Padilha e Lira acumulam divergências desde o começo do governo Lula; relembre

Política
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O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), deflagrou um novo embate com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, ao chamá-lo de "incompetente" e "desafeto pessoal" nesta quinta-feira, 11. Em resposta, Padilha disse nesta sexta-feira, 12, que "não vai se rebaixar ao nível" de Lira. Esse não foi o primeiro atrito entre os dois, que acumulam rusgas desde o início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Lira definiu Padilha como 'centralizador'

Nos dois primeiros meses de governo, em 2023, Lula ainda não havia conseguido consolidar a base de apoio na Câmara, e deputados responsabilizavam Padilha por "não entregar" o prometido e por "não ter boa vontade para conversar". Nesse cargo, o ministro é responsável pela articulação política entre o Planalto e o Congresso.

A falta de diálogo entre os Poderes motivou a primeira crítica pública de Lira a Padilha, em abril de 2023. Em entrevista ao jornal O Globo, o presidente da Câmara afirmou que a pasta de Padilha precisava de maior organização e definiu, em um tom mais ameno, que o ministro atuava como um "centralizador".

"O governo precisa se organizar, mais especificamente a Secretaria de Relações Institucionais. Padilha é um sujeito fino e educado, mas que tem tido dificuldades. Não tem se refletido em uma relação de satisfação boa. Talvez a turma precise descentralizar mais, confiar mais. Se você centraliza, prende muito", afirmou.

No início de maio, Lira se reuniu com Lula e reclamou que os acordos firmados entre os Poderes não estavam sendo cumpridos. O presidente, então, decidiu solucionar o problema e determinou que os seus ministros liberassem R$ 10 bilhões em emendas para deputados e senadores.

As emendas também motivaram o rompimento da relação entre Lira e Padilha, no final do ano passado. A decisão partiu do presidente da Câmara, após o governo editar uma portaria que estabeleceu que as emendas parlamentares na área da Saúde deveriam passar por um colegiado composto por gestores estaduais e municipais do Sistema Único de Saúde (SUS).

A partir disso, o deputado decidiu que procuraria o ministro da Casa Civil, Rui Costa, para discutir assuntos envolvendo o Executivo. As mensagens de Padilha, por sua vez, passaram a ser transmitidas por interlocutores do Planalto, como o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE).

Padilha de fora dos agradecimentos da reforma tributária

Em dezembro, quando o Congresso Nacional promulgou a reforma tributária, Padilha não foi mencionado nos agradecimentos, nem sequer na nominata do evento. Segundo a Coluna do Estadão, o discurso de Lira expôs a crise na articulação política do governo.

A situação refletiu a ausência de Padilha nas negociações da reforma e mostrou que ele não conseguiu estreitar uma relação de diálogo com deputados e senadores. Os méritos sobre as tratativas da reforma ficaram com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e sua equipe.

Lira tentou convencer Lula a trocar Padilha

Em fevereiro, durante a abertura do ano legislativo, Lira deu um duro recado ao governo. Em discurso, o alagoano cobrou do Planalto o compromisso com "a palavra dada" e afirmou que o Congresso respeita os acordos políticos firmados. O presidente da Câmara também disse que o Orçamento da União "pertence a todos, não apenas ao Executivo".

"Boa política se apoia num pilar essencial: no respeito a acordos firmados e compromisso a palavra empenhada. Por nos mantermos fiéis à boa política é que exigimos como natural contrapartida respeito a decisões e fiel cumprimento a acordos firmados com o Parlamento", disse o deputado.

Naquele dia, Padilha tentou minimizar publicamente os atritos com Lira e cumprimentou o parlamentar em dois momentos distintos. Os dois, porém, não trocaram palavras durante a sessão.

Nos bastidores, o presidente da Câmara ameaçava impedir a tramitação de propostas de interesse do Planalto enquanto Lula não trocasse o ministro das Relações Institucionais. O presidente, por sua vez, decidiu não ceder às pressões de Lira e decidiu manter Padilha no cargo.

Relação entre Lira e Padilha não melhorou

Lula e o presidente da Câmara se reuniram no Planalto após o discurso e fizeram uma promessa mútua de melhorar a relação entre os Poderes. Para interlocutores, o deputado disse que o resultado da conversa no Palácio da Alvorada ia além de um armistício e que garantiu ao petista que o jogo estava zerado.

