Lula indica Flávio Dino para o Supremo; escolha acentua perfil político da Corte

Política
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) indicou nesta segunda-feira, 27, o ministro da Justiça, Flávio Dino, para vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), e o subprocurador-geral da República Paulo Gonet para o comando da Procuradoria-Geral da República (PGR). Os dois nomes serão analisados pelo Senado. As escolhas de Lula representaram uma dupla derrota para o PT, que trabalhava por outros nomes: o advogado-geral da União, Jorge Messias, no STF, e Antônio Carlos Bigonha na PGR.

Mais aguardada e significativa, a indicação para o Supremo, se aprovada pelos senadores, vai acentuar o perfil político da Corte. Filiado ao PSB, Dino, de 55 anos, fez carreira como juiz federal, mas se destacou mais em cargos eletivos: ele foi deputado federal, governou o Maranhão por dois mandatos (2015-2022) e se elegeu senador em 2022. Seu nome vinha sendo apontado como possível candidato à sucessão presidencial.

Dino foi escolhido por Lula com a chancela da ala mais política do STF, que tem como expoentes os ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes. A opção pelo ministro de seu governo deixa explícita a busca do presidente por potenciais aliados fiéis na Corte. Em seu terceiro mandato, Lula já emplacou Cristiano Zanin - que foi seu advogado - na vaga aberta com a aposentadoria de Ricardo Lewandowski.

A vaga que Dino pode assumir foi deixada pela ministra Rosa Weber, que se aposentou em setembro, após 12 anos na Corte. A indicação também reforça o desequilíbrio de gênero no tribunal - a única mulher é a ministra Cármen Lúcia. Em 132 anos de história, o STF teve 171 ministros e só três mulheres. Se Dino tomar posse, a presidência do Supremo deve ficar pelos próximos 14 anos sem uma mulher. A tradição no STF é que o ministro mais antigo no tribunal, que ainda não tenha ocupado a presidência, seja eleito internamente para o cargo. O mandato é de dois anos.

Esforço

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou ontem que a Casa fará um esforço concentrado entre os dias 12 e 15 de dezembro para sabatinar Dino e Gonet - antes do recesso parlamentar, que começa em 22 de dezembro. "Obviamente que não depende só da presidência, este é um exercício coletivo que envolve as comissões permanentes da Casa e envolve também as lideranças", disse. Após passarem pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), os indicados precisam receber aprovação da maioria absoluta do plenário, formado por 81 senadores.

A CCJ do Senado é presidida por Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Ontem ele informou que a sabatina de Dino será no dia 13, em reunião ordinária. O relator será o senador Weverton Rocha (PDT-MA).

Pacheco negou que Lula tenha pedido a ele uma "atenção especial" a Dino e Gonet depois de o Senado ter rejeitado, no fim de outubro, a indicação de Igor Roque para o comando da Defensoria Pública da União (DPU) - em uma contundente derrota para o atual governo. "Lula apenas comunicou encaminhamento dos nomes", afirmou Pacheco.

Quando Dino foi incluído na lista dos prováveis indicados por Lula, senadores da oposição vieram a público protestar, avisando que fariam de tudo para tentar barrar a nomeação.

Dino e Gonet se reuniram ontem pela manhã com Lula no Palácio da Alvorada antes de o petista embarcar para Riade, capital da Arábia Saudita. O presidente iniciou uma viagem na qual vai participar da 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP-28, em Dubai, nos Emirados Árabes. Depois, Lula seguirá para a Alemanha, retornando ao Brasil em 5 de dezembro.

'Colegas'

Dino afirmou que vai buscar o apoio dos "colegas" senadores. "O presidente Lula me honra imensamente com a indicação para ministro do STF. Agradeço mais essa prova de reconhecimento profissional e confiança na minha dedicação à nossa nação (...) irei dialogar em busca do honroso apoio dos colegas senadores e senadoras", escreveu em seu perfil no X.

Nas redes sociais, parlamentares aliados de Lula e ministros do governo elogiaram a escolha feita pelo petista, enquanto a oposição criticou a postura de Dino perante o Congresso Nacional e lançou um abaixo-assinado contra o nome dele. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que o Senado tem a "obrigação moral" de rejeitar a indicação. Em manifestações no X, o senador - titular na CCJ - disse que Dino "desdenha" do Legislativo, citando os confrontos do ministro com os parlamentares ao longo deste ano.

Se for aprovado nas sabatinas, Dino poderá permanecer na Corte até abril de 2043, quando completa 75 anos, idade da aposentadoria compulsória. Hoje, os ministros do STF têm mandatos vitalícios - depois que tomam posse, só deixam a vaga no tribunal com a aposentadoria. Três propostas de emenda constitucional que defendem a criação de mandatos fixos para os ministros tramitam atualmente no Congresso. (COLABORARAM KARINA FERREIRA E GABRIEL DE SOUSA)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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A Suprema Corte dos EUA rejeitou nesta quarta-feira, 5, o pedido de Donald Trump para congelar US$ 2 bilhões em ajuda externa, parte dos esforços do governo para cortar gastos. Foi a primeira grande decisão do tribunal contra a Casa Branca desde a volta do presidente ao poder. Isso ocorreu apesar de Trump ter indicado três dos nove juízes, formando uma maioria conservadora de 6 a 3.

