Outra Cidade de Deus, 20 anos depois

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"Quem é meu pai, mãe?" - "Eu sou seu pai, sua mãe, sua avó. Eu te criei sozinha." O diálogo entre os atores Dhonata Augusto e Sabrina Rosa foi gravado na comunidade paulistana 12 do Cinga. Mas a atmosfera é carioca, já que ele foi registrado durante as gravações de Cidade de Deus. Eles dão vida a Delano e Cintia e antecipam a trama que será retratada na série da HBO Max.

A história se passa 20 anos depois do filme. Já é possível adiantar que a personagem violentada por Zé Pequeno, crime que desencadeou a guerra entre o líder do tráfico e Mané Galinha, teve um filho que saiu da Cidade de Deus para virar policial.

Outro momento da gravação em São Paulo, acompanhada na semana passada pelo Estadão, também ilustra o cerne da história, que chegará ao streaming em 2024. Cintia cuida de um centro comunitário, mas cogita entrar para a política e, imediatamente, é interrompida pelo filho, que a repreende, lembrando de um lema central para o desenvolvimento da nova trama: "Cresci escutando a senhora dizer que temos de mudar as coisas de dentro para fora. Tentei fazer isso na polícia. Se a senhora sair do centro comunitário, quem vai fazer isso?", indaga Delano.

"Isso significava que na favela não tinha jeito, era sem escapatória, e a série é o inverso disso. A gente vai ficar, é uma perspectiva de luta e resistência", explica o diretor Aly Muritiba. Não à toa, o seriado se propõe a centralizar a história nos "atores sociais" da comunidade, com uma narrativa majoritariamente feminina.

"Nossa atenção é muito mais para os atores sociais dentro da comunidade. Ao contrário do filme, em que a narrativa é toda muito masculina, na série, ela é muito mais feminina. As grandes personagens da história, para além do Buscapé, são as vividas por Roberta Rodrigues (Berenice) e Sabrina Rosa. Claro que existe também a violência, o mundo do crime, mas tudo é visto pela perspectiva de quem sofre as consequências disso", afirma Muritiba.

A trama do filme se encerra nos anos 1980 e o seriado vai mostrar os anos 2000. Ainda que o intuito seja um novo retrato dessa comunidade, o diretor reitera que a estética e alguns recursos foram usados propositalmente para causar a sensação de estar vendo Cidade de Deus.

FLASHBACKS

Buscapé segue sendo o narrador e algumas memórias são resgatadas em flashbacks de cenas do filme. Alguns materiais que não entraram no longa na época foram digitalizados e estarão presentes na série. Alexandre Rodrigues, que interpreta o papel, comenta que a inocência de seu personagem se mantém, mas ele chega com uma relação diferente com a favela. "Ele continua a paixão pela fotografia, mas se perdeu um pouco, porque precisou deixar a comunidade para trabalhar", avisa.

"A série vai mostrar que muitas pessoas perdem oportunidade de trabalho por não conseguir sair em momentos de guerra e violência. Agora, ele mora em Copacabana, gosta de ser chamado de Wilson, que é o nome real dele. Tem uma visão mais distante de lá, mas a personalidade é resgatada pelos amigos", esclarece.

Outro personagem que retorna é Braddock, (Thiago Martins). Vinte anos depois, o menino que matou Zé Pequeno volta e passa a disputar o controle do tráfico com Curió (Marcos Palmeira). Thiago conta que seu personagem ficou preso por seis anos e sai da prisão como um "furacão de conflitos". "Quem assistir vai ver que a guerra não é por questões de poder. Tem uma história familiar, de traição, de dúvida, milícia vindo por trás. Cidade de Deus vai ser um seriado meio labiríntico", afirma. "No filme, a Cidade é uma personagem repleta de potências e também de muitas carências. Está próxima de um ponto de virada, de reflexão. Na série, a comunidade está disposta a se juntar para brigar, batalhar, viver e gozar", reitera o diretor.

