Dízimo alimenta lobby por reabertura de templos

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Com a decisão liminar que permitia a abertura de templos ainda em vigor, o pastor Valdemiro Santiago convocou seus fiéis para um culto presencial, no domingo de Páscoa, prometendo "um tempo poderoso de milagres e salvação" na pandemia de covid-19. Em São Paulo, a imponente sede da Igreja Mundial do Poder de Deus, que abriga até 10 mil pessoas, encheu. Ao final de mais de duas horas de sermões e testemunhos, Valdemiro pediu doações.

"Queria dizer que estamos dando um duro danado para pagar aluguéis, funcionários, fornecedores. Está tão difícil para todo mundo...", implorou o pastor. Dentro da igreja, números das contas bancárias foram projetados em telões. Valdemiro, no entanto, se concentrou no método tradicional, e seus colaboradores passaram a percorrer o templo com envelopes, alforges - sacolas de pano - e gazofilácios - pequenas urnas de madeira. "Você vai colocar uma oferta generosa, com muita alegria. Vai colocar e dar um beijinho: 'Essa é para o Senhor Jesus'", orientou.

Na última quinta-feira, porém, o plenário do Supremo Tribunal Federal derrubou a liminar que havia sido concedida pelo ministro Kassio Nunes Marques. Ao afastar os fiéis das celebrações presenciais, o coronavírus reduziu a arrecadação de instituições evangélicas e católicas.

O presidente Jair Bolsonaro ajudou na pressão sobre a Corte. "Supremo fechar igrejas é o absurdo do absurdo", insistiu ele. Na prática, a limitação das receitas é um dos panos de fundo do lobby religioso para que templos não sejam fechados no pior momento da covid-19.

Apoiar organizações religiosas é a causa mais popular de doações no Brasil, segundo a pesquisa Brasil Giving Report 2020, realizada antes da pandemia pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS). Na rotina das igrejas, depósitos em espécie feitos durante as celebrações são importante modalidade de arrecadação, principalmente nos templos frequentados por pessoas mais pobres. O impacto é acentuado pela crise econômica, que aumentou o desemprego e diminuiu a renda.

Contribuições de fiéis de todas as denominações religiosas levam cerca de R$ 15 bilhões para dentro das instituições. O valor equivale a 65% de tudo o que as entidades arrecadam, de acordo com os mais recentes dados da Receita Federal, de 2018. Líderes religiosos admitem encolhimento de 5% a 40% nas receitas.

O pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, confirmou a redução nas ofertas, mas disse que é mínima, não justificando sua defesa pela abertura de templos. "O mundo mudou. Para ter uma ideia, 80% de tudo o que recebo de oferta e dízimo é por dispositivos eletrônicos. A queda na arrecadação é ínfima. A prova é que, do ano passado até aqui, eu inaugurei 20 igrejas", destacou.

A doação online não é a mais comum no Brasil. O estudo do IDIS indica que a contribuição em dinheiro é a opção de 65% dos fiéis. Transferências bancárias e pagamento via cartão de crédito são escolhidos por 23%. Boletos, por 7%.

Interlocutor de Malafaia na Câmara, o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) disse que sua igreja não amarga mais do que 10% de redução. "A maioria das igrejas de capitais teve alguma diminuição da receita, coisa de 5% ou 10%. Não conheço uma que tenha despencado 50%", afirmou. "Dizem que a gente quer a presença física das pessoas por causa financeira. Não faz sentido. Isso é preconceito contra o segmento evangélico. Nos veem como gente atrás de dinheiro."

Deputado estreante, o pastor e sargento aposentado Isidório (Avante-BA), da Assembleia de Deus, diz ter ouvido dos pares queixas sobre a baixa arrecadação, por causa da redução de até 60% nas presenças. "A igreja é o hospital da alma", comparou Isidório, que perambula pela Câmara sempre levando uma Bíblia.

Presidente da Frente Parlamentar Evangélica, o deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP) minimizou a questão dos recursos: "O prejuízo maior é para o próprio fiel, que tem seu direito fundamental de aconselhamento espiritual atingido, suas liberdades de culto e liturgia embaraçadas. As igrejas querem cultuar Deus, interceder pelo País neste momento de crise. O financeiro vem depois".

Nos Estados Unidos, o encolhimento já foi constatado em pesquisa. Levantamento da Lifeway Research, consultoria voltada para igrejas, apontou que, em 60% dos templos, as doações caíram 25%. Em outros 30%, a redução superou os 50%. O estudo ouviu 400 pastores protestantes na fase inicial da pandemia.

