Jornalista desiste de livro sobre pandemia bancado pelo governo do Ceará

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O escritor e jornalista Lira Neto, autor das biografias de Getúlio Vargas e Padre Cícero, anunciou nesta quarta-feira, 10, que desistiu do projeto de livro que discutiria os efeitos e desdobramentos da covid-19 no Ceará. A obra receberia patrocínio de R$ 547 mil do governo do Estado, valor que corresponde aos custos da produção até a edição e impressão de dois mil exemplares.

Lira Neto se manifestou sobre a contratação ontem. O escritor, que há dois anos mora em Portugal, esclareceu que receberia cerca de 30% do valor total, ou R$ 135,6 mil, para fazer a pesquisa documental, entrevistas e o texto da obra. No final do dia, anunciou que deixaria o projeto.

"Quando fui convidado a assumir a autoria do trabalho, aceitei o encargo com entusiasmo e consciente da responsabilidade social que a tarefa envolvia. Afinal, perdi amigos queridos e tive familiares muito próximos internados pelos efeitos da doença", explicou Lira Neto, em nota à imprensa.

"Contudo, diante de interpretações e ilações as mais diversas, publicadas na imprensa e repercutidas por canais de divulgação online - algumas delas levianas, que buscaram atingir-me o nome e a reputação -, decidi solicitar ao Governo do Estado do Ceará e à empresa Soter Designer o meu afastamento pessoal e profissional do projeto", continuou.

Patrocinado pelo governo estadual, o livro Pandemia: a luta contra a covid-19 no Ceará tinha a previsão de ser finalizado em abril. No Diário Oficial do Estado, a obra foi justificada pela necessidade de demonstrar a "real condição da doença para a população, oferecendo informações confiáveis e embasadas em depoimentos de profissionais da saúde e pacientes que contraíram covid-19". Cada exemplar custaria cerca de R$ 250 aos cofres públicos. As obras foram pensadas para distribuição gratuita em escolas, bibliotecas e órgãos públicos do Estado.

A pandemia do novo coronavírus no Ceará já matou mais de 10,6 mil pessoas. Os casos confirmados da doença ultrapassam a marca de 386 mil, segundo dados do boletim epidemiológico da Secretaria Estadual de Saúde.

Leia a nota de Lira Neto:

"A ideia de escrever e publicar um livro-reportagem sobre o enfrentamento à Covid-19 no Ceará partiu do pressuposto de que se faz necessário documentar, em perspectiva histórica, o drama enfrentado nos últimos meses pelo conjunto da sociedade, de forma dolorosamente trágica, a partir dos relatos e experiências vividas por gestores, profissionais de saúde, pacientes e familiares das milhares de vítimas afetadas pela epidemia.

Quando fui convidado a assumir a autoria do trabalho, aceitei o encargo com entusiasmo e consciente da responsabilidade social que a tarefa envolvia. Afinal, perdi amigos queridos e tive familiares muito próximos internados pelos efeitos da doença.

Contudo, diante de interpretações e ilações as mais diversas, publicadas na imprensa e repercutidas por canais de divulgação online - algumas delas levianas, que buscaram atingir-me o nome e a reputação -, decidi solicitar ao Governo do Estado do Ceará e à empresa Soter Designer o meu afastamento pessoal e profissional do projeto.

Esclareço que meu trabalho e o de minha equipe de repórteres e pesquisadores - que consistia na pesquisa e redação do texto - representaria cerca de 30% do valor orçado e celebrado em contrato entre o governo e a empresa acima mencionada, correspondendo o custo dos demais 70% a outros itens da produção gráfica e editorial do livro, sobre os quais eu não teria nenhum poder de decisão, ingerência ou responsabilidade, por estarem fora da alçada de minhas funções e competências como jornalista e escritor.

Por fim, reafirmo que, após décadas de profissão na imprensa e no mercado editorial, meu nome é o único patrimônio de que disponho."

Lira Neto

10 de fevereiro de 2021.

