Um histórico de debates que por pouco não se tornaram arenas

Política
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Os debates eleitorais, como o que acontece nests sábado, 28, às 21h, na Record entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo, costumam gerar grandes repercussões no Brasil não apenas por ser um momento de atenção às propostas, mas sobretudo também devido aos embates travados entre os postulantes. Não chegaram a cadeirada ou soco, cenas vistas entre candidatos à sucessão na capital paulista diante das câmeras e entre auxiliares fora delas. No entanto, a história das eleições no País têm registros de tensão e tom agressivo entre concorrentes.

Em 1982, por exemplo, o debate entre candidatos que disputavam o governo de São Paulo foi marcado pela tensão entre o ex-presidente Jânio Quadros (PTB) e Franco Montoro (PMDB). O peemedebista usou uma citação do ex-ministro da Fazenda do adversário, Clemente Mariani, que teria dito que foi obrigado a fazer emissões (de dinheiro) após a renúncia de Quadros, o que saiu "mais caro do que a construção de Brasília", insinuando que o petebista era corrupto.

Montoro pediu para que o ex-presidente refutasse ou negasse a afirmação, ao que Quadros respondeu "Eu não posso refutá-la nem negá-la. Onde se encontra escrita essa informação?". Montoro pegou o livro "Depoimento", de Carlos Lacerda, e apontou a página sob risos.

Com ironia, Jânio Quadros respondeu: "Está dispensado porque o senhor acaba de querer citar as Escrituras, valendo-se de Asmodeu ou de Satanás. Não quero ouvi-la". O bom humor, no entanto, se transformou em bate-boca. Montoro tentou ler os trechos enquanto o ex-presidente gritava que não queria ouvir. O mediador Joelmir Beting precisou intervir e dar a palavra para Quadros que pediu: "O tempo é meu, e o senhor por obséquio não me mande calar a boca, guarde o seu Carlos Lacerda e durma com ele, que deve fazer-lhe bom calor".

'Baixaria'

Outros dois famosos personagens da política nacional, Paulo Maluf (PDS) e Leonel Brizola (PDT), protagonizaram uma das maiores brigas da história no primeiro debate presidencial após a ditadura militar, em 1989. Maluf iniciou dizendo que não havia ido ao debate para "assistir baixaria" e, portanto, os candidatos eram obrigados a ter estabilidade emocional. "Quem é desequilibrado não pode ser candidato a Presidente da República", afirmou. Brizola interrompeu pedindo aparte, o que deu início a gritaria entre os dois postulantes.

O pedetista então se referiu a Maluf como um "filhote da ditadura" que não tinha coragem de defender seus "chefes". O adversário retrucou chamando-o de desequilibrado e acrescentando que Brizola havia passado quinze anos fora do Brasil "e não aprendeu nada", se referindo ao tempo que o postulante esteve exilado durante o período da ditadura militar.

Já o embate entre os então candidatos Paulo Maluf e Mário Covas foi intenso na disputa pelo governo de São Paulo em 1998. O encontro teve insultos das duas partes. Maluf chamou Covas de ignorante, caloteiro e disse que o adversário não estava aprendendo nada na vida. Por outro lado, Covas afirmou que a história do adversário era de baixo nível. Em outro momento, Covas questionou Maluf sobre uma fala em que dizia ser "mais honesto que Jesus Cristo". "O senhor pensa que tá acima de Jesus Cristo, o senhor pensa que é Deus, o senhor não se põe no seu lugar", afirmou o candidato.

'Fica quietinha'

Nas eleições de 2000 para escolha do prefeito de São Paulo, o debate entre os candidatos também foi regado a bate-bocas, começando por Marta Suplicy (PT) e Paulo Maluf (PDS). O candidato acusou Marta de ser "administrativamente desqualificada" e foi interrompido pela adversária, que gritava "Eu não vou ficar ouvindo isso". Depois do mediador interferir, Maluf deu continuidade às críticas sobre o comportamento da petista.

"A senhora já foi condenada, por ter me insultado, e vou novamente te processar, porque a senhora vai ter que tomar jeito. A senhora fica quietinha e pare de dar palpite", disse. "Cala a boca, Maluf", gritou a petista.

