Novas internações têm leve queda em SP; UTI seguem lotadas

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A fase emergencial completou duas semanas nesta segunda-feira, 29, em São Paulo, com taxas ainda elevadas de óbitos, casos e ocupação de leitos. A média móvel de novas internações diárias relacionadas à covid-19 caiu pela primeira vez desde 16 de fevereiro neste fim de semana, mas ainda é mais do que o dobro do registrado na primeira quinzena do mês passado e quatro vezes maior do que no início de novembro.

Diante dos números ainda altos, os registros frequentes de aglomerações, o índice de isolamento mediano e o tempo estimado entre o contágio e o início dos sintomas, especialistas ouvidos pelo Estadão consideram que o período de duas semanas ainda é curto para avaliar os resultados da fase emergencial. Eles também defendem que a tomada de novas restrições deve ser discutida caso não ocorra redução nos índices do novo coronavírus nos próximos dias.

O Estado está com 92,3% de ocupação em UTI, taxa que é de 92,7% na Grande São Paulo, segundo balanço da Secretaria da Saúde. Em enfermaria, a média é de 81,8% e 86,9%, respectivamente. Há fila de espera por leitos, especialmente de UTI, enquanto municípios enfrentam escassez de medicamentos para intubação e oxigênio gasoso.

Por enquanto, as medidas de restrição tiveram impacto reduzido no índice de isolamento, de acordo com dados da Fundação Seade. Enquanto o índice era de 42% em 8 de março, passou a 43% nas duas segundas-feiras seguintes, quando a fase emergencial vigorava. No último sábado, por exemplo, a taxa foi de 46% de isolamento, ante os 47% do sábado anterior e os 46% dos dois que precederam o período de mais restrições.

As médias móveis (calculadas com base nos últimos sete dias) de domingo bateram os recordes de toda a pandemia em óbitos (668) e casos (16.317). Em novas internações, a alta foi ininterrupta de 16 fevereiro, quando era de 1.445 hospitalizações, até sexta-feira, quando chegou a 3.399, ainda segundo dados da Seade. Nos últimos três dias, houve leve queda, para 3.346, taxa que ainda é quatro vezes maior do que a registrada no início de novembro.

Um dos diretores da Sociedade Brasileira de Imunizações, o infectologista Renato Kfouri explica que são necessárias ao menos duas semanas para os efeitos de restrições impactarem no número de casos, por causa do intervalo entre o tempo de exposição, a manifestação dos sintomas e a confirmação do diagnóstico. No caso de internações, estima ao menos três semanas, pelo tempo até o quadro do paciente se agravar, média que chega a ao menos um mês para os óbitos.

Presidente da Sociedade Paulista de Infectologia e professor da Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu, Carlos Magno Fortaleza cita como exemplo o município de Araraquara (SP), que teve resultados mais expressivos na redução das taxas após quase um mês de lockdown. "Os dados de São Paulo continuam subindo. Há quem veja uma desaceleração, eu ainda vejo uma subida clara", destaca.

Também integrante do Centro de Contingência Contra a Covid-19 do Estado, o infectologista comenta que um dos desafios é a dificuldade de conscientizar a população para manter o distanciamento social. Ele traz como exemplo o deslocamento de turistas da região metropolitana da capital ao litoral por causa do mega feriado antecipado.

"Não acho que é o caso de demonizar a população, mas é uma sabotagem deliberada das medidas de isolamento. Demonstra uma falta de exercício de cidadania, o que só é possível quando se tem exemplos", comenta ao se referir ao presidente Jair Bolsonaro e a alguns prefeitos que têm criticado medidas de restrição. "São líderes políticos, formadores de opinião, vendendo falsas ilusões."

Embora costume ser contra medidas duras, Fortaleza destaca que o momento exige a manutenção de restrições. "Não estamos dando conta", declara, ao abordar a dificuldade de abastecimento de medicamentos e de transferência de pacientes para leitos de UTI em algumas partes do Estado. "Estamos tendo até falta de tubo para colher sangue", lamenta.

"Nós já sabemos que tem paciente que não tem covid que está morrendo por déficit no atendimento. E isso só tende a piorar", reitera. "Como pesquisador que trabalha com epidemiologia, que tem experiência de 20 anos em controle de epidemias, se nós não desaceleramos a pandemia com o que estamos fazendo, precisaremos de medidas mais duras."

