CPAC Brasil: bolsonarismo elege 'porta-vozes' para diversificar público e Milei poupa Lula

Política
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A Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC Brasil) realizada em Balneário Camboriú (SC) no fim de semana deixou clara a estratégia de comunicação bolsonarista para manter os eleitores mobilizados, mesmo fora do poder. A aposta é definir porta-vozes para diferentes públicos e alcançar o máximo possível de pessoas, como já ocorreu na manifestação de 25 de fevereiro na Avenida Paulista.

Nos bastidores, uma pessoa próxima de Bolsonaro e de Michelle confirmou ao Estadão que o grupo pensa a comunicação de forma segmentada para atingir um maior número de setores da sociedade. Há ainda parlamentares cujo papel é incendiar a militância e abordar temas caros ao bolsonarismo, como liberdade de expressão e críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Nessa segmentação, o líder do grupo, ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), adota tom popularesco em seus discursos, enquanto a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) mira o eleitorado feminino com toques religiosos. Outro expoente do bolsonarismo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) é responsável pelo discurso técnico em relação à economia e à infraestrutura, listando medidas adotadas pelo governo Bolsonaro nessas áreas.

Completando o "elenco", o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) tem função dupla: se dirige aos jovens com uma linguagem dinâmica e própria das redes sociais, ao mesmo tempo em que permeia suas falas com referências religiosas. O pai do parlamentar é pastor em Belo Horizonte.

"A direita precisa ter paciência, não passiva, mas ativa. E é necessário a gente construir 'Bolsonaros' em cada área da sociedade. Caso contrário, a gente está deixando um espaço vazio e esse espaço vazio não vai ficar vazio. Essa é uma das características da política", disse Nikolas, em um mini-documentário exibido durante a CPAC Brasil.

Fortalecimento da direita internacional

O evento também teve entre seus objetivos o fortalecimento dos laços com outros elementos da direita internacional. O principal destaque foi o presidente da Argentina, Javier Milei, mas políticos do Chile, de El Salvador e da Holanda também discursaram. Essa frente de ação é coordenada por Eduardo Bolsonaro (PL-SP), organizador da CPAC Brasil.

Havia expectativa de que Milei fizesse novas críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com quem trocou farpas ao longo da semana passada, mas ele não fez referências ao petista em sua passagem pelo Brasil. Em vez disso, direcionou sua artilharia de forma genérica para "governos socialistas" da América Latina e afirmou que Bolsonaro é alvo de "perseguição judicial".

Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal por peculato, lavagem e associação criminosa no caso das joias sauditas, revelado pelo Estadão em março do ano passado. O assunto foi pouco comentado no evento ao longo do fim de semana. No discurso, o ex-presidente limitou-se a dizer que "não vai recuar".

Ao ser questionado pelo Estadão após o evento, ele disse que só falaria sobre o assunto em uma sabatina ao vivo na TV Globo. Já Michelle Bolsonaro também desconversou e afirmou que era necessário perguntar para quem "ficou com as joias".

Nikolas Ferreira ganha exposição

Embora seja apenas um deputado federal, como mais de uma dezena dos que discursaram, Nikolas Ferreira teve destaque na conferência. Cotado para ser candidato ao governo de Minas Gerais em 2026, ele foi o responsável por abrir o painel de encerramento do primeiro dia, enquanto Bolsonaro, Michelle, Tarcísio e o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL-SC) estavam no palco. Com um cargo mais alto na hierarquia política em comparação com Nikolas, o senador Jorge Seif (PL-SC) participou do painel, mas não teve direito à palavra.

Um documento interno da organização do evento sobre a ordem e o tempo de fala de cada palestrante mostra o status do deputado mineiro entre os bolsonaristas. Segundo a programação, Nikolas teria direito a discursar por 25 minutos, tempo inferior somente aos 40 minutos previstos para Jair Bolsonaro e o presidente da Argentina, Javier Milei, que encerraram o evento no sábado e no domingo, respectivamente.