Os embates mais recentes também colecionam desentendimentos entre os postulantes, como é o caso da discussão entre os candidatos à Presidência da República em 2014 Aécio Neves (PSDB) e Luciana Genro (PSOL). Ela acusou o adversário de não ter "conexão com a realidade". "Você que anda de jatinho, que ganha um alto salário, não conhece a realidade do povo, vocês do PSDB zombam do povo que anda de ônibus lotado, metrô lotado, vive de salário mínimo", criticou Luciana, que completou chamando Aécio de "fanático da privatização e da corrupção". O tucano respondeu pedindo para que ela não fosse "leviana".

Fernando Collor teve discussão acalorada em um embate com Rodrigo Cunha durante as eleições para o governo de Alagoas em 2022. Collor pediu para que o senador explicasse porque havia indicado a namorada para um cargo na secretaria da Prefeitura de Maceió, confrontando uma fala do adversário sobre escolher pessoas para os postos de acordo com a capacidade técnica. O senador se levantou, interrompendo Collor, que gritava repetidamente "Morda os seus beiços, morda os seus beiços!".

'Candidato Padre'

Um dos debates presidenciais de 2022 também teve momentos de desentendimentos. Então candidata pelo União Brasil, a senadora Soraya Thronicke começou o embate trocando o nome do Padre Kelmon, que concorria pelo PTB. "Padre Kelson. Kelvin? Candidato padre", ironizou. No meio de uma resposta, o chamou de "padre de festa junina". O candidato do PTB se desentendeu também com o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O petista foi interrompido em sua fala pelo petebista e reclamou: "Não dá para debater com uma pessoa que tem o comportamento de um fariseu e se diz padre".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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A última rodada de negociações entre Israel e o grupo terrorista Hamas não obteve progresso na sexta-feira, 28, e não está claro se as negociações serão retomadas neste sábado, 1, segundo informações obtidas pela Associated Press (AP) com um oficial do Hamas.

A primeira fase do cessar-fogo termina neste sábado, mas, segundo os termos do acordo, os combates não serão retomados enquanto as negociações estiverem em curso sobre a segunda fase, que poderá pôr fim à guerra em Gaza e fazer com que o resto dos sequestrados israelenses voltem para casa.

Autoridades de Israel, Catar, Egito e Estados Unidos se envolveram nas negociações na sexta-feira, no Cairo, mas a delegação israelense deixou a capital egípcia sem nenhum tipo de avanço. Basem Naim, membro do gabinete político do grupo terrorista Hamas, afirmou que não sabia quando as conversas seriam retomadas.

Hamas rejeita extensão da primeira fase

Em um comunicado divulgado na sexta-feira, o grupo terrorista apontou que está comprometido com a implementação de todas as fases do acordo. O Hamas anunciou que rejeitou uma proposta israelenses para prolongar a primeira fase da trégua por 42 dias, apontando que isso vai contra o primeiro acordo que foi costurado entre as duas partes.

A proposta israelense pede a extensão do cessar-fogo durante o mês sagrado muçulmano do Ramadã, que começou neste sábado, em troca de uma troca adicional de reféns. Na primeira fase da trégua, 33 reféns israelenses foram libertados, incluindo oito corpos. Já Israel libertou quase 2 mil prisioneiros palestinos.

O Programa Alimentar Mundial, uma agenda da ONU, afirmou em um comunicado neste sábado que conseguiu atingir 1 milhão de palestinos de Gaza durante a primeira fase do acordo. A pausa nos combates ajudou a "restaurar pontos de distribuição, reabrir padarias e expandir a assistência", disse à agência. "O cessar-fogo deve ser mantido", disse. "Não pode haver volta."

O grupo terrorista Hamas iniciou a guerra com os ataques de 7 de outubro de 2023, que deixaram 1,2 mil mortos no sul de Israel. Naquele dia, o Hamas sequestrou 250 pessoas. 59 sequestrados continuam em Gaza e, segundo informações do Exército de Israel, 32 estão mortos.

Após os ataques de 7 de outubro, Israel iniciou uma ofensiva na Faixa de Gaza, que já deixou mais de 48 mil mortos, segundo o ministério da Saúde de Gaza, que é controlado pelo Hamas e não diferencia civis de terroristas.