"A maneira de minimizar isso é por doações remotas, mas, evidentemente, a perda é maior do que a capacidade de doação por esses mecanismos", disse André Miceli, coordenador do MBA de marketing e negócios digitais da FGV. "Por mais que haja prática remota, híbrida, e as igrejas estejam se reinventando, não conseguimos ver uma transferência na mesma proporção."

Discurso

Para o pastor Ricardo Gondim, da Igreja Betesda - dissidência da Assembleia de Deus -, o interesse de alguns líderes religiosos em abrir templos na pior fase da pandemia vai além do aspecto arrecadatório. "Deve-se levar em conta não apenas o esforço de pagar as contas, mas a necessidade de manter o discurso", afirmou. "Por anos, neopentecostais prometeram uma espécie de proteção contra outros males que nos acossam e agora, mais do que nunca, precisam continuar a dizer que quem frequentar aquela determinada igreja ficará imune ao coronavírus."

Para Gondim, a sobrevivência institucional das igrejas deve ficar abaixo da salvação de vidas. Mas ele alerta que os prejuízos são imensos: "Não se deve medir o movimento evangélico por igrejas ricas, que estão na TV e já diversificaram suas rendas. Os pastores de igrejas em garagens, galpões e que nem conhecem a internet se encontram em uma situação de extrema fragilidade".

Com mais de 20 mil templos, a Igreja Pentecostal Deus é Amor agiu para que templos menores não fechassem. A cúpula da instituição emitiu comunicado aos pastores informando que arcaria com várias despesas. A sede da igreja no Distrito Federal fica em Taguatinga. Líder da congregação, o pastor Gumercindo do Prado estima queda de 35% a 40% nas receitas, enquanto crescem demandas por cestas básicas.

Quando eram permitidos cultos presenciais, a igreja exigia a limpeza dos sapatos, álcool em gel e aferição da temperatura na entrada. Em maio passado, sua capacidade foi reduzida de 600 para 115 pessoas. "Estamos cientes do perigo que corremos, com tanta gente morrendo. De forma alguma concordaria em ter igreja cheia, sem distanciamento", afirmou o pastor Gumercindo.

Aparecida 'quebra' com ausência de peregrinos

Sem os turistas católicos, o mercado da fé entrou em ruína e o impacto da pandemia de coronavírus na arrecadação quebrou uma cidade. Aparecida, município de 36 mil habitantes localizado a 170 km de São Paulo, vive da peregrinação de fiéis ao Santuário Nacional. Ali, a receita e os postos de trabalho são atrelados à rotina do templo construído em homenagem à santa surgida no Rio Paraíba do Sul, no século 18.

Em tempos normais, o Santuário atrai 13 milhões de pessoas por ano. Em 2020, no entanto, permaneceu sete meses fechado. Agora, na fase mais dura da covid-19, uma série de restrições de funcionamento voltou a ser imposta, conforme os critérios do plano emergencial do governo do Estado. A prefeitura foi à Justiça contra o decreto do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e ganhou uma liminar, mas perdeu em seguida.

Antes, eram 2,5 mil comerciantes e outros 600 vendedores ambulantes vivendo da devoção dos peregrinos e pagando licenças de funcionamento à prefeitura. Atualmente, só 5% dos 150 hotéis estão abertos. A maioria fechou e demitiu funcionários. De acordo com a administração municipal, o desemprego em Aparecida alcança a taxa de 80%.

Siqueira estima que, com a paralisação das atividades do Santuário, entre R$ 60 milhões e R$ 70 milhões deixaram de entrar nos cofres da prefeitura, que tem orçamento anual de aproximadamente R$ 140 milhões. No dia 29 de março, por exemplo, só 10% da cidade pagou o IPTU. A adimplência das taxas de alvarás de funcionamento, fonte de receita importante do município, nem sequer alcançou esse patamar.

"O pessoal fica falando que o Santuário tinha que ajudar. O povo sabe da minha ligação com o Santuário", afirmou o prefeito de Aparecida. "Eu estive outro dia com o reitor. E ele me disse: 'Também estamos sofrendo, não estamos tendo receita'."

Cestas básicas

No "desespero" e sem agenda marcada, Siqueira foi até Brasília apelar para o ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos). Conseguiu 7 mil cestas básicas. Ligado ao presidente do DEM, ACM Neto, Roma foi pessoalmente a Aparecida fazer a entrega, levando a tiracolo deputados e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

Em busca de imprimir uma marca à frente da pasta, o ministro Roma aproveitou para usar a cidade como palco para o lançamento do programa Brasil Fraterno. Trata-se de uma parceria entre o governo federal e o Sistema S que prevê a distribuição de alimentos para famílias em situação de vulnerabilidade social.

