Lula reclama de frases 'retiradas do contexto'; entenda a situação de cada declaração

Política
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou nesta quarta-feira, 17, a veiculação, por meio da imprensa, de frases de seus discursos "retiradas de contexto". Para o chefe do Executivo, dá a impressão "de que o País está em guerra permanente". "É uma frase da notícia tirada de contexto, que, de preferência, se puder fazer intriga, melhor. Se não puder, não tem problema", disse Lula durante cerimônia no Palácio do Planalto.

A declaração ocorre na mesma semana em que o presidente fez falas públicas controversas. Na terça-feira, 16, em entrevista à TV Record, o petista disse que, com "coisas mais importantes para fazer", não havia obrigação de evitar o déficit nas contas públicas. O trecho da entrevista provocou movimentações no mercado de ações e na cotação do dólar ao longo do dia.

No mesmo dia, durante a tarde, Lula se reuniu com empresários do setor de alimentos e fez um comentário sobre uma pesquisa que atestou o aumento da violência doméstica após jogos de futebol. O presidente disse que o dado era "inacreditável", mas complementou a fala dizendo que "se o cara é corintiano, tudo bem".

Não foi a primeira vez que ele se queixou da repercussão negativa após uma gafe. Desde o início de seu terceiro mandato presidencial, em janeiro de 2023, Lula acumula deslizes em declarações públicas e, em alguns casos, se queixou da forma como as frases foram veiculadas pela imprensa. Veja abaixo a situação exata de cada gafe que, segundo o petista, foi "descontextualizada" pela imprensa.

'Você não é obrigado a estabelecer uma meta e cumpri-la se você tiver coisas mais importantes para fazer'

Na manhã de terça, 16, Lula concedeu entrevista à jornalista Renata Varandas, da TV Record. O presidente disse ser aceitável não cumprir a meta fiscal se houver "coisas mais importantes para serem feitas" e que não havia problema em registrar 0,2% de déficit no orçamento público.

Na mesma entrevista, Lula disse que faria o possível para arcar com a nova regra fiscal. "Vamos fazer o que for necessário para cumprir o arcabouço fiscal. Eu dizia na campanha que íamos criar um País com estabilidade política, jurídica, fiscal, econômica e social. Essa responsabilidade, esse compromisso, posso dizer para você como se tivesse dizendo para um filho meu, para a minha mulher, responsabilidade fiscal eu não aprendi na faculdade, eu trago do berço", disse o petista.

O presidente afirmou ainda não ser "marinheiro de primeira viagem" e disse ter uma "divergência história e de conceito com o pessoal do mercado". "É que nem tudo que eles tratam como gasto, eu trato como gasto. Às vezes, fico irritado porque eu não sou marinheiro de primeira viagem."

Na mesma terça, Lula afirmou, durante uma reunião realizada no Palácio do Planalto com representantes da indústria de alimentos, que "o povo mais pobre não compra dólar, compra comida". A declaração de maior repercussão no encontro, contudo, foi relacionada à violência doméstica.

'Se o cara for corintiano, tudo bem'

No início da reunião com empresários, que ocorreu durante a tarde, Lula elogiou a presença de mulheres no encontro. O presidente reforçou que tem empenhado esforços para aumentar a participação feminina em postos do seu governo.

Dirigindo-se ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse ter tomado conhecimento sobre um estudo que indicava o aumento de casos de violência doméstica após jogos de futebol. O petista afirmou que o dado era "inacreditável", mas complementou, em seguida, com um comentário sobre o desempenho esportivo de seu time, o Corinthians.

Hoje, eu fiquei sabendo de uma notícia triste, eu fiquei sabendo que tem pesquisa, Haddad, que mostra que, depois de jogo de futebol, aumenta a violência contra a mulher. Inacreditável. Se o cara é corintiano, tudo bem. Mas eu não fico nervoso quando perco, eu lamento profundamente. Então, eu queria dar os parabéns às mulheres que estão aqui.

O presidente ressaltou que a reunião era um momento histórico pela quantidade de mulheres presentes. "É louvável, é extraordinário. É a primeira reunião que fazemos com empresários que tem nove mulheres. Sinceramente, é um marco histórico", disse.

Lula ainda disse que é cobrado pela primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, para ter mais mulheres no primeiro escalão do governo. "Eu sou o presidente com mais experiência neste País, o que mais fez reunião e eu nunca fiz uma reunião com tanta mulher quanto essa. E eu fico feliz porque a Janja vive me cobrando. Tira uma fotografia que percebe que na mesa só tem homem, ela chega em casa, ela me cobra: 'cadê as mulheres'?", afirmou.