A última rodada de negociações sobre a segunda fase do cessar-fogo entre Israel e Hamas não teve progresso até o momento, disse um funcionário do Hamas. Não ficou claro se as conversas seriam retomadas neste sábado, 1. A primeira fase do cessar-fogo, que expira neste sábado, interrompeu 15 meses de combate na Faixa de Gaza, resultando na liberação de 33 reféns, incluindo oito corpos, em troca de quase 2 mil prisioneiros palestinos. Apesar disso, os combates não devem recomeçar enquanto as negociações estiverem em andamento. As duas partes concordaram com um acordo de cessar-fogo de três fases em janeiro, com o objetivo de encerrar a guerra.

Oficiais de Israel, Catar, Egito e Estados Unidos estiveram envolvidos nas negociações da segunda fase no Cairo, com o objetivo de encerrar a guerra com o retorno de todos os reféns vivos restantes e a retirada das tropas israelenses. O Hamas não participou das negociações, mas sua posição foi representada por mediadores egípcios e do Catar.

Basem Naim, membro do escritório político do Hamas, disse à Associated Press que não houve "nenhum progresso" em encontrar uma solução antes que os negociadores israelenses retornassem para casa na sexta-feira, 28. Não estava claro se esses mediadores retornariam ao Cairo para retomar as negociações no sábado, como esperado, e Naim disse que não tinha "nenhuma ideia" de quando as negociações poderiam ser retomadas.

Na sexta-feira, o Hamas disse que "reafirma seu compromisso total de implementar todos os termos do acordo em todas as suas fases e detalhes" e pediu à comunidade internacional que pressionasse Israel a "prosseguir imediatamente para a segunda fase, sem qualquer atraso ou evasão".

Além da segunda fase do cessar-fogo, o escritório do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu disse na semana passada que os mediadores nas negociações também estavam "discutindo maneiras de aprimorar a entrega de ajuda humanitária à Faixa de Gaza, como parte dos esforços para aliviar o sofrimento da população e apoiar a estabilidade na região".

O Hamas rejeitou uma proposta israelense de estender a primeira fase do cessar-fogo por 42 dias, dizendo que ela vai contra o acordo da trégua, de acordo com um membro que pediu anonimato. A proposta israelense pede a extensão do cessar-fogo até o mês sagrado muçulmano do Ramadã, que começou no sábado, em troca de uma nova troca de reféns, disse o membro do Hamas.

Donald Trump e seu vice-presidente, J.D. Vance, se envolveram nesta sexta-feira, 28, em uma discussão ríspida com o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, no Salão Oval da Casa Branca. A reunião diante das câmeras, que normalmente é cercada de gentilezas, descambou em um bate-boca inédito na história da presidência americana, arruinando a assinatura de um acordo para exploração de minerais e sinalizando uma ruptura que já vinha se desenhando nas relações entre dois aliados da guerra contra a Rússia.

Até então, todos os líderes que visitaram a Casa Branca paparicaram Trump, para evitar a reação intempestiva do americano, como a imposição de tarifas comerciais ou o fim da ajuda dos EUA. Ontem, no entanto, Zelenski, presidente de um país sob ataque da Rússia, preferiu confrontar o presidente americano, que se irritou.

Trump e Vance fizeram dupla nas críticas a Zelenski, por não ser "grato o suficiente pelo apoio dos EUA na guerra". Com a voz alterada, o presidente americano ameaçou abandonar completamente a Ucrânia se Zelenski não concordasse com os termos ditados por ele.

Proximidade

Depois que os jornalistas foram retirados do Salão Oval, Trump cancelou o restante da visita, incluindo uma entrevista coletiva conjunta e a cerimônia de assinatura do acordo sobre minerais - que daria aos EUA direito de explorar recursos naturais ucranianos como forma de pagamento pela ajuda militar.

Zelenski deixou a Casa Branca às pressas, entrou em um carro preto e partiu. "O presidente Zelenski não está pronto para a paz", escreveu Trump na sua rede social. "Ele desrespeitou os EUA e o Salão Oval. Ele pode voltar quando estiver pronto para a paz."

O confronto deixou a Ucrânia em um limbo e foi comemorado em Moscou. A mídia estatal russa descreveu o encontro como uma "reprimenda pública" a Zelenski. Aleksandr Kareievski, apresentador do canal Rossiya 24, disse em seu programa noturno que a reunião "parecia mais um flagelo para Zelenski" e algo que "ninguém esperava de um presidente dos EUA".

