O que é porfiria aguda, doença rara que causou a morte da primeira esposa do ator Vladimir Brichta?

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O ator Vladimir Brichta apareceu, nesta semana, em uma campanha inédita sobre porfiria aguda, doença rara que causou a morte de sua primeira esposa em 1999. Lançada pela Associação Brasileira de Porfiria (Abrapo), a campanha busca desmistificar a doença e informar a população sobre sintomas, diagnóstico e tratamento.

O que é porfiria aguda

Segundo a Abrapo, as porfirias são um grupo de pelo menos oito doenças genéticas distintas, causadas por um defeito na produção de um composto chamado heme. O heme, entre outras coisas, compõe a hemoglobina - responsável pelo transporte de oxigênio no sangue.

Como explica Guilherme Perini, médico hematologista do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, o defeito relacionado ao heme ocasiona a produção de substâncias tóxicas (chamadas de "metabólitos") que causam uma espécie de irritação do sistema nervoso.

De acordo com o médico, na porfiria aguda o paciente vivencia crises - quem tem outros tipos da doença pode conviver com sintomas constantes e mais brandos. No caso dos ataques repentinos, a duração pode ser de horas e/ou dias e há risco de morte. De acordo com Perini, uma crise de porfiria tem de 5 a 10% de taxa de mortalidade.

Sintomas

As porfirias são classificadas em duas grandes categorias, de acordo com a forma de apresentação dos sintomas: aguda ou cutânea. Nas porfirias cutâneas, os sintomas, em geral, ficam restritos à pele, com formação de bolhas, cicatrizes, escurecimento, espessamento e aumento da quantidade de pelos.

Já na forma aguda, a dor abdominal é o primeiro e mais frequente sinal, causado por uma irritação nos nervos da barriga. Além disso, podem ocorrer náusea, vômito, constipação, dor e fraqueza muscular, alteração da coloração da urina, arritmias, confusão mental, alucinações e convulsões. A doença pode, ainda, levar à paralisia e ao coma.

"Eu tive uma crise muito grave de porfiria com 31 anos. Perdi todos os movimentos, entrei em coma e, finalmente, me recuperei, depois de algum tempo. Estou com quase 77 anos e continuo tocando a vida e me cuidado", conta Ieda M.S. Bussmann, presidente da Abrapo.

Por apresentar sintomas comuns a muitas outras condições, a doença é de difícil diagnóstico. Perini explica que alguns sinais de alerta são a dor abdominal aguda - sem causa explicada - associada a quadros como agitação mental, alucinações, crise convulsiva e perda de força.

Para o médico, outro sintoma que merece atenção é a alteração na coloração da urina, que, no caso da porfiria, costuma apresentar um tom vermelho escuro. "Entre os pacientes que estão em uma crise muito forte, a urina se torna avermelhada. Uma cor mais para o bordô, que a gente chama de 'cor de vinho do porto'", descreve.

Diagnóstico

O diagnóstico é clínico - ou seja, depende da observação dos sintomas e da exclusão de outras possibilidades - e laboratorial. Em termos de exames, Perini explica que o objetivo é dosar, por meio de uma amostra de urina, a presença das substâncias tóxicas específicas associadas à doença.

"Quando a gente tem a suspeita, faz essa dosagem e, se esses metabólitos [tóxicos] aparecem aumentados, estamos diante de um caso de porfiria e o ideal é começar a tratar esse paciente", ensina.

Perini alerta para a importância do diagnóstico precoce, a fim de prevenir o agravamento e as possíveis sequelas da doença. Caso não seja tratada ainda na fase de dor abdominal, que é o sintoma inicial, as substâncias tóxicas que estão sendo produzidas pelo organismo podem ir se acumulando no corpo, promovendo quadros muito graves. "Muitas vezes o paciente tem que ser entubado", relata.

