Kremlin analisará propostas dos EUA para paz com Ucrânia quando Trump assumir

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O Kremlin sinalizou disposição para analisar qualquer proposta dos Estados Unidos visando um acordo de paz para encerrar a guerra na Ucrânia, afirmou o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov. A avaliação deve começar assim que Donald Trump assumir a presidência norte-americana na próxima semana.

"Quando Trump, ao se tornar presidente, finalmente formular sua posição sobre os assuntos ucranianos, é claro que vamos analisá-la", declarou Lavrov, em coletiva de imprensa.

Durante a campanha presidencial, Trump prometeu resolver o conflito rapidamente, sem detalhar sua estratégia. Em novembro de 2024, em uma ligação com Vladimir Putin, Trump aconselhou o líder russo a evitar a escalada da guerra e discutiu uma possível articulação para "resolver o conflito", segundo o The Washington Post.

Trump já designou Richard Grenell, um de seus aliados, como enviado especial para política externa.

Grenell defende um acordo que preserve a integridade territorial da Ucrânia, mas permita "regiões autônomas" sob influência russa.

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O governador de São Paulo, Tarcísio de Frei is desde o início de 2025. No entanto, segundo levantamento realizado pela empresa de análise de dados Bites com exclusividade para o Estadão/Broadcast de janeiro de 2023 até fevereiro deste ano, as postagens com maior engajamento do republicano desde o início do mandato continuam sendo as que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) aparece ou é mencionado.

Tarcísio vinha em queda em tração na média de engajamento semanal até janeiro de 2024 - o indicador de Bites interpreta as interações em cada mídia social para medir a capacidade dos perfis de engajar as redes num cenário específico. Mas, desde então, subiu e estabilizou-se num mesmo patamar de 10,4% de interação, que ainda é bem abaixo dos alcançados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que possui 35,3%, e pelo do ex-presidente, que atinge 54,2%. O porcentual refere-se à fatia que cada um tem diante do total de interações que eles conseguem juntos.

Assim, desde o começo do ano, o chefe do Executivo paulista deixou um pouco de lado o tom institucional, característico da forma de se comunicar até pouco tempo atrás. Ao sentir-se mais à vontade no cargo, a comunicação passou a publicar conteúdos com referências a filmes populares e personagens queridos pelo público que consome TV aberta.

Tratando-se de um ponto de atenção do governo estadual - pelo fato de segurança pública ser a área em que a gestão possui a pior avaliação de acordo com a pesquisa Quaest (34% avaliam como ruim e 29%, como boa) -, Tarcísio fez diversas publicações associando a Polícia Civil aos Power Rangers e ao Chapolin Colorado. O tema passou a ser um dos mais recorrentes em suas redes sociais, visando melhorar a sua imagem.

"É hora de 'morfar' (referência à transformação das personagens)! Os Power Rangers da nossa Polícia Civil estão dando mais um show neste carnaval!", disse o governador em uma legenda. "O crime não contava com a astúcia da polícia de São Paulo", escreveu em outra.

Além dos conteúdos de policiais fantasiados durante o feriado de carnaval, a equipe de Tarcísio também publica vídeos editados com cortes do filme De Volta para o Futuro, enquanto ressalta que o governo paulista está "à frente do tempo" e de olho "no futuro". Inclusive, essa é uma das bandeiras mais reiteradas do governador nas agendas, ao promover as obras no Estado e as privatizações dos serviços públicos do plano SP na Direção Certa.

Outro assunto recorrente, que também é frequentemente usado em falas públicas do governador, é a volta do jogador de futebol Neymar Jr. ao time do Santos. "Eu disse nas minhas conversas com o presidente Lula que a Baixada Santista está em festa [...] e não é só pela volta do Neymar", afirmou o governador no evento de lançamento do edital para concessão do túnel Santos-Guarujá.

Especialista vê tentativa de crescer sozinho após impulso de Bolsonaro

De acordo com o cientista político e professor de Comunicação Política na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Paulo Niccoli Ramirez, a figura de Tarcísio nas redes, em um primeiro momento, esteve muito atrelada à popularidade de Bolsonaro, sem a qual, "com certeza", ele não teria sido sequer eleito. A tentativa do governador agora é crescer sozinho, seguindo a tendência que funciona com outros políticos como o prefeito do Recife, João Campos (PSB).

"O que há hoje é uma disputa pelo chamado mercado da atenção. Esse tipo de linguagem atrai o eleitorado jovem. Atrai mais atenção, criando uma imagem mais carismática e mais próxima do cotidiano do eleitor", afirma Ramirez. "Diante de um cenário em que se busca mais a 'moderação' do discurso, seus assessores buscam trabalhar de maneira mais lúdica."

