Governo exonera 1,2 mil servidores em cargos de chefia; ministros tomam posse

Política
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No primeiro dia do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, 1.204 servidores que desempenhavam funções de confiança na gestão de Jair Bolsonaro foram exonerados. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, confirmou que haverá mais dispensas de comissionados, mas negou qualquer viés ideológico nas demissões.

Ao tomar posse na segunda-feira, 2, Costa disse que o governo Bolsonaro apagou obras não concluídas do sistema federal de monitoramento e, a exemplo de Lula, classificou a herança recebida como "caos".

Dezenove dos 37 ministros foram empossados ao longo do dia. Uma das cerimônias mais concorridas foi a de Alexandre Padilha, novo titular da Secretaria de Relações Institucionais, realizada no Salão Nobre do Palácio do Planalto. Embora também tenha dirigido críticas à gestão Bolsonaro, Padilha adotou tom de conciliação. Um dia depois de ter dito que o Centrão é apenas "um conceito que não existe", o responsável pela articulação política entre o Planalto e o Congresso sustentou que vai tratar todos os partidos "com civilidade e harmonia", mesmo aqueles contrários a Lula.

Na plateia, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), foi vaiado ao ter o nome anunciado pelo locutor. A ex-presidente Dilma Rousseff, por sua vez, recebeu muitos aplausos. "Dilma, guerreira, da Pátria brasileira", gritavam militantes do PT, no Salão Nobre. Até o ex-presidente José Sarney ganhou palmas. Só Lira foi hostilizado.

"Nesse ministério está proibido insultar, agredir, ameaçar qualquer agente político, seja de qual partido for", disse Padilha. "Não existe aqui alguém que vai falar de metralhada contra a oposição. Essa época acabou", emendou ele, numa referência a declarações de Bolsonaro, que fez elogios à ditadura militar e disse que ia "metralhar" petistas no Acre.

Enquanto ministros tomavam posse, Lula estava no Itamaraty, onde recebeu líderes estrangeiros. Eles disseram que o Brasil estará "de volta" ao cenário internacional e organismos multilaterais com o novo governo.

"Lula é um líder regional e vai dar o impulso à América Latina muito importante. Sua presença é a volta do Brasil a todos os fóruns internacionais. A ausência brasileira nos fóruns internacionais foi muito evidente (nos últimos quatro anos)", resumiu o presidente da Argentina, Alberto Fernández. Lula viajará para a Argentina no próximo dia 23 e participará de um encontro da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), em Buenos Aires.

Marcelo Rebelo de Sousa, presidente de Portugal, que também esteve com Lula, disse ver o retorno de um "Brasil multilateral". "Brasil multilateral, Brasil na cena internacional, Brasil nas organizações, que faz muita falta", afirmou Rebelo. Ele elogiou o fato de Lula ter valorizado a proteção ambiental em seu discurso de posse, no domingo, 1º.

MDB

O presidente também decidiu extinguir a Fundação Nacional da Saúde (Funasa) e dividir suas atribuições entre os ministérios da Saúde, comandado por Nísia Trindade, e de Cidades, nas mãos de Jader Filho, do MDB. O partido ficará responsável pelo setor que faz obras em saneamento e concentra a maior fatia do orçamento da Funasa.

O Estadão apurou que parlamentares do MDB querem uma reunião com Jader Filho, Rui Costa e Alexandre Padilha para debater o destino da Funasa. A fundação é tradicionalmente disputada por partidos do Centrão pela oportunidade de controlar orçamento bilionário. Em 2022, mais de R$ 3,4 bilhões foram direcionados para lá.

A missão da Funasa é levar saneamento básico e água de qualidade à população. Nas mãos do Centrão, porém, tornou-se um duto de escoamento do dinheiro do orçamento secreto. Durante a gestão de Bolsonaro, a Funasa era área de influência do PSD.

Costa disse que sua prioridade será destravar as conclusões de obras com recursos federais. "Nem sabemos quantas obras no Brasil estão paralisadas. Cada um tem um número. Nem o próprio ministério consegue precisar quantas obras temos paralisadas hoje. Isso é a demonstração do caos que estamos recebendo", afirmou o ministro, em discurso.

Em seus últimos pronunciamentos, Lula tem dito que há 14 mil obras paradas no Brasil. "Ao buscar detalhar isso, a transição verificou que obras foram deletadas dos arquivos, como se concluídas estivessem. É como se o governo federal dissesse: 'Aquela creche que está com 70% de execução, como a responsabilidade é do prefeito, não é mais minha. Apaga do sistema'", destacou.

Costa disse, ainda, que desde o governo Dilma há casas prontas do Minha Casa, Minha Vida, nunca habitadas por falta de condições básicas. Algumas, por exemplo, não têm vias de acesso aos condomínios residenciais. "Isso é inadmissível. Todas serão habitadas ainda no primeiro semestre deste ano", afirmou o novo chefe da Casa Civil, que é ex-governador da Bahia.