No vídeo da campanha de conscientização sobre porfiria, o ator Vladimir Brichta relata a dificuldade enfrentada por Gena, sua primeira esposa, para conseguir um diagnóstico. "Os médicos começam a investigar e ninguém pensa na porfiria", conta. No vídeo, ele explica que, após diversos diagnósticos errados e um longo período de dor, a doença finalmente foi considerada como possibilidade. No entanto, já era tarde. "Em um mês ela faleceu", lamenta Brichta.

Tratamento

Na porfiria aguda, o paciente geralmente tem uma vida normal, mas, diante de algum gatilho, surge uma crise. Por isso, uma importante medida de prevenção é evitar esses episódios.

Perini explica que o principal gatilho são alguns medicamentos, que podem interferir nos processos ligados ao heme. A lista de medicamentos é grande (acesse aqui), e envolve substâncias como antifúngicos, antibióticos, além de remédios para convulsão e hipertensão. Hormônios, como a progesterona, também fazem parte da lista.

Fora isso, ainda há tratamento eficaz para evitar as crises - vale lembrar que a doença não tem cura definitiva. Para controlar a manifestação dos sintomas, recomenda-se o uso de hematina. Essa substância química supre a necessidade de produção do heme, a substância que não é produzida adequadamente por esses pacientes.

Segundo o médico, o tratamento da porfiria aguda pode ter um impacto significativo na qualidade de vida. Por isso, ele alerta que é importante que os médicos estejam vigilantes em relação à hipótese de seus pacientes terem essa condição, visando aprimorar a investigação e iniciar a terapia precocemente.

Para Ieda, o aviso também vale para os amigos e familiares de pessoas com sintomas característicos da condição. "Geralmente, os médicos e as pessoas em geral não dão crédito aos sintomas das pessoas com porfiria", lamenta a presidente da Abrapo. Segundo ela, isso não só causa sofrimento como atrasa o diagnóstico e o tratamento adequado.

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A Andreani Logística anunciou nesta terça-feira, 29, a suspensão dos serviços prestados à Fundação Butantan, incluindo o armazenamento de insumos utilizados na produção de vacinas. O centro de pesquisa, por sua vez, afirma que o contrato com a empresa foi encerrado dentro do prazo previsto e nega qualquer interrupção inesperada.

A versão da Andreani, no entanto, é diferente. Segundo a empresa, o contrato original teve vigência de abril de 2023 a abril de 2024, com solicitação da fundação para que a operação fosse mantida por mais seis meses, enquanto uma nova licitação era elaborada. A previsão era de que a prorrogação se encerrasse em 30 de setembro. Em agosto, porém, o Butantan já havia selecionado a empresa Simas Logística como vencedora da concorrência.

Em 30 de setembro, a fundação teria enviado à Andreani uma prorrogação unilateral do contrato até abril de 2025 - decisão que a empresa afirma que não aceitou nem assinou. "Estamos prestando serviço sem contrato. Não existe negócio unilateral, e o Butantan agiu de forma arbitrária. Isso está sendo discutido em juízo", afirma a Andreani.

A disputa pela gestão logística, armazenamento e distribuição de vacinas já foi levada ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) e ao Tribunal de Contas do Estado (TCE-SP), após a Andreani, segunda colocada no certame, contestar a legalidade da contratação da Simas. Um dos principais pontos de questionamento é a transparência do processo. Segundo a Andreani, o edital exigia a apresentação de uma licença que comprovasse a atuação da empresa em São Paulo - o que facilitaria a logística -, mas o documento da Simas não foi disponibilizado, mesmo após solicitação formal.

Outro ponto de crítica da Andreani é o que considera "falta de preparo da nova operadora". De acordo com a empresa, nas últimas 48 horas, equipamentos do Butantan que estavam sob sua guarda foram transferidos para uma fazenda da fundação e não para instalações da Simas, em um movimento que comprovaria a ausência de estrutura adequada.

A Andreani afirma que a única movimentação solicitada até o momento foi essa. A denúncia foi levada ao Ministério Público.

