Secretaria e manifestantes dão versões distintas sobre uso de sangue falso em confusão na Alesp

Política
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A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, subordinada ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), declarou nesta sexta-feira, 8, que não descarta a hipótese de que manifestantes tenham usado "produtos artificiais com coloração e aspectos semelhantes ao sangue humano" para fingir ferimentos após confronto com a polícia na Assembleia Legislativa do Estado (Alesp). A pasta disse que teriam sido encontrados materiais do tipo entre pessoas que estavam no plenário, mas nada foi apreendido, e que as circunstâncias do caso ainda estão sendo apuradas. Os manifestantes, porém, dizem que batom estava com outras maquiagens na bolsa de uma manifestante e tem textura completamente diferente de sangue, e divulgaram um vídeo que mostra uma mulher sendo atingida na cabeça.

A alegação de uso de sangue falso foi explorada por bolsonaristas nas redes sociais. Eles alegam que teria existido armação no caso. Houve de fato, porém, confronto violento entre a Polícia Militar e manifestantes antes da votação do projeto de privatização da Sabesp, na quarta-feira, 6 de dezembro, que terminou com manifestantes e policiais feridos. Além das cenas gravadas, o Estadão confirmou que pessoas foram atendidas na área de saúde da Alesp, localizada no terceiro andar do prédio. A Casa Legislativa foi procurada para se falar oficialmente sobre os atendimentos mas ainda não se manifestou.

A informação de que a Polícia Civil de São Paulo abriu uma investigação para apurar o caso foi noticiada na quarta-feira, 7, pelo site Metrópoles. A suspeita se baseia num vídeo que circulou entre policiais, deputados e integrantes do governo paulista. Nele, uma pessoa não identificada abre um tubo de batom líquido vermelho que teria sido encontrado no local e passa o material no braço de outra.

Em nota, a Unidade Popular (UP) disse que o batom estava na bolsa de uma militante junto com outras maquiagens e "tem uma textura completamente diferente de sangue". O partido diz que a alegação é "absurda" e reitera que manifestantes foram agredidos e sofreram sangramentos por conta de golpes de cassetete desferidos pelos policiais. Ao menos dois PMs também tiveram cortes na cabeça.

Relembre o caso

A sessão extraordinária que discutiu o projeto de lei de privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), na quarta-feira, 6, foi marcada por um confronto entre manifestantes e a Polícia Militar. O projeto foi aprovado por 62 votos a 1, sem a presença da oposição no plenário.

Imagens da confusão mostram manifestantes forçando um vidro que separa o plenário da plateia e tentando invadir o local. Para contê-los, agentes da PM usaram gás de pimenta. A substância se espalhou por todo o plenário e fez deputados esvaziarem o local às pressas. Manifestantes ficaram feridos, e quatro pessoas foram detidas.

Deputados da oposição se negaram a retomar os debates após o episódio e acusaram o presidente da Alesp, deputado André do Prado (PL), de cercear a atividade parlamentar com a continuidade da sessão. A base aliada de Tarcísio criticou a oposição dizendo que a confusão seria uma estratégia para protelar a análise do projeto, aprovado em seguida. A matéria deve ser judicializada.

Na quarta-feira, Justiça de São Paulo manteve a prisão de dois manifestantes detidos durante votação da privatização da Sabesp. As prisões em flagrantes foram convertidas em preventiva em audiência de custódia realizada nesta quinta-feira, 7. Os presos são o estudante da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e integrante do Movimento Correnteza, Hendryll Luiz Rodrigues de Brito Silva; e o membro do Movimento de Luta de Classes, o professor Lucas Borges Carvente. Já a presidente estadual da organização Unidade Popular, Vivian Mendes da Silva; e o membro do Movimento Luta de Classes, o metroviário Ricardo Senese, tiveram concedida a liberdade provisória.

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Oficiais militares de mais de 30 países participarão das negociações em Paris sobre a criação de uma força internacional de segurança para a Ucrânia, informou um oficial militar francês. O objetivo dessa força será dissuadir a Rússia de lançar uma nova ofensiva após a implementação de um cessar-fogo na Ucrânia.

A lista de participantes nas reuniões da terça-feira, 11, ainda deve contar com países da Ásia e da Oceania, que participarão remotamente. A diversidade internacional da reunião reflete o alcance com que a França e o Reino Unido, que estão colaborando nos planos para a força, estão buscando formar uma coalizão de nações "capazes e dispostas", como descreveu o oficial francês, para ajudar a proteger a Ucrânia em caso de um cessar-fogo.

A força proposta pelos dois países poderia incluir armamentos pesados e estoques de armas que poderiam ser enviados rapidamente, em questão de horas ou dias, para reforçar a defesa da Ucrânia caso um ataque russo quebre qualquer trégua, explicou o oficial. O plano franco-britânico será apresentado aos oficiais militares de mais de 30 países na primeira parte das discussões de amanhã, acrescentou.

