Uso de verba pública gera controvérsia no Novo

Política
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Desde a sua fundação, em 2011, o partido Novo assumiu o compromisso de não usar dinheiro público para se manter e financiar campanhas eleitorais. Mas, na prática, apesar de não dar muita publicidade ao fato, o Novo vem usando recursos dos contribuintes em suas atividades, para cumprir exigências legais.

Cobrado pela Justiça Eleitoral a aplicar 5% da verba que lhe cabe do Fundo Partidário em ações de estímulo à participação de mulheres na política, o Novo já usou R$ 2,2 milhões de recursos públicos para promover eventos, cursos e treinamento de filiadas, segundo a direção da legenda, de um total de R$ 3,7 milhões que deveria ter aplicado até agora com esta finalidade.

Ironicamente, porém, o destino do dinheiro tornou-se alvo de questionamentos internos, compartilhados entre membros do partido em listas de WhatsApp, e turbinou o debate sobre a governança da legenda, alimentado pela ala que faz oposição ao financista João Amoêdo, ex-presidente e fundador do Novo.

Realizados com base em dados do balanço de 2020 da sigla e em informações colhidas no Ministério da Educação, os questionamentos envolvem a contratação da Trevisan Escola de Negócios, com verba do Fundo Partidário, para ministrar um curso virtual de MBA Executivo em Gestão Pública para 50 mulheres filiadas ao Novo.

Em ofício encaminhado por e-mail aos dirigentes do partido em 26 de julho, ao qual o Estadão teve acesso, uma filiada do Rio questiona o pagamento de R$ 959,9 mil à Trevisan pela realização do curso em dezembro do ano passado - o equivalente a R$ 19,2 mil por aluna - e diz que o valor estaria 36% acima da média de mercado, de acordo com uma pesquisa feita por ela mesma e anexada ao documento.

No ofício, a filiada questiona se houve "pesquisa de mercado" para escolher a escola, se o Novo dispõe de "mecanismos de compliance" para contratar fornecedores e o que levou o partido a entender que este curso era a melhor opção para incentivar a participação de mulheres na política. Pelos seus cálculos, o dinheiro seria suficiente para oferecer a 363 filiadas o Curso de Formação de Líderes da Fundação Brasil Novo, ligada à legenda, ao custo de R$ 2,6 mil por pessoa.

Ela solicita os nomes das mulheres inscritas no curso e a divulgação dos critérios adotados pelo partido para selecionar as participantes. Segundo a filiada, trata-se de informação relevante, já que as alunas foram escolhidas por indicação dos diretórios estaduais, sem a realização de um processo de seleção e sem a divulgação prévia da iniciativa para todas as filiadas - houve apenas a publicação de um edital no início de junho, como uma espécie de "segunda chamada", para preencher as vagas não ocupadas até então.

Conforme relato da filiada ao Estadão, o ofício encaminhado aos dirigentes do partido foi a sua segunda tentativa de obter informações sobre o curso, do qual afirma ter tomado conhecimento por publicações das participantes nas redes sociais. Em abril, por meio da ouvidoria da sigla, ela disse que já havia tentado, sem sucesso, conseguir detalhes sobre a contratação da Trevisan e o processo de seleção das participantes, e que, por isso, decidiu encaminhar um novo questionamento diretamente aos dirigentes do Novo.

"Considerando que se trata de verba do Fundo Partidário e, portanto, de dinheiro do pagador de impostos, entendo que cabia ao partido, pautado naquilo que defende, o dever moral de observar os princípios que regem a administração pública: legalidade, impessoalidade, moralidade administrativa, publicidade e eficiência", afirma a filiada no ofício. "É inaceitável que algumas filiadas tenham sido privilegiadas em detrimento de outras e que as escolhas tenham sido feitas por indicação, sem levar em conta critérios técnicos."

Procurado para comentar o caso, o presidente do Novo, Eduardo Ribeiro, atribuiu a uma "falha da própria legislação" a obrigatoriedade de o partido usar recursos do Fundo Partidário neste tipo de ação. "O Estado brasileiro tem essa cultura de focar na intenção e não no resultado. O Novo é o partido que, proporcionalmente, mais elegeu mulheres como vereadoras em 2020 (dez de um total de 28), sem usar dinheiro público para elegê-las."

