STF endossa suspensão de emendas e acentua conflito com Congresso

Política
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times
O Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou nesta sexta-feira, 16, no plenário virtual, a manutenção da decisão do ministro Flávio Dino que suspendeu as emendas impositivas apresentadas por deputados e senadores. Os magistrados, de forma unânime, chancelaram a determinação de Dino de barrar a execução das emendas até que o Congresso dê transparência aos repasses. O resultado do julgamento na Corte acentuou o clima de conflito entre os Poderes Judiciário e Legislativo.

Horas depois de o STF formar maioria para ratificar a liminar de Dino, foi registrado um despacho do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que enviou para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa duas Propostas de Emenda à Constituição (PEC) que limitam o poder da Corte. Uma das PECs, já aprovada no Senado, restringe as decisões monocráticas (individuais) de ministros do Supremo.

Da parte do Executivo, a decisão que mantém a suspensão do pagamento de emendas deixa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva com um poder maior para negociar com o Congresso, tentar influenciar na sucessão da Câmara e do Senado e ainda cumprir o arcabouço fiscal neste ano, ameaçado pela arrecadação menor e aumento de gastos.

Ontem, em entrevista à Rádio Gaúcha, Lula voltou a falar sobre tema. "O impasse que está acontecendo agora é possivelmente o fator que vai permitir a gente fazer uma negociação com o Congresso", afirmou o petista. "Hoje, metade do Orçamento está na mão do Congresso Nacional. Não tem nenhum país do mundo que tenha essas condições."

São de execução obrigatória pelo Poder Executivo as emendas individuais e as de bancada - chamadas de "impositivas".

As emendas individuais se tornaram de execução obrigatória em 2015, depois da aprovação de uma PEC no Congresso. Até então, o governo não era obrigado a executar as emendas, e seu pagamento era utilizado como moeda de negociação com os parlamentares. Em junho de 2019, o Congresso voltou a aprovar uma nova proposta, desta vez tornando obrigatória a execução das emendas de bancada. Na prática, os parlamentares se fortaleceram, já que garantiram maior controle do Orçamento e têm uma cota mínima de emendas a ser executada anualmente.

Votos

Todos os outros dez ministros do STF votaram para confirmar a liminar de Dino. Apenas os ministros André Mendonça, Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Kassio Nunes Marques juntaram justificativas aos votos. Como relator, Dino foi o primeiro a votar e defendeu a manutenção de sua decisão. Também destacou que há reuniões previstas entre representantes do STF, do Congresso e do Executivo em "busca de solução constitucional e de consenso, que reverencie o princípio da harmonia entre os Poderes".

"A busca por conciliação deve prosseguir", escreveu. Ele também registrou que, a depender do resultado dos "diálogos institucionais", a decisão poderá ser reavaliada.

A indicação se refere às reuniões da comissão técnica montada por Dino para o integral cumprimento da decisão do STF que derrubou o orçamento secreto - revelado pelo Estadão - e proibiu qualquer prática similar. A missão do grupo é centralizar os dados sobre as emendas, após o Congresso e o Executivo relatarem "limitações" nas informações que dispõem sobre os repasses.

O ministro já havia determinado à Controladoria-Geral da União (CGU) que promovesse auditorias nos municípios que mais receberam emendas parlamentares, por habitante, nos anos de 2020 a 2023.

Cruzando dados orçamentários e do Censo de 2022, o Estadão chegou à lista de municípios que deverão ser analisados pela CGU. Concentradas em Roraima, no Amapá e no Tocantins, as cidades são base eleitoral do ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (União-AP); do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro; e dos senadores Mecias de Jesus (Republicanos-RR) e Chico Rodrigues (PSB-RR), entre outros.

A Câmara chegou a afirmar que "não tem como colaborar" com os dados dos "patrocinadores" das emendas de comissão.

'Parlamentarização'

A maior parte do voto de Dino reproduz a decisão em que ele suspendeu todas as emendas impositivas até que o Congresso dê transparência ao repasses. O ministro frisou que a instituição do "orçamento impositivo" não significa a exclusão dos critérios constitucionais e legais para a execução da lei orçamentária. Ele chamou de "anomalia" o fato de o Brasil ter um sistema presidencialista convivendo com a "figura de parlamentares que ordenam despesas discricionárias como se autoridades administrativas fossem". A avaliação de Dino é a de que o "equivocado desenho prático" das emendas impositivas gerou a "parlamentarização" das despesas públicas, sem que exista um sistema de responsabilidade política e administrativa implantado no Congresso.