No entanto, o professor ressalta que a estratégia adotada pode se voltar contra o governo. Para ele, o que realmente melhorará a opinião pública sobre a gestão Tarcísio em relação à segurança pública será a postura efetiva adotada a partir daqui. "O tiro pode sair pela culatra porque pode ser visto como um paradoxo ou mau tom. Algo como 'o governo tem uma polícia violenta ao mesmo tempo em que cria uma imagem lúdica e falsa de que haveria eficiência'", diz.

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Comunicação do Estado de São Paulo não respondeu.

Tarcísio ainda está distante de Lula e Bolsonaro nas redes

Segundo o estudo da Bites, o tom humorístico ainda não puxou significativamente as interações para cima. "Tarcísio passou a mencionar mais as ações da polícia, o que contribui para aumentar interações. Embora elas ainda não cheguem perto do volume que publicações sobre Bolsonaro e Trump (Donald Trump, presidente dos Estados Unidos) tiveram, que ainda são os que mais fizeram sucesso em 2025", afirma o levantamento. Os conteúdos em questão se referem à ocasião em que Tarcísio indica o ex-presidente como "seu candidato" para 2026 apesar de inelegibilidade do capitão reformado e o episódio em que o governador colocou o boné do movimento americano de extrema-direita "Make America Great Again".

No cenário comparativo mapeado desde janeiro de 2023 até fevereiro de 2025, o governador de São Paulo apresenta uma totalidade de 121 milhões de interações, enquanto Lula possui 411 milhões e Bolsonaro tem 631 milhões.

No Instagram, por exemplo, o ex-presidente é o político de direita - e do País - mais seguido, com 26,3 milhões. Já o presidente petista é o líder mais seguido da esquerda, com seus 13,3 milhões. Enquanto isso, Tarcísio mantém-se distante, com 4,9 milhões, atrás de outros nomes da direita como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e seus 17,1 milhões, e o ex-candidato à Prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (PRTB), que possui 12,7 milhões.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quarta-feira, 12, que colocou uma "mulher bonita" na articulação política porque quer ter uma boa relação com os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) e Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).

"É muito importante trazer aqui o presidente da Câmara e o presidente do Senado. Porque uma coisa que quero mudar, estabelecer relações com vocês. Por isso, coloquei essa mulher bonita para ser ministra de Relações Institucionais, porque não quero mais ter distância de vocês", disse o petista, se referindo à nova ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT). Gleisi assumiu a pasta responsável pela articulação política na segunda-feira, 10.

A deputada licenciada assumiu o cargo no início da semana. No discurso de posse, Gleisi disse que chegou no governo para "somar" e garantiu que vai dialogar "com as forças políticas do Congresso e com as expressões da sociedade, suas organizações e movimento".

Durante o anúncio do novo crédito consignado privado, no Palácio do Planalto, Lula disse ainda que "não quer mais" ter distância de Motta e Alcolumbre e que é necessário mostrar que os chefes do Executivo e do Legislativo têm o mesmo compromisso, de defender a soberania e o bem-estar do País.

"Não quero que alguém ache que o presidente da República está distante do presidente da Câmara, está distante do presidente do Senado. Temos que mostrar para a sociedade que nós somos, em lugares diferentes, pessoas com o mesmo compromisso de defender a soberania do país, o bem-estar do brasileiro", afirmou.

O presidente aproveitou para rebater críticas, dizendo que alguns ex-ministros de outros governos "querem dar palpite" sobre a economia agora, quando tinham inflação de 80% ao mês nas suas gestões. Ele fez um afago ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, dizendo que tem a "felicidade" de tê-lo à frente da pasta.

Lula acrescentou que Haddad "nem sempre é o mais feliz" ao pegar o microfone e tem de tentar "passar charme" quando fala. Mas elogiou o trabalho do ministro, destacando que o governo já fez 24 ações para tratar da economia e que mudanças na política econômica levam tempo. "Se todos colaborarem, vamos terminar governo com Haddad passando pela história como melhor ministro da Fazenda que Brasil já teve".

O Congresso deve votar nesta quinta-feira, 13, uma resolução que muda regras para as emendas parlamentares. Um esboço do texto ao qual o Estadão teve acesso diminui a fiscalização sobre as emendas ao criar a figura do "Secretário Especial de Orçamento Público".

Indicado pelo presidente do Senado, esse secretário terá controle sobre os consultores de Orçamento da Câmara e do Senado. Hoje, eles têm autonomia e com frequência apontam problemas. No novo modelo, o trabalho deles estará submetido às "políticas e critérios" do novo Secretário Especial, indicado pelo presidente do Senado.

Além disso, entidades que trabalham no tema, como a Transparência Brasil e a Transparência Internacional, fazem críticas ao projeto de resolução, elaborado pela Mesa Diretora do Senado. Para a Transparência Brasil, a submissão dos consultores põe em risco "a integridade do processo de elaboração e aprovação do Orçamento". Já para a Transparência Internacional, o novo regramento mantém os problemas anteriores do orçamento secreto ao impedir a identificação dos congressistas que enviam os recursos.