Assim como fez em São Paulo o pastor Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, o arcebispo de Aparecida, d. Orlando Brandes, abriu o Santuário na Páscoa com o respaldo da decisão liminar do ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal. No templo, que acomoda mais de 30 mil pessoas e tem área externa para outras 300 mil, 154 ocuparam seus lugares.

Com a decisão do plenário do STF que derrubou a liminar de Nunes Marques, porém, o Santuário voltou a suspender as missas presenciais. E o reflexo foi a queda na arrecadação.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Igreja Mundial do Poder de Deus não se manifestaram até a conclusão desta edição.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, não se desculpou pela discussão acalorada com o presidente dos EUA, Donald Trump, no Salão Oval, mas disse à Fox News em uma entrevista exclusiva que está confiante de que o relacionamento entre eles pode ser recuperado.

"São relações que vão além de dois presidentes. São relações históricas, relações fortes entre nossos povos. E é por isso que eu sempre comecei... a agradecer ao seu povo pelo nosso povo", disse Zelensky.

O líder ucraniano ainda afirmou que respeita Trump e o povo americano. "Acho que temos que ser muito abertos e honestos e não tenho certeza de que fizemos algo ruim. Acho que algumas coisas devem ser discutidas fora da mídia, com todo o respeito à democracia e à mídia livre".

Um bate-boca protagonizado na Casa Branca nesta sexta-feira, 28, entre o presidente americano Donald Trump e o ucraniano Volodmir Zelenski simbolizou o ápice de uma relação já estremecida há meses entre os dois mandatários. O desentendimento aconteceu durante um encontro que deveria formalizar um acordo para a exploração de terras raras na Ucrânia por Washington, mas que acabou com uma nota assinada pela presidência americana afirmando que Zelenski desrespeitou os Estados Unidos.

Desde a campanha eleitoral, Trump já deixava claro seu ceticismo em relação ao apoio dos Estados Unidos à Ucrânia. Ele frequentemente questionava os valores enviados pelo governo de Joe Biden em comparação com os da Europa e prometia resolver a guerra em "24 horas", embora nunca tenha detalhado como.

Mas ao assumir a presidência em 20 de janeiro, Trump endureceu ainda mais o discurso contra Zelenski. Em diferentes ocasiões, acusou o líder ucraniano de iniciar a guerra contra a Rússia, chamou-o de "ditador" e afirmou que Kiev deveria ser mais grata aos Estados Unidos. Veja abaixo o que Trump já falou sobre a guerra na Ucrânia desde que assumiu a presidência dos Estados Unidos.

Pressa pelo fim da guerra

Trump mencionou em diversas ocasiões que a guerra não teria começado sob sua presidência e que não permitiria que o conflito se arrastasse por mais tempo, enfatizando a necessidade de encerrar rapidamente a guerra.

Na época de campanha, Trump declarou: "Posso terminar essa guerra em 24 horas, basta que todos os envolvidos queiram negociar e eu estarei lá, oferecendo uma solução", embora nunca tenha detalhado exatamente como resolveria a situação em tão pouco tempo.

No encontro com o presidente francês Emmanuel Macron nesta semana, o republicano afirmou que o conflito poderia ser resolvido "em questão de semanas". Já durante a visita do primeiro-ministro britânico Keir Starmer, disse que a "guerra precisa acabar agora ou nunca."

Desejo por minerais críticos

Como parte da crença de que os EUA gastaram demais com a Ucrânia, o governo republicano criou uma proposta de acordo para explorar os minerais críticos e de terras raras do país europeu, como uma espécie de "compensação". Trump disse que estava tentando recuperar os bilhões de dólares enviados para apoiar a guerra.

"Estou tentando obter o dinheiro de volta, ou garantias", declarou Trump na Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), perto da capital americana. "Quero que eles nos deem algo por todo o dinheiro que colocamos. Estamos pedindo terras raras e petróleo, qualquer coisa que possamos conseguir", afirmou o republicano.

Uma primeira versão da proposta foi apresentada à Zelenski pelo vice-presidente J.D. Vance na Conferência de Segurança de Munique. O presidente ucraniano rejeitou a proposta com a justificativa de que ela era muito favorável a Washington e não dava garantias suficientes à Ucrânia. Ajustes foram feitos, com concessões à Ucrânia, e o texto seria assinado nesta sexta-feira, 28. Mas a discussão entre os líderes provocou o cancelamento do acordo.