Ontem, o recurso de Trump foi negado por 5 votos a 4 - os conservadores John Roberts e Amy Coney Barrett se juntaram às três magistradas progressistas para manter a decisão de uma instância inferior exigindo que o governo fizesse pagamentos em contratos que já foram concluídos, invalidando o decreto assinado em 20 de janeiro, que suspendia a ajuda internacional por 90 dias.

Na decisão, a Suprema Corte determina que o juiz federal Amir Ali, que ordenou o restabelecimento dos pagamentos pela Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) e pelo Departamento de Estado, esclareça "quais obrigações o governo deve cumprir".

"Um único juiz de um tribunal distrital, que provavelmente não tem jurisdição, tem o poder irrestrito de obrigar o governo dos EUA a pagar (e provavelmente perder para sempre) US$ 2 bilhões dos contribuintes?", argumentou o conservador Samuel Alito, na declaração dissidente, assinada pela minoria. "A resposta a essa pergunta deveria ser um enfático 'não', mas a maioria deste tribunal, aparentemente, pensa o contrário. Estou chocado."

Cortes de gastos

O governo suspendeu a ajuda externa no dia da posse de Trump. Beneficiários e ONGs entraram com duas ações judiciais contestando o congelamento dos fundos, alegando inconstitucionalidade - as dotações orçamentárias são um poder do Congresso e cabe ao Executivo apenas cumpri-las.

Os grupos que contestaram o governo argumentaram que os fundos congelados causariam uma série de crises, ameaçando cuidados médicos essenciais ao redor do mundo, deixando alimentos apodrecendo em armazéns, arruinando negócios, colocando em risco a propagação de doenças e causando instabilidade política.

"É devastador o impacto dessa conduta ilegal em empresas grandes e pequenas, forçadas a encerrar seus programas e demitir funcionários; em crianças famintas ao redor do mundo que ficarão sem nada; em populações ao redor do mundo enfrentando doenças mortais; e em nossa ordem constitucional", escreveram os advogados do Global Health Council, organização que representa grupos de saúde, em um dos processos.

O juiz Amir Ali, do Tribunal Distrital Federal em Washington, nomeado pelo presidente Joe Biden, emitiu uma ordem de restrição temporária, em 13 de fevereiro, proibindo funcionários do governo de suspender os pagamentos alocados antes de Trump assumir o cargo. Na decisão, ele disse que o governo não ofereceu nenhuma explicação para a suspensão total da ajuda que o Congresso havia determinado.

A Casa Branca alegou que tinha o direito de analisar caso a caso as doações e contratos de ajuda e interromper ou aprovar os gastos. Em uma decisão de 25 de fevereiro, o juiz Ali ordenou que o governo pagasse US$ 1,5 bilhão em trabalhos de ajuda já concluídos. Ele estabeleceu um prazo até meia-noite do dia seguinte. Em resposta, o Departamento de Justiça entrou com um recurso de emergência na Suprema Corte, alegando que o juiz havia excedido sua autoridade - argumento rejeitado ontem.

Campanha

O presidente está decidido a cortar gastos do governo federal com a ajuda do homem mais rico do mundo e maior doador de sua campanha, Elon Musk. Um dos seus objetivos é cortar a ajuda da Usaid, que tem programas de saúde e emergência em cerca de 120 países e é responsável por mais de 40% da ajuda humanitária mundial.

Em decreto assinado em 20 de janeiro, Trump suspendeu temporariamente milhares de programas para avaliar se eles estão "totalmente alinhados com a política externa do presidente dos EUA". No passado, ele já disse que a Usaid é "administrada por lunáticos radicais", enquanto Musk descreveu a agência como uma "organização criminosa". (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O presidente dos EUA, Donald Trump, disse nesta quarta-feira (6) que está trabalhando com o Partido Republicano da Câmara em uma resolução contínua para financiar o governo até setembro e dar o "tempo necessário" para trabalhar a agenda do governo.

"Os conservadores vão adorar esse projeto de lei, pois ele nos prepara para cortar impostos e gastos na conciliação, ao mesmo tempo em que efetivamente CONGELA os gastos neste ano e nos permite continuar nosso trabalho. Vamos aprovar esse projeto de lei!", escreveu Trump na rede Truth Social.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve assinar nesta quinta-feira, 6, um decreto com o objetivo de eliminar o Departamento de Educação. Um rascunho do documento, obtido pelo Wall Street Journal, ordena que a secretária de Educação, Linda McMahon, "tome todas as medidas necessárias para facilitar o fechamento do Departamento de Educação".

O fim do Departamento de Educação está em discussão desde a transição da gestão de Joe Biden para o governo Trump. Segundo especialistas, porém, a eliminação completa da pasta depende da aprovação do Congresso. Fonte: Dow Jones Newswires.