A votação desta quinta-feira foi marcada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), como resposta às negociações com o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF). Em agosto de 2024, Dino suspendeu o pagamento de vários tipos de emendas parlamentares até que o Congresso criasse novas regras para dar mais transparência à aplicação do dinheiro. A reportagem procurou Davi Alcolumbre por meio da assessoria, mas ele não comentará o assunto neste momento.

A minuta ainda não foi protocolada, ou seja, ainda não se trata da versão final.

Além de criar a nova Secretaria Especial de Orçamento Público, a proposta de resolução traz várias inovações no rito das emendas parlamentares. Padroniza, por exemplo, como devem ser as atas para a apresentação das emendas de comissão, além de mudar outros aspectos da elaboração das indicações feitas por senadores e deputados. As emendas parlamentares são modificações feitas por congressistas no Orçamento, de moto a enviar verbas para as localidades onde eles têm votos.

Minuta de resolução sobre emendas

Segundo Dino, o Congresso continuou com a prática do orçamento secreto, revelada pelo Estadão em 2021 e declarada inconstitucional pelo Supremo em dezembro de 2022. Mesmo com os bloqueios impostos por Dino, no ano passado o Congresso destinou R$ 44,9 bilhões em emendas parlamentares. É o maior valor nominal da História. A soma empoderou o Congresso na relação com o governo do presidente Lula (PT) e contribuiu para a vitória acachapante dos partidos do Centrão nas eleições municipais de 2024.

A minuta da resolução é de autoria de Alcolumbre e deverá ter como relator o vice-presidente da Casa, Eduardo Gomes (PL-TO). Como mostrou o Estadão, Eduardo Gomes é mencionado no relatório da operação Emendário, que investiga um suposto esquema de venda de emendas parlamentares por parte de deputados do PL do Maranhão. Um assessor dele atua como "corretor de emendas", prestando consultoria a prefeituras do interior do Tocantins.

"Submeter a atuação das consultorias de Orçamento a uma secretaria cujo titular está sujeito à influência política coloca em risco a integridade do processo de elaboração do Orçamento no Congresso", diz Marina Atoji, que é diretora da Transparência Brasil.

"O trabalho dessas consultorias é fundamental para o controle social sobre o processo orçamentário, se considerarmos que o trabalho que elas fazem é especializado, público para todos verem, e não está vinculado ao interesse dos parlamentares", avalia ela.

Além disso, a proposta de resolução mantém a possibilidade de ocultar os verdadeiros responsáveis pela indicação das emendas, diz Guilherme France, que é consultor da Transparência Internacional.

"A minuta de resolução reincide no mesmo problema histórico do orçamento secreto: a criação de figuras interpostas - relator, comissões - para impedir a identificação do parlamentar que, de fato, patrocina cada emenda. Ao prever a possibilidade de que o líder da bancada partidária encaminhe emenda para as comissões e, assim, assuma a titularidade de todas as emendas dos parlamentares daquele partido, na prática, está se criando uma nova figura interposta", avalia ele.

"Essa (proposta de) resolução, portanto, cria, indiretamente, a figura da emenda de bancada partidária, que não encontra respaldo na própria Constituição Federal", diz France.

"Estão tentando calar as consultorias técnicas para concentrar poder e manipular informações orçamentárias. Essa mudança atropela a independência do assessoramento técnico e fere o equilíbrio entre as Casas. Querem transformar um processo técnico e transparente em informação controlada pelos donos do poder", diz a líder do Novo na Câmara, a deputada federal Adriana Ventura (SP).

Segundo o Estadão apurou, a proposta de resolução vem gerando insatisfação entre os consultores legislativos das duas Casas. Há a possibilidade de que o texto seja modificado antes de ser protocolado. Para consultores de Orçamento, a nova resolução representa um "retrocesso institucional". As consultorias, dizem os profissionais, foram importantes para denunciar práticas inadequadas na época do orçamento secreto.

A proposta também acaba com a alternância que existe hoje entre as consultorias da Câmara e do Senado. Desde 1993, as consultorias de Orçamento das duas Casas se revezam na coordenação do assessoramento à elaboração do Orçamento. No modelo proposto, essa responsabilidade será do novo secretário indicado pelo presidente do Senado.

O projeto altera a Resolução 01 de 2006, que disciplina o funcionamento da Comissão Mista de Orçamento (CMO). A CMO é a comissão responsável por analisar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA), que corresponde ao Orçamento de cada ano. A criação do "Secretário Especial de Orçamento" está prevista no artigo 154 da minuta de resolução.

Segundo a justificativa da minuta, o objetivo da criação da nova Secretaria Orçamentária Especial é realizar a "padronização de orientações, durante o processo orçamentário e sobre a execução de emendas, e dos procedimentos das bancadas partidárias e das comissões permanentes".