Questionado sobre a possibilidade de adoção de um lockdown, ele explica que o termo foi utilizado em países que não seguiram as medidas tradicionais desse tipo de procedimento. Ele cita Araraquara e Portugal como exemplos de gestões que adotaram lockdowns reais, com restrição de mobilidade, e obtiveram resultados.

"É uma forma de restrição ativa da mobilidade populacional, não passiva, que ocorre com a diminuição da oferta de serviços (como ocorre em São Paulo)", compara. "O lockdown é o último remédio. Se as pessoas continuarem boicotando medidas restritivas mais leves, serão necessárias mais duras.

Ex-presidente da Anvisa e professor de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e da FGVSaúde, Gonzalo Vecina defende que o Estado adote novas restrições por meia da reclassificação de serviços considerados essenciais. "A construção civil não parou, tem que restringir mais setores, fazer uma nova filtragem."

Ele também aponta que é preciso haver maior unidade nas medidas regionais e estaduais, para evitar que medidas que considera "bem intencionadas", como o mega feriado na região metropolitana, impactem outros municípios negativamente. Por isso, defende maior articulação entre as diferentes esferas e os municípios.

Já, para Kfouri, dois pontos precisam ter o foco do governo. Um deles é o auxílio aos trabalhadores autônomos, que necessitam da renda diária para se manter e, portanto, não conseguem praticar o isolamento social. "Não adianta pedir para a população ficar em casa e não dar condições", ressalta.

O outro ponto é a tomada de medidas mais duras contra festas e outros eventos que promovam aglomerações clandestinas. Pelo risco de espalhamento do vírus nesse tipo de situação, ele defende que os frequentadores também sejam punidos, e não apenas os organizadores, a exemplo do que já ocorre no caso do desrespeito ao uso de máscaras. "Com penalização condizente ao que foi causado."

O infectologista considera, ainda, que, caso a adesão não seja maior e as taxas não recuam, medidas mais "endurecidas" precisarão ser tomadas. Em paralelo, ressalta, é necessário uma intensificação da campanha de imunização dos grupos mais vulneráveis "o quanto antes".

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A cantora Nana Caymmi, que morreu na noite desta quinta-feira, 1º, aos 84 anos, fez aniversário no último dia 29 de abril. Internada desde julho de 2024, Nana recebeu uma mensagem da também cantora Maria Bethânia, de quem era amiga.

Bethânia escreveu: "Nana, quero que receba um abraço muito demorado, cheio de tanto carinho e admiração que tenho por você. Querida, precisamos de você e da sua voz. Queremos você perto e cheia de suas alegrias, dons e águas do mar na sua voz mais linda que há. Amor para você, hoje, seu aniversário, e sempre. Rezo à Nossa Senhora para você vencer esse tempo tão duro e difícil. Peço por sua voz e por sua saúde. Te amo. Sua irmã, Maria Bethânia".

Nana e Bethânia tinham uma longa relação de amizade e gravaram juntas no álbum Brasileirinho, de Bethânia, lançado em 2003. Bethânia afirmou mais de uma vez que Nana era a maior cantora do Brasil.

De acordo com informações divulgadas pela Casa de Saúde São José, onde Nana estava internada há nove meses para tratar de problemas cardíacos, a cantora morreu às 19h10 desta quinta-feira, em decorrência da disfunção de múltiplos órgãos.

Morreu nesta quinta-feira, 1° de maio, Nana Caymmi, aos 84 anos, em decorrência de problemas cardíacos. A morte foi confirmada pelo irmão da artista, o também músico e compositor Danilo Caymmi. Ela estava internada havia nove meses em uma clínica no Rio de Janeiro.

"Eu comunico o falecimento da minha irmã, Nana Caymmi. Estamos, lógico, na família, todos muito chocados e tristes, mas ela também passou nove meses sofrendo em um hospital", disse Danilo Caymmi.

"O Brasil perde uma grande cantora, uma das maiores intérpretes que o Brasil já viu, de sentimento, de tudo. Nós estamos, realmente, todos muito tristes, mas ela terminou nove meses de sofrimento intenso dentro de uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital", acrescentou o irmão, em um vídeo publicado no Instagram.

Nas redes, amigos e admiradores também prestaram homenagens à cantora.

"Uma perda imensa para a música do Brasil", escreveu o músico João Bosco, com quem Nana dividiu palcos e microfones. Bosco também teve canções interpretadas por Nana Caymmi, como Quando o Amor Acontece.

