Saúde comprou, sem necessidade, preservativos femininos na pandemia, aponta CGU

Política
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times
Relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) mostrou que contratos do Ministério da Saúde, no valor de R$ 31,9 milhões, para compra de preservativos femininos durante a pandemia de covid-19 eram desnecessários. Segundo o documento, o estoque existente do item era suficiente para atender à demanda por mais 12 meses. Procurada, a pasta informou que vai analisar os apontamentos do órgão sobre os contratos firmados na gestão passada.

A CGU apontou que o ministério no governo Jair Bolsonaro realizou licitações e comprou 10 milhões de preservativos femininos de látex ou borracha entre setembro de 2020 e setembro de 2021. A pasta, porém, tinha em estoque mais de 8,5 milhões de unidades de preservativos femininos em látex, adquiridos em 2019. Os itens são distribuídos para a população.

"A efetivação dos contratos nº 316/2020 e nº 317/2020, no momento em que ocorreram, era desnecessária, tendo em vista o estoque de 8.522.300 preservativos femininos em látex provenientes de contrato anterior e suficiente para atender a demanda por mais de 12 meses", diz documento.

De acordo com a CGU, as aquisições do pregão eletrônico de 2020 ocorreram em "contexto crítico" da saúde pública do Brasil, quando o País já que enfrentava a pandemia da covid-19.

"Há que se ressaltar o contexto crítico em que se encontrou a saúde pública no Brasil a partir do início de 2020, em meio à pandemia decorrente do coronavírus, ocasião em que o MS precisava concentrar esforços para destinar a quantidade necessária de insumos e de recursos financeiros para Estados e municípios no tratamento da população acometida pela pandemia", informa o relatório.

"Ainda sobre o momento em que se dera tais contratações, há que se considerar o impacto que as restrições impostas à circulação de pessoas ocasionaram na necessidade efetiva de distribuição dos preservativos femininos adquiridos, além do fato de que diversas campanhas realizadas em épocas festivas comuns no calendário brasileiro, em que há um reforço na distribuição de preservativos, não foram realizadas ou não tiveram o efeito esperado em razão do cancelamento de alguns eventos, como carnaval e réveillon."

Os 7,9 milhões de preservativos femininos distribuídos em 2021 ainda foram do estoque remanescente do contrato anterior, conforme o documento. A distribuição dos itens adquiridos em 2020 foi, de fato, ocorrer a partir de fevereiro de 2022.

"Vê-se, portanto, que o MS dispunha de um estoque de preservativos femininos em látex suficiente para suprir toda sua demanda de distribuição pelo ano de 2021, não havendo necessidade que justificasse a aquisição dos preservativos femininos em látex ainda no final de 2020."

A CGU concluiu que os contratos foram baseados em um consumo médio superestimado e em uma estimativa de cobertura subestimada.

Empresa investigada entrou na mira da CPI da Covid

No relatório, a CGU ainda identificou a atuação "intempestiva" e "inefetiva" do fiscal dos contratos no acompanhamento das entregas e na morosidade do Ministério da Saúde na aplicação de multa às empresas Precisa e Injeflex, no valor total de R$ 2.790.207, as quais ainda não foram pagas.

"Recomenda-se ao Ministério da Saúde a apuração de responsabilidade dos agentes públicos envolvidos nos fatos relatados", aponta o documento.

A Precisa já havia entrado na mira das investigações da CPI da Covid, instalada para investigar irregularidades do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a compra de vacinas e o combate à pandemia. A CGU já havia multado em R$ 3,8 milhões a empresa por fraudar o processo de venda da vacina contra a covid-19 Covaxin ao Ministério da Saúde, em 2020. A negociação envolvia a compra de 20 milhões de doses do imunizante fabricado em um laboratório indiano.

A CGU aponta que os fatos ou as condutas apuradas no relatório poderão ser encaminhados às instâncias especificas do órgão para a realização de juízo de admissibilidade. "Ademais, espera-se que, a partir dos resultados obtidos neste trabalho de auditoria, o Ministério da Saúde planeje de forma mais assertiva suas aquisições; atue com mais transparência na priorização das compras de insumos e maior racionalidade na otimização da utilização dos recursos públicos e no dimensionamento das reais necessidades de abastecimento e distribuição; e seja tempestivo no acompanhamento dos contratos e na aplicação e cobrança de penalidades aplicadas."

Em outra categoria

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, propôs nesta terça-feira, 4, um plano de 800 bilhões de euros, nomeado "REARM Europe", para fortalecer as defesas das nações da União Europeia (UE), visando diminuir o impacto de um possível "desengajamento" dos Estados Unidos e fornecer à Ucrânia força militar para negociar com a Rússia, após a pausa da ajuda americana aos ucranianos.