Como comparação, Tarcísio e Jorginho poderiam falar no máximo por 20 minutos cada. Outros deputados federais, como Marcos Pollon (PL-MS) e Mário Frias (PL-SP), tiveram direito a 10 minutos cada. Os tempos não foram seguidos à risca por causa de atrasos e remanejamentos ao longo dos dois dias

Além disso, o livro de Nikolas, "O Cristão e a Política", foi o mais vendido do evento, segundo uma funcionária da livraria instalada no local.

Eleições municipais viram assunto principal e imprensa é hostilizada

De forma geral, as palestras da CPAC Brasil pouco abordaram a pauta de costumes, que é cara ao bolsonarismo, com temas como aborto, drogas e combate ao feminismo, mas houve menções a uma suposta ditadura judicial instalada no País, além de queixas sobre censura e liberdade de expressão, assim como pedidos para anistiar pessoas presas por participarem dos atos golpistas de 8 de Janeiro.

O foco, porém, foram as eleições municipais. Deputados e lideranças bolsonaristas que discursaram pediam a todo momento que pré-candidatos a vereador e prefeito que estavam na plateia levantassem a mão e frisavam que um bom desempenho no pleito era fundamental para sustentar uma candidatura presidencial bolsonarista em 2026.

Apesar de Bolsonaro estar inelegível, ele foi apontado ao longo dos dois dias do evento como o pré-candidato da direita e alguns deputados, como o paulista Gil Diniz (PL-SP), criticaram governadores que tentam se viabilizarem como sucessores do ex-presidente.

Tarcísio de Freitas, nome mais cotado para herdar o espólio político do ex-chefe do Executivo, foi efusivamente elogiado por Bolsonaro, o que tem se tornado praxe nos últimos meses. O governador paulista afirma que não deseja se candidatar a presidente em 2026 e prefere tentar a reeleição.

Políticos que perderam expressão com o fim do governo Bolsonaro também circularam entre o público, como os ex-ministros Onyx Lorenzoni (PL-RS), que está sem mandato, e Osmar Terra (MDB-RS), atualmente deputado federal.

Por outro lado, não houve destaque para a pré-candidatura do filho "04" do ex-presidente, Jair Renan (PL-SC). Ele é pré-candidato a vereador em Balneário Camboriú, cidade sede do evento, e integrantes do PL local apostam que ele será puxador de votos com potencial para aumentar a bancada do partido dos atuais 5 vereadores para 7 - o Legislativo municipal tem 19 parlamentares no total.

Desconfortável em conceder entrevistas, Jair Renan afirmou ao Estadão, quase de forma monossilábica, que está empolgado com a pré-candidatura, mas depois entrou em uma área reservada e não respondeu à pergunta sobre quais eram seus projetos para a cidade.

A imprensa foi hostilizada em duas ocasiões. No sábado, a reportagem do Estadão foi xingada por bolsonaristas após perguntar a Michelle Bolsonaro sobre o indiciamento da Polícia Federal. Um grupo de pessoas seguiu o repórter e um deles o empurrou com o ombro. Já no domingo, uma repórter da CNN Brasil teve que ser escoltada para fora do local do evento ao ser hostilizada por dezenas de pessoas.

"A direção da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC) repudia veementemente toda e qualquer forma de agressão aos profissionais de imprensa. O CPAC é um espaço democrático e tem como princípio a garantia da liberdade de expressão a todos", disse a organização do evento em nota enviada ao canal de televisão.

A CPAC Brasil foi realizada no Expocentro de Balneário Camboriú, onde foram instaladas cerca de 3.500 cadeiras. A organização anunciou que os ingressos, vendidos a R$ 250, esgotaram. Foram cobrados R$ 21,90 para quem quisesse assistir online, mas o link não funcionou e havia uma transmissão oficial gratuita no YouTube.

Houve problemas de organização, principalmente no sábado. O sistema de credenciamento e leitura dos ingressos não funcionou na parte da manhã e o público acessou o auditório mesmo sem comprovar que havia adquirido as entradas. O Estadão também flagrou um homem que conseguiu entrar no prédio sem passar pela revista por detector de metais. No período da tarde e no domingo os problemas foram corrigidos.