Padilha, por sua vez, tentou minimizar as divergências que foram expostas pelo presidente da Câmara. Com afagos ao deputado, o ministro afirmou que esperava repetir uma "dupla de sucesso" com a Câmara e o Senado em 2024 e que o governo Lula "não rompeu e nunca romperá" com o Legislativo.

"O governo em nenhum momento rompeu nem nunca romperá a relação com o Congresso Nacional. Este governo, sob a liderança de Lula, não gera conflito, não entra em conflito", afirmou.

Três semanas após a abertura do ano legislativo, Lula organizou um happy hour no Palácio da Alvorada, onde convidou Lira e outros líderes partidários e cinco ministros para tentar melhorar a relação entre o Congresso e o Planalto. Padilha estava no encontro, mas, novamente os dois não conversaram.

Presidente da Câmara esticou a corda publicamente

Durante um evento da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) em Londrina, no Paraná, nesta quinta, Lira foi questionado sobre notícias de que ele teria se enfraquecido após a votação da Casa que decidiu manter preso o deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), suspeito de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), em março de 2018.

"(A notícia) foi vazada do governo e, basicamente, do ministro Padilha, que é um desafeto além de pessoal, incompetente", afirmou Lira. "Não existe partidarização, eu deixei bem claro que ontem (quarta) a votação era de cunho individual, cada deputado é responsável pelo voto que deu. Não tem nada a ver, não teve um partido que fechasse questão, os partidos liberaram, na sua maioria (as bancadas para que votassem como quisessem)", emendou.

Padilha, por sua vez, reagiu às falas de Lira durante o Fórum Brasileiro dos Líderes de Energia, no Rio de Janeiro. Citando uma música do rapper Emicida, o ministro disse que "rancor é igual tumor" e afirmou que preferia considerar as declarações de Lula sobre o seu trabalho.

"Sobre rancor, a periferia da minha cidade (São Paulo) produziu na grande figura do Emicida, que: 'mano, rancor é igual tumor, envenena a raiz, a plateia só deseja ser feliz'. Eu sou deputado e converso com todos os deputados e deputadas, senadores e senadoras, e sei que todo mundo ali quer ser feliz", disse.

Deputados vinculados a Lira tem a convicção de que a reação do presidente da Câmara foi motivada por interferência de Padilha na votação sobre a prisão de Chiquinho Brazão, "um assunto interno do Parlamento".

Governistas, por outro lado, acreditam que as declarações do parlamentar foram motivadas pelo enfraquecimento da candidatura do líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), à presidência da Câmara, após Brazão ser mantido preso. Ele é o candidato de Lira ao cargo, que será disputado em 2025.

A estratégia do Centrão, segundo a base aliada do Planalto, era soltar Brazão como um recado ao Supremo Tribunal Federal (STF), o que também mostraria fragilidade do governo. Depois, a ideia seria cassar o mandato do deputado no Conselho de Ética e, com isso, agradar à opinião pública.

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O governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, optou nesta segunda-feira, 3, por pausar toda a ajuda militar à Ucrânia. A pausa ocorre dias depois de um bate-boca entre Trump e o presidente ucraniano na Casa Branca.

Um funcionário da Casa Branca afirmou à Associated Press que a pausa na ajuda deve continuar até que Zelenski esteja disposto a negociar um acordo de paz com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Segundo o funcionário, trata-se de uma "revisão" para entender se a ajuda a Kiev estava "contribuindo para que a solução seja encontrada".

De acordo com informações da Agência Bloomberg, todo o equipamento militar dos EUA que estiver a caminho de Kiev não seria entregue aos ucranianos, incluindo armas em trânsito.

Pausa foi decidida depois de reunião com gabinete

Segundo informações do jornal Washington Post, a decisão foi tomada em uma reunião na Casa Branca nesta segunda-feira, 3, que incluiu o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, o vice-presidente J.D. Vance, o secretário de Defesa Pete Hegseth, a diretora de Inteligência Nacional Tulsi Gabbard e o enviado para o Oriente Médio, Steve Witkoff.