Embora o início oficial das atividades da Simas estivesse previsto para 17 de abril, a Andreani afirma que continuou recebendo cargas. "De 1º até 28 de abril, recebemos 340 paletes de insumos, sendo 40 apenas na segunda-feira, 28", afirma. A empresa também alega que nenhum desses materiais foi retirado até agora - versão contestada pelo Butantan, que informa já ter transferido 900 paletes para a nova operadora.

Segundo a Andreani, os serviços vêm sendo mantidos sem contrato e com valores determinados de forma unilateral pelo Butantan. A empresa afirma que, a partir desta quarta-feira, 30, deixará de receber novos insumos e de transportar cargas já armazenadas - função que também está sob sua responsabilidade - caso não seja apresentado um cronograma detalhado de transferência, amparado legalmente, com respeito aos valores comerciais anteriormente pactuados e acesso completo à documentação do processo licitatório.

A empresa afirma ainda que o imbróglio coloca em risco a integridade dos insumos. Ela assegura que as cargas sob seus cuidados seguirão armazenadas e refrigeradas, mas se recusa a receber novos insumos para armazenamento ou a realizar o transporte dos que já estão armazenados.

O que diz o Butantan?

A Fundação Butantan afirma que a Simas Logística, vencedora da licitação, dispõe de um galpão já qualificado e começou a receber insumos desde 3 de abril - informação que, assegura, foi previamente comunicada à Andreani.

Inicialmente, a fundação afirma que foram encaminhados materiais não refrigerados e, a partir de 30 de abril, a nova operadora também passará a receber insumos refrigerados. "Mais de 900 paletes já foram transferidos para as instalações da Simas, e a previsão é de que toda a migração seja concluída até o fim de maio", diz o Butantan.

O centro de pesquisa também destaca que o contrato com a Andreani foi firmado por inexigibilidade de licitação - modalidade diferente de uma contratação emergencial - e foi prorrogado unilateralmente com base na Lei 14.133/2021. "A empresa segue prestando serviços até o encerramento do contrato, em 30 de abril. Após essa data, caberá à Andreani permitir a retirada do restante dos materiais, já que a Simas está plenamente capacitada para armazenar e operar com os insumos", afirma.

A fundação assegura que não há risco de interrupção na produção de vacinas, especialmente considerando que a entrega das doses contra gripe ao Ministério da Saúde já foi concluída e que essa produção, a de maior volume do Butantan, só será retomada no segundo semestre, como ocorre regularmente.

A instituição também defende a regularidade do processo licitatório. Afirma que todo o procedimento foi conduzido com transparência e dentro da legislação, sendo reiteradamente validado por decisões judiciais favoráveis, e acrescenta que a Simas teria apresentado uma proposta com preço 45% inferior ao da segunda colocada, gerando uma economia estimada em R$ 72 milhões. "O que ocorreu, portanto e simplesmente, foi que a Andreani perdeu uma licitação", afirma o Butantan.

Segundo a fundação, a Andreani apresentou diversos recursos, todos sem sucesso. Além do recurso administrativo indeferido no âmbito do próprio Butantan, a empresa teve três pedidos de liminar negados pela Justiça - dois já em segunda instância - e teve indeferido também, pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-SP), o pedido de suspensão do certame. O processo ainda está em fase de instrução para julgamento do mérito, mas relatório técnico da fiscalização do TCE concluiu pela regularidade da licitação e improcedência da representação feita pela empresa.

Um metalúrgico de 22 anos morreu baleado durante discussão no trânsito em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, na madrugada do domingo, 27. O autor do tiro fugiu e não havia sido identificado até a publicação desta reportagem, segundo a polícia.

Patrick da Silva Brito morava em Diadema e na noite de sábado, 26, foi à festa de aniversário de um amigo em São Bernardo do Campo. Ao fim do evento, na madrugada de domingo, pegou carona com um amigo que também mora em Diadema. Durante o trajeto, enquanto passavam por uma rua próxima do Corredor ABD, se depararam com um carro parado na via, impedindo a passagem. Fora do veículo, um casal discutia.