PONTO DE VIRADA

Roberta Rodrigues e Sabrina Rosa acreditam que esse "ponto de virada" sempre se deu por meio das personagens femininas, fundamentais para "costurar a jornada masculina", como afirma Sabrina ao lembrar que sua personagem no longa nem sequer tinha um nome. "Das grandes viradas: a do Cabeleira, tinha Berenice; a do Zé Pequeno era a Cintia; a do Buscapé, a jornalista Alice. Então, sempre houve uma mulher na virada da história", lembra Roberta.

Agora, além da jornada de Cintia com o centro comunitário, Roberta volta com uma nova Berenice. Na história, ela é uma cabeleireira que muda de vida e vai parar na política. "Normalmente, são as mulheres pretas que fazem transformações dentro das comunidades. Minha personagem já era empoderada no filme, mas, depois de presa, transforma sua carga em potência", explica.

Para Sabrina, esse retrato mostra a vida dos moradores "da porta para dentro". A diferença é que a câmera está apontada para essas famílias. "Tem violência, mas não é só isso. Estamos colocando essas pessoas no lugar de dignidade que é delas também", conclui.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O escritor Marcelo Rubens Paiva, autor de livros como Feliz Ano Velho e Ainda Estou Aqui, que deu origem ao filme homônimo que concorre ao Oscar este ano, foi alvo de agressões neste domingo, 23, durante o bloco Acadêmicos do Baixo Augusta, um dos mais tradicionais do pré-carnaval paulistano.

Um rapaz arremessou uma lata de bebida e uma mochila na direção do escritor, que não se feriu. As agressões aconteceram no início do cortejo, que desce a Rua da Consolação, no centro da capital, partindo do cruzamento com a Avenida Paulista. Paiva é porta-estandarte do Baixo Augusta desde o ano de fundação do bloco, há 16 anos.

De acordo com a assessoria do Baixo Augusta, o autor das agressões não disse os motivos que o levaram a arremessar os objetos contra o escritor. O homem, que não foi identificado, foi retirado do cortejo, segundo os organizadores.

"O Acadêmicos do Baixo Augusta lamenta o ocorrido no início do bloco. Durante as homenagens ao Marcelo Rubens Paiva, fundador e porta estandarte do bloco há 16 anos, um folião jogou objetos na direção do Marcelo. Foi um susto, uma violência nunca vista. O triste ocorrido não apagou o brilho da homenagem", disse o bloco, em comunicado.

Vídeos que circulam nas redes mostram o momento em que a mochila é arremessada. O agressor, do lado de fora do cordão de isolamento, joga o objeto com força, que resvala na cabeça de Marcelo.

O escritor, que é cadeirante, se locomovia pela parte de dentro da área isolada e usava uma máscara da atriz Fernanda Torres, que interpretou Eunice Paiva (mãe de Marcelo) em Ainda Estou Aqui. Ele desvia da mochila, que parece não atingi-lo. Em outros registros, o suposto agressor ainda faz gestos obscenos contra o escritor e contra fotógrafos que registraram a cena.

Depois das agressões, ele permaneceu na festa por mais algumas horas, posou ao lado da atriz Alessandra Negrini, rainha do bloco, cantou ao lado de Wilson Simoninha, e retornou para a sua residência. A reportagem tentou contato com Marcelo Rubens Paiva, mas não havia obitido retorno até a publicação deste texto.

Para o canal GloboNews, da TV Globo, Paiva lamentou o episódio "O cara jogou mochila na cara, não entendi o que aconteceu. Já é meu 16º desfile e nunca fui atacado. Coisa estranha e não entendi o porquê. Jogar uma mochila na cara de um cadeirante, porta-bandeira que quer se divertir, que faz isso há 16 anos, não entendi esse grau de violência", disse o escritor.

A reportagem buscou contato com a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, e ainda aguardava um retorno até a publicação deste texto, o que acabou não ocorrendo. O espaço segue aberto

Em São Paulo, foram instalados 160 postos de atendimento e 30 torres de observação, principalmente nos 14 megablocos, que têm previsão de atrair cerca de 500 mil pessoas por dia. O Comando de Aviação da PM também será usado para sobrevoar a capital paulista com dois helicópteros Águia, com o objetivo de dar apoio às equipes em solo e atuar em alguma ocorrência de salvamento.