Os representantes da indústria de alimentos que participaram da audiência fizeram o anúncio de investimentos de R$ 120 bilhões no País entre 2023 e 2026.

'Haddad tem de, ao invés de ler um livro, perder algumas horas conversando no Senado e na Câmara'

Em 22 de abril, Lula cobrou mais empenho de seus principais ministros nas tratativas com o Congresso, e também reclamou sobre a divulgação da declaração que fez durante o lançamento do programa Acredita, voltado para crédito a microempresários.

A bronca foi dirigida ao vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, e aos ministros Fernando Haddad (Fazenda), Wellington Dias (Desenvolvimento Social) e Rui Costa (Casa Civil).

"Conversa com bancada A, com bancada B. É difícil, mas a gente não pode reclamar porque a política é exatamente assim. Ou você faz assim ou não entra na política", disse Lula na ocasião, em um momento em que o governo do petista passava por desgaste no Congresso.

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No dia seguinte, durante um café com jornalistas no Planalto, Lula comentou sobre seu relacionamento com a imprensa desde a década de 2000. O presidente disse que é preciso ter cautela ao emitir declarações como a cobrança aos ministros, para não dar "margem" a outras interpretações. "Tudo que você falar pode virar manchete", afirmou.

Nesta quarta-feira, o presidente voltou a falar sobre o cuidado para falar a determinado público. Lula disse que foi instruído por Janja a escolher bem as palavras para o discurso de encerramento da Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, em Brasília.

"Quando vim falar aqui, a Janja me alertou de uma coisa. Ela falou: 'Amor, tome cuidado com cada palavra que você vai falar, porque essa gente tem a sensibilidade aguçada'", disse o presidente.

"Então, eu decidi ler para não falar nenhuma palavra que possa me criar problemas. Também, se eu falar alguma palavra, vocês sabem que nesse assunto vocês são os especialistas. Vocês sabem que eu sou um analfabeto e preciso aprender muito com vocês para a gente aprender a cuidar de vocês com o carinho e com o respeito que é necessário", afirmou Lula.

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O presidente interino da Síria, Ahmad Sharaa, fez um pedido por "unidade nacional" e "paz civil" no terceiro dia de confronto entre as forças de segurança do país e os apoiadores do presidente deposto Bashar Assad. O conflito interno já deixa mais de mil mortos, a maioria de alauítas, minoria étnico-religiosa apoiadora de Assad.

"O que está acontecendo no país são desafios que eram previsíveis", declarou Sharaa durante discurso em uma mesquita de Damasco. O atual presidente liderou a coalizão islâmica que derrubou Assad.

Os alauítas são uma minoria xiita que apoiava o ditador Bashar al-Assad, deposto em dezembro. O grupo que assumiu o poder é sunita e é acusado de promover uma 'limpeza étnica sistemática. Sharaa continuou afirmando que "temos de preservar a unidade nacional, a paz civil, tanto quanto possível e, se Deus quiser, seremos capazes de viver juntos neste país".

Fontes de segurança sírias informaram que pelo menos 200 de seus membros foram mortos nos confrontos com ex-militares leais a Assad, após ataques coordenados e emboscadas contra suas forças na última quinta-feira.

Os ataques escalaram para atos de vingança quando milhares de apoiadores armados dos novos governantes da Síria, vindos de todo o país, foram para as áreas costeiras para apoiar as forças da nova administração.

As autoridades atribuíram execuções sumárias de dezenas de jovens e ataques letais a residências em vilarejos e cidades habitadas pela antiga minoria governante da Síria a milícias armadas indisciplinadas, que foram ajudar as forças de segurança e há muito culpam os apoiadores de Assad por crimes passados.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, um monitor de guerra baseado no Reino Unido, afirmou no sábado que os dois dias de combates na região costeira do Mediterrâneo representaram alguns dos episódios de violência mais graves em anos no conflito civil que já dura 13 anos.

Os confrontos continuaram durante a noite em várias cidades, onde grupos armados dispararam contra as forças de segurança e emboscaram veículos em rodovias que levam às principais cidades da região costeira, disse uma fonte de segurança síria à Reuters neste domingo.

Assassinatos em massa

Organizações de direitos humanos denunciaram o assassinato de centenas de civis da minoria alauíta pelas forças de segurança do novo governo da Síria. A Federação de Alauítas na Europa diz que há "limpeza étnica sistemática" na região.

