PF suspeita que integrantes da 'Abin paralela' sabiam de minuta do golpe

Política
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times
A investigação da Polícia Federal sobre o uso da estrutura da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para fazer monitoramentos ilegais e disseminar desinformação durante o governo Jair Bolsonaro aponta que suspeitos de integrarem o esquema discutiram a minuta do golpe. Uma das versões do documento previa a intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) depois do resultado da eleição de 2022. Uma conversa entre dois presos na Operação Última Milha faz, de acordo com a PF, uma referência à possibilidade de Bolsonaro assinar o "decreto".

As mensagens citadas no relatório da PF foram trocadas no dia 21 de dezembro de 2022, entre o policial federal Marcelo Araújo Bormevet e o sargento Giancarlo Gomes Rodrigues, que atuavam no Centro de Inteligência Nacional da Abin, na gestão de Alexandre Ramagem, hoje deputado federal e pré-candidato do PL à prefeitura do Rio. "Alguma novidade? Nosso PR imbrochável já assinou a porra do decreto?", escreve Bormevet. Rodrigues responde: "Assinou nada. Tá f... essa espera, se é que vai ter alguma coisa". "Tem dia que eu acredito que terá, tem dia que não", diz Bormevet.

Os dois ex-auxiliares diretos de Ramagem na Abin foram detidos preventivamente anteontem, na quarta etapa da Operação Última Milha. Os investigadores pretendem usar diálogos da dupla, além de outras evidências sobre espionagem de autoridades e jornalistas, para abastecer os inquéritos das fake news, das milícias digitais e dos atos antidemocráticos. Para a PF, "referências a rompimento democrático" por parte dos investigados indica que eles tinham "potencial conhecimento do planejamento das ações que culminaram na construção da minuta do decreto de intervenção".

Além de Marcelo Bormevet e Giancarlo Rodrigues, um outro policial Federal, Carlos Magno, também é apontado com possível elo entre as ações clandestinas na "Abin paralela" e os delitos que culminaram nos ataques do 8 de Janeiro, quando radicais invadiram e depredaram dependências do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal.

'Integração'

A PF atribui a Marcelo Bormevet e a Carlos Magno "conduta de difundir desinformação, inclusive relacionada à incitação das Forças Armadas, durante e após o segundo turno das eleições (de 2022), inclusive por meio de perfis fakes nos moldes praticados pela estrutura paralela de inteligência".

Bormevet deixou a Abin em setembro de 2022 e depois foi cedido à Presidência da República, onde permaneceu até o dia 25 de dezembro daquele ano. A PF disse ver, em tal movimentação, a "integração da estrutura paralela de inteligência de Estado" à Presidência.

À época, Bormevet manteve contato com Cargos Magno, que exerceu cargo de coordenador-geral de Credenciamento de Segurança e Análise de Integridade Corporativa na Abin. Tal interlocução, de acordo com a apuração, demonstra a "continuidade de produção de desinformação", agora em razão do resultado do primeiro turno do pleito, em uma "tentativa de desestabilizar o processo eleitoral". Em um dos diálogos, Bormevet afirma: "Vou montar um perfil e começar a escrever. Não vou ficar parado. A inércia é prejudicial. Não podemos nos furtar dessa missão".

Na avaliação da PF, a produção e disseminação de fake news por integrantes da corporação, enquanto atuavam em estruturas de alta administração, agravam a reprovabilidade da conduta. "Essas circunstâncias fazem com que a desinformação adquira peso maior, dados o prestígio e a credibilidade associados às suas funções." Em outro diálogo, Bormevet diz que vai mandar vídeos que baixou do Twitter. "Você pode largar o dedo", afirma a Magno, quanto à disseminação da desinformação, registra a PF. Magno responde: "Nos grupos estou inundando e municiando a galera".

'Incitação'

De acordo com a PF, as ações de difusão de fake news incluíam ainda a incitação das Forças Armadas e convocações de paralisações de caminhoneiros. No dia 27 de dezembro de 2022, os agentes da PF sob suspeita falam sobre o artigo 142 da Constituição de 1988 - o dispositivo que disciplina a função das Forças Armadas é distorcido por bolsonaristas para justificar uma intervenção militar no País.

Os investigadores da Operação Última Milha já tinham, em outras fases da ofensiva, identificado núcleos da "Abin paralela". A etapa mais recente, desta semana, avançou sobre um outro grupo: o da Presidência da República, que, conforme a PF, Fazia a ponte entre Bolsonaro e propagadores de desinformação contra desafetos do ex-presidente - funcionários da agência de inteligência abasteciam influenciadores ligados ao chamado "gabinete do ódio" para a disseminação de fake news.