Como os despachos de Dino são analisados em sessão virtual, os ministros podem optar por seguir o relator, sem apresentar suas razões para tanto. Também se manifestaram sobre o caso apenas os ministros André Mendonça e Dias Toffoli. O primeiro destacou a possibilidade de uma resolução consensual do imbróglio. Já Toffoli acenou ao Parlamento e lembrou do voto que proferiu quando o STF derrubou o orçamento secreto.

No julgamento em questão, Toffoli foi um dos cinco ministros que defenderam a manutenção das emendas do relator, desde que adotados critérios mais transparentes na distribuição dos recursos das emendas parlamentares. Os ministros votaram em uma sessão extraordinária que se encerraria à meia-noite de hoje. Eles registraram os votos na plataforma online sem debate presencial ou por videoconferência.

Recurso

Em outro revés do Congresso, o presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, barrou na madrugada ontem uma ofensiva do Legislativo e dos partidos contra a decisão que sustou a execução de todas as emendas impositivas. O Senado e a Câmara queriam que Barroso derrubasse monocraticamente despachos assinados por Dino. Barroso negou o pedido ressaltando que as decisões foram submetidas a referendo no plenário da Corte.

"Em situações absolutamente excepcionais, o Supremo Tribunal Federal já admitiu a suspensão, pela presidência, de decisões proferidas por outros ministros. No presente caso, contudo, essas circunstâncias não estão presentes", argumentou Barroso. O presidente do STF destacou ainda que o voto apresentado por Dino no julgamento concluído ontem "sinaliza a possibilidade de construir solução consensual para a questão".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em outra categoria

O governo do Reino Unido anunciou nesta quarta-feira, 12, a expulsão de um diplomata russo e de seu cônjuge, em represália à expulsão de dois funcionários da embaixada britânica em Moscou no início desta semana.

O Ministério das Relações Exteriores britânico convocou o embaixador russo no Reino Unido, Andrei Kelin, para comunicá-lo sobre as expulsões, após o que descreveu como uma "campanha crescente e coordenada de assédio contra diplomatas britânicos". Algo que, segundo Londres, visa forçar o fechamento da embaixada britânica em Moscou.

"Não toleraremos a campanha implacável e inaceitável de intimidação do Kremlin, nem suas tentativas repetidas de ameaçar a segurança do Reino Unido", afirmou o secretário de Relações Exteriores, David Lammy, na rede social X.

Ainda não foi informado um prazo para a saída dos diplomatas expulsos.

Na segunda-feira, 10, o Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB) afirmou que os dois diplomatas britânicos expulsos haviam fornecido dados pessoais falsos ao solicitar permissão para entrar no país e estavam envolvidos em atividades de inteligência e subversão que ameaçavam a segurança da Rússia. Não foram apresentadas evidências que comprovassem tais alegações.

"O alcance das ações da Rússia só pode ser enfrentado com força", disse o Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido. "Este incidente está encerrado, e exigimos que a Rússia faça o mesmo. Qualquer ação adicional por parte da Rússia será considerada uma escalada, e responderemos de acordo."

As expulsões de diplomatas - tanto de enviados ocidentais trabalhando na Rússia quanto de russos no Ocidente - tornaram-se cada vez mais frequentes desde o início da invasão russa à Ucrânia, em 2022.

No entanto, as expulsões entre o Reino Unido e a Rússia são tensas há mais tempo. As relações entre os dois países pioraram drasticamente em março de 2018, quando o ex-agente de inteligência russo Sergei Skripal e sua filha foram envenenados na cidade inglesa de Salisbury, em uma tentativa de assassinato atribuída pelas autoridades britânicas à Moscou, uma acusação que o Kremlin descreveu como absurda.

Um diplomata dos Emirados Árabes, anteriormente identificado por Teerã como portador de uma carta do presidente dos EUA, Donald Trump, para reiniciar as negociações sobre o programa nuclear do Irã, reuniu-se com o ministro das Relações Exteriores iraniano nesta quarta-feira.