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A pressão sobre a Rússia deve aumentar na próxima semana, numa tentativa de forçar um cessar-fogo na guerra contra a Ucrânia, revelou o presidente da França, Emmanuel Macron, em entrevista à revista Paris Match. O dirigente detalhou temas discutidos na reunião improvisada que teve com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, o presidente dos EUA, Donald Trump, e o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, no Vaticano, durante o funeral do papa Francisco.

"Nos próximos oito a dez dias, vamos aumentar a pressão sobre a Rússia", declarou Macron. "Parte da equação depende de Moscou. Precisamos estar unidos e dissuasivos", acrescentou. Ele ainda sinalizou que os próximos 15 dias, no geral, serão decisivos. "Precisamos implementar este cessar-fogo e manter a pressão."

O presidente francês destacou que o diálogo entre Trump e Zelensky, mediado por ele e por Starmer, foi crucial para "restabelecer a confiança" entre as partes. Macron contou ter pressionado Trump a adotar uma postura mais firme contra Vladimir Putin. "Disse a ele: 'É preciso ser muito mais firme com os russos'", revelou. Ele também enfatizou que os EUA devem ir a Kiev "o mais rápido possível" para ajudar a consolidar as bases de um cessar-fogo duradouro.

Sobre a mudança de atitude de Trump, Macron atribuiu a virada a uma maior disposição do americano para ouvir. "Ele ouviu. Expliquei que os ucranianos já haviam cedido em garantias de segurança, algo inédito até março. Era preciso valorizar isso", disse.

Quanto ao possível local das negociações, Macron evitou especular, mas reafirmou o papel central da França: "O importante é estarmos envolvidos. Somos vistos como aliados da Ucrânia, e devemos defender os interesses europeus."

A tensão entre China e Filipinas no Mar do Sul da China se intensificou após relatos de atividades de ambos os países em um pequeno afloramento conhecido como Sandy Cay.

A China afirmou que seis filipinos desembarcaram no local, que é reivindicado por ambas as nações. Isso ocorreu poucos dias depois da divulgação de fotos mostrando oficiais da guarda costeira chinesa exibindo uma bandeira chinesa no mesmo conjunto de bancos de areia.

Essa troca de ações em Sandy Cay representa o mais recente acirramento em uma longa disputa territorial entre os dois países no Mar do Sul da China, área que a China reivindica quase em sua totalidade. Em comunicado, a guarda costeira chinesa classificou o desembarque filipino no domingo, 27, como "ilegal" e informou que seus oficiais foram ao local para realizar "verificações e medidas de fiscalização", sem especificar quais foram essas medidas.

Em resposta, as Filipinas emitiram uma declaração detalhando o envio de uma equipe conjunta da guarda costeira, marinha e polícia marítima em botes infláveis. Essa equipe desembarcou nos três bancos de areia que formam Sandy Cay, conhecido como Recife Tiexian pelos chineses.

O comodoro Jay Tarriela, porta-voz da guarda costeira filipina, divulgou a declaração no X (antigo Twitter) acompanhada de um vídeo e fotos, incluindo uma que mostrava o pessoal filipino exibindo sua bandeira em um dos bancos de areia.

"Esta operação reflete a dedicação inabalável e o compromisso do governo filipino em defender a soberania do país, direitos soberanos e jurisdição no Mar Ocidental Filipino", diz a declaração.

A ação das Filipinas ocorreu três dias após o Global Times, um jornal estatal chinês, publicar imagens de oficiais da guarda costeira da China no Recife Tiexian em meados de abril, segurando uma bandeira chinesa e realizando a limpeza de garrafas plásticas e outros detritos.

Na sua declaração sobre o subsequente desembarque filipino, a guarda costeira chinesa reiterou que a China mantém "soberania incontestável" sobre as ilhas Spratly, que incluem o Recife Tiexian e as águas circundantes. (COM INFORMAÇÕES DA AP)

O líder do Partido Conservador, Pierre Poilievre, disse ao presidente dos EUA, Donald Trump, que não se meta nas eleições do Canadá. Em meio às ameaças quem vêm do outro lado da fronteira, a eleição desta segunda-feira, 28, virou uma espécie de referendo sobre Trump e Poilievre viu suas chances de se tornar primeiro-ministro despencarem, alvo de críticas pela proximidade com o americano.