Segundo a PF, a interlocução indica "que os produtos ilícitos da estrutura paralela infiltrada na Abin eram destinados para uso e benefício do núcleo político, neste caso concreto com referência expressa ao então presidente da República, Jair Bolsonaro".

'Estrutura'

A PF aponta que as ações clandestinas direcionadas contra alvos considerados opositores do governo Bolsonaro se davam com a integração direta de funcionários públicos lotados na Presidência. Os autos da Operação Última Milha indicam que a estrutura montada na Abin fazia parte de um esquema maior e mais complexo integrado por "estrutura paralela, milícias digitais e Presidência da República". Todos esses grupos atuavam "de forma concatenada para atender aos interesses do núcleo político, o alto escalão da organização", anotou a PF.

Os principais integrantes do "núcleo Presidência" são ex-servidores do Planalto: Daniel Ribeiro Lemos, que se apresenta como analista político legislativo; José Matheus Sales Gomes, ex-assessor do vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ); e Mateus Sposito, ex-servidor da Secretaria de Comunicação da Presidência. Sposito também foi preso anteontem.

As defesas dos citados não se manifestaram.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em outra categoria

Alguns pontos de Portugal e da Espanha voltaram a ter energia elétrica na tarde desta segunda-feira, 28, mas o fornecimento completo de energia deve voltar apenas a partir da terça-feira, 29, segundo autoridades dos dois países.

O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, em pronunciamento à nação, pediu que os cidadãos evitem deslocamentos desnecessários e poupem o uso de telefone para não colapsar os centros de atendimento de emergência.

Sánchez disse que ainda é cedo para identificar as causas do apagão, o pior da história espanhola. "As causas ainda estão sendo estudadas. É melhor não especular", disse o premiê, que pediu para a população confiar apenas em informações oficiais e evitar notícias falsas.

Em Portugal, a companhia Redes Energéticas Nacionais (REN) atribuiu o blecaute a um raro fenômeno atmosférico, decorrido de variações térmicas no interior da Espanha.

O Centro Nacional de Cibersegurança português emitiu um comunicado afirmando que não havia indícios de que a interrupção tenha sido causada por um ataque cibernético.

A queda de energia atingiu toda a Espanha e Portugal, incluindo suas capitais, interrompendo o fornecimento de energia em redes de metrô, linhas telefônicas, semáforos e caixas eletrônicos.

Os países têm uma população combinada de mais de 50 milhões de pessoas. É raro ter uma queda de energia tão generalizada na Península Ibérica. Segundo a distribuidora portuguesa E-Redes, o apagão também afeta partes da França.

Reunião de emergência

O Conselho de Ministros português convocou uma reunião de emergência na residência do primeiro-ministro, e o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, visitou a distribuidora de energia Red Eléctrica para acompanhar os esforços de restauração das operações da rede.

Algumas horas após o apagão, a operadora de rede elétrica da Espanha afirmou que estava recuperando a energia no norte e no sul da península, o que ajudaria a restaurar progressivamente o fornecimento de energia em todo o país.

O governo português afirmou que a queda de energia parecia ter sido causada por problemas externos ao país, disse uma autoridade à agência de notícias nacional Lusa. "Parece que foi um problema com a rede de distribuição, aparentemente na Espanha. Ainda está sendo apurado", disse o ministro Leitão Amaro, citado pela agência.

A distribuidora portuguesa E-Redes afirmou que a interrupção ocorreu devido a "um problema com o sistema elétrico europeu", segundo o jornal português Expresso. A empresa afirmou ter sido obrigada a cortar o fornecimento de energia em áreas específicas para estabilizar a rede, segundo o Expresso.

Espanha

A emissora pública espanhola RTVE informou que uma grande interrupção de energia atingiu várias regiões do país logo após o meio-dia, horário local, deixando sua redação, o parlamento espanhol em Madri e estações de metrô em todo o país no escuro.

Um gráfico no site da rede elétrica espanhola, mostrando a demanda em todo o país, indicou uma queda acentuada por volta das 12h15, de 27.500 MW para quase 15.000 MW.

Um vídeo exibido na televisão espanhola mostrou pessoas saindo de estações de metrô em Madri e estações vazias com trens parados em Barcelona.

O torneio de tênis Masters 100 de Madri foi suspenso. Três partidas estavam em andamento quando houve queda de energia.

O departamento de trânsito da Espanha pediu aos cidadãos que evitassem usar seus carros o máximo possível devido à queda de energia, que afetou os semáforos e a sinalização elétrica das estradas.

Em Terrassa, uma cidade industrial a 50 quilômetros de Barcelona, lojas que vendiam geradores estavam sem estoque depois que as pessoas formaram filas para comprá-los.