A medida segue uma ordem dada na semana passada por Hegseth para que o Comando Cibernético dos EUA suspendesse as operações ofensivas de informação e cibernética contra a Rússia enquanto as negociações para encerrar a guerra estiverem em andamento.

A decisão sobre a ajuda militar ocorre no mesmo dia em que Trump afirmou durante uma entrevista coletiva que Zelenski deveria "apreciar mais" a ajuda econômica e militar que Washington forneceu a Kiev ao longo dos três anos da guerra da Ucrânia. O republicano também acusou Zelenski de não querer realizar um acordo para acabar com a guerra.

"Se uma pessoa não quer fazer um acordo, ela não vai ficar muito tempo em evidência. O povo ucraniano quer um acordo, eles sofreram mais do que qualquer um", apontou Trump.

Mais cedo, Trump voltou criticar Zelenski após o presidente ucraniano afirmar que a guerra entre Ucrânia e Rússia estava "muito longe de acabar".

Discussão

Este é mais um capitulo da polemica entre os dois líderes que começou na sexta-feira, 28, após uma discussão no Salão Oval da Casa Branca. O bate-boca foi iniciado por discordâncias envolvendo um possível acordo de paz entre Rússia e Ucrânia. Durante o encontro, o presidente dos Estados Unidos pediu que a Ucrânia aceitasse "concessões".

Zelenski, por sua vez, exigiu que não houvesse condescendência com o presidente russo, a quem chamou de "assassino", e mostrou fotos da guerra iniciada há três anos, após a invasão de seu país. De repente, o tom mudou. O vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, interveio, defendendo a "diplomacia" - o pontapé da discussão.

Após o diálogo tenso, Trump publicou um comunicado em suas redes sociais no qual disse que o ucraniano Volodmir Zelenski não está pronto para uma paz que envolva a participação americana. "Tivemos uma reunião muito significativa na Casa Branca hoje. Aprendemos muito que jamais poderia ser entendido sem uma conversa sob tanto fogo e pressão", escreveu o presidente em sua plataforma de mídia social, o Truth Social.

O presidente ucraniano havia viajado a Washington para assinar um acordo que permitiria que os Estados Unidos explorassem terras raras da Ucrânia. Mas após a briga, o acordo foi cancelado e Zelenski foi expulso da Casa Branca.

Ajuda dos EUA a Ucrânia

Em diversas ocasiões, Trump reclamou que os EUA forneceram cerca de US$ 350 bilhões em ajuda econômica e militar à Ucrânia ao longo dos três anos de guerra, mas na realidade os números são bem mais baixos.

O valor da ajuda de Washington para a Ucrânia até agora foi de US$ 120 bilhões (cerca de R$ 693 bilhões na cotação atual), segundo dados do Instituto Kiel para a Economia Mundial (IfW Kiel).

A ajuda militar fornecida por Washington consistiu em mísseis Patriot, mísseis Atacms, HIMARS (Sistema de Foguetes de Artilharia de Alta Mobilidade), munições antidrones e minas terrestres antipessoal.(Com agências internacionais)

O governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, optou nesta segunda-feira, 3, por pausar toda a ajuda econômica e militar à Ucrânia. A pausa ocorre dias depois de um bate-boca entre Trump e o presidente ucraniano na Casa Branca.

Um funcionário da Casa Branca afirmou à Associated Press (AP) que a pausa na ajuda deve continuar até que Zelenski esteja disposto a negociar um acordo de paz com o presidente da Rússia, Vladimir Putin.

O oficial apontou que todo o equipamento militar dos EUA que estiver a caminho de Kiev não seria entregue aos ucranianos, incluindo armas em trânsito. Segundo o funcionário, trata-se de uma "revisão" para entender se a ajuda a Kiev estava "contribuindo para que a solução seja encontrada".(Com AP)

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, afirmou no domingo, 2, que a guerra entre Rússia e Ucrânia "ainda está muito, muito longe de acabar". As declarações de Zelenski ocorreram depois de um bate-boca com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na sexta-feira, 28, sobre o futuro do conflito. O presidente ucraniano também afirmou que está confiante em uma manutenção do relacionamento entre Kiev e Washington.

