Para Marcelo Crespo, coordenador do curso de Direito da ESPM-SP, a decisão de Moraes reafirma a gravidade do descumprimento das medidas cautelares impostas a Bolsonaro, sobretudo a proibição de uso direto ou indireto das redes sociais.

Segundo ele, o ministro entendeu que houve uma tentativa deliberada de burlar a ordem judicial por meio da atuação coordenada de aliados para divulgar falas e discursos que afrontam a Corte e fomentam a desinformação.

O jurista e ex-desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, Walter Maierovitch considera que a decisão foi tecnicamente acertada e o que ocorreu no domingo são fatos que justificam a adoção de uma medida mais pesada.

Para o jurista, havia margem para ordenar que Bolsonaro ficasse preso atrás das grades, mas ele avalia que Moraes não quis "pular degraus". Maierovitch considera ainda que Flávio Bolsonaro, ao apagar a publicação, confessou de certa forma que a medida cautelar foi descumprida. "Tem uma regra jurídica: ninguém se escusa por violação de um direito. Há uma lógica jurídica na decisão e, dentro dela, até um filho deu um tiro no pé do pai", concluiu.

O criminalista e professor de direito penal da PUC-RJ, Aury Lopes Jr. avalia que Moraes seguiu corretamente o que prevê a legislação e adotou uma resposta gradual, intensificando o controle sobre Bolsonaro sem recorrer de imediato à prisão preventiva.

Ele aponta que o aspecto mais sensível da decisão está na interpretação da cláusula que proíbe o uso de redes sociais, inclusive por terceiros, norma que classifica como passível de divergência jurídica legítima.

Para Aury, há uma discussão valorativa sobre se o conteúdo veiculado por familiares do ex-presidente pode ser atribuído diretamente a ele. Ainda assim, reconhece que, ao tensionar os limites da decisão judicial, Bolsonaro deu margem à interpretação de que houve violação das regras, sobretudo após já ter sido advertido anteriormente.

"Agora a defesa tentará levar a decisão para a Primeira Turma, na tentativa de reverter a medida", completa.

O criminalista Welington Arruda considera que a decisão de Moraes foi acertada e bem fundamentada, mas aponta que a única brecha para contestação da defesa está no fato de que a prisão preventiva, ainda que domiciliar, pode ser interpretada como uma antecipação da pena antes do trânsito em julgado.

Desde o dia 18 de julho, Bolsonaro cumpria quatro medidas cautelares determinadas pelo STF. Ele não podia sair de Brasília, era obrigado a usar tornozeleira eletrônica e a permanecer em casa das 19h às 6h nos dias úteis, além de ficar em recolhimento integral nos fins de semana e feriados. Também estava proibido de se aproximar de embaixadas, manter contato com autoridades estrangeiras ou outros investigados e usar redes sociais, seja diretamente ou por meio de terceiros.

Com a prisão domiciliar, todas essas restrições seguem valendo, mas as regras ficam ainda mais duras.

"Bolsonaro não pode se ausentar de casa para nada. É uma prisão na própria residência. E se descumprir, vai para o cárcere mesmo. O ministro ainda impôs outras medidas como proibição de uso de celular, redes sociais e outras visitas que não de seus advogados, com expressa proibição de contato com embaixadores e autoridades estrangeiras. Ou seja, é uma prisão domiciliar mais restrita que o trivial", explica Maíra Salomi, advogada criminalista.

Segundo ela, chama atenção o fato de que não há fundamento expresso para a decretação da domiciliar, já que o descumprimento de medidas alternativas à prisão gera prisão preventiva, e não domiciliar.

"A domiciliar tem previsão específica para idosos com mais de 80 anos, gestantes, doentes graves e responsáveis por crianças pequenas. A decisão nada fala sobre isso", afirma Maíra, que também é vice-presidente da Comissão de Direito Penal do Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP).

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As tensões entre China e Japão voltaram a aumentar após declarações da primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi, que classificou um eventual ataque chinês a Taiwan como uma "situação de crise existencial" para o Japão, o que poderia justificar o uso de força. A fala de sexta-feira no Parlamento foi interpretada como um desvio da linha tradicional de Tóquio e levou Pequim a apresentar uma "séria representação diplomática".

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês Lin Jian afirmou que Takaichi "fez declarações errôneas sobre Taiwan, insinuando a possibilidade de intervenção militar no Estreito de Taiwan". Segundo ele, as palavras da líder japonesa "constituem uma grosseira interferência nos assuntos internos da China" e "violam gravemente o princípio de Uma Só China e os compromissos políticos assumidos por Tóquio". Lin questionou ainda: "O Japão está tentando desafiar os interesses centrais da China e obstruir a grande causa da reunificação nacional?".