O pacote ainda será apresentado aos 27 líderes da união. Na quinta-feira, 6, os representantes europeus realizarão uma reunião de emergência em Bruxelas para tratar sobre o assunto. "Não preciso descrever a grave natureza das ameaças que enfrentamos", disse von der Leyen. Fonte: Associated Press.

O Ministério das Relações Exteriores, em nota divulgada nesta segunda-feira (3), lamentou a suspensão da entrada da ajuda humanitária na Faixa de Gaza por Israel. "O governo brasileiro deplora a decisão israelense de suspender a entrada de ajuda humanitária em Gaza, que exacerba a precária situação humanitária e fragiliza o cessar-fogo em vigor", diz o texto do Itamaraty.

Israel interrompeu a entrada de todos os bens e suprimentos na Faixa de Gaza no domingo (2) e advertiu sobre "consequências adicionais" caso o Hamas não aceite uma nova proposta para estender o cessar-fogo.

O Itamaraty diz que o Brasil pede a "imediata reversão da medida", recordando que "Israel tem obrigação - conforme reconhecido pela Corte Internacional de Justiça em suas medidas provisórias de 2024 - de garantir a prestação de serviços básicos essenciais e assistência humanitária à população de Gaza, sem impedimentos". A nota afirma ainda que a obstrução deliberada e o uso político da ajuda humanitária constituem grave violação do direito internacional humanitário.

O governo brasileiro defende que as partes promovam o estrito cumprimento dos termos do acordo de cessar-fogo e o engajamento nas negociações "a fim de garantir cessação permanente das hostilidades, retirada das forças israelenses de Gaza, libertação de todos os reféns e estabelecimento de mecanismos robustos para ingresso de assistência humanitária desimpedida, previsível e na necessária escala."

A discussão entre os presidentes dos EUA, Donald Trump, e da Ucrânia, Volodimir Zelenski, na última sexta-feira (28) na Casa Branca levou as relações entre os dois países a um conflito. Ele também causou sério dano a uma aliança no coração da ordem estabelecida depois da Segunda Guerra Mundial: a Otan, a Organização do Tratado do Atlântico Norte.

Trump adotou uma posição que muitos aliados europeus viam como se ele estivesse do lado do presidente da Rússia, Vladimir Putin, ao ignorar as preocupações de segurança de um país amigo que precisa de ajuda do Ocidente. Ele disse que o presidente ucraniano estava perdendo a guerra e "não tinha cartas".

A Otan é baseada na ideia de que os EUA podem usar seu poderio militar, incluindo o arsenal de armas nucleares, para defender qualquer aliado que for atacado. Esta premissa fundamental agora está sendo questionada.

"Eu estou preocupado que estamos nos últimos dias da Otan", disse o almirante aposentado James Stavridis, ex-comandante aliado supremo da Otan. Ele destacou que a aliança "pode não entrar prestes a entrar em colapso, mas eu posso certamente ouvir o ranger mais alto do que em outros tempos em minha longa carreira militar."

No último domingo, 2, Trump publicou uma mensagem na sua plataforma Truth Social: "Devemos dedicar menos tempo nos preocupando com Putin e mais tempo nos preocupando sobre as gangues de imigrantes que cometem estupros, traficantes, assassinos e pessoas que vieram de instituições (de saúde) mental entrando em nosso país - Para que não acabemos como a Europa." A Casa Branca não fez comentários sobre a política do governo dos EUA sobre a Otan.

A força do apoio de Trump à Otan, que foi criticada no passado, continua incerta. Na Casa Branca na última sexta-feira, ele disse "estamos comprometidos com a Otan" e elogiou um país membro, a Polônia, que faz muitos gastos com defesa.

No sábado, dia 1º, Elon Musk, um assessor de Trump que lidera o departamento de eficiência do governo, endossou uma mensagem na plataforma X que defendia a retirada dos EUA da Otan e das Nações Unidas.

Líderes europeus, que confiam na Otan para a segurança de seus países, têm evitado falar publicamente sobre as ameaças à aliança, mas alguns começam a comentar planos alternativos. "Queremos preservar a parceria transatlântica e a nossa força conjunta", comentou no sábado a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock. "Mas ontem vimos uma vez mais que os europeus não devem ser ingênuos", disse, referindo-se aos eventos ocorridos na Casa Branca na sexta-feira: "Temos que assumir a responsabilidade pelos nossos próprios interesses, nossos próprios valores e nossa própria segurança, pelo bem do nosso povo na Europa."