O amigo de Patrick, que dirigia um Citroen C4 Cactus branco, buzinou pedindo passagem. O homem responsável pelo outro veículo sacou um revólver e disparou dois tiros na direção do motorista, segundo foi registrado na Polícia Civil.

Quando o amigo de Patrick percebeu a reação do rapaz, manobrou e tentou fugir, mas um dos tiros atingiu a nuca de Patrick. O amigo saiu com o veículo rumo a um hospital e, no caminho, encontrou guardas-civis municipais e pediu ajuda. Patrick chegou vivo ao hospital, mas não resistiu.

O caso está sendo investigado pelo Setor de Homicídios e Proteção à Pessoa da Polícia Civil em São Bernardo do Campo, segundo a Secretaria da Segurança Pública do Estado. Até a noite de terça-feira, 29, o autor dos tiros não havia sido identificado.

Ainda hoje, muitos órgãos para transplante são transportados em embalagens que usam o gelo para manter refrigeração, sem controle preciso da temperatura. Pensando nisso e em outras demandas baseadas na realidade brasileira, pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) desenvolveram uma embalagem inteligente que promete mudar esse cenário.

O produto é equipado com um sistema de monitoramento em tempo real, via internet, que permite rastrear o órgão e detectar qualquer queda ou alteração de temperatura durante o transporte. A embalagem, além disso, possui uma autonomia de até 6 horas e conexão de backup para garantir a continuidade do processo em situações adversas.

"Ela tem várias funcionalidades para dar um suporte em tempo real e garantir que esses órgãos e tecidos sejam transportados na temperatura adequada, diferentemente do gelo, em que não temos controle algum", detalha Bartira de Aguiar Roza, coordenadora do projeto e professora da Escola Paulista de Enfermagem da Unifesp. "O objetivo é reduzir perdas e otimizar o trabalho."

De acordo com a professora, existe uma perda estimada de 5% dos órgãos que são transportados a uma longa distância. As caixas, ela explica, precisam passar por diferentes ambientes, como aeroportos e táxis, onde muitas vezes a temperatura do ar-condicionado não é suficiente para manter a refrigeração adequada.

"Além disso, existem os requisitos de segurança, de rastreabilidade. Existem produtos que são transportados com alta tecnologia, mas, quando falamos de órgãos humanos, estamos transportando com iglu de gelo. Precisamos responder várias demandas, não só a demanda de perdas, mas também assegurar a rastreabilidade", diz.

A inovação é mais cara do que as embalagens padrão. A estimativa é de que chegue ao mercado por um valor entre R$ 10 mil e R$ 15 mil. "Mas, comparando com caixas desenvolvidas em outros países, é mais barata", assegura a pesquisadora. "Caixas (estrangeiras) que ainda usam gelox, mas são rastreadas são vendidas por R$ 80 mil no Brasil. Desenvolvemos o produto para ter uma caixa nossa, da qual possamos nos orgulhar e que, sobretudo, seja mais barata."

Recentemente, foi concluída a etapa de validação pré-clínica da nova embalagem por meio de um estudo de caso-controle. Nessa fase, foi feita uma comparação entre o modelo atualmente utilizado no Brasil e a proposta desenvolvida pelos pesquisadores. Segundo Bartira, os resultados demonstraram que a nova embalagem é segura para o transporte de órgãos e tecidos destinados a transplantes.

O produto ainda deve passar por outros testes com órgãos humanos e a expectativa é que esteja disponível no mercado no início de 2026. A embalagem começou a ser desenvolvida em 2017, sem nenhum tipo de apoio financeiro, e em 2020 recebeu um aporte da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

A tecnologia foi desenvolvida pela Unifesp, por meio da Escola Paulista de Enfermagem e da Escola Paulista de Medicina, em parceria com a São Rafael Câmaras Frigoríficas, Instituto Mauá de Tecnologia (IMT) e o Centro de Tecnologia em Embalagem para Alimentos do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL).