Conhecido por levantar pautas sobre desigualdade social, pobreza e inclusão de populações excluídas, o papa Francisco, que morreu nesta segunda-feira, 21, era também uma forte voz sobre os problemas ambientais e as mudanças climáticas. Ele, inclusive, assinou dois documentos oficiais chamando a atenção para a urgência da crise climática.
"O papa, desde o início do pontificado dele, se destacou como uma das vozes mais fortes e influentes sobre as mudanças climáticas", disse Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, à Rádio Eldorado.
Um dos documentos assinados por Francisco foi o Laudato Si (Louvado Seja), um marco na posição da Igreja Católica sobre o meio ambiente. Lançado em 2015, na época da Conferência do Clima de Paris, teve grande repercussão no evento mundial. O papa fala em "Casa Comum", em referência ao planeta Terra, como um lar compartilhado por todos e que precisa ser cuidado.
"Pela primeira vez, um papa dedicou uma encíclica inteiramente a essas questões ambientais", lembra Astrini.
A visão integrada do papa entre os problemas ambientais e sociais foi um ponto forte do documento. "Ele descreveu um conceito de ecologia integral, era assim que a encíclica chamava, e ela considerava todas essas circunstâncias ambientais, econômicas, sociais e culturais como interconectadas no mesmo problema", afirma Astrini.
"O papa mesmo dizia que não tem como separar a crise ambiental de questões como pobreza, desigualdade social e justiça", completa.
Francisco também apontou o ser humano como "guardião da criação", invertendo o que se entendia, até então, na tradição cristã, em que o ser humano é passivo, um mero espectador em relação ao que acontece no mundo, especialmente na agenda climática, explica Astrini.
"Ele mudava esse comportamento, colocava todos nós como guardiões responsáveis pela proteção do que ele mesmo classificava como a criação divina, então essa agressão ambiental não era algo que chegava até nós, mas era algo que era criado por nós", diz o secretário-executivo a respeito da atuação do papa Francisco.
Outro documento, lançado em 2023, o Laudate Deum (Louvai a Deus), reforça a responsabilidade humana em relação à crise climática, pontuando a demora para soluções dos problemas ambientais e cobrando líderes mundiais, principalmente na véspera de conferências climáticas.
"Ele falou muito de África, do Brasil, da Amazônia, do desmatamento, da questão indígena, da necessidade de reconhecer, inclusive, o direito dessas populações. Falava de transição energética. Realmente é um papa que fez muita diferença nessa questão do clima, deixou um legado muito grande", afirma o especialista.
Além dos documentos oficiais, o líder da Igreja Católica também reforçou seu posicionamento a favor do meio ambiente ao tratar deste tema em discursos voltados a líderes globais. No primeiro mandato de Donald Trump, o papa pediu que o presidente americano reconsiderasse a saída do Acordo de Paris.
Neste ano, o Brasil sedia em novembro a COP-30, em Belém, no Pará. O foco do evento global é a discussão, entre líderes de diversos países, sobre como fortalecer a resposta global à crise climática, implementar metas ambientais e garantir financiamento para países em desenvolvimento.
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