O cantor Djavan disse que o País perde uma de suas maiores cantoras e ele, particularmente, uma amiga. "Descanse em paz, Nana querida. Vamos sentir muito sua falta, sua voz continuará a tocar nossos corações."

Alcione também diz que perdeu uma amiga e que a intérprete, filha de Dorival Caymmi, tinha "a voz". "Quem poderá esquecer de Nana Caymmi?"

"Longe, longe ouço essa voz que o tempo não vai levar! Nana das maiores, das maiores das maiores", postou a cantora Monica Salmaso, que já tinha prestado uma homenagem para Nana na última terça, quando a artista completou 84 anos. "Voz de catedral", descreveu Monica na ocasião.

O escritor, roteirista e dramaturgo Walcyr Carrasco disse que, nesta quinta, a música brasileira deve ficar em silêncio em respeito à partida da artista. "Que sua voz siga ecoando onde houver saudade. Meus sentimentos à família, amigos e admiradores!"

A deputada federal e ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina (PSOL-SP) disse que Nana Caymmi tinha umas das vozes "mais marcantes da música popular brasileira" e que a cantora deixa um "legado extraordinário" para o Brasil por meio de interpretações "únicas e carregadas de emoção". "Que sua arte siga viva, e que ela descanse em paz", disse a parlamentar.

A artista Eliana Pittman diz que se despede com tristeza de Nana Caymmi, a quem descreveu com uma das uma "das maiores vozes" que o Brasil já teve, e elogiou a cantora pela irreverência e forte personalidade.

"Nana nunca se curvou a convenções: cantava o que queria, do jeito que queria - e por isso, marcou gerações", disse Eliana, que também fez elogios qualidade técnica da intérprete. "Sua voz grave, seu timbre inconfundível e sua forma tão particular de existir na música deixam um vazio irreparável".

O Grupo MPB4 postou: "Siga em paz, querida Nana Caymmi! Nosso mais fraterno abraço para os amigos Dori Caymmi, Danilo Caymmi (irmãos de Nana Caymmi) e toda a família".

A cantora Nana Caymmi morreu nesta quinta-feira, aos 84 anos, em decorrência de problemas cardíacos. Ela estava internada há nove meses na Clínica São José, no Rio de Janeiro. A morte da cantora foi confirmada por seu irmão, o músico e compositor Danilo Caymmi, no início da noite.

Além dos problemas cardíacos que abalaram sua saúde em 2024, que obrigaram os médicos implantar um marcapasso para contornar uma arritmia cardíaca, Nana enfrentou um câncer de estômago em 2015.

Filha do compositor baiano Dorival Caymmi e da cantora Stella Maris, Nana nasceu no Rio de Janeiro, com o nome de Dinahir Tostes Caymmi, o mesmo de uma tia, irmã do pai. Incentivada pelos pais, começou a estudar piano clássico ainda criança. Em 1960, entrou no estúdio com Caymmi para fazer sua primeira gravação, Acalanto, a canção de ninar feita para ela pelo pai. No mesmo ano, gravou um compacto simples com as músicas Adeus e Nossos Beijos.

Ao mesmo tempo que dava seus primeiros passos na carreira como cantora, Nana decide deixar o Brasil e se casar com o médico venezuelano Gilberto José Aponte Paoli, com quem teve seus três filhos, Stella, Denise e João Gilberto.

De volta ao País, separada, enfrenta o preconceito de Caymmi, que decide não falar mais com a filha. Nana é então socorrida pelo irmão, Dori, que faz a canção Saveiros para ela cantar no I Festival Internacional da Canção (TV Globo). Foi vaiada ao ser anunciada a vencedora da competição.

Casada agora com Gilberto Gil, apresenta-se no III Festival de Música Popular Brasileira na TV Record, em 1967, com a canção Bom Dia, assinada em parceria com Gil. Grava com o grupo Os Mutantes a canção Alegria, Alegria, de Caetano Veloso, além de um álbum de carreira.

Em 1973, faz uma exitosa temporada em Buenos Aires, na Argentina, onde lança um disco pela gravadora Trova. No repertório, músicas de compositores que seriam presença constantes em seus discos, como Tom Jobim, João Donato, Chico Buarque, além de Caymmi. Nesse mesmo ano, Caymmi se reaproxima da filha, em um programa de televisão.