"Acho que nosso relacionamento com os EUA continuará, porque é mais do que um relacionamento ocasional", disse Zelenski no domingo à noite, referindo-se ao apoio de Washington nos últimos três anos de guerra. "Acredito que a Ucrânia tem uma parceria forte o suficiente com os Estados Unidos para manter a ajuda militar e econômica", disse ele em um briefing em ucraniano.

O presidente ucraniano se mostrou otimista, apesar da briga diplomática entre países ocidentais que têm ajudado a Ucrânia com equipamentos militares e ajuda financeira. A reviravolta dos eventos é indesejável para a Ucrânia, cujo Exército está tendo dificuldade na luta contra os russos.

Zelenski participou de uma cúpula com líderes europeus em Londres no final de semana. O consenso é que a Europa terá que aumentar o seu financiamento militar e econômico a Ucrânia.

A Europa desconfia dos motivos e da estratégia de Trump para acabar o conflito. Friedrich Merz, o provável próximo chanceler da Alemanha, disse nesta segunda-feira, 3, que não acreditava que a discussão no Salão Oval fosse espontânea.

Merz apontou que assistiu à cena repetidamente. "Minha avaliação é que não foi uma reação espontânea às intervenções de Zelenski, mas aparentemente uma escalada induzida nesta reunião no Salão Oval", disse Merz. "Eu defenderia que nos preparássemos para ter que fazer muito, muito mais pela nossa própria segurança nos próximos anos e décadas", disse ele.

O político alemão afirmou que estava "surpreso" com o tom da discussão, mas que houve "uma certa continuidade no que estamos vendo de Washington no momento".

Trump rebate Zelenski

Após a declaração de Zelenski, Trump rebateu o presidente ucraniano. "Esta é a pior declaração que poderia ter sido feita por Zelenski e os EUA não vão tolerar isso por muito mais tempo!", disse o presidente americano em uma publicação em sua plataforma Truth Social.

"É o que eu estava dizendo, esse cara não quer que haja Paz enquanto ele tiver o apoio dos Estados Unidos", destacou Trump. O presidente americano também afirmou que a Europa não tem capacidade de fornecer ajuda militar suficiente para dar uma chance a Kiev em sua luta contra Moscou. "A Europa, na reunião que teve com Zelenski, declarou categoricamente que não pode fazer o trabalho sem os EUA. Está não é uma grande declaração para ser feita em termos de demonstração de força contra a Rússia".

Discussão

O bate-boca entre Trump e Zelenski começou durante uma reunião aberta para a imprensa no Salão Oval na sexta-feira. O republicano cumprimentou o presidente ucraniano com um aperto de mãos antes de fazer uma piada sobre seu traje de estilo militar. Durante o encontro, o presidente dos Estados Unidos pediu que a Ucrânia aceitasse "concessões".

Zelenski, por sua vez, exigiu que não houvesse condescendência com o presidente russo, a quem chamou de "assassino", e mostrou fotos da guerra iniciada há três anos, após a invasão de seu país. De repente, o tom mudou. O vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, interveio, defendendo a "diplomacia" - o pontapé da discussão.

Após o diálogo tenso, Trump publicou um comunicado em suas redes sociais no qual disse que o ucraniano Volodmir Zelenski não está pronto para uma paz que envolva a participação americana. "Tivemos uma reunião muito significativa na Casa Branca hoje. Aprendemos muito que jamais poderia ser entendido sem uma conversa sob tanto fogo e pressão", escreveu o presidente em sua plataforma de mídia social, o Truth Social.

"É incrível o que se revela por meio da emoção, e determinei que o presidente Zelenski não está pronto para a paz se os Estados Unidos estiverem envolvidos, porque ele acha que nosso envolvimento lhe dá uma grande vantagem nas negociações. Não quero vantagem, quero PAZ. Ele desrespeitou os Estados Unidos da América em seu estimado Salão Oval. Ele pode voltar quando estiver pronto para a paz."

Em meio à discussão, a planejada assinatura de um acordo entre os Estados Unidos e Ucrânia sobre minerais raros não aconteceu, segundo um assessor de imprensa da Casa Branca. O acordo que seria assinado permitiria que os Estados Unidos tivessem acesso recursos do subsolo ucraniano, como exigiu Trump, em compensação pela ajuda militar e financeira desembolsada nos últimos três anos.(Com AP)