Auditoria

Em resposta enviada à autora do ofício na sexta-feira passada, dois dias depois do pedido de entrevista feito pela reportagem, Ribeiro fornece os nomes das 46 alunas inscritas no curso e confirma a escolha inicial das participantes por indicação dos núcleos estaduais e a contratação da Trevisan pelos valores apurados pela filiada, acrescidos de R$ 62,9 mil referentes ao pagamento dos tributos incidentes sobre a operação.

No documento, ele diz que o curso oferecido pela Trevisan foi considerado "o mais adequado, seja pela qualidade ofertada, seja pelo custo propiciado", e que o Novo analisou outras duas propostas para tomar a decisão: uma do Instituto Mises Brasil (IMB) e outra da Synapse IT. De acordo com Ribeiro, apesar de o partido "ainda" não ter mecanismos de compliance, suas contas de 2020 foram aprovadas por uma empresa independente de auditoria.

"Como não conseguimos fazer nenhum evento presencial em 2020, em função da pandemia, chegamos à conclusão de que contratar cursos digitais de especialização para formar os quadros femininos seria a melhor opção", afirmou ele ao Estadão. "Como o curso oferecido pela Trevisan não é 'de prateleira' e foi desenhado especificamente para o Novo, é natural que seja um pouco mais caro (do que os orçados pela filiada)."

'Primeira linha'

O economista VanDyck Silveira, presidente da Trevisan Escola de Negócios, disse que a escola foi escolhida porque, além do preço, havia outras métricas de avaliação das propostas que a instituição atendeu, como a qualidade do ensino, a aderência às necessidades do partido e a rapidez de apresentação do projeto, para que o processo fosse implementado ainda em 2020.

"Não temos nada a esconder", afirmou Silveira. "Não somos nem a escola mais cara nem a mais barata na área. Temos tradição e reconhecimento, nota 5 no Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) e uma experiência muito diferente das escolas médias. Nós cobramos um preço médio entre as escolas de primeira linha em São Paulo."

Questionado sobre a razão de o partido não ter respondido aos questionamentos feitos há três meses pela filiada por meio da ouvidoria, Ribeiro disse que "ouvidoria não é SAC (serviço de atendimento ao cliente)". "A ouvidoria é um canal de denúncia, elogio, reclamação e sugestão. Para questionamentos, há o e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. e o acesso direto aos diretórios municipais ou estaduais." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em outra categoria

Um bate-boca protagonizado na Casa Branca nesta sexta-feira, 28, entre o presidente americano Donald Trump e o ucraniano Volodmir Zelenski simbolizou o ápice de uma relação já estremecida há meses entre os dois mandatários. O desentendimento aconteceu durante um encontro que deveria formalizar um acordo para a exploração de terras raras na Ucrânia por Washington, mas que acabou com uma nota assinada pela presidência americana afirmando que Zelenski desrespeitou os Estados Unidos.

Desde a campanha eleitoral, Trump já deixava claro seu ceticismo em relação ao apoio dos Estados Unidos à Ucrânia. Ele frequentemente questionava os valores enviados pelo governo de Joe Biden em comparação com os da Europa e prometia resolver a guerra em "24 horas", embora nunca tenha detalhado como.

Mas ao assumir a presidência em 20 de janeiro, Trump endureceu ainda mais o discurso contra Zelenski. Em diferentes ocasiões, acusou o líder ucraniano de iniciar a guerra contra a Rússia, chamou-o de "ditador" e afirmou que Kiev deveria ser mais grata aos Estados Unidos. Veja abaixo o que Trump já falou sobre a guerra na Ucrânia desde que assumiu a presidência dos Estados Unidos.

Pressa pelo fim da guerra

Trump mencionou em diversas ocasiões que a guerra não teria começado sob sua presidência e que não permitiria que o conflito se arrastasse por mais tempo, enfatizando a necessidade de encerrar rapidamente a guerra.

Na época de campanha, Trump declarou: "Posso terminar essa guerra em 24 horas, basta que todos os envolvidos queiram negociar e eu estarei lá, oferecendo uma solução", embora nunca tenha detalhado exatamente como resolveria a situação em tão pouco tempo.

No encontro com o presidente francês Emmanuel Macron nesta semana, o republicano afirmou que o conflito poderia ser resolvido "em questão de semanas". Já durante a visita do primeiro-ministro britânico Keir Starmer, disse que a "guerra precisa acabar agora ou nunca."