A organização também aproveitou para vender souvenirs do bolsonarismo, como o vinho Bolsonaro, lançado por Eduardo Bolsonaro, porta-retratos com fotografias do ex-presidente e uma tiara de flores, marca da deputada federal Júlia Zanatta (PL-SC) adotada por diversas mulheres que circulavam pelo CPAC Brasil. A versão mais cara do adereço foi vendida por R$ 100.

A parlamentar processou no mês passado o influenciador Felipe Neto por associá-la ao nazismo por causa da tiara. "Eu tenho muito orgulho de ser catarinense e não ligo se falam. Têm muitas tiarinhas aqui. A venda das tiaras mais volumosas se esgotou. Serão muitas tiarinhas por todo o Brasil", disse ela durante sua fala no evento.

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O Pentágono enviou um destroyer da Marinha para reforçar a segurança na fronteira sul dos Estados Unidos. O uso do navio de guerra - que esteve envolvido em operações no Oriente Médio ano passado - é incomum e reflete a utilização das Forças Armadas para conter o que Donald Trump chama de "invasão".

O USS Gravely, um destroyer lança-mísseis guiado, foi enviado para patrulhar águas que normalmente seriam vigiadas pela Guarda Costeira dos EUA. O general Gregory Guillot, que supervisiona o Comando Norte dos EUA, disse em comunicado que o navio de guerra vai melhorar a capacidade de "proteger a integridade territorial, a soberania e a segurança do país".

Autoridades de defesa acrescentaram, na mesma declaração, que o envio contribuirá para "uma resposta coordenada e robusta no combate ao terrorismo marítimo, à proliferação de armas, ao crime transnacional, à pirataria, à destruição ambiental e à imigração ilegal por via marítima."

O envio do destroyer é parte da resposta do Departamento de Defesa à ordem do presidente Donald Trump que exige o reforço na segurança da fronteira sul. Autoridades americanas não responderam se o Gravely será usado para suprir uma possível falta de navios da Guarda Costeira ou se tem a intenção de enviar um sinal aos cartéis de drogas.

Donald Trump classificou oito grupos criminosos como organizações terroristas e disse ter chegado a hora de "os Estados Unidos travarem uma guerra contra os cartéis".

O secretário de Defesa Pete Hegseth disse repetidas vezes que considera a fronteira uma questão de segurança nacional. E enviou milhares de tropas da ativa para reforçar as operações do Departamento de Segurança Interna da divisa com o México.

O envio do Gravely para a região do Comando Norte deixa aberta a possibilidade de que o destroyer realize patrulhas no Mar do Caribe ou no Golfo do México, que Donald Trump renomeou como Golfo da América. Poderia ser uma demonstração de força militar na região.

Autoridades de Defesa dos EUA disseram que o destroyer viajará com um pequeno grupo de agentes da Guarda Costeira a bordo. Isso levanta a possibilidade de uso do navio militar para auxiliar na detenção de imigrantes encontrados no mar. A Guarda Costeira costuma realizar missões de aplicação da lei enquanto os militares não tem essa permissão na maioria dos casos.

Com mais de 155 metros de comprimento, o Gravely é maior que todas as embarcações da frota da Guarda Costeira e transporta dezenas de mísseis de cruzeiro Tomahawk. No ano passado, o destroyer escoltou o porta-aviões USS Dwight D. Eisenhower e derrubou munições lançadas por militantes houthis do Iêmen contra navios comerciais e militares no Mar Vermelho. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

O presidente Donald Trump anunciou neste sábado, 15, que os Estados Unidos lançaram uma ação militar "decisiva e poderosa" contra os rebeldes Houthis, no Iêmen. Parte do "Eixo da Resistência" do Irã, o grupo causou problemas ao comércio global com ataques no Mar Vermelho em meio ao conflito no Oriente Médio.

Segundo balanço preliminar do ministério da Saúde ligado ao grupo rebelde, com os bombardeios, nove pessoas morreram e outras nove ficaram feridas, a maioria em estado grave.

"Eles empreenderam uma campanha implacável de pirataria, violência e terrorismo contra navios, aeronaves e drones americanos e de outros países", escreveu Trump na sua rede, a Truth Social.

Entenda mais sobre os Houthis:

Quem são os Houthis?

Os Houthis, militantes xiitas que lutam contra o governo do Iêmen há cerca de duas décadas, tomaram Sanaa em 2014, forçando o governo internacionalmente reconhecido a fugir para a cidade de Áden, no sul do país. Uma coalizão liderada pela Arábia Saudita lançou uma intervenção militar para expulsar os militantes, mas falhou, deixando os Houthis no poder no norte do Iêmen, onde governam a maior parte da população e desencadearam uma guerra civil que já matou centenas de milhares de pessoas e resultou em uma das piores crises humanitárias do mundo.

Os Houthis construíram sua ideologia com base na oposição a Israel e aos Estados Unidos, vendo-se como parte do "eixo de resistência" liderado pelo Irã, juntamente com o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza e o Hezbollah no Líbano. Sua ideologia é refletida no slogan da bandeira do grupo: "Alá é grande, morte à América, morte a Israel, maldição aos judeus, vitória ao Islã". Seus líderes frequentemente traçam paralelos entre as bombas de fabricação americana usadas para atacá-los no Iêmen e as armas enviadas a Israel para uso em Gaza.

Conversas entre os Houthis e a Arábia Saudita em Riad, capital saudita, em setembro de 2023, geraram esperanças de um acordo de paz que potencialmente reconheceria o direito dos Houthis de governar o norte do Iêmen. Em dezembro de 2023, as Nações Unidas anunciaram que as partes em conflito haviam concordado com um plano de paz, mas o progresso foi interrompido quando o governo iemenita reconhecido internacionalmente, apoiado pela Arábia Saudita, suspendeu a implementação do acordo, citando uma escalada Houthi no Mar Vermelho.

Antes considerados rebeldes mal organizados, os Houthis, nos últimos anos, reforçaram seu arsenal, que agora inclui mísseis de cruzeiro e balísticos, além de drones de longo alcance. Analistas atribuem essa expansão ao apoio do Irã, que tem fornecido equipamentos a milícias em todo o Oriente Médio.

Os EUA consideram os Houthis um grupo terrorista?

A administração de Donald Trump inicialmente designou os Houthis como uma organização terrorista em 2021, pouco antes de Trump deixar o cargo. A administração Biden suspendeu a designação semanas depois, para facilitar a entrada de ajuda humanitária no Iêmen.

No início de 2024, o Departamento de Estado anunciou que estava restabelecendo a designação devido aos ataques dos Houthis a navios. A designação de terrorista permite que Washington imponha sanções financeiras e processe criminalmente qualquer pessoa que forneça "apoio material" ao grupo designado, e o Departamento do Tesouro tem tentado pressionar os Houthis cortando financiamento e suprimentos.

Agora, de volta à Casa Branca, Trump anunciou uma ação militar contra o grupo no Iêmen.

Por que os Houthis atacaram navios?

Por mais de um ano, os Houthis, um grupo militante apoiado pelo Irã que controla o norte do Iêmen, têm atacado navios no mar Vermelho, causando graves interrupções em uma importante rota comercial, e têm alvejado Israel com drones e mísseis.

Semanas após o ataque do grupo terrorista Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023, que levou Israel a desencadear uma campanha militar devastadora em Gaza, os Houthis, em solidariedade ao grupo terrorista Hamas, disseram que atacariam qualquer navio viajando para ou saindo de Israel. Declararam também ter lançado drones e mísseis contra Israel. No entanto, os critérios dos Houthis para atacar navios rapidamente se expandiram para incluir embarcações com ligações diretas ou indiretas a Israel ou com visitas anteriores a portos israelenses, além de navios vinculados aos EUA ou ao Reino Unido, com a categoria sendo ampliada várias vezes desde então.

Os Houthis já lançaram mais de 130 ataques com drones e mísseis contra embarcações no mar Vermelho e no Golfo de Áden, segundo a organização Armed Conflict Location and Event Data, que monitora os ataques. Talvez a operação mais ousada dos Houthis tenha ocorrido em novembro de 2023, quando homens armados sequestraram um navio chamado Galaxy Leader e o levaram a um porto iemenita, onde mantêm os tripulantes como reféns há mais de um ano.