Ao falar sobre a herança de dificuldades recebida de Bolsonaro, Costa negou que a máquina pública será paralisada com as demissões e insistiu que é preciso fazer o ajuste porque o governo ampliou o número de ministérios de 23 para 37 sem aumentar os cargos. "Quase todos os 23 ministérios que existiam perderam cargos. Só Justiça e Defesa não perderam", observou Costa.

Conselhão

Padilha, por sua vez, anunciou a volta do chamado "Conselhão", grupo formado por representantes da sociedade civil para discutir políticas públicas. O colegiado terá agora o nome de Conselho de Fomento Econômico-Social e Sustentável. "Nós temos urgência de combinar responsabilidade social, ambiental e a responsabilidade fiscal. Um país que não tem responsabilidade social e ambiental é um país entregue à barbárie. Um país que não tem responsabilidade fiscal é um país entregue à insegurança econômica", argumentou Padilha, que foi titular da mesma pasta no segundo mandato de Lula e ministro da Saúde sob Dilma.

Outro ministro que tomou posse ontem, no Planalto, foi Márcio Macêdo, encarregado de ouvir os movimentos sociais. Deputado, vice-presidente do PT e tesoureiro da campanha de Lula, Macêdo disse que, sob sua gestão, o Planalto será "o endereço oficial para que a sociedade possa apresentar as suas reivindicações".

"O antigo governo fechou a porta do palácio para o povo, destruiu os conselhos e as conferências", criticou o novo chefe da Secretaria-Geral da Presidência. "Está na hora de deixar para trás esse passado de ódio e intolerância." Na prática, o trio formado pelos petistas Macêdo, Costa e Padilha compõe a chamada "cozinha" do Planalto, que auxilia Lula na gestão política do governo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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De mãe brasileira e pai argentino, Kira Salim (Clara Ganapol Salim) é uma das vítimas do atropelamento que deixou 11 mortos durante um festival de rua em Vancouver, no Canadá.

A vítima tinha 34 anos e há quase três anos morava na Columbia Britânica. Kira era musicista, formada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) em 2014, com mestrado em Intervenção Psicológica no Desenvolvimento e Educação na Universidad Europea del Atlántico Universidad Europea del Atlántico, concluído em 2021.

Desde 2024, atuava como conselheira escolar na Fraser River Middle School, na cidade de New Westminster. Anteriormente, trabalhou como professora infantil em outra escola secundária no Canadá e foi professora de música na Escola Americana do Rio de Janeiro. Kira era casada e se identificava como uma pessoa não-binária.

Nas suas redes profissionais, Kira afirmava que sua missão pessoal era "facilitar o desenvolvimento de jovens e comunidades marginalizadas e criar um ambiente diverso e equitativo".

A vítima também trabalhava com a adaptação de condições acadêmicas especiais, para estudantes neurodivergentes e estudantes com deficiências.

No Brasil, Kira fundou e cantou no bloco Marcha Nerd, com alguns amigos de faculdade da Unirio, em 2013. O bloco reúne pessoas fantasiadas de cosplay, com foliões fantasiados de personagens de animes, desenhos animados, filmes e histórias em quadrinhos, ao som de aberturas e trilhas de séries, filmes e animes.

"A ideia era tirar de casa as pessoas que frequentavam eventos de anime, cinema e levar elas para o carnaval. Juntar esses dois mundos tão distantes", afirmou Kira em uma entrevista no Youtube.

Em 2022, antes de ir para o Canadá, Kira se despediu com um vídeo publicado nas redes sociais do bloco, e compartilhou a ansiedade em morar no Canadá, principalmente pela forte presença da cultura asiática no país - uma das suas principais paixões.

Além de professora de música, Kira era compositora e pianista.

O governador de Illinois, JB Pritzker, discursou neste domingo, 27, em um evento tradicional do Partido Democrata de New Hampshire, reforçando sua projeção nacional em meio a especulações sobre uma possível candidatura presidencial em 2028. O jantar aconteceu no McIntyre-Shaheen 100 Club, onde Pritzker foi o orador principal. Trata-se de um dos principais eventos do calendário político no Estado, que realiza a primeira primária presidencial dos Estados Unidos.

De acordo com sua assessoria, Pritzker tratou da "ascensão do autoritarismo" e da necessidade de os democratas "lutarem contra isso". O bilionário herdeiro da rede Hyatt já havia chamado atenção nacional em fevereiro, ao comparar parte da retórica do presidente Donald Trump ao discurso da Alemanha nazista.

Pritzker tem feito uma série de discursos de perfil nacional, incluindo participação em um evento da Human Rights Campaign em Los Angeles e outro programado para junho em Minnesota. Ele ainda não confirmou se pretende buscar a reeleição para o governo de Illinois em 2026.

Entre os governadores democratas apontados como potenciais candidatos em 2028, Pritzker tem se posicionado de forma distinta. Gretchen Whitmer, de Michigan, buscou pontos de diálogo com Trump, enquanto Gavin Newsom, da Califórnia, lançou um podcast em que entrevista aliados do ex-presidente, como Steve Bannon.