A segunda parte das negociações será dedicada a discussões "mais precisas e concretas", nas quais os participantes serão convidados a explicar se e como suas forças militares poderiam contribuir. "Não é, 'isso é o que precisamos'. É mais, 'o que você pode trazer para a mesa?'", afirmou o oficial. Ele também destacou que a decisão final sobre a participação dos países na força será tomada em nível político, pelos líderes dos governos.

Croácia e Montenegro, que foram convidados, não responderam e estarão ausentes. Os Estados Unidos não foram convidados, pois as nações europeias desejam demonstrar que podem assumir a responsabilidade por grande parte da estrutura de segurança pós-cessar-fogo para a Ucrânia. Austrália, Nova Zelândia, Japão e Coreia do Sul acompanharão as negociações remotamente.

Os Verdes da Alemanha, cujo apoio é essencial para os planos do próximo governo de flexibilizar as regras fiscais para gastos com defesa e criar um fundo de infraestrutura, anunciaram que não apoiarão o pacote nas condições atuais.

O líder da União Democrática Cristã (CDU) e provável próximo chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, está tentando formar uma coalizão com os Social-Democratas de centro-esquerda, liderados pelo chanceler Olaf Scholz, que deixa o cargo. Na semana passada, as duas partes anunciaram a intenção de isentar alguns gastos com defesa das restritas regras fiscais do país, uma medida cada vez mais urgente devido às dúvidas sobre o compromisso dos EUA com seus aliados europeus.

Além disso, o governo planeja criar um fundo de 500 bilhões de euros, financiado por empréstimos, para investir na infraestrutura deteriorada da Alemanha nos próximos 10 anos e impulsionar o crescimento econômico.

Porém, como a "freio da dívida" da Alemanha está ancorada na constituição, os planos exigem uma maioria de dois terços no parlamento. O governo tenta aprovar os projetos no parlamento atual, antes da nova composição, pois partidos que são contra as propostas têm mais de um terço das cadeiras na nova Câmara.

Como a União de Merz e os Social-Democratas não têm votos suficientes, dependem do apoio dos Verdes. A co-líder dos Verdes, Katharina Dröge, afirmou que o grupo rejeitará a proposta, destacando que o partido busca uma reforma do "freio da dívida" para permitir mais investimentos na economia e no combate às mudanças climáticas, algo que Merz havia descartado antes da eleição.

Dröge também criticou o fundo de infraestrutura, dizendo que ele serviria mais como um "cofre do tesouro" para cortes de impostos do que para investimentos úteis.

Em resposta, Carsten Linnemann, secretário-geral da União Democrata Cristã, afirmou que conversas com os Verdes serão realizadas, e "então veremos até onde conseguimos chegar". Seu partido também conversará com os liberais do Partido Democrático Livre, que têm se oposto ao aumento do endividamento.

A Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) elegeu nesta segunda-feira, dia 10, por aclamação o chanceler do Suriname, Albert Ramdin, como próximo secretário-geral por cinco anos.

A delegação da Dominica sugeriu aclamação, pelo fato de existir apenas um candidato, e recebeu o apoio do Peru. Ramdin foi eleito imediatamente com uma salva de palmas.

Com isso, a OEA saiu da raia de um secretário-geral alinhado a Washington após dez anos. Ramdin vai substitui o uruguaio Luis Almagro.

Embora tenha sido chanceler do ex-presidente Pepe Mujica (Frente Ampla) e patrocinado por ele, Almagro passou ser visto pelos líderes de esquerda da região como um secretário enviesado e adversário de governos como Bolívia, Nicarágua e Venezuela e outros.

Os ditadores da Nicarágua, Daniel Ortega, e da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciaram nos últimos anos, respectivamente em 2022 e 2017 (durante a gestão de Almagro), que deixariam a OEA. Eles acusaram Almagro de interferência em assuntos internos após crises político-eleitorais.

A eleição ocorreu depois de um movimento em bloco de apoio a Ramdin, liderado pelo Brasil e países de governos de esquerda, que levou à renúncia do candidato trumpista, o chanceler do Paraguai, Rubén Ramírez Lezcano.

Como mostrou o Estadão, a diplomacia brasileira anteviu o risco de que Trump pudesse instrumentalizar politicamente a OEA. A impressão era que o paraguaio havia se movimentado para receber o apoio formal dos Estados Unidos, com gestos pró-agenda Trump vindos de Assunção e fotos com o próprio Trump e o bilionário Elon Musk.

A ideia de que ele pudesse servir como uma correia de transmissão da agenda conservadora do republicano, além da política de tarifaço contra países aliados e vizinhos, como México e Canadá, e a deportação em massa de imigrantes azedaram o clima para Trump, fez com que se formasse uma espécie de cordão sanitário na OEA.

A eleição foi um primeiro embate hemisférico entre Trump e governos de esquerda da América Latina, que envolveu nos bastidores um jantar oferecido por Lula a presidentes de esquerda em um palácio da embaixada brasileira em Montevidéu e ainda telefonemas do presidente chileno Gabriel Boric para formar uma aliança.