Há muito tempo, o presidente russo, Vladimir Putin, tenta afastar Ucrânia de seu mais importante patrono, os EUA. Ontem, o objetivo do Kremlin parecia cumprido. Ao gritar com Zelenski, o presidente americano expressou solidariedade a Putin, dizendo que os dois haviam suportado adversidades juntos, citando a investigação do Congresso sobre a interferência russa para elegê-lo na eleição de 2016.

Nunca um presidente americano atacou um líder estrangeiro em visita à Casa Branca de forma tão agressiva diante das câmeras de TV. Por vezes cortando a fala do ucraniano, Vance disse a Zelenski que era "desrespeitoso" ele ir ao Salão Oval e discutir temas delicados diante da imprensa e exigiu que ele agradecesse a Trump.

Foi quando o presidente americano tomou a palavra irritado e disse ao ucraniano: "Você não está em uma boa posição neste momento. Você está apostando na Terceira Guerra Mundial. Ou você faz um acordo ou estamos fora", disse Trump.

O resultado imediato da discussão foi o aparente fracasso do acordo que Zelenski vinha sendo pressionado a assinar, para entregar os direitos de mineração de terras raras, petróleo e gás para os EUA.

A visita de Zelenski tinha o objetivo de aparar as arestas com Trump, que nos últimos dias vinha reproduzindo o manual de propaganda de Putin, afirmando que a Ucrânia "começou" a guerra e chamando Zelenski de "ditador sem eleições".

Quando Zelenski parecia ter concordado em assinar o acordo de minerais, ao longo da semana, Trump pareceu disposto a ser gentil, dizendo a repórteres, na quinta-feira, que não se lembrava do comentário sobre o ucraniano ser um ditador. Ontem, os dois se encontraram na Ala Oeste da Casa branca, apertaram as mãos cordialmente, e entraram.

O encontro se tornou hostil assim que eles se sentaram no Salão Oval diante dos jornalistas. Zelenski tentou explicar a história da guerra, observando que ela remontava a 2014, quando Moscou anexou a Crimeia e ocupou o leste da Ucrânia, dizendo que nenhum presidente americano conseguiu conter Putin desde então - incluindo Trump, que governou os EUA entre 2017 e 2021.

Foi aí que Vance começou a atacar Zelenski. "Acho uma falta de respeito da sua parte vir ao Salão Oval para dizer isso na frente da mídia americana. O senhor deveria estar agradecendo ao presidente por tentar pôr um fim a esse conflito", disse.

Surpreso, Zelenski tentou responder e disse que os EUA poderiam se sentir ameaçados pela Rússia algum dia. "Vocês têm um belo oceano (no meio) e não se sentem agora, mas se sentirão no futuro", afirmou o ucraniano.

Irritação

A afirmação tocou um nervo de Trump. "Não nos diga o que vamos sentir", disse o presidente americano, levantando a voz. "Você não está em uma boa posição. Você não tem as cartas no momento."

"Não estou jogando cartas", respondeu Zelenski, a essa altura completamente superado pela dobradinha Trump-Vance e pela barreira da língua, se esforçando para manifestar sua indignação em um inglês às vezes claudicante.

A explosão de Trump com Zelenski contrasta com os elogios que ele faz a Putin e com a falta de concessões exigidas da Rússia. À medida que a reunião de ontem descambava para uma agressão, com dedos apontados e vozes levantadas, Trump começou a atacar também os jornalistas que o pressionavam para que ele dissesse como garantir que Putin não violaria um cessar-fogo. "Se acontecer alguma coisa? E se uma bomba cair na cabeça agora?", respondeu Trump à pergunta de uma repórter.

Terminado o encontro constrangedor, as reações foram mistas - para Trump e Zelenski. Além das críticas já esperadas dos democratas, alguns congressistas republicanos lamentaram o episódio, enfatizando que Putin era um inimigo comum. Outros, como o senador Lindsey Graham, amigo de Trump, exigiram um pedido de desculpas do ucraniano.

Já Zelenski recebeu uma série de mensagens de solidariedade de líderes europeus, entre eles do francês Emmanuel Macron e do polonês Donald Tusk. O presidente ucraniano parece ter conquistado a simpatia de alguns deputados da oposição em Kiev, que elogiaram sua firmeza. Outros, como o opositor Volodmir Ariev, disseram esperar que os diplomatas sejam capazes de reparar o dano feito às relações com os EUA. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.