A tensão aumentou após o cônsul-geral chinês em Osaka, Xue Jian, publicar - e depois apagar - uma mensagem no X. "Não temos escolha a não ser cortar aquele pescoço sujo que se lançou sobre nós. Estão prontos?", escreveu. O chefe de gabinete japonês, Minoru Kihara, classificou o comentário como "extremamente inapropriado" e informou que o governo "apresentou um forte protesto" a Pequim.

Lin reiterou que Taiwan é parte da China e que a questão da ilha é um assunto puramente interno, que não admite interferência externa. Ele também advertiu que as tentativas de Tóquio de se alinhar a políticos europeus e taiwaneses representam "um desafio à ordem internacional do pós-guerra" e "um grave dano às relações sino-japonesas".

"China será reunificada - e certamente será reunificada", disse Lin. "Exortamos o Japão a cessar imediatamente a interferência, parar de provocar e não seguir cada vez mais pelo caminho errado", concluiu o porta-voz.

*Com informações da Associated Press.

O governo de Donald Trump voltou à Suprema Corte nesta segunda-feira, 10, para tentar manter congelados os pagamentos integrais do programa federal de assistência alimentar (SNAP, na sigla em inglês) enquanto o governo dos Estados Unidos segue paralisado.

O pedido é o mais recente em uma série de disputas judiciais sobre como deve operar o programa que ajuda 42 milhões de americanos a comprar alimentos durante o shutdown. Cortes inferiores já haviam ordenado o repasse integral, e o procurador-geral D. John Sauer confirmou que o governo quer suspender essas decisões, embora tenha citado relatos de que o Congresso pode encerrar o impasse com um acordo que inclua recursos para o SNAP.

Os Estados seguem em dúvida sobre se podem - ou devem - pagar o benefício integral. No fim de semana, o governo exigiu que revertessem pagamentos feitos após decisão que autorizou o repasse total e antes de uma suspensão temporária da Suprema Corte. "O governo cruzou os braços por quase um mês, enquanto pessoas que dependem do SNAP ficaram sem benefícios", criticou a juíza Julie Rikleman, da Corte de Apelações de Boston.

A Suprema Corte manteve até agora o congelamento e deve decidir nesta terça-feira se o estende. O Congresso também pode aprovar um pacote que reabasteça os fundos e reembolse os Estados que usaram recursos próprios.

Alguns alertam para "perturbações operacionais catastróficas" caso não sejam reembolsados, enquanto outros recorrem a fundos estaduais. "Os atrasos aprofundam o sofrimento de crianças, idosos e famílias trabalhadoras", disse Diane Yentel, do Conselho Nacional de Organizações Sem Fins Lucrativos.

O governo Trump alega que a ordem para pagar o benefício integral viola a Constituição por interferir nos poderes orçamentários dos outros ramos. Em Connecticut, o governador Ned Lamont prometeu não reter os valores já pagos: "Estamos do lado das famílias que dependem deles para comer." Fonte: Associated Press

*Conteúdo traduzido com auxílio de Inteligência Artificial, revisado e editado pela Redação do Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, usou nesta segunda-feira, 10, sua conta na Truth Social para exigir que todos os controladores de tráfego aéreo voltem ao trabalho imediatamente, em meio ao shutdown do governo federal. Na publicação, Trump ameaçou punir os servidores que permanecerem afastados, afirmando que "qualquer um que não o fizer terá o salário substancialmente reduzido (docked, no termo em inglês)".

Ele também prometeu recompensar aqueles que continuaram trabalhando durante o que chamou de "paralisação democrata". Segundo ele, os controladores que foram "GRANDES PATRIOTAS e não tiraram NENHUM DIA DE FOLGA" receberão um bônus de US$ 10 mil.

Trump criticou ainda os funcionários que aderiram à paralisação. "Não estou FELIZ com vocês", escreveu. "Vocês não ajudaram os EUA contra o FALSO ATAQUE DEMOCRATA que só quis ferir nosso país."

Ele acrescentou que esses trabalhadores terão "uma marca negativa" em seus registros e que, caso queiram deixar o serviço, "não hesitem em fazê-lo, sem pagamento ou indenização de qualquer tipo".

O presidente dos EUA concluiu exaltando os que permaneceram em serviço: "Deus abençoe vocês - não conseguirei enviar seu dinheiro rápido o suficiente!", e ordenou: "A todos os outros, APRESENTEM-SE AO TRABALHO IMEDIATAMENTE."

O comentário de Trump ocorre em meio a uma crise crescente no setor aéreo dos Estados Unidos. A Administração Federal de Aviação (FAA, na sigla em inglês) reduziu o número de voos após parte dos controladores, sem salário há semanas, deixar de comparecer ao trabalho.

Segundo o Departamento de Transporte, os cortes devem chegar a 10% dos voos nos principais aeroportos até o fim da semana, e só serão revertidos quando as métricas de segurança melhorarem.