O Baixo Augusta é um dos 601 blocos de rua previstos para desfilar este ano, segundo a Prefeitura de São Paulo, que trata o carnaval paulistano como o maior do Brasil. O público estimado, conforme a gestão municipal, é de 16 milhões de pessoas. A previsão é de que as festas possam dar retorno econômico à capital de R$ 3,4 bilhões.

Mais de cinco mil búfalos selvagens estão devastando uma grande reserva biológica no oeste de Rondônia. Os animais estão transformando em deserto uma área equivalente a 60 mil campos de futebol no interior da Reserva Biológica (Rebio) Guaporé, unidade de conservação federal.

O desastre ambiental levou o Ministério Público Federal (MPF) a pedir, em ação judicial contra o governo de Rondônia e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a erradicação dos búfalos. Ao Estado, o MPF pede uma indenização de R$ 20 milhões.

O governo de Rondônia informou que trabalha na elaboração de um projeto que inclui o levantamento dos impactos ambientais causados pelos búfalos e um plano de mitigação, mas destaca que, pelo fato de serem animais selvagens, o controle se torna mais difícil.

Já o ICMBio informou que os búfalos ocupam uma área isolada de 96 mil hectares dentro da Rebio Guaporé, em Rondônia. "Sem estrada, nem sequer simples ramais, não há como retirar os animais, vivos ou mortos, por terra. Além disso, esses animais não têm acompanhamento sanitário, o que inviabiliza o abate para consumo", diz.

O instituto diz ainda que foram feitas várias reuniões com órgãos de interesse e sua equipe tem produzido pesquisas para avaliar as opções de um projeto de erradicação, a partir de informações precisas sobre o número de animais, sua origem, os impactos causados e métodos de controle.

Animais originários da Ásia

Com 600 mil hectares, a Guaporé é a maior reserva e com mais diversidade de paisagens de todo o Estado, com 14 tipos de vegetação. Animais originários da Ásia, os búfalos foram introduzidos na região em 1953 pela antiga Fazenda Pau d'Óleo como parte de um projeto estadual de incentivo à pecuária.

A área hoje pertence ao governo estadual. A fazenda foi abandonada e o lote inicial, de 36 animais, ficou solto e se reproduziu livremente, "em um habitat com farto alimento e nenhum predador", como relata o MPF. Se não houver controle, a estimativa é de que sejam 50 mil búfalos ocupando a metade de Rebio em 2030.

O MPF pede que o controle seja feito com métodos que causem o menor sofrimento possível aos animais e sem danos colaterais ao ambiente. Para o procurador da República Gabriel Amorim, que assina a ação, há risco para a pecuária do Estado, que tem o sexto maior rebanho bovino do Brasil.

"A existência descontrolada desses animais, inclusive, pode manchar a credibilidade da cadeia da pecuária de Rondônia, prejudicando gravemente a economia local", diz Amorim, na ação.

Informa ainda que presença dos animais e o hábito dos bubalinos de chafurdar a lama estão desviando cursos d'água, provocando erosões, pisoteando o solo e causando desertificação.

Segundo o MPF, os ambientes alagados que caracterizam a reserva foram reduzidos em 48% desde 2008, quando o problema foi constatado ainda em seu início. Os búfalos disputam alimentos com o cervo do pantanal, espécie ameaçada de extinção. O MPF relata que os animais destruíram sítios arqueológicos que haviam na região.

A ação pede que a Justiça Federal determine ao ICMBio que apresente, em até dez meses, um plano de controle dos búfalos "utilizando métodos que causem o menor sofrimento".

O plano deverá ser executado pelo Estado de Rondônia com seus próprios recursos humanos e equipamentos, sob supervisão do órgão federal. O Estado deverá ainda elaborar e executar um plano de recuperação da área degradada.

A ação tramita na 5.ª Vara da Seção Judiciária de Rondônia, que trata das questões ambientais no Estado. Além da Rebio Guaporé e da Reserva de Fauna Pau d'Óleo (antiga fazenda), já foi registrada a presença de búfalos na Reserva Extrativista Pedras Negras. A região, na fronteira com a Bolívia, tem vegetação típica de transição entre a Floresta Amazônica e o Cerrado, com áreas alagadiças como as do Pantanal.