Zelenski, o ditador

Um dos pontos de maior tensão até aqui foi uma postagem publicada por Trump em sua rede Truth Social, na qual chamou Zelenski de "ditador que usou o dinheiro dos Estados Unidos para ir à guerra". O motivo do post foi a Ucrânia ter negado a primeira versão do acordo sobre minerais.

"Zelenski é um ditador sem eleições, é melhor ele agir rápido ou ele não terá mais um país", disse Trump. "Um comediante de sucesso modesto, Zelenski convenceu os Estados Unidos a gastar US$ 350 bilhões de dólares para entrar em uma guerra que não poderia ser vencida", escreveu Trump, ignorando que as eleições ucranianas não foram realizadas ainda porque o país decretou lei marcial após o início da guerra.

Além disso, os Estados Unidos destinaram US$ 119 bilhões para ajudar a Ucrânia, de acordo com o Instituto Kiel, e não US$ 350 bilhões.

Trump ainda sugeriu que a segurança futura da Ucrânia não seria problema dos Estados Unidos. "Essa guerra é muito mais importante para a Europa do que para nós", escreveu Trump. "Temos um grande e belo oceano como separação."

Nesta semana, no Salão Oval, Trump negou ter chamado Zelenski de "ditador".

Abandono do 'sonho Otan'

Pelo fim da guerra, os ucranianos pedem garantias de segurança e a entrada do país Otan. Zelenski chegou a dizer que poderia deixar seu cargo em troca da entrada da Ucrânia na aliança militar. Mas Trump rechaçou os dois pedido na última quarta-feira, 26, afirmando cabe à Europa fornecer garantias de segurança à Ucrânia, e não aos EUA, e descartou a Otan.

"Não vou oferecer garantias de segurança que vão além do estritamente necessário", disse Trump em uma reunião de gabinete. "Vamos deixar que a Europa faça isso porque (...) a Europa é sua vizinha, mas vamos garantir que tudo saia bem."

"Podem esquecer a Otan", acrescentou Trump. "Acho que essa é provavelmente a razão pela qual tudo começou", acrescentou o presidente americano, repetindo mais uma vez a postura da Rússia sobre o que motivou o início da guerra.

Aposta na 3.ª Guerra

O magnata republicano prometeu no ano passado acabar com a guerra e afirmou que evitaria uma "Terceira Guerra Mundial", argumentando que a possibilidade de uma guerra mais ampla seria ainda maior sob um novo governo democrata.

Essa afirmação foi repetida diversas vezes. Na semana passada, em uma coletiva de imprensa na qual comentava a guerra na Ucrânia, Trump disse que a "Terceira Guerra Mundial não está tão longe", mas disse que sua presidência impediria tal desenvolvimento. Na discussão desta sexta-feira, Trump disse que Zelenski estava "apostando na terceira guerra mundial".

O presidente ucraniano viajou para Washington para assinar a resolução sobre extração de minerais na Ucrânia, mas o encontro com Trump terminou em bate-boca.

Depois da discussão, Trump divulgou uma nota na qual disse que Zelenski desrespeitou os EUA e por isso deixou a Casa Branca. "É incrível o que se revela por meio da emoção. Concluí que o presidente Zelenski não está pronto para a paz se os Estados Unidos estiverem envolvidos, porque ele acha que nosso envolvimento lhe dá uma grande vantagem nas negociações". diz o comunicado. "Não quero vantagem, quero PAZ. Ele desrespeitou os Estados Unidos da América em seu estimado Salão Oval. Ele pode voltar quando estiver pronto para a paz."

O presidente dos EUA, Donald Trump, deve assinar uma ordem executiva nesta sexta-feira, 28, designando o inglês como o idioma oficial do país, de acordo com a Casa Branca.

A ordem permitirá que as agências e organizações governamentais que recebem financiamento federal escolham se querem continuar a oferecer documentos e serviços em outro idioma que não o inglês, de acordo com um informativo sobre a ordem iminente.

A ordem executiva rescindirá um mandato do ex-presidente Bill Clinton que exigia que o governo e as organizações que recebiam financiamento federal fornecessem assistência linguística a pessoas que não falavam inglês.

Designar o inglês como idioma nacional "promove a unidade, estabelece eficiência nas operações do governo e cria um caminho para o engajamento cívico", disse a Casa Branca.