Segundo o governo sírio, o Exército fazia uma operação na região de Latakia, quando teria sido atacado.

Ainda segundo o governo sírio, a ofensiva seria um levante de forças ligadas ao antigo regime do ditador Bashar Assad.

Os alauítas negam essa versão do governo, dizendo que têm sido alvo de perseguição dos sunitas radicais que tomaram o poder em dezembro passado e que são vistos por esses radicais como "hereges".

A Síria é majoritariamente sunita, mas foi governado por cinco décadas pela família Assad, que segue a linha alauíta.

Bashar al-Assad ficou no poder por 24 anos até ser deposto por integrantes do HTS, um dos grupos que lutavam na longa guerra civil do país.

Na sexta, o ex-comandante do HTS e hoje presidente da Síria, Ahmed al-Sharaa, disse: "Vamos continuar a perseguir os remanescentes do regime que querem continuar a opressão e tirania, aqueles que cometeram crimes contra a população e amaçam a segurança e a paz. Eles serão submetidos a julgamento".

Quem governa a Síria?

O grupo Hayat Tahrir al-Sham, cujo nome significa Organização para a Libertação do Levante, foi a principal milícia rebelde à frente da ofensiva que derrubou rapidamente o ex-presidente Bashar Assad. Agora, a organização está liderando um processo de transição para um novo governo sírio.

O líder rebelde Mohammed al-Bashir, afiliado ao Hayat Tahrir al-Sham, foi nomeado primeiro-ministro interino até 1.º de março. Ele serviu anteriormente como chefe do governo de em Idlib, um território controlado pelos rebeldes no noroeste.

O histórico do Hayat Tahrir al-Sham em Idlib pode oferecer algumas pistas sobre como o grupo deverá controlar um território muito maior. A organização manteve uma força de segurança interna robusta para confrontar outras facções militares e críticos internos, provocando protestos regulares contra seus métodos autoritários e as duras condições em suas prisões.

É uma questão em aberto se esses rebeldes conseguirão ampliar para a maior parte da Síria o que conquistaram em Idlib, uma região agrária pobre, com uma população relativamente pequena.

A aliança afirmou que concederá anistia a funcionários do governo e soldados de escalão inferior, mas prometeu caçar e punir altos funcionários do regime anterior envolvidos em torturas e outros abusos.

"Não vamos deixar de responsabilizar criminosos, assassinos, autoridades de segurança e militares envolvidos na tortura do povo sírio", disse Al-Shara, o líder do movimento rebelde, que era conhecido anteriormente pelo nome de guerra Abu Mohammad al-Jolani.

A Hayat Tahrir al-Sham foi afiliada da Al-Qaeda e rompeu com a rede terrorista internacional anos atrás, passando a dominar Idlib, o último reduto da oposição da Síria durante a guerra civil de 13 anos.

Quais são as facções internas na Síria?

Além da Hayat Tahrir al-Sham, há vários grupos armados importantes na Síria e muitas organizações menores.

Forças Democráticas da Síria

Forças da minoria étnica curda da Síria, que compõe cerca de 10% da população, tornaram-se o principal parceiro local dos EUA na luta contra o Estado Islâmico no país, sob a bandeira das Forças Democráticas da Síria.

Depois que o Estado Islâmico foi amplamente derrotado em 2019, forças lideradas pelos curdos consolidaram o controle sobre as cidades no nordeste, expandindo uma região autônoma que haviam já erguido. Mas os combatentes curdos ainda tiveram que lidar com um inimigo de longa data, a Turquia, que os considera ligados aos insurgentes separatistas curdos presentes na Turquia.

Exército Nacional Sírio

Este grupo guarda-chuva, que inclui dezenas de organizações com diferentes convicções, recebe financiamento e armas da Turquia, que há muito tempo se concentra em expandir uma zona de proteção ao longo de sua fronteira com a Síria para se proteger de atividades de militantes curdos.

A Turquia quer criar uma área onde seja capaz de reassentar alguns dos 3 milhões de refugiados que fugiram da guerra síria e vivem dentro de suas fronteiras. Mas Ancara teve dificuldades para harmonizar os grupos desorganizados que compõem o Exército Nacional Sírio.

O grupo é composto em grande parte pela escória da guerra civil síria, incluindo muitos combatentes considerados criminosos pelos EUA. Alguns receberam treinamento dos americanos no início da guerra, mas a maioria foi descartada por ser extremista ou cometer crimes. A maior parte não tem nenhuma ideologia clara, apelando para Turquia em busca de um salário de cerca de US$ 100 por mês quando o grupo foi formado.