Não está claro como o Irã reagirá à carta, que Trump revelou durante uma entrevista televisiva na semana passada. Seu destinatário, o líder supremo Ayatollah Ali Khamenei, disse que não está interessado em negociações com um "governo abusivo".

No entanto, o país árabe enfrenta problemas econômicos exacerbados pelas sanções sobre seu programa nuclear e Trump impôs mais sanções desde que assumiu o cargo em janeiro. Essa pressão, aliada à turbulência interna do país e aos recentes ataques diretos de Israel, coloca Teerã em uma das posições mais precárias que sua teocracia já enfrentou desde a Revolução Islâmica de 1979.

Após vencer as eleições parlamentares da Groenlândia da terça-feira, 11, o Partido Demokraatit, de centro-direita, rejeitou nesta quarta, 12, as recentes pressões feitas pelo presidente americano, Donald Trump, para assumir o controle da ilha, que é um território autônomo da Dinamarca. Favorável a uma independência gradual de Copenhague, a legenda declarou que a Groenlândia não está a venda.

"Não queremos ser americanos. Também não queremos ser dinamarqueses. Queremos ser groenlandeses. E queremos nossa própria independência no futuro. E queremos construir nosso próprio país por nós mesmos, não com a esperança dele", disse o líder do partido Jens-Friederik Nielsen, à Sky News.

Trump tem mencionado abertamente o seu desejo de anexar a Groenlândia. Durante uma sessão conjunta no Congresso no dia 4 de março, o presidente americano afirmou que acreditava que Washington iria conseguir a anexação "de uma forma ou de outra".

Independência

Uma ruptura com a Dinamarca não estava na cédula, mas estava na mente de todos. A Groenlândia foi colonizada há 300 anos pela Dinamarca, que ainda exerce controle sobre a política externa e de defesa do país.

A ilha de 56 mil pessoas, a maioria de origem indígena, está caminhando para a independência desde pelo menos 2009, e os 31 legisladores eleitos moldarão o futuro da ilha enquanto o território debate se chegou a hora de declarar independência.

Quatro dos cinco principais partidos na corrida defendem a independência, mas discordaram sobre quando e como.

A legenda Naleraq ficou em segundo nas eleições. O partido deseja um processo mais rápido de independência, enquanto o Demokraatit favorece um ritmo mais moderado de mudança.

Uma vitória surpreendente

O Demokraatit ganhou quase 30% dos votos, em comparação com apenas 9% na eleição de quatro anos atrás, segundo a Greenlandic Broadcasting Corporation, enquanto Naleraq ficou em segundo lugar com quase 25%, acima dos quase 12% em 2021.

A vitória surpreendente do Demokraatit sobre partidos que governaram o território por anos indicou que muitos na Groenlândia se importam tanto com políticas sociais, como saúde e educação, quanto com geopolítica.

Nielsen, de 33 anos, pareceu surpreso com os ganhos de seu partido, com fotos mostrando-o ostentando um sorriso enorme e aplaudindo na festa eleitoral.

A emissora dinamarquesa DR relatou que Nielsen disse que seu partido entraria em contato com todos os outros partidos para negociar o futuro curso político para a Groenlândia.

A primeira-ministra dinamarquesa Mette Frederiksen parabenizou o Demokraatit e afirmou que o governo dinamarquês aguardaria os resultados das negociações de coalizão.

União

O primeiro-ministro da Groenlândia, Mute Bourup Egede convocou a votação em fevereiro, dizendo que o país precisava se unir durante um "momento sério" diferente de tudo que a Groenlândia já vivenciou.

Depois que os resultados foram conhecidos, Egede agradeceu aos eleitores em uma postagem no Facebook por comparecerem e disse que os partidos estavam prontos para recorrer às negociações para formar um governo.

Seu partido, o Inuit Ataqatigiit, ou United Inuit, recebeu 21% dos votos. Este é um declínio significativo em relação à última eleição, quando a legenda teve 36% dos votos, de acordo com a KNR TV.

O Inuit Ataqatigiit era amplamente esperado para vencer, seguido pelo Siumut. Os dois partidos dominaram a política da Groenlândia nos últimos anos.

O Siumut ficou em quarto lugar com 14% dos votos. (COM INFORMAÇÕES DA ASSOCIATED PRESS)