Lou D'Allesandro, ex-senador estadual de New Hampshire e que conheceu Pritzker em Chicago anos atrás, afirmou que o governador de Illinois "tem todos os ingredientes para chegar ao topo", mas alertou que os democratas precisam reconectar-se com as bases eleitorais. Pritzker já havia sido orador em outro evento democrata em New Hampshire em 2022, o que já havia alimentado especulações sobre suas ambições nacionais.

Kira Salim (Clara Ganapol Salim), musicista brasileira de 34 anos, é uma das 11 vítimas mortas num atropelamento em um festival de rua em Vancouver, no Canadá, na madrugada deste domingo, 27 (pelo horário de Brasília). De identidade de gênero não-binária, Kira vivia no Canadá com o marido há quase três anos.

O Itamaraty confirmou ao Estadão o falecimento de uma cidadã brasileira no ataque e informou prestar todo atendimento consular aos familiares. No Brasil, parentes de Kira confirmaram sua morte à reportagem.

Natural do Rio de Janeiro e com família no Rio Grande do Sul, Kira formou-se em Licenciatura em Música pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), em 2014.

Segundo a família, o marido de Kira não estava presente no momento do incidente e aguarda o contato das autoridades locais para dar celeridade ao processo de sepultamento. A vítima trabalhava em uma escola na cidade de New Westminster, a cerca de 26 quilômetros do centro Vancouver.

A polícia de Vancouver informou que a identificação das vítimas do acidente passa por lentidão, mas deve se normalizar nas próximas horas

No Brasil, Kira organizou e cantou no bloco Marcha Nerd, que reúne pelas ruas do Rio de Janeiro diversas pessoas fantasiadas de personagens de animes, desenhos animados, videogames, filmes e histórias em quadrinhos, ao som de aberturas e trilhas de séries, filmes e animes das décadas de 80 e 90.

Kira se despediu do bloco em julho de 2022 e, em vídeo publicado nas redes sociais, compartilhou a ansiedade em morar no Canadá.

Nas redes sociais, Kira afirmava que sua missão pessoal como profissional da educação era facilitar o desenvolvimento de jovens e comunidades marginalizadas, criando um ambiente "diverso e equitativo que valoriza diferentes forças e personalidades, oferecendo soluções personalizadas e inovadoras para apoiar os pacientes".

A polícia de Vancouver confirmou que um homem de 30 anos foi dominado pela multidão e preso em seguida. Ele permanece sob custódia. Durante coletiva, o chefe interino da polícia local, Steve Rai, afirmou que o suspeito sofre com problemas de saúde mental e tinha um histórico significativo de interações com a polícia e profissionais de saúde.

Rai em coletiva também descartou, por enquanto, que o caso tenha algum tipo de motivação terrorista e chamou o ataque de o dia mais sombrio da história da cidade. "Em nome de todos no Departamento de Polícia de Vancouver, quero expressar minhas sinceras condolências às vítimas, suas famílias e entes queridos e a todos que foram afetados por este ato de violência sem sentido e doloroso", disse em nota.

Festival homenageia chefe indígena filipino que lutou contra colonizadores

O Dia de Lapu Lapu comemora Datu Lapu-Lapu, um chefe indígena que enfrentou os colonizadores espanhóis que chegaram às Filipinas no século 16.

Os organizadores do evento em Vancouver disseram que ele "representa a alma da resistência nativa, uma força poderosa que ajudou a moldar a identidade filipina frente à colonização".

Políticos canadenses expressam solidariedade

O primeiro-ministro, Mark Carney, e outros políticos canadenses importantes publicaram mensagens expressando choque pela violência, condolências às vítimas e apoio à comunidade que celebrava sua herança cultural no festival.

"Ofereço minhas mais profundas condolências aos entes queridos dos falecidos e feridos, à comunidade filipino-canadense e a todos em Vancouver. Estamos de luto com vocês. Estamos monitorando a situação de perto e agradecemos aos nossos socorristas pela rápida ação", escreveu Carney.

"Enquanto esperamos para saber mais, nossos pensamentos estão com as vítimas e suas famílias, e com a comunidade filipina de Vancouver, que se reunia hoje para celebrar a resiliência", escreveu Jagmeet Singh, líder do Novo Partido Democrático, que havia estado no festival mais cedo naquele dia.

"Meus pensamentos estão com a comunidade filipina e todas as vítimas deste ataque sem sentido. Obrigado aos serviços de emergência que estão na cena enquanto esperamos para saber mais", escreveu Pierre Poilievre, líder do Partido Conservador.

David Eby, o primeiro-ministro da Colúmbia Britânica, a província onde Vancouver está localizada, disse que estava chocado e com o coração partido. "Estamos em contato com a cidade de Vancouver e forneceremos qualquer apoio necessário", escreveu Eby.