Ao longo dos anos 1970 e 1980, grava regularmente. Seus álbuns reuniam não somente um repertório sofisticado, mas também grandes músicos, como João Donato, Helio Delmiro, Toninho Horta, Novelli, além dos irmãos Dori e Danilo. Em 1980, participa da faixa Sentinela, no disco de Milton Nascimento. No início dos anos 1990, grava Bolero, disco inteiramente dedicado ao gênero.

Com o prestígio de uma das principais cantoras do País, Nana, embora tenha alcançado relativo sucesso com músicas como Mãos de Afeto, Beijo Partido, Contrato de Separação e De Volta ao Começo, além de ser voz presente em trilhas sonoras de novelas da TV Globo, não tinha, no entanto, a mesma popularidade de nomes como Maria Bethânia, Gal Costa e Elis Regina.

Sucesso popular

O reconhecimento popular só chegou em 1998, quando o bolero Resposta ao Tempo, de Cristovão Bastos e Aldir Blanc, foi escolhido para ser tema de abertura da minissérie Hilda Furacão, de Glória Perez. A história da moça de uma família tradicional mineira que larga o noivo no altar e se torna uma das mais famosos prostitutas da zona boêmia de Belo Horizonte conquistou a audiência e ampliou o público de Nana.

Anos antes, Nana havia batido na trave. Sua gravação de Vem Morena havia sido escolhida para a abertura da novela Tieta, um dos maiores sucessos da TV Globo. Porém, dias antes da estreia da trama, em agosto de 1989, o então diretor geral da emissora, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, pediu uma música "mais animada". Ele mesmo fez a letra da canção gravada por Luiz Caldas. "Fiquei esperando minha música tocar e aparece o Luiz Caldas dizendo que a lua estava cheia de tesão", reclamou, tempos depois, Nana nos jornais.

Com a carreira em alta, arrisca e coloca em prática um antigo desejo: fazer uma segundo volume de um álbum dedicado apenas a boleros. Sangra de Mi Alma foi lançado em 2000, com clássicos do gênero como Amor de Mi Amores e Solamente Una Vez, essa última escolhida para trilha da novela Laços de Família.

Nos anos 2000, Nana se dedica a regravar as canções de Caymmi em álbuns temáticos. O Mar e o Tempo (2002), Para Caymmi: de Nana, Dori e Danilo (2004), Quem Inventou o Amor (2007) e Caymmi (2013) compreenderam boa parte da obra do compositor.

Seus últimos dois álbuns foram Nana Caymmi Canta Tito Madi, de 2019, sobre a obra do compositor pré-bossanovista, e Nana, Tom, Vinicius, de 2020, com canções de seus dois grandes amigos, Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

Nana, porém, a essa altura, já estava afastada dos palcos. Sua última apresentação foi em 2015, em São Paulo. A cantora havia prometido voltar a cantar ao vivo se o empresário Danilo Santos de Miranda, seu grande amigo, diretor do Sesc São Paulo, se recuperasse de uma internação. Miranda morreu em outubro de 2023. O Selo Sesc, projeto criado por Miranda, guarda um registro inédito do show Resposta ao Tempo, gerado a partir de uma apresentação de Nana no Sesc Pompeia.

A última imagem conhecida de Nana é a que aparece no documentário Dorival Caymmi - Um Homem de Afetos, de Daniela Broitman. Nele, Nana dá um forte depoimento sobre o pai e canta, à capela, o samba canção Não Tem Solução, em um dos melhores momentos do filme.

Em agosto de 2024, o cantor Renato Brás lançou a faixa A Lua e Eu, sucesso de Cassiano, com a participação de Nana nos vocais. A voz de Nana foi capturada em sua casa, no Rio de Janeiro.

Em sua última entrevista ao Estadão, quando completou 80 anos, Nana manifestou o desejo de gravar as parcerias do irmão Dori com Nelson Motta. Também desejava cantar Milton Nascimento - um de seus grandes amigos - e Beto Guedes. "Se eu não gravei, são inéditas para mim", disse, reforçando uma insatisfação constante dos últimos anos, a de que não havia bons novos compositores para lhe fornecerem repertório.

Como uma metáfora da vida, Nana, também nessa entrevista, falou sobre seu sentimento ao gravar uma canção. "Ela acontece, assim como o amor. É como uma nascente, ela corre. Para quem consegue molhar o rosto nessa água límpida, como eu faço quando estou gravando, é um delírio", disse.