Desafio de Lula agora é consolidar a 'frente ampla' no ministério

Política
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O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva terá uma conversa definitiva, nesta sexta-feira, 23, com a senadora Simone Tebet (MDB-MS) e vai oferecer a ela, como primeira opção, o Ministério do Meio Ambiente. Simone disse a interlocutores que pode aceitar, desde que não passe na frente da deputada eleita Marina Silva (Rede-SP). Lula afirmou a aliados que, caso não haja acordo para que Marina assuma o novo posto de Autoridade Climática, oferecerá a Simone o Planejamento.

A nove dias da posse, o presidente eleito ainda não completou a equipe de governo. Nesta quinta-feira, 22, ele anunciou 16 ministros, incluindo na lista o futuro vice-presidente Geraldo Alckmin, que será titular de Indústria e Comércio. Lula também apresentou as primeiras mulheres que vão integrar a Esplanada, como Nísia Trindade Lima para Saúde.

O perfil dos nomes mostra que, até agora, Lula escolheu somente aliados de primeira hora do PT e de partidos com quem tem mais afinidade política por não conseguir superar a tempo os inúmeros entraves para abrigar indicados por alas do MDB, do PSD e do União Brasil. Além disso, o petista também aguardava a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição ser aprovada pelo Congresso para medir a fidelidade dos novos apoiadores. Já promulgada, a PEC permite ao governo aumentar gastos para pagar o Bolsa Família.

Em pronunciamento na cerimônia de diplomação, no último dia 12, Lula destacou o papel dos partidos que o apoiaram na disputa contra o presidente Jair Bolsonaro (PL), acenando para uma gestão além do PT para ter governabilidade. A cota petista na equipe, atualmente, está em oito nomes, mas deve chegar a pelo menos dez dos 37 ministérios da Esplanada, no terceiro mandato de Lula.

O maior impasse ainda reside na cadeira a ser ocupada por Simone e nas vagas que devem ser oferecidas ao União Brasil. Lula recebeu, nesta quinta-feira, o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), os senadores Renan Calheiros (AL) e Eduardo Braga, além do líder do partido na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL), para tratar da composição do governo.

O MDB terá três ministérios, mas Simone é considerada como um nome da "cota pessoal" de Lula. O senador eleito Renan Filho (MDB), ex-governador de Alagoas, comandará o Ministério dos Transportes. O deputado José Priante (PA), primo do governador do Pará, Helder Barbalho, deve ser a indicação do MDB da Câmara para o cobiçado Ministério das Cidades, a ser recriado.

Simone apoiou Lula no segundo turno e queria Desenvolvimento Social, mas, por pressão do PT, o ministério foi entregue ao senador eleito Wellington Dias, ex-governador do Piauí. Foi naquele Estado que Lula lançou o Fome Zero, em 2003. O programa deu origem ao Bolsa Família.

A pasta de Desenvolvimento Social é vista pelo partido como "coração do governo". Para a cúpula do PT, não era aceitável deixar Simone, uma possível adversária na disputa de 2026, em um cargo de tanta visibilidade e com um dos maiores orçamentos da Esplanada.

Se depender do comando petista, Marina Silva também não deve voltar a comandar Meio Ambiente porque pode ter novos embates no ministério, sobretudo com o agronegócio. Ministra no primeiro mandato de Lula, quando ainda era filiada ao PT, Marina saiu do governo sob desgaste, em 2008, e se desfiliou do partido. Somente se reaproximou de Lula nesta campanha, por intermédio de Fernando Haddad, futuro ministro da Fazenda.

O desejo de Lula é que ela assuma Autoridade Climática, cargo que ficaria sob o guarda-chuva da Presidência da República. Na campanha, Marina sugeriu ao petista a criação desse posto, mas não planeja ocupá-lo porque o considera muito técnico. Além disso, avalia que Autoridade Climática precisa ficar na estrutura do Meio Ambiente, e não da Presidência.

Desde o início do mês, Lula anunciou titulares para 21 pastas - outros cinco nomes já haviam sido divulgados no último dia 9. Ele ainda precisa escolher 16 ministros.

Nessa temporada, Lula enfrentou a pressão do PP do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), que queria o Ministério da Saúde, uma espécie de feudo do partido há vários anos. Mas Lula bancou Nísia, a presidente da Fiocruz, que vai herdar uma das pastas mais problemáticas do governo de Jair Bolsonaro.

Na equação difícil de fechar com o centro e o Centrão, o PSD do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), ficará com dois ministérios. Um deles é Agricultura, que terá à frente o senador Carlos Fávaro (PSD-MT). O partido também reivindica a vaga de Minas e Energia para o senador Alexandre Silveira (MG), aliado de Pacheco.

Essa cadeira, no entanto, também é cobiçada pelo líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA). Homem da confiança de Lira, Elmar está de olho, ainda, no Ministério do Desenvolvimento Regional, pasta à qual a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do Parnaíba e São Francisco (Codevasf) está subordinada. Dona de um orçamento de R$ 3,5 bilhões para 2023, a Codevasf foi a autarquia que mais recebeu recursos do orçamento secreto nos últimos anos, como mostrou o Estadão, protagonizando escândalos de compras superfaturadas.