Desejo por minerais críticos

Como parte da crença de que os EUA gastaram demais com a Ucrânia, o governo republicano criou uma proposta de acordo para explorar os minerais críticos e de terras raras do país europeu, como uma espécie de "compensação". Trump disse que estava tentando recuperar os bilhões de dólares enviados para apoiar a guerra.

"Estou tentando obter o dinheiro de volta, ou garantias", declarou Trump na Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), perto da capital americana. "Quero que eles nos deem algo por todo o dinheiro que colocamos. Estamos pedindo terras raras e petróleo, qualquer coisa que possamos conseguir", afirmou o republicano.

Uma primeira versão da proposta foi apresentada à Zelenski pelo vice-presidente J.D. Vance na Conferência de Segurança de Munique. O presidente ucraniano rejeitou a proposta com a justificativa de que ela era muito favorável a Washington e não dava garantias suficientes à Ucrânia. Ajustes foram feitos, com concessões à Ucrânia, e o texto seria assinado nesta sexta-feira, 28. Mas a discussão entre os líderes provocou o cancelamento do acordo.

Zelenski, o ditador

Um dos pontos de maior tensão até aqui foi uma postagem publicada por Trump em sua rede Truth Social, na qual chamou Zelenski de "ditador que usou o dinheiro dos Estados Unidos para ir à guerra". O motivo do post foi a Ucrânia ter negado a primeira versão do acordo sobre minerais.

"Zelenski é um ditador sem eleições, é melhor ele agir rápido ou ele não terá mais um país", disse Trump. "Um comediante de sucesso modesto, Zelenski convenceu os Estados Unidos a gastar US$ 350 bilhões de dólares para entrar em uma guerra que não poderia ser vencida", escreveu Trump, ignorando que as eleições ucranianas não foram realizadas ainda porque o país decretou lei marcial após o início da guerra.

Além disso, os Estados Unidos destinaram US$ 119 bilhões para ajudar a Ucrânia, de acordo com o Instituto Kiel, e não US$ 350 bilhões.

Trump ainda sugeriu que a segurança futura da Ucrânia não seria problema dos Estados Unidos. "Essa guerra é muito mais importante para a Europa do que para nós", escreveu Trump. "Temos um grande e belo oceano como separação."

Nesta semana, no Salão Oval, Trump negou ter chamado Zelenski de "ditador".

Abandono do 'sonho Otan'

Pelo fim da guerra, os ucranianos pedem garantias de segurança e a entrada do país Otan. Zelenski chegou a dizer que poderia deixar seu cargo em troca da entrada da Ucrânia na aliança militar. Mas Trump rechaçou os dois pedido na última quarta-feira, 26, afirmando cabe à Europa fornecer garantias de segurança à Ucrânia, e não aos EUA, e descartou a Otan.

"Não vou oferecer garantias de segurança que vão além do estritamente necessário", disse Trump em uma reunião de gabinete. "Vamos deixar que a Europa faça isso porque (...) a Europa é sua vizinha, mas vamos garantir que tudo saia bem."

"Podem esquecer a Otan", acrescentou Trump. "Acho que essa é provavelmente a razão pela qual tudo começou", acrescentou o presidente americano, repetindo mais uma vez a postura da Rússia sobre o que motivou o início da guerra.

Aposta na 3.ª Guerra

O magnata republicano prometeu no ano passado acabar com a guerra e afirmou que evitaria uma "Terceira Guerra Mundial", argumentando que a possibilidade de uma guerra mais ampla seria ainda maior sob um novo governo democrata.

Essa afirmação foi repetida diversas vezes. Na semana passada, em uma coletiva de imprensa na qual comentava a guerra na Ucrânia, Trump disse que a "Terceira Guerra Mundial não está tão longe", mas disse que sua presidência impediria tal desenvolvimento. Na discussão desta sexta-feira, Trump disse que Zelenski estava "apostando na terceira guerra mundial".

O presidente ucraniano viajou para Washington para assinar a resolução sobre extração de minerais na Ucrânia, mas o encontro com Trump terminou em bate-boca.

Depois da discussão, Trump divulgou uma nota na qual disse que Zelenski desrespeitou os EUA e por isso deixou a Casa Branca. "É incrível o que se revela por meio da emoção. Concluí que o presidente Zelenski não está pronto para a paz se os Estados Unidos estiverem envolvidos, porque ele acha que nosso envolvimento lhe dá uma grande vantagem nas negociações". diz o comunicado. "Não quero vantagem, quero PAZ. Ele desrespeitou os Estados Unidos da América em seu estimado Salão Oval. Ele pode voltar quando estiver pronto para a paz."

