Como Messias posicionou a AGU em temas sensíveis que estão em debate no STF

Política
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O ministro Jorge Messias chefiou a Advocacia-Geral da União (AGU) por quase três anos e durante este período como uma de suas principais atribuições manifestar o posicionamento do governo federal em processos de repercussão nacional em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), onde agora almeja atuar como magistrado.

Dentre os casos em que Messias atuou em nome da União, constam ações encerradas, a exemplo do julgamento do marco civil da internet, e outras que ainda tramitam e que podem, inclusive, contar com o seu voto, como é o caso da proposta de conciliação sobre o marco temporal para demarcação das terras indígenas.

Messias oscilou entre posicionamentos firmes, sem margem para modulações, e propostas intermediárias, que acomodavam o desejo do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o polos adversários representados por atores poderosos, como as plataformas de delivery, a bancada evangélica ou o agronegócio.

Responsabilização das big techs

Em junho deste ano, o STF julgou parcialmente inconstitucional o artigo 19 do Marco Civil da Internet, que estabelecia que as plataformas digitais só poderiam ser responsabilizadas após descumprirem ordem judicial de remoção. Com essa decisão, a Corte ampliou a responsabilidade das plataformas digitais por conteúdos ilegais publicados por usuários.

Messias atuou no caso e realizou sustentação oral em defesa da derrubada total do artigo, posição esta ainda mais radical do que a decida pelo STF, que invalidou apenas partes do texto.

"Estamos falando de um ambiente de infodemia que tomou conta do nosso País com um ecossistema de desinformação", afirmou durante o julgamento. "Neste contexto, o fato é que a imunidade trazida pelo artigo 19 do Marco Civil da Internet tem sido utilizada pelas plataformas digitais para uma conduta absolutamente omissa e que tem levado a um déficit da nossa qualidade democrática", completou.

O ministro da AGU ainda defendeu que os usuários das redes sociais estão em situação de "hipossuficiência" na relação com as plataformas e, por isso, merecem proteção.

Existência de vínculo trabalhista entre motoristas e plataformas

Messias propôs a compatibilização de balizas mínimas de proteções aos trabalhadores em aplicativos de transporte e a autonomia das empresas em estabelecer o seu modelo de trabalho.

O posicionamento reconheceu, portanto, que não há vínculo entre os motoristas e as plataformas, como Uber e 99taxi, mas que seria preciso instituir "proteção jurídica e social" a esses trabalhadores. A decisão da AGU na justiça contraria setores da esquerda e grupos de motoristas e entregadores que cobravam o reconhecimento de vínculo trabalhista.

"Embora a relação entre plataformas digitais e motoristas não corresponda aos modelos convencionais de empregado e empregador, isso não significa, de maneira alguma, que tais trabalhadores devem ficar desassistidos de qualquer proteção jurídica ou seguro social", afirmou Messias.

"Defendemos, portanto, autonomia com proteção de direitos. É necessária a garantia de proteção contratual e social aos prestadores de serviço por aplicativos", completou.

O ministro propôs como tese de julgamento no STF as mesmas medidas que o governo Lula tem estudado para regular as relações trabalhistas entre motoristas e plataforma: regulação de tarifa e remuneração; imposição às empresas de contribuições previdenciárias; criação de um piso remuneratório reajustado com base, preferencialmente, na política nacional de reajuste do salário mínimo; limitação de horas de conexão na plataforma por dia; dentre outros benefícios.

Marco temporal

Messias não se posicionou oficialmente sobre o marco temporal para demarcação das terras indígenas - tema que antagoniza o governo Lula e largos setores do Congresso por fixar a data de promulgação da Constituição Federal como data limite para reconhecimento de territórios pertencentes aos povos indígenas.

Quando o STF retomou o julgamento do caso em setembro de 2023 para decidir que a tese é inconstitucional, a AGU e outras instituições já haviam realizado as suas sustentações orais. Porém, Messias apresentou recurso para esclarecer pontos da decisão e atuou ativamente na fase de conciliação iniciada após o julgamento pelo ministro Gilmar Mendes para tentar atender demandas de ruralistas e do Centrão insatisfeitos com a decisão.