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Em resposta ao anúncio de um cessar-fogo de três dias feito pela Rússia para marcar o aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou nesta segunda-feira, 28, o Kremlin de manipulação e exigiu um fim imediato e duradouro à guerra Rússia-Ucrânia.

"Agora, mais uma vez, vemos uma nova tentativa de manipulação: por alguma razão, todos deveriam esperar até 8 de maio e apenas então cessar o fogo, para garantir silêncio para Putin durante o desfile de comemoração do fim da Segunda Guerra", afirmou Zelensky. "Nós valorizamos a vida das pessoas, não desfiles."

O líder ucraniano destacou que qualquer trégua deve ser incondicional e prolongada, não apenas simbólica. "O fogo deve ser interrompido não por alguns dias, para depois voltar a matar, mas sim de forma imediata, completa e incondicional. E por no mínimo 30 dias, para que seja garantido e confiável. Só assim será possível criar uma base para uma diplomacia real", disse.

Zelensky também denunciou novos ataques russos contra civis, mesmo diante dos apelos internacionais pelo fim da guerra. "Mais uma vez, a Rússia atacou um alvo que não tem relação com a guerra, mas com as pessoas. E isso aconteceu em meio às exigências do mundo para que a Rússia encerre esta guerra", afirmou. "Cada novo dia é uma nova e clara prova de que é necessário aumentar a pressão sobre a Rússia, pressionar de forma significativa, para que, em Moscou, sejam obrigados a pôr fim a esta guerra, uma guerra que apenas a própria Rússia quer."

O presidente ucraniano reiterou a disposição do país em buscar a paz, mas acusou a Rússia de sabotar os esforços diplomáticos. "Sempre deixamos claro que estamos prontos para trabalhar o mais rapidamente possível com todos os parceiros que possam ajudar a estabelecer a paz e garantir a segurança. A Rússia rejeita constantemente essas iniciativas, manipula o mundo e tenta enganar os Estados Unidos", afirmou.

O Kremlin afirmou nesta segunda-feira, 28, que as relações com a Coreia do Norte continuarão a se desenvolver "dinamicamente em todas as áreas", após a participação de tropas norte-coreanas no combate a uma incursão ucraniana na região russa de Kursk. Em comunicado oficial, o governo russo destacou que suas Forças Armadas "derrotaram completamente" os grupos ucranianos que invadiram o território, encerrando o que classificou como uma "provocação criminosa" de Kiev.

A Rússia expressou confiança de que os laços entre Moscou e Pyongyang, "aprofundados no campo de batalha", seguirão se fortalecendo. "Estamos certos de que a amizade, a boa vizinhança e a cooperação entre nossas nações se desenvolverão com sucesso e dinamismo em todas as direções", afirmou o texto.

Segundo o Kremlin, unidades do exército da Coreia do Norte participaram ativamente da operação, em conformidade com o "Tratado de Parceria Estratégica Abrangente" assinado entre os dois países em junho de 2024. O comunicado citou o artigo 4 do acordo, que prevê "assistência militar imediata em caso de ataque armado" a uma das partes.

"Os amigos coreanos agiram com base em um senso de solidariedade, justiça e verdadeira camaradagem", destacou o Kremlin, acrescentando que a Rússia está "profundamente grata" ao líder Kim Jong Un, ao governo e ao povo norte-coreano. Moscou também elogiou o "heroísmo, treinamento e dedicação" dos soldados da Coreia do Norte, que lutaram "ombro a ombro" com as tropas russas.

"O povo russo nunca esquecerá o feito dos combatentes de elite coreanos. Honraremos eternamente seus heróis, que deram suas vidas pela Rússia e por nossa liberdade comum, assim como nossos irmãos de armas", concluiu o comunicado.

O ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, afirmou neste domingo, 27, que Pequim está acompanhando de perto o desenvolvimento da situação entre a Índia e o Paquistão, reiterando que a China entende as preocupações e apoia a segurança paquistanesa, mas que o conflito não atende aos interesses fundamentais dos países e nem é propício à paz e estabilidade regional.

Wang teve uma conversa telefônica com o vice-primeiro-ministro e ministro das Relações Exteriores do Paquistão, Ishaq Dar. "Esperamos que ambos os lados consigam exercer moderação, chegar a um acordo e trabalhar para acalmar a situação", disse ele em comunicado.

O ministro da Defesa do Paquistão, Khawaja Muhammad Asif, declarou hoje que uma incursão militar da Índia é iminente após um ataque mortal a turistas na Caxemira na semana passada, que resultou na morte de 26 pessoas.

Nesta segunda-feira, 28, pelo menos mais sete pessoas foram mortas e 16 ficaram feridas depois que uma bomba potente explodiu do lado de fora do escritório de um comitê de paz pró-governo em um antigo reduto do Talibã paquistanês, informou a polícia.