Plano com incinerador

Segundo o governo de Rondônia, uma lei estadual que permite a erradicação de búfalos não pode ser aplicada na Rebio Guaporé, por se tratar de unidade de conservação federal.

Em 2015, o governo do Estado chegou a discutir com o ICMBio um plano para o controle dos búfalos, com a construção de uma estrutura com currais e cochos que seriam usados para atrair os animais.

Foram previstos um incinerador para carcaças, veículos e barcos para o transporte do pessoal, além de alojamentos. Na época, o custo da estrutura estava orçado em R$ 1,6 milhão, mais R$ 600 mil por ano de operação. O projeto não avançou.

O ICMBio diz em nota que "estuda tecnicamente a melhor alternativa para a retirada dos búfalos, considerando as dificuldades logísticas para a destinação desses animais selvagens, diante da geografia do local". Sobre a ação do MPF, o instituto informou que os prazos judiciais estão sendo observados.

Fauna invasora

O Brasil convive com 272 espécies de animais exóticos que invadiram seus diversos ecossistemas, segundo base de dados do Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental.

São consideradas exóticas as espécies que não pertencem originalmente àquele local e invasoras porque se reproduzem e se espalham de forma descontrolada, ameaçando a biodiversidade da área. Elas chegam ao País trazidas acidentalmente, por meio de navios e plataformas de petróleo, ou propositalmente para servir como alimentação, para pesca ou caça esportiva ou como animal doméstico.

Um dos exemplos mais típicos é o javali, um porco europeu trazido para criação que se espalhou pelos mais diversos ecossistemas brasileiros, predando a fauna silvestre e as lavouras. A caça de animais silvestres é proibida no Brasil, mas o controle de espécies invasoras é autorizado sob condições especiais pelos órgãos ambientais.

Em dezembro, o governo de São Paulo abriu licitação para o abate de javalis que infestam cinco unidades de conservação no Estado, inclusive o Parque Estadual de Ilhabela, no litoral norte.

O papa Francisco apresenta uma "insuficiência renal leve", de acordo com um novo boletim do Vaticano divulgado na tarde deste domingo, 23. Segundo o informe, o pontífice não teve nenhuma outra crise respiratória (como a que o acometeu na manhã de ontem), mas ele segue recebendo oxigênio por cateter nasal de alto fluxo e seu estado de saúde permanece "crítico".

De acordo com o novo boletim médico, o papa recebeu duas unidades de concentrado de hemácias com objetivo de aumentar a concentração de hemoglobina e, desta forma, elevar a oferta de oxigênio nos tecidos. A concentração do número de plaquetas no sangue, uma condição chamada de plaquetopenia, segue baixa, embora estável. No entanto, um novo exame de sangue realizado no domingo revelou uma "inicial, leve, insuficiência renal", que, segundo o boletim estaria sob controle.

"O Santo Padre continua vigilante e bem orientado. A complexidade do quadro clínico e a espera necessária para que as terapias farmacológicas deem algum retorno fazem com que o prognóstico permaneça reservado", diz ainda o boletim médico. "Nesta manhã, no apartamento do 10º andar, ele participou da Santa Missa na companhia de quem cuida dele nesses dias de hospitalização.

Mensagem escrita pelo pontífice

Pelo segundo domingo consecutivo o papa não pôde conduzir a tradicional benção dominical, conhecida como a oração do Angelus, mas uma mensagem escrita por ele foi lida ao público. "Por minha parte, continuo minha hospitalização com confiança (...) seguindo os tratamentos necessários; e o descanso também faz parte da terapia!", escreveu.

Francisco ainda agradeceu aos médicos e à equipe de saúde do Hospital Gemelli, em Roma, onde está internado desde 14 de fevereiro, pela "atenção" e "dedicação".

"Nestes dias, tenho recebido muitas mensagens de carinho e fiquei especialmente impressionado com as cartas e desenhos das crianças", acrescentou. "Obrigado por essa proximidade e pelas orações de conforto que recebi de todo o mundo!", escreveu, ainda, na mensagem.