Lula chama pedido de apuração dos EUA sobre compra de caças Gripen de 'intromissão'

Política
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) classificou como "intromissão" o pedido de informação feito pelos Estados Unidos à Saab, fabricante de aviões, sobre a compra dos caças Gripen pelo Brasil, em 2014.

"Eu sinceramente acho que um pedido de informação dos Estados Unidos é intromissão em uma coisa de outro país. É descabida essa informação. Não sei qual é a informação que eles estão pedindo, também não quero fazer julgamento precipitado, mas não tem sentido pedir informação de um avião que o Brasil comprou", disse o presidente em entrevista à Rádio O Povo/CBN de Fortaleza nesta sexta-feira,11.

A sueca Saab, fabricante da aeronave, informou na quinta-feira, 10, que foi intimada pelo Departamento de Justiça dos EUA a fornecer informações sobre a venda dos 36 caças em um contrato avaliado em US$ 4,5 bilhões (R$26 bilhões em valores atuais), considerada a maior aquisição militar da América Latina. A empresa afirmou que cooperará com as autoridades americanas e fornecerá as informações requisitadas.

"Autoridades brasileiras e suecas já investigaram partes do processo de aquisição dos caças. As investigações foram encerradas sem indicar qualquer irregularidade por parte da Saab", diz o comunicado.

O edital para a compra dos caças foi lançado em 2006, durante do governo do petista. Além da Saab, participaram da licitação a americana Boeing e a francesa Dassault. O processo, no entanto, foi concluído apenas em 2014, no final do primeiro mandato da então presidente Dilma Rousseff (PT).

Em 2016, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou Lula por suspeita de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e associação criminosa no contexto das investigações da Operação Zelotes, relacionadas à contratação dos caças.

De acordo com o MPF, o ex-presidente teria participado de um esquema que prometia influenciar o governo para beneficiar determinadas empresas. A denúncia também apontava que a compra das aeronaves e a prorrogação de incentivos fiscais a montadoras teriam sido realizadas em troca de R$ 2,5 milhões, supostamente repassados a seu filho, Luis Cláudio Lula da Silva.

O caso não chegou a ter o mérito julgado pela Justiça Federal, pois a ação foi trancada pelo então ministro do Supremo Tribunal Federal e hoje chefe da pasta de Justiça e Segurança Pública do governo de Lula, Ricardo Lewandowski.

Ele alegou parcialidade dos procuradores envolvidos e citou trocas de mensagens que vieram à tona após o hackeamento dos celulares de membros da força-tarefa da Lava Jato. Para o magistrado, as comunicações mostravam que até mesmo os procuradores consideravam frágeis as acusações contra Lula, que sempre negou envolvimento no caso.

Lewandowski voltou a decidir sobre o assunto em fevereiro de 2023, encerrando definitivamente a ação contra o presidente. Na mesma decisão, ele trancou processos relacionados a doações da Odebrecht ao Instituto Lula, bem como a compra de um terreno para a sede do instituto e de um apartamento em São Bernardo do Campo.

O ministro justificou que as provas apresentadas eram inválidas e carentes de embasamento suficiente. "Não há justa causa para que esses processos continuem tramitando, sob risco de evidente constrangimento ilegal imposto ao reclamante (Lula)", registrou.

Como são os caças Gripen

O F-39 Gripen E/F atinge uma velocidade máxima de 2.400 km/h, quase o dobro da velocidade do som (1.234 km/h em condições normais), o que permite percorrer a distância entre São Paulo e Rio de Janeiro em apenas 12 minutos.

A aeronave pode transportar até 7,2 toneladas de armamentos. Entre eles, destaca-se o míssil Meteor, capaz de atingir alvos a até 200 km de distância, e o Iris-T, utilizado para alvos a até 30 km.

Além da alta velocidade, o teto máximo do F-39 é de 16.000 metros acima do nível do mar. Em comparação, o quadrimotor Airbus A380, reconhecido pela performance em voos comerciais de grandes distâncias, pode alcançar 15.700.

A autonomia da aeronave varia. Equipada com armamentos, ela pode alcançar até 1.100 quilômetros, o equivalente à distância entre Anápolis (GO), onde os caças estão estacionados no 1º Grupo de Defesa Aérea (GDA) e Salvador, na Bahia. Com o caça vazio, a distância máxima é de 4 mil quilômetros, equivalente a distância de Anápolis até o Panamá, na América Central.

O Gripen tem a capacidade de detectar os alvos de superfície e terrestre ao mesmo tempo, usando todos os sensores disponíveis da aeronave. As informações desses sensores são apresentadas de forma clara em um display moderno, que é sensível ao toque e apresenta os principais dados de voo.

Outro destaque é o sistema de criptografia que permite a comunicação sigilosa entre os pilotos da Força Aérea Brasileira (FAB), garantindo o compartilhamento seguro de informações sobre os alvos.

As primeiras unidades entraram em operação na FAB em 2022 e o contrato prevê a aquisição de 40 aeronaves no total, após a inclusão de quatro unidades adicionais em 2022. A montagem dos caças será realizada pela Saab em parceria com a Embraer, em uma linha de produção inaugurada em Gavião Peixoto, no interior de São Paulo, no ano passado.

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Sem passageiros e sem aviões, o mais novo e mais caro aeroporto do Paquistão é um tanto misterioso. Totalmente financiado pela China, com um custo de US$ 240 milhões, ninguém sabe ao certo quando o Aeroporto Internacional de Gwadar será inaugurado. Localizado na cidade costeira de Gwadar e concluído em outubro de 2024, o aeroporto é um contraste gritante com a empobrecida e instável província de Balochistão ao seu redor.

Ao longo da última década, a China investiu pesado em Balochistão e Gwadar como parte de um projeto multibilionário que conecta sua província ocidental de Xinjiang ao Mar Arábico, chamado Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC). As autoridades o consideram transformador, mas há poucas evidências de mudanças em Gwadar.

A cidade não está conectada à rede elétrica nacional - a energia vem do vizinho Irã ou de painéis solares - e não há água potável suficiente. Um aeroporto com capacidade para 400.000 passageiros não é uma prioridade para a cidade, com seus 90.000 habitantes. "Este aeroporto não é para o Paquistão ou Gwadar", disse Azeem Khalid, especialista em relações internacionais que se especializa nas relações Paquistão-China. "Ele é para a China, para que eles possam ter acesso seguro para seus cidadãos a Gwadar e Balochistão."

Presos entre militantes e o exército

O CPEC catalisou uma insurgência de décadas em Balochistão, uma região rica em recursos e estrategicamente localizada. Separatistas, indignados com o que afirmam ser a exploração do Estado às custas dos locais, lutam pela independência - visando tanto tropas paquistanesas quanto trabalhadores chineses na província e em outros lugares.

Membros da minoria étnica balúchi no Paquistão afirmam enfrentar discriminação do governo e ser negados oportunidades disponíveis em outras partes do país, acusações que o governo nega. O Paquistão, interessado em proteger os investimentos chineses, aumentou sua presença militar em Gwadar para combater a dissidência.

A cidade é um emaranhado de pontos de controle, arame farpado, tropas, barricadas e torres de vigilância. As estradas são fechadas a qualquer momento, vários dias por semana, para permitir a passagem segura de trabalhadores chineses e VIPs paquistaneses. Oficiais de inteligência monitoram jornalistas que visitam Gwadar. O mercado de peixe da cidade é considerado sensível demais para cobertura. Muitos moradores locais estão exaustos.

"Ninguém costumava perguntar para onde estávamos indo, o que estávamos fazendo, e qual é o seu nome", disse Khuda Bakhsh Hashim, um nativo de Gwadar de 76 anos. "Costumávamos aproveitar piqueniques até a noite nas montanhas ou nas áreas rurais." "Agora nos pedem para provar nossa identidade, quem somos, de onde viemos", acrescentou. "Somos moradores. Aqueles que perguntam devem se identificar."

Hashim recorda com carinho quando Gwadar era parte de Omã, e não do Paquistão, e era uma parada para navios de passageiros indo para Mumbai. As pessoas não iam para a cama com fome e os homens encontravam trabalho facilmente, disse ele. Sempre havia algo para comer e nunca faltava água potável. Mas a água de Gwadar secou devido à seca e à exploração descontrolada. O trabalho também secou. O governo afirma que o CPEC criou cerca de 2.000 empregos locais, mas não está claro a quem se referem como "local" - residentes de Balochistão ou paquistaneses de outras partes do país. As autoridades não deram mais detalhes.

Moradores de Gwadar veem poucos benefícios da presença chinesa

Gwadar é simples, mas charmosa, com uma comida excelente e habitantes locais conversadores e acolhedores com os estrangeiros. Fica movimentada durante os feriados públicos, especialmente nas praias. Ainda assim, há uma percepção de que é perigoso ou difícil visitar - apenas uma rota comercial opera no aeroporto doméstico de Gwadar, três vezes por semana para Karachi, a maior cidade do Paquistão, localizada na outra extremidade da costa do Mar Arábico do Paquistão.

Não há voos diretos para a capital provincial de Balochistão, Quetta, centenas de milhas para o interior, ou para a capital nacional Islamabad, ainda mais ao norte. Uma rodovia costeira cênica tem poucas instalações. Desde que a insurgência balúchi eclodiu pela primeira vez há cinco décadas, milhares desapareceram na província - qualquer um que se manifeste contra a exploração ou opressão pode ser detido, suspeito de conexões com grupos armados, dizem os moradores locais.

As pessoas estão tensas; ativistas afirmam que há desaparecimentos forçados e tortura, o que o governo nega. Hashim quer que o CPEC tenha sucesso para que os moradores, especialmente os jovens, encontrem empregos, esperança e propósito. Mas isso ainda não aconteceu. "Quando alguém tem algo para comer, por que ele escolheria ir pelo caminho errado?", disse ele. "Não é uma coisa boa irritar as pessoas." A violência militante diminuiu em Balochistão após uma contra-insurgência do governo em 2014 e se estabilizou no final daquela década, segundo o Instituto Paquistanês de Estudos de Conflito e Segurança.

Os ataques aumentaram após 2021 e subiram de forma constante desde então. Grupos militantes, especialmente o proscrito Exército de Libertação Balochi, foram encorajados pela ruptura do cessar-fogo com o governo do Talibã paquistanês em novembro de 2022.

Inauguração adiada

Preocupações de segurança adiaram a inauguração do aeroporto internacional. Havia temores de que as montanhas da área - e sua proximidade com o aeroporto - poderiam ser o ponto de partida ideal para um ataque. Em vez disso, o primeiro-ministro paquistanês Shehbaz Sharif e seu homólogo chinês Li Qiang realizaram uma cerimônia virtual. O voo inaugural foi restrito à mídia e ao público.

Abdul Ghafoor Hoth, presidente distrital do Partido Awami de Balochistão, disse que nenhum residente de Gwadar foi contratado para trabalhar no aeroporto, "nem mesmo como vigia." "Esqueçam os outros empregos, quantos balúchis há neste porto que foi construído para o CPEC?", perguntou ele.

Em dezembro, Hoth organizou protestos diários sobre as condições de vida em Gwadar. Os protestos pararam 47 dias depois, quando as autoridades prometeram atender às demandas dos moradores, incluindo melhor acesso à eletricidade e à água. Nenhum progresso foi feito na implementação dessas demandas desde então.

Sem trabalho local, bens ou serviços, não pode haver benefício de baixo para cima do CPEC, disse o especialista em relações internacionais Khalid. À medida que o dinheiro chinês chegou a Gwadar, também chegou um aparato de segurança severo que criou barreiras e aprofundou a desconfiança. "O governo paquistanês não está disposto a dar nada ao povo balúchi, e os balúchis não estão dispostos a receber nada do governo", disse Khalid.

A Rússia lançou mais drones de ataque contra a Ucrânia durante a noite de sábado do que em qualquer outro ataque isolado da guerra, disse o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, neste domingo, um dia antes do aniversário de três anos da invasão em grande escala de Moscou.

Escrevendo nas redes sociais, Zelenski disse que 267 drones de ataque foram enviados no que ele chamou de "o maior ataque desde que os drones iranianos começaram a atingir cidades e vilarejos ucranianos". A força aérea da Ucrânia disse que 138 drones foram abatidos em 13 regiões ucranianas, e outros 119 foram perdidos a caminho de seus alvos.

Três mísseis balísticos também foram disparados, informou a força aérea. Uma pessoa foi morta em um ataque com mísseis na cidade de Kryvyi Rih, de acordo com o chefe da administração militar de Kryvyi Rih.

O ataque ocorreu no momento em que os líderes em Kiev e em toda a Europa estão tentando lidar com as rápidas mudanças na política externa dos EUA sob o comando do presidente americano, Donald Trump, que, em questão de dias, derrubou anos de apoio firme à Ucrânia, levando a temores de que ele se uniria a Moscou para forçar um acordo para a guerra sem envolver a Ucrânia e seus apoiadores europeus.

Ucrânia teme a mudança de política de Trump em relação a Putin

O envolvimento de Trump com as autoridades russas e seu acordo para reabrir os laços diplomáticos e a cooperação econômica com Moscou marcaram uma reviravolta dramática na política dos EUA, que antes buscava isolar a Rússia e seu presidente, Vladimir Putin, por causa da guerra.