O presidente dos EUA, Donald Trump, deve assinar uma ordem executiva nesta sexta-feira, 28, designando o inglês como o idioma oficial do país, de acordo com a Casa Branca.

A ordem permitirá que as agências e organizações governamentais que recebem financiamento federal escolham se querem continuar a oferecer documentos e serviços em outro idioma que não o inglês, de acordo com um informativo sobre a ordem iminente.

A ordem executiva rescindirá um mandato do ex-presidente Bill Clinton que exigia que o governo e as organizações que recebiam financiamento federal fornecessem assistência linguística a pessoas que não falavam inglês.

Designar o inglês como idioma nacional "promove a unidade, estabelece eficiência nas operações do governo e cria um caminho para o engajamento cívico", disse a Casa Branca.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicou um comunicado em suas redes sociais no qual disse que o ucraniano Volodmir Zelenski não está pronto para uma paz que envolva a participação americana. O pronunciamento veio logo após uma discussão entre o americano e o ucraniano no Salão Oval da Casa Branca, onde seria assinado um acordo sobre minerais entre os dois países.

"Tivemos uma reunião muito significativa na Casa Branca hoje. Aprendemos muito que jamais poderia ser entendido sem uma conversa sob tanto fogo e pressão", escreveu o presidente em sua plataforma de mídia social, o Truth Social.

"É incrível o que se revela por meio da emoção, e determinei que o presidente Zelenski não está pronto para a paz se os Estados Unidos estiverem envolvidos, porque ele acha que nosso envolvimento lhe dá uma grande vantagem nas negociações. Não quero vantagem, quero PAZ. Ele desrespeitou os Estados Unidos da América em seu estimado Salão Oval. Ele pode voltar quando estiver pronto para a paz."

Zelenski viajou para Washington nesta sexta-feira, 28, na intenção de assinar um acordo que permitiria que os Estados Unidos tivessem acesso a minerais raros ucranianos, como exigiu Trump, em compensação pela ajuda militar e financeira desembolsada pelo seu país nos últimos três anos.

Mas, durante encontro entre os dois presidentes no Salão Oval, Trump chamou Volodmir Zelenski de "desrespeitoso" e disse que ele deveria ser "mais grato" na frente da imprensa. Depois da discussão, a visita de Zelenski à Casa Branca foi encurtada e entrevista coletiva que estava prevista para esta tarde, cancelada. A assinatura do acordo também foi cancelada.

O SUV blindado de Zelenski parou abruptamente na porta da Ala Oeste momentos depois da postagem de Trump.

O presidente ucraniano viajou para Washington para assinar a resolução sobre extração de minerais na Ucrânia, mas o encontro com Trump terminou em bate-boca.

Tanto o presidente quanto o seu vice, J.D. Vance, esperavam ouvir palavras de agradecimento de Zelenski. "Você já disse 'obrigado' alguma vez?" Vance perguntou a Zelenski. Na plataforma X, o ucraniano expressou gratidão ao povo americano, mas não abordou diretamente seu encontro com Trump e Vance.

"Obrigado, América, obrigado pelo seu apoio, obrigado por esta visita. Obrigado presidente, Congresso e povo americano", escreveu Zelenski. "A Ucrânia precisa de uma paz justa e duradoura, e estamos trabalhando exatamente para isso."

A discussão começou depois de Zelenski ter dito a Trump que não se pode confiar nas promessas de paz de Vladimir Putin, observando o histórico de promessas não cumpridas do líder russo. Trump se irritou e disse que Putin não quebrou acordos com ele.

Em meio à discussão Trump ameaçou Zelenski: "Ou você fecha o acordo ou estamos fora. O seu país está em apuros. Você não está vencendo", disse Trump ao que Zelenski respondeu: "Eu sei". "Você tem uma boa chance de sair bem por nossa causa", interrompeu Trump.

"Nós (os Estados Unidos) demos a você, através do presidente idiota, US$ 350 bilhões", disse referindo-se a Joe Biden e inflando o apoio dos Estados Unidos à Ucrânia que, na verdade, foi de US$ 114 bilhões. "Nós demos a você equipamento militar... Se você não tivesse nosso equipamento militar, essa guerra teria acabado em duas semanas." (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)