Como os ataques afetaram os países ao redor do mundo?

Para viajar entre a Ásia e a Europa, empresas globais de transporte têm navegado há décadas pelo mar Vermelho e pelo Canal de Suez. Agora, muitas companhias estão desviando sua carga pelo Cabo da Boa Esperança, no extremo sul da África, uma rota que adiciona 6.400 km e 10 dias às rotas de transporte, além de exigir mais combustível. Assim, os ataques dos Houthis aumentaram significativamente os custos e riscos de transporte de mercadorias, contribuindo para preços mais altos em todo o mundo, de acordo com economistas - aumentos que influenciaram eleições na Europa e nos Estados Unidos.

O custo de envio de um contêiner da Ásia para o norte da Europa subiu 270% em 12 meses, segundo a Freightos, um mercado digital de transporte marítimo. No entanto, continuar usando o Mar Vermelho aumentaria os prêmios de seguro e colocaria em risco os marinheiros, alguns dos quais foram mortos ou sequestrados nos ataques.

O que o governo Biden fez para conter os ataques?

Na nova ordem mundial de Trump, os homens fortes dominam e o poder faz a razão

A administração Biden montou uma força-tarefa naval chamada Operação Guardião da Prosperidade, que inclui os Estados Unidos, o Reino Unido e outros aliados, e tem patrulhado o mar Vermelho para, nas palavras do Secretário de Estado Antony Blinken, "preservar a liberdade de navegação" e "a liberdade de transporte marítimo". Navios de guerra americanos e britânicos interceptaram alguns mísseis e drones Houthis antes que alcançassem seus alvos. Na primeira metade deste ano, os dois países realizaram pelo menos cinco ataques conjuntos contra os Houthis.

Neste sábado, Donald Trump, que hoje anunciou uma operação militar contra o grupo, classificou a resposta de Joe Biden aos rebeldes no governo anterior como "pateticamente fraca".

A operação militar de Trump e a ameaça ao Irã

No dia 11 de março, os huthis anunciaram que retomariam seus ataques contra barcos que considerassem vinculados a Israel no mar Vermelho, em uma demonstração de apoio aos palestinos da Faixa de Gaza.

O grupo rebelde apoiado pelo Irã alegou que havia tomado a decisão porque Israel não havia permitido a retomada do fornecimento de ajuda à Faixa de Gaza, devastada por uma guerra entre Israel e o movimento islâmico palestino Hamas.

Donald Trump, ao anunciar a operação militar contra o grupo no Iêmen neste sábado, afirmou que os houthis "travaram uma campanha implacável de pirataria, violência e terrorismo contra a América e navios, aeronaves e drones americanos". "Usaremos uma força letal avassaladora até atingirmos nosso objetivo", disse o presidente em sua rede social Truth Social.

Trump também pediu ao Irã que interrompesse "imediatamente" seu apoio aos "terroristas huthis". "O apoio aos terroristas huthis deve cessar imediatamente! Não ameacem o povo americano, seu presidente (...) nem as rotas marítimas do mundo. E se o fizerem, cuidado, porque os Estados Unidos os farão plenamente responsáveis e não lhes faremos nenhum favor!", escreveu Trump na mesma plataforma. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

O governo Donald Trump enviou centenas de venezuelanos, acusados de integrar a gangue Tren de Aragua, para a prisão em El Salvador, um dia após a Justiça americana ter bloqueado o uso de uma lei do século 18 para acelerar deportações.

O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, publicou neste domingo, 16, o vídeo que mostra homens algemados sendo retirados de um avião durante a noite e levados para prisão, onde têm as cabeças raspadas.

"Hoje, os primeiros 238 membros da organização criminosa venezuelana Tren de Aragua chegaram ao nosso país", escreveu Bukele, que havia se oferecido para receber prisioneiros enviados pelos Estados Unidos. Os venezuelanos foram levados para o Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot), a mega prisão de segurança máxima com capacidade para 40 mil pessoas.