Às vésperas da eleição, Donald Trump retomou as ameaças à soberania canadense, sugerindo que ele próprio estaria nas cédulas.

"Elejam o homem que tem a força e a sabedoria para reduzir seus impostos pela metade, aumentar seu poder militar, gratuitamente, para o nível mais alto do mundo, quadruplicar o tamanho de suas empresas de automóveis, aço, alumínio, madeira, energia e todas as outras empresas, sem tarifas ou impostos, se o Canadá se tornar o estimado 51º estado dos EUA", escreveu na sua rede, a Truth Social.

"Não haverá mais uma linha artificialmente traçada há muitos anos. Veja como essa massa de terra seria linda. Acesso livre, sem fronteiras. Todos os aspectos positivos sem nenhum negativo. Era para ser assim!", seguiu com a provocação, alegando de incorretamente que os EUA subsidiam o Canadá. "Isso não faz sentido, a menos que o Canadá seja um estado!"

Prejudicado pela animosidade dos EUA, o conservador Pierre Poilievre reagiu dizendo: "Presidente Trump, não se meta em nossas eleições. As únicas pessoas que decidirão o futuro do Canadá são os canadenses nas urnas. O Canadá sempre será orgulhoso, soberano e independente e NUNCA seremos o 51º estado".

Poilievre parecia destinado a se tornar o primeiro-ministro do Canadá. O Partido Conservador chegou a liderar as pesquisas com 25 pontos de vantagem, após a renúncia de Justin Trudeau, que viu a sua popularidade desabar com a alta nos preços de alimentos e moradias.

Mas a guerra comercial de Donald Trump e seus ataques à soberania canadense impulsionaram o nacionalismo e mudaram o curso das eleições no país vizinho.

"Somos canadenses, somos fortes. E costumávamos poder dizer o que queríamos... Mas agora, é como se esse cara estivesse tentando nos enfiar coisas goela abaixo e não podemos tolerar isso", disse a aposentada Kike Folami, 68 anos, expressando sua preocupação com os impactos que as políticas de Trump podem ter no Canadá.

Reviravolta

Os liberais, que corriam o risco de sofrer uma derrota humilhante após dez anos no poder agora lideram as pesquisas. De acordo com as projeções, o partido poderia conquistar quase 200 cadeiras no Parlamento, acima da maioria necessária (172) para consolidar Mark Carney como primeiro-ministro.

O economista, de 60 anos, nunca havia ocupado um cargo eletivo até assumir a liderança do Partido Liberal - e consequentemente o governo do Canadá - após a renúncia de Justin Trudeau.

Com experiência no comando dos bancos centrais do Canadá e do Reino Unido, Mark Carney buscou se posicionar ao longo da campanha como o candidato ideal para defender o país da guerra tarifária de Donald Trump.

O Canadá enfrenta uma crise de custo de vida há algum tempo. E, com mais de 75% das suas exportações destinadas aos EUA, o país já começou a sentir os efeitos das tarifas em alguns setores cruciais para a sua economia, como o automotivo e o siderúrgico.

"No nível comunitário, temos muitas famílias lutando para sobreviver, e isso está influenciando a forma como elas votam", disse a terapeuta ocupacional Amanda Johnson-Dunbar, de 40 anos. Ela afirmou ter votado no Partido Liberal e expressou preocupação com a soberania do Canadá diante das declarações do presidente Trump sobre uma possível anexação.

Em meio à reviravolta nas pesquisas, o republicano chegou a amenizar a intimidação ao Canadá, até a semana passada, quando voltou a falar em 51º Estado americano. Trump sugeriu que não está apenas provocando quando defende a anexação do país vizinho aos EUA.

Com as ameaças renovadas, Carney pediu aos eleitores um mandato forte para enfrentar Trump. "O presidente Trump tem algumas ideias obsessivas, e essa é uma delas", disse sobre a ameaça de anexação. "Não é uma piada. É um desejo muito forte dele tornar isso realidade. É por isso que esta crise é tão séria." (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)