Portugal

Em um país com cerca de 10,6 milhões de habitantes, a queda de energia atingiu a capital, Lisboa, e áreas vizinhas, bem como as regiões norte e sul.

A polícia portuguesa colocou mais policiais de plantão para direcionar o trânsito e lidar com o aumento dos pedidos de ajuda, incluindo de pessoas presas em elevadores. Os semáforos de Lisboa pararam de funcionar. Hospitais portugueses e outros serviços de emergência passaram a usar geradores. Postos de gasolina pararam de funcionar e trens pararam de circular.

A Autoridade Nacional de Emergências e Proteção Civil de Portugal informou que os sistemas de energia de reserva estavam operando. Vários vagões do metrô de Lisboa foram evacuados, segundo relatos.

Também em Portugal, tribunais pararam de funcionar e caixas eletrônicos e sistemas de pagamento eletrônico foram afetados. Não era possível fazer chamadas em redes de celular, embora alguns aplicativos funcionassem.

O grupo militante Houthi, que exerce controle sobre partes do Iêmen, acusou os Estados Unidos de realizarem "dois massacres" no país e prometeu intensificar seus ataques contra navios militares e comerciais nos mares Vermelho e Arábico, além de alvos israelenses. A declaração foi feita em um comunicado divulgado nesta segunda-feira, 28.

De acordo com o texto, os houthis asseguraram que "continuarão a mirar e perseguir o porta-aviões e todos os navios de guerra inimigos nos mares Vermelho e Arábico até que cesse a agressão contra o Iêmen".

Eles também acusam os EUA de terem atacado a capital, Sanaa, e um "centro de abrigo para migrantes de diversos países africanos" na província de Saada, no norte do Iêmen, resultando em "dezenas de mártires e feridos".

Em resposta, os houthis afirmam ter realizado uma operação conjunta contra o porta-aviões americano USS Truman e seus navios de guerra, utilizando "mísseis balísticos, drones e foguetes".

"O confronto forçou o porta-aviões a recuar e se afastar de sua posição anterior, movendo-se para o extremo norte do Mar Vermelho", relata o comunicado.

O grupo também reivindicou um ataque com drones contra um "alvo vital israelense" na cidade ocupada de Ascalão, em apoio à causa palestina.

"Continuaremos, com a ajuda de Deus, a impedir a navegação israelense nos mares Vermelho e Arábico", afirma o texto, reforçando o apoio a Gaza: "Seguiremos confiantes em Deus para apoiar nossos irmãos resistentes até que a agressão termine e o bloqueio seja levantado."

O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos anunciou nesta segunda-feira, 28, novas sanções contra três navios e suas empresas proprietárias, sob a acusação de fornecer derivados de petróleo aos Houthis, grupo considerado terrorista e aliado do Irã. A medida, segundo o comunicado, visa interromper o fluxo de recursos que financia os ataques do grupo a navios comerciais no Mar Vermelho.

"Esta ação reforça nosso compromisso em interromper os esforços dos Houthis para financiar seus ataques perigosos e desestabilizadores na região", afirmou o vice-secretário do Tesouro, Michael Faulkender. "Seguiremos utilizando nossas ferramentas para atingir aqueles que permitem que os houthis explorem o povo do Iêmen e perpetuem sua campanha de violência."

As sanções atingem as empresas Zaas Shipping & Trading Co, Bagsak Shipping Inc e Great Success Shipping Co, acusadas de descarregar gás liquefeito de petróleo (GLP) e óleo diesel no porto de Ras Isa, controlado pelos houthis, após a expiração de uma licença especial do Tesouro no começo deste mês.

Os navios envolvidos, Tulip BZ, Maisan e White Whale, foram identificados como propriedades bloqueadas por uma ordem executiva que tenta combater o financiamento ao terrorismo.

O Tesouro também destacou que os Houthis controlam portos estratégicos como Hudaydah, Ras Isa e Al-Salif, onde desviam milhões de dólares da receita portuária e da venda de combustíveis no mercado negro. "O grupo vende derivados de petróleo a preços exorbitantes, criando uma escassez artificial para a população e financiando a compra de armamentos", ressaltou o comunicado.

O Tulip BZ, vinculado à Zaas Shipping, já transportou produtos petroquímicos para o Corpo da Guarda Revolucionária Iraniana (IRGC), também sancionado. O Maisan, da Bagsak Shipping, esteve envolvido no transporte de petróleo russo sob embargo ocidental. Além disso, o Tesouro mencionou o navio Clipper, anteriormente sancionado por suas conexões com o IRGC, que segue operando ilegalmente com cargas iranianas destinadas aos Houthis, segundo o Tesouro.