A milícia drusa

A minoria drusa da Síria está concentrada em Sweida, no sudoeste do país. Esta semana, os combatentes drusos se uniram ao esforço para derrubar o regime Assad, lançando uma ofensiva no sudoeste e entrando em confronto com as forças do governo, de acordo com relatos da imprensa.

Os combatentes drusos fazem parte de um grupo recém-formado de rebeldes sírios que inclui combatentes de outras origens, trabalhando sob o nome de "Sala de Operações do Sul".

Os drusos são um grupo religioso que pratica um ramo do islamismo desenvolvido no século 11 e reúne elementos do cristianismo, do hinduísmo, do gnosticismo e de outras filosofias. Há mais de 1 milhão de drusos no Oriente Médio, principalmente na Síria e no Líbano, com presença também na Jordânia e em Israel.

Estado Islâmico

O Estado Islâmico no Iraque e na Síria, mais conhecido como Isis, tomou vastas extensões de território na Síria e no Iraque em 2014, estabelecendo um califado brutal antes de ser derrotado por uma coalizão liderada pelos EUA. Agora, quase todos os seus membros estão escondidos.

Ultimamente, em meio à instabilidade maior na região, tem havido sinais do ressurgimento do grupo na Síria. O Pentágono alertou em julho que os ataques do Estado Islâmico na Síria e no Iraque estavam a caminho de dobrar em comparação com o ano anterior. O grupo tentou repetidamente libertar seus membros das prisões e manteve uma governança oculta em partes do nordeste da Síria, disseram os EUA.

Na terça-feira, as forças do Estado Islâmico mataram 54 pessoas na região de Homs, no centro da Síria, que faziam parte do Exército do governo sírio e fugiram durante o colapso do regime Assad, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos.

(Com agências internacionais)

A Rússia lançou um ataque devastador na Ucrânia no sábado, 8, matando 14 pessoas e ferindo dezenas, horas depois de Donald Trump defender Vladimir Putin e dizer que o líder do Kremlin estava "fazendo o que qualquer um faria".

No ataque, dois mísseis balísticos atingiram o centro de Dobropillia, na região de Donetsk. /AP

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O número de mortos em dois dias de confrontos entre as forças de segurança sírias e os apoiadores do presidente deposto Bashar Assad subiu para mais de mil, incluindo 745 civis, 125 membros das forças de segurança do governo e 148 militantes de grupos armados ligados a Assad, disse neste sábado, 8, o Observatório Sírio de Direitos Humanos, com sede na Grã-Bretanha. Os confrontos, que começaram na quinta-feira, marcaram uma escalada no desafio do novo governo de Damasco, três meses após insurgentes assumirem o controle do país.

A violência se intensificou na sexta-feira, quando atiradores sunitas leais ao governo iniciaram assassinatos de membros da minoria alauita, que tem sido um dos principais grupos de apoio ao regime de Assad.

Testemunhas relatam que homens alauitas foram mortos a tiros e casas saqueadas e incendiadas. Em algumas áreas, corpos de vítimas foram deixados nas ruas ou em telhados, enquanto residentes eram impedidos de removê-los pelos atiradores.

A violência foi interrompida na manhã deste sábado, mas o número de mortos continua subindo, com fontes locais relatando que até 600 pessoas já foram enterradas, enquanto outras vítimas foram encontradas em valas comuns. A violência gerou grandes deslocamentos, com muitos alauitas buscando refúgio nas montanhas e em outras áreas mais seguras.

A agência de notícias estatal da Síria citou um funcionário não identificado do Ministério da Defesa, dizendo que as forças do governo haviam retomado o controle de grande parte das áreas ocupadas pelos apoiadores de Assad. A agência acrescentou que as autoridades fecharam todas as estradas que levavam à região costeira "para evitar violações e restaurar gradualmente a estabilidade".

O governo sírio afirmou que as forças leais a Assad estavam respondendo a ataques de remanescentes do regime anterior, enquanto as autoridades sírias tentavam restaurar a ordem e recapturar áreas de controle.

Enquanto isso, o Ministério da Defesa sírio afirmou que as forças do governo haviam retomado grande parte dos territórios e estavam tentando restaurar a estabilidade, fechando as estradas que levam à região costeira afetada pelos conflitos. Fonte: Associated Press