Três países da América Central - Guatemala, Panamá e Costa Rica - concordaram em servir de "ponte" para os imigrantes deportados pelos Estados Unidos, mas El Salvador é o único que aceita prisioneiros. "Os Estados Unidos pagarão uma tarifa muito baixa para eles, mas alta para nós", disse Nayib Bukele.

O governo americano espera que esse acordo incomum de transferência de prisioneiros para El Salvador seja o início dos esforços para usar a Lei de Inimigos Estrangeiros, de 1798, para prender e deportar suspeitos de envolvimento com o Tren de Aragua, sem os processos legais necessários nos casos de imigração.

A Lei dos Inimigos Estrangeiros permite deportações sumárias das pessoas de países em conflito com os Estados Unidos ou em casos de "invasão". A lei, mais conhecida por ter servido como base para prisão de nipo-americanos durante a 2ª Guerra, foi invocada três vezes na história americana - sempre no contexto de guerras.

No sábado, o juiz James Boasberg, do Tribunal Distrital Federal em Washington, emitiu uma ordem de restrição temporária que impedia o governo de deportar imigrantes com base na Lei de Inimigos Estrangeiros. A medida preventiva atendeu a pedido de organizações da sociedade civil, que se anteciparam aos planos do governo para expulsar cinco venezuelanos com base na Lei de Inimigos Estrangeiros.

No mesmo dia, o governo Donald Trump invocou o dispositivo ao declarar uma "invasão" do Tren de Aragua nos Estados Unidos.

Em audiência convocada às pressas a pedido da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU), o juiz então ordenou que qualquer voo que tivesse partido com imigrantes venezuelanos sob a ordem de Trump retornasse aos Estados Unidos. "É algo que você precisa garantir que seja cumprido imediatamente", disse ao Departamento de Justiça.

O advogado que representou o governo, Drew Ensign, argumentou que o presidente tem amplos poderes sobre imigração e política externa e pediu ao juiz que não interviesse em suas deportações. "A maioria ou todos eles são indivíduos incrivelmente perigosos", disse. O Departamento de Justiça recorreu imediatamente da decisão.

O momento exato dos voos para El Salvador é importante porque James Boasberg emitiu a ordem pouco antes das 19h de sábado, pelo horário de Washington, ou 17h pelo fuso de El Salvador. Mas o vídeo publicado por Bukele mostra que os prisioneiros desembarcaram à noite, o que levanta dúvidas se o governo Donald Trump ignorou a determinação da Justiça.

No domingo, Bukele publicou uma captura de tela nas redes sociais sobre a ordem do juiz Boasberg e escreveu: "Ops... Tarde demais."

A procuradora-geral Pam Bondi acusou o juiz de ter ficado do lado de "terroristas em vez da segurança dos americanos". E alegou que a decisão "ignora uma autoridade bem estabelecida sobre o poder do presidente Trump, colocando o público e as forças de segurança em risco".

Acontece que os Estados Unidos não estão em guerra, como prevê a Lei de Inimigos Estrangeiros. E juristas afirmam que invocar o dispositivo é uma forma de o governo Trump acelerar as deportações, ao privar os imigrantes de direitos.

"É ilegal usar essa lei em tempos de paz, na ausência de uma invasão por uma potência estrangeira, o que não temos", disse Ilya Somin, professor de direito da Universidade George Mason, em meio à expectativa de que a proclamação fosse assinada pelo presidente.

No documento, o governo diz que "todos os cidadãos venezuelanos com 14 anos de idade ou mais" podem ser "apreendidos, contidos, segurados e removidos como Inimigos Estrangeiros". Como Trump tentou caracterizar os imigrantes sem documentos como criminosos - muitas vezes com alegações falsas -, o temor é que a lei possa ser usada para expulsar pessoas inocentes. Os imigrantes não teriam audiências de asilo. E o governo não teria que provar que eles são criminosos em tribunal.

Um dos autores do processo, o tatuador identificado como J.G.G. para proteger sua segurança, disse que fugiu da Venezuela após ter sido torturado pela polícia e temia ser morto se fosse deportado. Ele afirmou que não teve a chance de apresentar seu caso perante um juiz. E que um agente de imigração o identificou erroneamente como membro de uma gangue por causa de suas tatuagens.

(Com agências internacionais)