O chefe da AGU afirmou, por exemplo, que o marco temporal é uma questão "inconciliável", mas que a União reconhecia a possibilidade de negociar dispositivos relacionados aos aspectos patrimoniais. A pasta também foi responsável por instruir o presidente Lula a vetar parcialmente a lei aprovada pelo Congresso em resposta ao STF que restabelecia a tese de um prazo para demarcação das terras indígenas.

Messias apresentou à mesa de negociação no STF um plano de regularização de terras indígenas que estão em disputa judicial e propôs pagar as indenizações, por meio de precatórios a pessoas que ocupam territórios reivindicados pelos povos originários.

Aborto e descriminalização da maconha

Messias não apresentou posicionamento oficial nos processos envolvendo a descriminalização do aborto e do porte de maconha no País, mas defendeu formas de abordar as questões que demonstram como ele pode se portar nesses temas no STF.

Em relação ao aborto, o ministro foi contra a resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) que proibiu médicos de realizarem a chamada assistolia fetal nos casos de aborto legal em mulheres que sofreram estupro e estão com gestação acima de 22 semanas. A assistolia fetal é uma técnica médica recomendada pelo Ministério da Saúde e internacionalmente que utiliza medicações para interromper a gravidez antes da retirada do feto do útero.

O ministro defendeu que a regulamentação do procedimento para realização do aborto nas situações permitidas por lei só pode ser feita pelo Congresso. Apesar do posicionamento, Messias está impedido de votar no processo sobre a descriminalização do aborto, pois o seu antecessor, Luís Roberto Borroso, já apresentou voto.

No entanto, ele vai assumir uma ação no qual quatro entidades da sociedade civil pedem ao Supremo que determine a adoção de providências para garantir o aborto em hipóteses permitidas pelo Código Penal e no caso de gestação de anencéfalos.

Já em relação à maconha, a AGU não expressou a sua posição. A única atuação da pasta no tema foi em outubro deste ano ao pedir ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) a prorrogação em 180 dias do prazo para a publicação do ato normativo que vai regulamentar o acesso aos fármacos derivados de cannabis para fins medicinais e científicos.

Letalidade policial e ADPF das Favelas

Assim como no caso do aborto, Messias não firmou posição sobre a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamento (ADPF) das Favelas que tramita no STF e temas correlatos sobre letalidade policial e violações de direitos humanos em operações da Polícia nas periferias. O ministro assumirá a relatoria da ADPF, que está provisoriamente sob responsabilidade de Alexandre de Moraes.

A despeito da falta de posicionamento em processos em tramitação no STF, Messias já deu demonstrações de como pensa o tema da violência e letalidade policial. Em março de 2024, o ministro criticou publicamente propostas apresentadas por governadores de direita que defendiam o endurecimento da legislação penal.

"Populismo penal, à semelhança do que se observou em tempos bíblicos, mata inocentes, mas não reduz a criminalidade. A violência deve ser combatida por uma política de segurança eficiente, com uma polícia equipada, organizada e valorizada", publicou no X.

Messias se manifestou contra o pedido do governo do Rio de Janeiro para que o Ministério da Defesa enviasse blindados para apoiar a Polícia em operações. O ministro disse ser necessário um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

Em outra categoria

Em coletiva, a alta representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Kaja Kallas, afirmou que, se a Rússia realmente estivesse interessada em acabar com o conflito com a Ucrânia, o país teria aceitado o cessar-fogo incondicional que já estava em andamento.

Kallas avaliou os ataques russos de quarta-feira, 19, que mataram 26 civis ucranianos, como brutal. Na sua visão, a Rússia nunca se comprometeu de verdade com a paz e por isso, a pressão dos demais países devem ser focadas no agressor, e não na vítima.

Diante desse cenário, ela destaca que as sanções contra a Rússia são importantes. Um exemplo desse efeito está no comércio entre as nações, uma vez que a exportação do petróleo russo foi a mais baixa dos últimos meses.

As sanções são também, segundo Kallas, uma forma de responder ao terrorismo de estado praticado pela Rússia. Além disso, essa é uma forma de mostrar ao país que "o tempo não está ao seu lado" e que "apoiar a Ucrânia é uma barganha comparado ao custo da vitória russa".