Zelenski expressou seu temor de que a pressão de Trump por uma resolução rápida resultaria em perda de território da Ucrânia e vulnerabilidade a futuras agressões russas, embora as autoridades dos EUA tenham afirmado que o líder ucraniano estaria envolvido se e quando as negociações de paz realmente começassem.

Trump, no entanto, provocou alarme e raiva na Ucrânia quando, nesta semana, sugeriu que Kiev havia começado a guerra e que Zelenski estava agindo como um "ditador", já que o país não realizou eleições de acordo com a legislação ucraniana que as proíbe durante a lei marcial.

No sábado, o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia disse que os preparativos para uma reunião entre Trump e Putin estavam em andamento, em mais um sinal de que o isolamento do líder russo, pelo menos para o governo Trump, estava começando a diminuir.

Reagindo aos últimos ataques russos, no entanto, Andrii Sybiha, Ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, disse que os ataques noturnos contra alvos civis e militares "demonstram que evitar chamar a Rússia de agressor não muda o fato de que ela é um".

"Ninguém deve confiar nas palavras de Putin. Em vez disso, olhe para suas ações", disse Sybiha em uma declaração nas mídias sociais.

Putin elogia soldados que lutam na Ucrânia

Zelenski e outras autoridades participarão de um fórum em Kiev no domingo, onde discutirão a situação do país um dia antes de a guerra atingir sua marca de três anos. Zelenski encerrará o fórum com uma coletiva de imprensa.

O fórum acontece em um momento delicado para Kiev, já que o governo de Trump pressiona os líderes ucranianos a concordar com um acordo que permitiria aos EUA acessar os minerais de terras raras ucranianos, uma proposta que Zelenski se recusou a aceitar anteriormente por não ter garantias de segurança específicas.

"Devemos fazer o máximo para trazer uma paz duradoura e justa para a Ucrânia", escreveu Zelenski nas mídias sociais no domingo. "Isso é possível com a unidade de todos os parceiros - precisamos da força de toda a Europa, da força da América, da força de todos que desejam uma paz confiável."

Enquanto isso, Putin, em uma mensagem especial televisionada no domingo, elogiou os soldados russos que lutam na Ucrânia por defenderem "sua terra natal, os interesses nacionais e o futuro da Rússia".

O discurso de Putin marcou o Dia do Defensor da Pátria da Rússia, que cai um dia antes do aniversário da invasão da Ucrânia. Ele usou a saudação do feriado para prometer maior apoio social aos militares e novas armas e equipamentos para as forças russas.

"Hoje, como o mundo está mudando impetuosamente, nosso curso estratégico para fortalecer e desenvolver as Forças Armadas permanece inalterado", disse ele, acrescentando que a Rússia continuaria a desenvolver suas forças armadas "como a parte essencial da segurança da Rússia que garante seu presente e futuro soberanos".

Líderes europeus se preparam para conversas com Trump

No domingo, o Reino Unido disse que anunciaria novas sanções contra a Rússia, enquanto tenta endurecer o apoio ocidental à Ucrânia.

O pacote de sanções que será lançado na segunda-feira será o maior imposto pela Grã-Bretanha desde os primeiros dias da guerra, disse o ministro das Relações Exteriores, David Lammy, acrescentando que elas teriam como objetivo "erodir a máquina militar (da Rússia) e reduzir as receitas que alimentam os incêndios de destruição na Ucrânia".

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, e o presidente francês, Emmanuel Macron, visitarão Washington nesta semana, enquanto a Europa tenta persuadir Trump de abandonar a Ucrânia em busca de um acordo de paz.

Starmer disse em uma reunião do Partido Trabalhista na Escócia no domingo: "Não pode haver discussão sobre a Ucrânia sem a Ucrânia e o povo da Ucrânia deve ter um futuro seguro a longo prazo." /AP

O chefe do Departamento de Eficiência Governamental dos EUA (Doge, na sigla em inglês), Elon Musk, publicou em sua conta no X uma enquete perguntando: "Todos os funcionários federais deveriam ser obrigados a enviar um e-mail curto com alguns pontos básicos sobre o que realizaram na semana passada?".

A enquete é uma referência ao e-mail enviado por Musk para os funcionários federais pedindo esclarecimentos sobre suas rotinas de trabalho na última semana.

Há pouco, a resposta sim tinha 84% dos votos, já o não tinha 16%. Ao todo, em 20 minutos a postagem recebeu mais 128 mil votos.