Kallas chamou a atenção também para o conflito em Gaza e disse que a paz depende de parceiros internacionais. Segundo ela, ministros discutem opções de expansão de monitoramento nas fronteiras e o treinamento da polícia palestina.

O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, minimizou os efeitos econômicos do recente shutdown parcial recorde do governo, embora admita algum impacto. Segundo ele, a paralisação não ajudou e "pôs um pouco o pé no freio em todas as ótimas notícias econômicas", mas vai causar um pouco de risco que, "no fim, será algo muito, muito pequeno".

Em evento organizado pelo Breitbart em Washington nesta quinta-feira, Vance comemorou o relatório de empregos (payroll) divulgado nesta manhã, que, segundo ele, "mostra que as políticas econômicas de Trump estão funcionando", com criação de 119 mil vagas em setembro, acima do esperado por analistas. A taxa de desemprego, no entanto, subiu para 4,4% no comparativo mensal.

Vance afirmou que os salários continuam a crescer "muito acima da inflação" e disse que, sob o ex-presidente Joe Biden, o trabalhador médio "perdeu cerca de US$ 3 mil" em renda, enquanto o novo governo já teria elevado o ganho anual em US$ 1,2 mil.

O vice-presidente destacou ainda que a geração de vagas tem beneficiado "cidadãos americanos natos", ao contrário do que atribuiu ao governo anterior, quando, segundo ele, quase todo o crescimento líquido do emprego foi para estrangeiros, inclusive imigrantes em situação irregular.

O aliado de Donald Trump pediu "um pouco de paciência" aos eleitores que ainda sentem o custo de vida alto e argumentou que levará tempo para reverter o que chamou de "danos" provocados pela gestão Biden, citando excesso de regulação, impostos e dependência de trabalhadores e cadeias produtivas no exterior.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, foi questionado sobre qual seria a mensagem que ele gostaria de deixar ao presidente dos Estados Unidos, país sem delegação na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30). Ele apenas respondeu: "Estamos esperando por você".

Guterres também disse não ser o momento de falar sobre eventual derrota na COP30, ao ser questionado sobre travas no avanço das negociações. Outra mensagem dele, em coletiva de imprensa, foi reforçar ser essencial a apresentação das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) pelos países que ainda não anunciaram suas novas metas.

Até a última atualização eram 118 NDCs entregues. Atualmente, 198 países participam da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) , o que faz dela um dos maiores órgãos multilaterais do sistema das Nações Unidas (ONU).

Em outro tema, o secretário-geral das Nações Unidas reforçou há pouco que o afastamento dos combustíveis fósseis é uma "necessidade", repetindo a linguagem multilateralmente estabelecida sobre o processo de transição energética. Ele expressou também apoio a definição de como se dará esse processo:

"Saúdo os pedidos por um mecanismo de transição justa e a crescente coligação pedindo clareza sobre a transição para longe dos combustíveis fósseis. E exorto os países a garantirem que o resultado de Belém operacionalize uma transição justa que esteja alinhada com um mundo com aquecimento limitado a 1,5 graus", declarou.

A fala está alinhada ao posicionamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na Cúpula dos Líderes, que antecedeu a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), Lula defendeu a superação da dependência dos combustíveis fósseis e, desde então, foi especulado nos corredores um possível "plano de Lula" para tal objetivo.

Na COP28, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, foi fechado acordo que propôs pela primeira vez a "transição em direção ao fim dos combustíveis fósseis". O "como fazer" ou a definição do "mapa do caminho" é o que ainda está pendente. O tema divide as delegações e, se houver avanço, será considerado uma das vitórias da Conferência em Belém (PA).

Assim como para um caminho concreto para transição para longe dos fósseis, Guterres destacou que é necessário um "caminho crível para realizar a meta financeira de Baku". Ele se refere à necessidade de investimento de US$ 1,3 trilhão em soluções para as mudanças climáticas, definida na COP29 na capital do Azerbaijão.

"Todos países desenvolvidos mobilizando pelo menos US$ 300 bilhões por ano até 2035 e traçando uma rota para alcançarmos o US$ 1,3 trilhão por ano até 2035", afirmou Guterres.